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Programas de promoção de leitura e da literacia

PARTE I. ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

3. Leitura e literacia

3.3. Programas de promoção de leitura e da literacia

É na última década do século XX, no cenário acima descrito, que nascem os dois programas de índole governamental: PNL (Plano Nacional de Leitura) e RBE (Rede de Bibliotecas Escolares).

A Rede de Bibliotecas Escolares é definida no relatório Lançar a Rede de Bibliotecas Escolares, assumindo-se como uma “política articulada pelos Ministérios da Educação e da Cultura” (Veiga, 1996, p. 15), que visa “promover os hábitos e práticas de leitura da população portuguesa, através do “desenvolvimento de bibliotecas escolares integradas numa rede e numa política de incentivo da leitura pública” — Despacho Conjunto nº 43/ME/MC/95, de 29 de Dezembro” (Veiga, 1996, p. 13).

Dentro das escolas, e como forma de reforçar a leitura escolarizada ou a denominada, nos programas de Língua Portuguesa, leitura orientada ou contratual, surge a Biblioteca Escolar como local privilegiado para a leitura recreativa e autónoma. Neste âmbito, na promoção do livro e da leitura, cabe à BE um papel primordial, central e sobretudo interventivo.

A função da biblioteca é enunciada em Lançar a Rede De Bibliotecas Escolares: Hoje, seja qual for o nome por que são designadas, as bibliotecas escolares, sobre as quais nos propomos reflectir, surgem como recursos básicos do processo educativo, sendo-lhes atribuído papel central em domínios tão importantes como: (i) a aprendizagem da leitura; (ii) o domínio dessa competência (literacia); (iii) a criação e o desenvolvimento do prazer de ler e a aquisição de hábitos de leitura; (iv) a capacidade de seleccionar informação e

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actuar criticamente perante a quantidade e diversidade de fundos e suportes que hoje são postos à disposição das pessoas; (v) o desenvolvimento de métodos de estudo, de investigação autónoma; (vi) o aprofundamento da cultura cívica, científica, tecnológica e artística (Veiga, 1996, p. 15).

O fundamento para o investimento nas Bibliotecas Escolares enraíza nos estudos sobre literacia e que concluíram que existe uma ligação indissociável entre a acessibilidade a recursos e espaços de leitura e os resultados dos alunos (Veiga, 1996).

Por outro lado, em 2006 nasce o Plano Nacional de Leitura, que se define igualmente como um programa de “iniciativa do Governo, da responsabilidade do Ministério da Educação, em articulação com o Ministério da Cultura e o Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares, sendo assumido como uma prioridade política” (Plano Nacional de Leitura, 2011). Define-se para o PNL um objetivo primordial: “O Plano Nacional de Leitura tem como objetivo central elevar os níveis de literacia dos portugueses e colocar o país a par dos nossos parceiros europeus.” Afirmando que se destina:

a criar condições para que os portugueses possam alcançar níveis de leitura em que se sintam plenamente aptos a lidar com a palavra escrita, em qualquer circunstância da vida, possam interpretar a informação disponibilizada pela comunicação social, aceder aos conhecimentos da Ciência e desfrutar as grandes obras da Literatura (Plano Nacional de Leitura, 2011).

Nos primeiros anos de existência do PNL, poucas eram as articulações existentes entre este e o programa RBE, no entanto, desde o ano de 2008 assistimos a uma progressiva e crescente articulação entre os programas no desenvolvimento de atividades conjuntas, onde o PNL se assume como dinamizador e a RBE como apoio e suporte quase instrumental. Temos como exemplo o projeto aLer+ que foi apresentado no dia 20 de Junho de 2008, com o objetivo de “incentivar as escolas a desenvolverem uma cultura integrada de leitura e a apostarem no trabalho em rede, envolvendo toda a comunidade escolar, as famílias, as bibliotecas públicas...” (Plano Nacional de Leitura, 2009). Enuncia-se, ainda, como objetivo deste projeto:

Pretende-se que as escolas e bibliotecas escolares em estreita parceria com as bibliotecas públicas e toda a comunidade possam criar uma cultura integrada de leitura. O projecto será lançado em 33 escolas, em todo o país, durante o ano lectivo 2008/2009. Após a avaliação do primeiro ano serão definidas estratégias de ampliação. (Plano Nacional de Leitura, 2011)

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Hoje cabe, mais do nunca, à BE desenvolver nos alunos competências de informação, “contribuindo assim para que os cidadãos se tornem mais conscientes, informados e participantes, e para o desenvolvimento cultural da sociedade no seu conjunto” (Veiga, 1996, p. 15). Assim, a BE deve constituir-se como uma medida política e como um centro de recursos multimédia de livre acesso, que proporcione o acesso a todo o tipo de informação – literária, científica, meios de comunicação social, audiovisual e informatizada.

Com escreve M. E. Martins, “Para ter leitores, é indispensável formá-los, não basta desejá-los. Formar leitores exige da escola, e dos vários intervenientes no processo educativo, atitudes que estimulem o pensamento, o sentido crítico, que respondam a desafios, apostando em objectos de leitura ricos e diversificados e numa postura de diálogo e cooperação, desde o início da escolaridade” (2012). É nesta perspetiva que a BE tem de articular as suas atividades, nomeadamente a promoção do livro e da leitura, proporcionando experiências de leitura bastante diversificadas e adequadas aos alunos e professores.

No entanto, qualquer projeto neste âmbito, levado a cabo pela BE, para obter sucesso, tem de assumir a Biblioteca como centro nevrálgico da promoção da leitura, mas que apenas sobrevive e ajuda a resolver os problemas de (i)literacia e dos alunos quando a Escola entende esta ação como sua. A articulação e cooperação entre os diferentes órgãos e estruturas educativas têm de ser efetivas e estarem expressas como necessidade coletiva nos diferentes documentos orientadores da escola, desde o seu Projeto Educativo de Escola, aos Planos Curriculares de Turma e Planos Individuais dos alunos.

A Biblioteca Escolar do Século XXI deve assim ser perspetivada, assumindo-se como “uma função na escola” (Das, 2012), usando todas as novas tecnologias e antecipando-se na utilização de novos métodos de ensino aprendizagem. Esta conceção não se distancia da de Nunes que define a BE como “ser palpitante no seio da comunidade escolar” e “coração da escola” (2003, p. 2). Tão pouco das Directrizes Da Ifla/Unesco Para Bibliotecas Escolares: “A biblioteca escolar proporciona informação e ideias fundamentais para sermos bem sucedidos na sociedade atual, baseada na informação e no conhecimento. A biblioteca escolar desenvolve nos estudantes competências para a aprendizagem ao longo da vida e desenvolve a imaginação, permitindo-lhes tornarem-se cidadãos responsáveis” (IFLA/UNESCO, 2006, p. 4).

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