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3 FEDERALISMO BRASILEIRO, RESPONSABILIDADES

3.8 Propostas do governo federal para a educação infantil no Plano Plurianual (PPA)

3.8.1 Proinfantil

O Proinfantil é um curso semipresencial de nível médio, na modalidade normal, destinado a professores que atuam na educação infantil da rede pública e instituições privadas sem fins lucrativos, que não tenham a formação específica para o magistério nesta etapa da educação.

O programa foi instituído pelo MEC em caráter emergencial, visando atender à exigência da LDB/1996, que prevê a formação dos docentes da educação básica em nível superior, admitindo para a educação infantil e primeiros anos do ensino fundamental uma formação mínima, oferecida em nível médio, na modalidade normal. A partir da constatação da precariedade na formação dos profissionais de educação infantil, segundo o Censo Escolar de (2006), havia cerca de 40 mil professores atuando nessa etapa da educação básica sem a qualificação mínima determinada por lei (CORSINO; GUIMARÃES; SOUZA, 2010).

Resta saber se tal desprofissionalização da categoria não tem a ver com o histórico rebaixamento de salários presente nesta etapa da educação básica. Em geral, a carreira docente é subdividida pelas etapas como se um professor da educação infantil ou dos anos iniciais não fosse tão professor quanto um professor do ensino médio, e o recorte de formação em magistério significa também um corte do piso inicial da carreira, pois profissionais com apenas o magistério são enquadrados no perfil profissional sem ensino superior. Além disso, de maneira geral, o imaginário social admite que para lidar com crianças em tenra idade não é necessário grande formação.

O Proinfantil teve início, em 2005, com um Grupo Piloto de aproximadamente 1.408 cursistas, distribuídos em quatro estados: Ceará, Goiás, Rondônia e Sergipe. Em 2006,

2.443 cursistas foram reunidos no Grupo 1 nos estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Piauí e Rondônia (CORSINO; GUIMARÃES; SOUZA, 2010). Em 2007, quatro universidades foram convidadas a participar do Proinfantil e, com o apoio do MEC, deram um redimensionamento nas discussões sobre as particularidades da educação infantil, bem como atuaram na tarefa de formar professores formadores e tutores, além de serem responsáveis pelo acompanhamento, orientação pedagógica e avaliação do programa (BARBOSA, 2011).

Em 2008, foi formado o Grupo 2, com 3.566 cursistas, nos estados de Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Pernambuco, Rondônia e Sergipe, o qual já pode contar com a parceria das quatro universidades (CORSINO; GUIMARÃES; SOUZA, 2010).

Em 2009, inicia-se o Grupo 3, com aproximadamente 8.971 cursistas e a parceria de 13 universidades federais, em 18 estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima e Sergipe (CORSINO; GUIMARÃES; SOUZA, 2010).

No que diz respeito a formação de docentes para atuar na educação infantil, a LDB no artigo 62, parágrafos 1º, 2º e 3º determina que:

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal.

§ 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios, em regime de colaboração, deverão promover a formação inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais do magistério.

§ 2º A formação continuada e a capacitação dos profissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecnologias de educação a distância.

§ 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo uso de recursos e tecnologias de educação a distância.

Vale destacar a ênfase dada ao regime de colaboração entre os entes federados para a promoção da formação continuada, ressaltando que a mesma deve priorizar o ensino presencial, ainda que seja admitida a educação à distância.

Neste sentido, a União, em parceria com estados e municípios, desenvolve o programa a partir da assinatura de acordos de participação, nos quais são definidas as responsabilidades de cada um dos entes envolvidos. Segundo Corsino, Guimarães e Souza (2010, p. 6):

O Ministério da Educação, por meio das Secretaria de Educação Básica e de Educação à Distância e em parceria com as universidades federais, responsabiliza-se pela elaboração da proposta técnica, pedagógica e financeira; pela produção, impressão e distribuição de material, pela estratégia de implementação do programa; pela formação das equipes envolvidas; pelo acompanhamento, monitoramento e avaliação de todas as ações.

Como o Proinfantil é uma proposta da União, operacionalizada pelo MEC, que funciona como um indutor de políticas, estados e municípios decidem se aderem ou não ao programa (CORSINO; GUIMARÃES; SOUZA, 2010). Em caso de adesão terão que disponibilizar recursos e articular o programa às “suas políticas de educação infantil e formação de professores dessa etapa da educação básica” (CORSINO; GUIMARÃES; SOUZA, 2010, p. 8).

A habilitação dos professores em cursos de magistério, com duração de dois anos, pretende aprimorar a prática pedagógica dos docentes, valorizar o magistério, oferecendo condições de crescimento profissional e pessoal ao professor, e contribuir para a qualidade da educação infantil, a fim de romper com a falta de qualificação profissional nessa etapa da educação básica (CORSINO; GUIMARÃES; SOUZA, 2010). Segundo Barbosa (2011, p. 394):

Perfazendo um total de 3.392 horas, distribuídas em quatro módulos semestrais de 848 horas cada um, o curso confere diploma com validade nacional para o exercício da docência na educação infantil. Cada módulo é desenvolvido por meio de atividades coletivas presenciais (fase presencial, encontros quinzenais e fase presencial intermediária); atividades individuais (leitura dos livros de estudo e realização dos exercícios no Caderno de Aprendizagem, prática pedagógica e elaboração do portfólio – planejamento diário, memorial, registro da atividade); e parte diversificada do currículo do ensino médio (projeto de estudo e língua estrangeira). A matriz curricular do programa apresenta, ainda, o Núcleo Comum Nacional, estruturado em seis áreas temáticas, que congregam uma base nacional do ensino médio: Linguagens e Códigos (língua portuguesa), Identidade, Sociedade e Cultura (sociologia, filosofia, antropologia, história e geografia), Matemática e Lógica (matemática), Vida e Natureza (biologia, física e química), além da formação pedagógica – Fundamentos da Educação e Organização do Trabalho Pedagógico.

Segundo a autora, a proposta pedagógica do Proinfantil está baseada em eixos integradores e na interdisciplinaridade, buscando a articulação dos conteúdos do curso às experiências dos professores e às particularidades do trabalho docente na educação infantil (BARBOSA, 2011).

Barbosa (2011) destaca a alta rotatividade dos professores na educação infantil, devido à falta de estabilidade e a precarização das relações de trabalho como um dos entraves do êxito do programa, isso sem mencionar a realocação dos professores formados no Proinfantil para o ensino fundamental. Além disso, a autora defende, com o conjunto dos movimentos sociais, que a formação dos profissionais da educação infantil ocorra em nível superior, o que

inibiria a estratégia de rebaixamento de salários ligados à habilitação requerida no momento da entrada no cargo. De acordo com pesquisa de Pinto (2009b), o salário do professor de educação infantil é menor do que o salário do professor de ensino fundamental e ensino médio. Como sempre, tem-se como justificativa para estreitamento dos salários dos docentes da educação infantil a exigência de a formação inicial ser inferior à dos professores das outras etapas da educação básica.

Atualmente, muitas são as lutas que se travam em prol da equiparação salarial da carreira de professor da educação infantil com a de professor das demais etapas da educação básica. Isto porque a maioria dos professores da educação infantil já possuem formação superior. De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica de 2016, na educação infantil praticamente não há professores só com o ensino fundamental; os professores com formação em nível médio somam 34% (193.601), e aqueles que possuem ensino superior 66% (378.600), como apresenta a Tabela 18.

Tabela 18 — Número de docentes da educação infantil por nível de escolaridade, em 2016

Fundamental Médio Ensino Superior Total

Creche 1.716 91.497 168.354 261.567

Pré-Escola 1.319 102.104 210.246 313.669

Total 3.035 193.601 378.600 575.236

% 0,00% 34,00% 66,00% 100%

Fonte: Inep/Sinopse Estatística da Educação Básica (2016).

No entanto, os dados do Censo Escolar da Educação Básica (2016) não esclarecem se a formação em nível médio está ou não conjugada com a formação em magistério. Partindo do pressuposto de que a formação em nível médio na modalidade normal é pré-requisito necessário para a atuação de professores na educação infantil e nos anos iniciais, e do entendimento que os concursos públicos trazem essa exigência nos editais, pode-se admitir que essa formação é sim preponderante, no entanto, não se pode precisar os valores, já que desde 2010 os dados aparecem no Censo Escolar de maneira agrupada. Esses mesmos dados também revelam que ainda existe a necessidade de incentivos à formação em nível superior dos profissionais da educação infantil.

O Proinfantil foi articulado pelas subfunções: 128 (Formação de Recursos Humanos) e 365 (Educação Infantil), tendo como órgão orçamentário o MEC. Conforme apresentado pela Tabela 19 e Gráfico 3, os índices de execução do Proinfantil foram altos,

exceto no ano de 2007, quando a diferença entre os valores empenhados e liquidados foi de quase dois terços. Também chama atenção a queda brusca de recursos destinados ao programa a partir do segundo ano de sua implantação.

Tabela 19 — Programa Proinfantil por fase de execução, de 2005 a 2007, em valores nominais

R$ 1,00

Ano Órgão

Orçamentário Ação

Dotação

Atual Empenhado Liquidado Pago

2005 26000 - MEC 8379 - Formação em Serviço e Certificação em Nível Médio de Professores Não- Titulados da Educação Infantil 5.826.707 5.826.707 5.826.707 5.426.707 2006 26000 - MEC 8379 - Formação em Serviço e Certificação em Nível Médio de Professores Não- Titulados da Educação Infantil - Proinfantil 1.960.000 1.960.000 1.960.000 1.960.000 2007 26000 - MEC 8379 - Formação em Serviço e Certificação em Nível Médio de Professores Não- Titulados da Educação Infantil - Proinfantil 2.000.000 1.820.903 619.500 619.500 Total 9.786.707 9.607.610 8.406.207 8.006.207 Fonte: SIAFI.

Gráfico 3 — Programa Proinfantil – Evolução Orçamentária através dos exercícios (Empenhado, Liquidado e Pago), de 2005 a 2007, em valores nominais

Com o objetivo de ampliar o Proinfantil, no final de 2007, o Ministério da Educação propôs que partes das ações fossem executadas em parceria com universidades públicas, por meio da descentralização de créditos para estas instituições.

Cabe destacar que, além do Proinfantil, a fim de promover a formação inicial dos professores que atuam na educação infantil, também foi desenvolvido pelo governo federal a ação 0973 (Apoio à Formação Continuada de Professores da Educação Infantil), como apresentado na Tabela 20 e Gráfico 4.

Tabela 20 — Apoio à Formação Continuada de Professores da Educação Infantil por fase de execução, de 2005 a 2007, em valores nominais

R$ 1,00

Ano Órgão

Orçamentário Ação

Dotação

Atual Empenhado Liquidado Pago

2005 26000 - MEC 0973 - Apoio à Formação Continuada de Professores da Educação Infantil 6.000.000 5.998.143 5.998.143 5.334.953 2006 26000 - MEC 0973 - Apoio à Formação Continuada de Professores da Educação Infantil 2.702.194 2.702.171 2.702.171 2.472.590 2007 26000 - MEC 0973 - Apoio à Formação Continuada de Professores da Educação Infantil 0 0 0 0 Total 8.702.194 8.700.314 8.700.314 7.807.542 Fonte: SIAFI.

Gráfico 4 — Apoio à Formação Continuada de Professores da Educação Infantil – Evolução Orçamentária através dos exercícios (Empenhado, Liquidado e Pago), de 2005 a 2006, em

valores nominais

No que diz respeito a execução da ação Apoio à Formação Continuada de Professores da Educação Infantil, destaca-se a queda da dotação orçamentária destinada à ação em mais da metade do valor a partir do segundo ano da implementação da mesma, bem como a ausência de disponibilidade de recursos para a ação no ano de 2007. De acordo com o Relatório de Gestão do MEC, do exercício de 2007, em decorrência da reestruturação nos processos de transferência voluntária dos recursos da educação básica por meio do Plano de Ações Articuladas (PAR) e da reformatação no processo de implementação dos programas da Secretaria de Educação Básica, de modo atípico, a ação não foi executada, tendo a totalidade dos créditos previstos cancelados.

3.9 Propostas do governo federal para a educação infantil no Plano Plurianual (PPA) 2008-2011

O PPA (2008-2011) enfatizou três eixos: o crescimento econômico por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); a agenda social, com foco na continuidade de programas de transferência de renda como o Bolsa-Família; e a educação de qualidade, com o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

O PDE, lançado em 2007, na transição de mandatos de Lula, culmina em várias ações do PPA (2008-2011), concretizadas pelo Decreto 6.094/2007, cujo título do primeiro capítulo, “Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação” e metas elencadas, faz referência ao Movimento Todos pela Educação, liderado por um grupo de empresários (PINTO, 2009a).

No âmbito da educação infantil, o Programa Proinfância (Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil) deu a tônica dos investimentos do governo federal, conforme apresentado no Quadro 12.

Quadro 12 — Principais ações e programas de responsabilidade do MEC/FNDE no PPA (2008- 2011) para a educação infantil, em valores nominais

PPA Programa e Objetivo

Unidade e Órgão orçamentário responsável Ação Metas- Produto Previsão Custos em R$1,00 PPA (2008- 2011) 2ª Gestão Lula e 1ª Gestão Dilma Programa 1448 Qualidade na Escola. Objetivo: Expandir e melhorar a qualidade da educação básica Público-alvo Alunos e Professores da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio)

FNDE/MEC

12KU Implantação de Escolas para Educação Infantil 1695 escolas implantadas 890.998.785 FNDE/MEC 8746 Apoio à Aquisição de Equipamentos para a Rede Pública da Educação Infantil 2892 escolas equipadas 154.200.000 FNDE/MEC 8682 Apoio à Elaboração da Proposta Pedagógica, Práticas e Recursos Pedagógicos para Educação Infantil 22.248 Sistemas de Ensino apoiados 19.637.777 Programa 1061 Brasil Escolarizado

Objetivo; Contribuir para a universalização da Educação Básica, assegurando equidade nas condições de acesso e permanência Público-alvo Crianças, adolescentes e jovens FNDE/MEC 6351 Distribuição de Materiais Educativos e Pedagógicos para a Educação Infantil 40.000 materiais pedagógicos distribuídos 99 Fonte: PPA (2008-2011).

Merece destaque a ação 8746 (Apoio à Aquisição de Equipamentos para a Rede Pública da Educação Infantil) e a ação 12KU (Implantação de Escolas para Educação Infantil), as quais concentraram a imensa maioria dos recursos previstos no PPA (2008-2011) para a educação infantil. Inclusive, a partir de 2011, o maior volume de recurso destinado ao Proinfância passou a se concentrar na ação 12KU.