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PROGRAMA DE MANUTENÇÃO E RECUPERAÇÃO DE AÇUDES ESTADUAIS PMRAE

No documento As Barragens e as enchentes (páginas 94-101)

O PMRAE seguiu, a princípio, as diretrizes estabelecidas em FEMA (1987), Eletrobrás (1987) e USBR (1995), tendo sido subdividido em 6 fases.

Levantamento de características técnicas

A primeira fase consistiu na coleta, análise e consolidação das informações técnicas obtidas de diversas instituições e diretamente de visitas de campo.

Diagnóstico

A segunda fase consistiu, a princípio, na análise dos projetos e dados de instrumentação e desempenho da obra, consolidados com visitas de inspeção em campo para avaliação situacional das obras. A consecução desta fase foi dificultada pela falta de projetos “as built” e dados de acompanhamento sistemático do desempenho das obras. Para esta fase foram elaboradas listas de verificação (“checklists”), que foram preenchidas durante as inspeções de campo, complementadas com informações verbais de pessoas na região das obras para tentar resgatar o histórico de cada uma.

Problemas similares foram encontrados pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) durante a execução do Programa de Segurança Estrutural do Sistema Metropolitano de São Paulo, conforme descrito por Gehring (1987).

O método de detecção por observação direta é o mais usualmente utilizado, apesar de ser falho, pois em algumas situações somente permite a detecção do problema quando este já atinge um estágio avançado (Silveira, 1990).

Os principais problemas encontrados nas obras foram:

a) ausência de sistemas de medição e controle de vazão, gerando sub- utilização do açude e impossibilitando a operação da barragem;

b) falta de pessoal treinado, vigilância e proteção das obras, ocasionando operação imprópria e depredação dos equipamentos;

c) entupimento das calhas e canaletas de drenagem superficial;

d) presença de vegetação excessiva, erosão em estágio avançado e formigueiros, comprometendo seriamente a segurança das obras; e) falta de acesso apropriado ao local das obras.

Projeto de recuperação

Com base nos aspectos observados nas duas fases anteriores, iniciou-se a terceira fase, a de elaboração dos projetos de recuperação, visando a preparação das obras para a operação de maneira satisfatória.

Os projetos de recuperação específicos para cada açude incluem, de uma forma geral, os seguintes serviços:

a) construção e aferição de medidores de vazão;

b) desmatamento da vegetação nociva e eliminação de formigueiros; c) remodelação e recuperação do sistema de drenagem superficial e

recomposição das erosões; d) plantio de vegetação apropriada; e) conserva dos caminhos de acesso;

f) confecção de cercas de isolamento e fechamento de áreas de segurança; g) manutenção, restauração e substituição de equipamentos hidromecânicos,

inclusive os dispositivos de montante;

h) construção de postos de operação do reservatório e aquisição de ferramenta para serviços básicos de manutenção.

As soluções adotadas consideraram a experiência local e de regiões similares, tendo sempre em vista aspectos conjunturais (recursos limitados,

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Os valores estimados para os serviços de recuperação encontram-se apresentados na Tabela 1.

Implantação do projeto de recuperação

Para a quarta fase, a atual conjuntura política impôs o questionamento de até que ponto a manutenção, recuperação e operação destas obras podem ser efetuadas e custeadas exclusivamente com recursos públicos.

A oferta de água no semi-árido nordestino requer a execução de importantes obras de reservação e adução, pois a ocorrência natural de águas apresenta padrões temporais e espaciais não compatíveis com a maioria das atividades econômicas.

O financiamento da construção, operação, manutenção e recuperação destas obras é atualmente onerado à figura do contribuinte, sendo até hoje pago pelo erário público, alimentado pela contribuição de impostos federais e estaduais.

Este modelo se encontra atualmente em crise e não permite satisfazer as necessidades de operação, manutenção, recuperação e ampliação da infra-estrutura existente.

O argumento é que somente através de uma política de retorno apropriada, pode o Poder Público recuperar o capital para investir em outros projetos de forma a beneficiar outros usuários, garantindo assim a continuidade das ações do Estado. No Ceará, a cobrança pelo uso da água é entendida como fundamental para a racionalização do seu uso e conservação e instrumento de viabilização de recursos para o seu gerenciamento.

A idéia inicial é estabelecer uma tarifa pelo uso da água que cubra, pelo menos, os custos de manutenção, operação e recuperação da infra-estrutura hídrica existente.

Tendo em vista que ainda não foi efetivada a cobrança pelo uso da água no Ceará, a COGERH utilizará recursos próprios do Governo do Estado para recuperação dos 17 açudes públicos estaduais incluídos na 1ª Etapa do PMRAE.

Elaboração de manuais e rotinas operacionais

Estão sendo elaborados os manuais e rotinas operacionais para cada açude ou grupos de obras com características similares, conforme o aspecto específico (e.g. geotécnico, estrutural, hidromecânico, ambiental etc.) a ser abordado.

A fim de manter uma estrutura organizacional enxuta e pensando na preservação da memória técnica das obras, a diretriz atual para os açudes de pequeno e médio portes é treinar pessoas da própria comunidade usuária, na região do açude, a fim de deixá-las aptas a operar e efetuar serviços simples de manutenção, com a supervisão periódica de técnico especializado da COGERH, enquanto que os serviços de maior complexidade seriam efetuados mediante contratos de terceirização. Para os açudes de maior porte, estratégicos ou “mais viáveis” economicamente, a idéia é manter equipes especializadas para atender a grupos de obras.

CONCLUSÕES

Os recursos limitados dificultam o planejamento de uma manutenção preventiva que passa a se restringir a uma do tipo corretiva, para não dizer emergencial em alguns casos. O esforço para demonstrar que os custos de uma manutenção preventiva é geralmente inferior às soluções caras e muitas vezes paliativas de uma medida emergencial é constante na tentativa de reverter este quadro.

O acesso da equipe operacional durante as fases de elaboração e implementação de novos projetos, tem permitido que a experiência adquirida na operação dos açudes, influencie de forma positiva, evitando a repetição dos mesmos erros nos novos projetos.

Ao contrário do procedimento de tentar esconder os problemas ocorridos nas barragens, a “nova” mentalidade é a de discutir com outros técnicos e a comunidade usuária, para encontrar uma solução mais amadurecida, sem perder de vista a economicidade e praticidade conjunturalmente exigidas.

A fim de inibir a falta de registros técnicos e melhorar o nível de projeto e controle da execução de novos açudes, o Governo do Estado do Ceará baixou o Decreto Nº 23.068, de 11 de fevereiro de 1994, que regulamenta o controle técnico das obras de oferta hídrica. A manualização do disposto neste decreto encontra-se em MENESCAL (1994).

Finalmente, a cobrança pelo uso da água é entendida como fundamental para a racionalização do seu uso e conservação e instrumento de viabilização de

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recursos para o seu gerenciamento. A idéia é se estabelecer uma tarifa pelo uso da água que cubra, pelo menos, os custos de manutenção, operação e recuperação da infra-estrutura hídrica existente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ELETROBRÁS. Avaliação da Segurança de Barragens Existentes. Centro

da Memória da Eletricidade no Brasil, Rio de Janeiro, 1987, 170p.

FEMA. Dam Safety: An Owner’s Guidance Manual. United States Federal

Emergency Management Agency, Denver, 1987, 117p.

GEHRING, J.G. Aspectos Atuais na Avaliação da Segurança de Barragens em Operação. Dissertação de Mestrado, USP, São Paulo, 1987, 249p. MENESCAL, R.A. Apresentação de Projetos para Pequenos Barramentos

- Roteiro de procedimentos. IOCE/SRH, Fortaleza, 1994, 40p.

RAMO S, C.M. Segurança de B arragens - Aspéctos hidráulicos e operacionais. ICT/ITH 38, LNEC, Lisboa, 1995, 43p.

SILVEIRA, A.E. Some considerations on the durability of dams. ICT/INCB

6, LNEC, Lisboa, 1990, 30p.

USBR. Safety Evaluation of Existing Dams. United States Department of Interior,

2001 - Artigo apresentado no XXIV Seminário Nacional de Grandes Barragens, Fortaleza – CE.

AÇÕES DE SEGURANÇA DE BARRAGENS

No documento As Barragens e as enchentes (páginas 94-101)