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4 Ferramentas de Suporte ao Desenvolvimento de Novos Produtos

4.3 Análise das Ferramentas de Apoio ao DNP

4.3.1 Soluções Inovativas e Criativas

4.3.1.2 Projecto Criativo

Neste Subcapítulo aborda-se agora outra ferramenta intrinsecamente associada à criatividade e conhecida por “projecto criativo” ou “creative design”. Convirá à partida, compreender a necessidade de uma característica tão importante nos seres humanos como é a criatividade, a capacidade de criar algo de novo através de métodos sistemáticos ou da imaginação e, em especial, quando reportado ao DNP.

Esse desenvolvimento de um produto passa necessariamente por uma fase inicial de concepção, designada por muitos autores de projecto informacional e conceptual (Detanico

DNP

Inovação/Melhoria Incremental

Inovação/Melhoria Radical ou Disruptiva

Estratégia RED OCEAN Estratégia BLUE OCEAN

Problemas Problemas

TRIZ

(1ºNível) TRIZ (2ºNível) TRIZ (3ºNível) TRIZ (4ºNível) (5ºNível) Produtos Existentes Pequenas Melhorias • Contradições Grandes MelhoriasContradiçõesS-Field Novas Descobertas Novo ConceitoContradiçõesS-Field ARIZ

et al., 2010). Durante essa fase, é necessária a geração de soluções alternativas, exigindo a

participação criativa do projectista ou da equipa responsável pelo projecto. Esse processo criativo conta não somente com a inspiração e imaginação destas pessoas, mas também com métodos e ferramentas que permitam a manifestação da criatividade. Este facto já foi referido por alguns autores nomeadamente Shéu e Lee (2011). É possível entender que todo o indivíduo com conhecimentos técnicos, formação, treino e aperfeiçoamento, motivação e conhecimento de certas metodologias e/ou ferramentas seja capaz de gerar soluções úteis e inovadoras, tanto de uma forma sistemática e convergente como, ao invés, de forma divergente.

Se isto é verdade para um indivíduo, mais evidente o será para uma equipa multidisciplinar (Ulrich e Eppinger, 2000; p.3 e 4). Há pesquisas que mostram que a criatividade para encontrar soluções de projecto de produtos, nasce com frequência, na analogia directa com a natureza e dai o conceito de “Biónica” ou “Biomimética”, que consiste em analisar o funcionamento de sistemas ou processos naturais, reproduzindo depois os seus princípios de solução (Detanico et al., 2010). Dessa analogia surgem, muitas vezes, contribuições relevantes no processo de DNP. Tais adaptações permitem a criação de formas, funções ou, ainda, comportamentos análogos. Na verdade, e de acordo com Gomes et al. (2006), num “projecto criativo” a analogia é um processo de raciocínio importante, que permite a geração de novos artefactos, usando ideias provenientes de domínios técnicos e/ou científicos, por vezes distantes. Tal é o caso das analogias emanadas da natureza. Eis portanto uma boa génese para o projecto criativo: a analogia: designa-se como “abordagem ao projecto

baseado na analogia (approach to analogy-based design), tal como referem Gomes et al. (2006). Mas existem outras abordagens, para além desta, que podem ser utilizadas no projecto criativo. É uma questão de criatividade.

Do trabalho de Matini e Knippers (2008), também descrito por Detanico et al. (2010), é interessante retirar um excelente exemplo de analogia com a natureza animal. Nada mais nada menos que a aplicação do movimento da minhoca. Matini e Knippers (2008) verificaram que sob a pele do verme existem dois principais grupos de músculos: longitudinais e circulares. Quando os circulares se contraem tornam a minhoca mais alongada e fina. Mas, quando os músculos longitudinais se contraem, a minhoca torna-se mais curta e mais larga (com menor esbeltez). Estas situações são evidentes nas ilustrações 4-6, 4-7, 4-8 e 4-9.

Ilustração 4-6– Exemplo de transformação.

Ilustração 4-7 - Representação dos grupos de músculos da minhoca.

Fonte: Matini e Knippers (2008)

Veja-se como os autores representam a deformação do corpo da minhoca representada graficamente por um modelo 3D, composto de linhas vermelhas e verdes e pontos pretos. Utilizaram três modificações estruturais ao sistema inicial, adicionaram as linhas diagonais (azuis), subtraíram as linhas extra (as linhas verde e vermelho, que não desempenham um papel importante na deformação do modelo) e mudaram a cor dos pontos de preto para azul.

Ilustração 4-8 - Sequência da transformação da minhoca.

Fonte: Matini e Knippers (2008)

Daqui resulta o conceito de uma estrutura cilíndrica retráctil, que pode ser utilizado em diferentes aplicações na arquitectura, na própria engenharia, ou ainda noutro tipo de indústrias de novos produtos decorativos. Acerca de analogias biológicas e projecto (design), deve citar-se o trabalho de referência de Thomas et al. (2004). Do grupo de investigadores faz parte o professor Shu do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que na década de 90 do século XX foi o “pai” da teoria designada por projecto axiomático.

Através da deformação em espiral das hastes elásticas e a orientação das articulações, estas estruturas (a cilíndrica e a circular) podem assumir outras formas, alterando a altura e a

largura. Este conceito foi desenvolvido sob a forma de modelos físicos e computacionais pelos autores (Matini e Knippers, 2008) de acordo com a ilustração 4-9

Ilustração 4-9 – Teste do resultado com modelo físico real.

Fonte: Matini e Knippers (2008)

Do ponto de vista da abordagem do projecto criativo por analogia, o exemplo apresentado é suficientemente esclarecedor das suas potencialidades. Tratou-se uma analogia extraída do movimento e da morfologia de um pequeno animal (verme), para a criação de um objecto físico, que poderia constituir um novo produto para o sector da decoração. Daqui se pode extrapolar para as imensas potencialidades desta abordagem.

Mas há mais abordagens diferentes que interessam considerar, no que concerne ao projecto criativo. Abordagens criativas associadas ao TRIZ podem ser encontradas em Li et al. (2007), Seok e Prakash (2012) e também num artigo com proximidade ao Case Based Reasoning (CBR) em Gomes et al. (2006), a abordar mais adiante. De qualquer modo, o projecto criativo está em evolução, e seguramente no futuro próximo, encontrará mais abordagens, que não apenas esta por analogia, que parece prometedora. Deverá ainda induzir-se a ideia conceptual de que o projecto criativo, nomeadamente na versão “analogia”, se enquadra bem com estratégias Blue Ocean. Na ilustração 2-1 (“O modelo das quatro acções” - Subcapítulo 2.1.3.) destaca-se a acção “criar” como essencial à consecução da BOS. O projecto criativo parece constituir-se como uma ferramenta metodológica adequada ao DNP, que visa necessidades futuras do mercado e para as quais ainda não existe concorrência conhecida.