Programa “Se Liga”

A fim de subsidiar melhor compreensão acerca do Programa de Alfabetização “Se Liga”, reporta-se ao documento Orientações (SENNA, s/d), elaborado com o propósito de tratar das questões pedagógicas e gerenciais necessárias à sua implementação. O programa tem o objetivo de garantir a alfabetização no período de um ano letivo, dos estudantes com distorção idade-ano, provenientes do 2º e 3º anos, além de alfabetizar estudantes do 4º e 5º anos do ensino fundamental não necessariamente distorcidos, mas que ainda não foram alfabetizados.

Desse modo, a proposta pedagógica adotada no programa “Se Liga”, desde 1999, segue o “Método Dom Bosco”, após adequações direcionadas ao perfil de estudantes mais jovens. Isso porque este método resulta da experiência utilizada por mais de quatro décadas na alfabetização de jovens e adultos, cuja inspiração vem das contribuições de Paulo Freire, das quais são destaques os princípios de “contextualização para a compreensão crítica do significado da leitura; e uso de palavras-chave para promover essa contextualização” (SENNA, s/d, p. 4).

Nessa perspectiva, ainda conforme o documento de orientações (SENNA, s/d), o Programa “Se Liga” é estruturado em 42 aulas, por meio das quais são exploradas 25 palavras-chave, de forma contextualizada, distribuídas no percurso de um ano letivo, por meio das quais os estudantes não alfabetizados e com distorção idade-ano têm a oportunidade de acelerar seus estudos a fim de consolidar o processo de alfabetização e corrigir o fluxo de sua escolaridade.

Para tanto, além do documento de orientações, o desenvolvimento do programa pressupõe a exploração, nas aulas, dos seguintes recursos pedagógicos cuja utilização será compreendida durante a explicação da rotina do “Se Liga”:

 Módulo de alfabetização do aluno;

 Caderno de atividades;

 Caixa de Literatura para cada turma, que abrange 30 livros de literatura infantil e livro do professor “Lendo e Formando Leitores”;

 Sistemática de acompanhamento, que se trata de manual do programa;

 Alfabeto móvel, composto por letras móveis para manipulação e formação de palavras;

 Material dourado, formado por peças móveis, muito utilizadas na alfabetização matemática.

De acordo com o documento de orientações (SENNA, s/d), toda sistemática das aulas no programa “Se Liga” deve acontecer com base em um planejamento ordenado, contemplando as habilidades da matriz que, por sua vez, estão direcionadas à alfabetização. Tal sistemática é baseada em “métodos, técnicas e rotinas” a serem articulados no ensino. O programa parte da compreensão de que quanto mais estruturada a rotina, mais necessária se faz a criatividade da prática docente, de forma que seja capaz de adequar aos estudantes o que já estava previamente definido no planejamento.

Assim, a rotina detalhada da aula é entendida como uma “organização docente e discente, expressa no planejamento do professor, e que possibilita ao aluno participar ativamente do processo de sua aprendizagem”, desprezando desse modo ações improvisadas (SENNA, s/d, p. 7). A rotina é composta pelos seguintes passos:

 Acolhida – com destaque ao registro e diálogo sobre a importância da presença discente e breve atividade voltada para a motivação dos estudantes;

 Curtindo as leituras – momento em que os estudantes se dedicam à leitura, tendo como subsídio orientações do livro “Lendo e Formando Leitores”, que apresenta estratégias variadas de como melhor explorar a leitura em sala de aula;

 Correção do Para Casa – com orientações quanto à importância da análise da qualidade da autocorreção do estudante na realização dos exercícios para casa previstos no “Caderno de atividades”, de modo que o professor possa avaliar o progresso individual e coletivo de aprendizagem;

 Desenvolvimento das atividades:

o Contempla a exploração do “Módulo de alfabetização do aluno”, do “Caderno de Atividades” e de outras que se julgarem necessárias, por meio das quais acontece a exploração das 25 palavras-chave, mediante discussão dialógica e contextualizada, relacionada ao conhecimento prévio discente;

o Alfabetização com o uso da palavra-chave envolve também o que o programa “Se Liga” chama de desenho-gerador, recurso este que precede a escrita da palavra-chave e objetiva associar o seu significado às ideias a ela relacionadas, além dos textos de contextualização, exercícios de leitura e outros de escrita a serem realizados no âmbito escolar e familiar;

o Incentivo à escrita, tanto com uso de letras cursivas como de imprensa, além do uso do “Alfabeto móvel”, recurso lúdico composto de letras soltas para formação de palavras. E para as atividades de matemática, contempladas

também no Módulo de Alfabetização e Caderno de Atividades, o “Material Dourado”, composto por cubos concretos agrupados em classes de unidades, dezenas, centenas e milhares, constitui outro recurso pedagógico que possibilita o enriquecimento das aulas nesta área do conhecimento, principalmente com relação ao eixo de habilidades “Números e Operações”;

 Revisão do dia: deve acontecer ao final da aula, quando alunos são levados a retomar o que aprenderam no dia, por meio da linguagem oral e, sempre que possível, por meio da escrita;

 Para Casa: atividade pedagógica que permite fixar e complementar a aprendizagem dos estudantes, favorável também ao desenvolvimento do senso de responsabilidade e envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos, além de permitir a avaliação e acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem e planejamento, para fins da superação de dificuldades observadas.

O programa “Se Liga” é desenvolvido com base em uma matriz curricular que contempla 73 habilidades de Língua Portuguesa, em torno dos seguintes eixos: prática de leitura, prática de escrita e produção de texto e língua oral; e Matemática, com 53 habilidades distribuídas entre os eixos temáticos que seguem: números e operações, espaço e forma, grandezas e medidas e tratamento de informações (SENNA, s/d).

Quanto à dinâmica anual para formação de turmas do “Se Liga”, inicialmente é realizado o diagnóstico de alfabetização dos estudantes, por meio de teste preparado pelo IAS e enviado por intermédio da Secretaria da Educação para as escolas. O gestor, de posse das orientações necessárias, desempenha o papel de garantir a aplicação do teste aos estudantes do 2º e 3º anos, que apresentam distorção de no mínimo dois anos, e aos estudantes de 4º e 5º anos, independentemente de estarem com distorção.

Assim, as turmas do “Se Liga” são formadas por estudantes não alfabetizados, independentemente dos anos escolares de origem, avaliados mediante testes diagnósticos, que são corrigidos com base nos critérios de correção que acompanham o instrumental. Os professores que atuam nas turmas do “Se Liga”, por sua vez, são indicados pela equipe gestora, dentre os professores lotados na própria escola, de acordo com o critério de melhor perfil alfabetizador.

Antes de serem submetidos às capacitações, os professores são orientados a realizar planejamento, conforme material elaborado pelo IAS, para desenvolvimento de atividades iniciais anteriores ao início do Programa, como a apresentação do alfabeto na forma cursiva e de imprensa. Na sequência, as capacitações acontecem com a promoção de reuniões

quinzenais de avaliação e planejamento, conduzidos pelo mediador com o grupo de professores que faz parte de seu núcleo de atendimento em sala. Nesse espaço formativo, também são estabelecidas trocas de experiências, discussão dos problemas e proposição de soluções; planejamento das aulas e ampliação dos conhecimentos por intermédio do mediador.

Além do programa “Se Liga”, a rede municipal de Teresina desenvolve o programa de correção de fluxo “Acelera Brasil”, também destinado ao combate à defasagem escolar, mas com algumas diferenças que serão detalhadas na próxima subseção.