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3.2 Ampliação da jornada escolar em Minas Gerais: aluno, escola e educação em tempo

3.2.1 Projeto Aluno de tempo integral (PATI) – Período 2005 – 2006

No contexto da reforma gerencial ocorrida na primeira geração da administração do “Choque de Gestão”, o EVCA, enquanto projeto estruturador concentrava vários subprojetos. Como proposta de ampliação da jornada escolar diária dos alunos na escola foi agregado ao EVCA o “Projeto Aluno de Tempo Integral” (PATI), com o intuito de que os estudantes nele inseridos pudessem ter maiores e melhores oportunidades de formação logrando sucesso na vida escolar. A SEE/MG deu início ao PATI no ano de 2005, desenvolvendo as atividades inicialmente em escolas da região metropolitana de Belo Horizonte e se estendendo posteriormente a escolas de outros 14 municípios do Estado, chegando a atender cerca de 180 escolas na região (PAIVA, 2013).

Seguindo diretrizes semelhantes às do EVCA no que diz respeito aos objetivos, ao público alvo e às atividades pedagógicas a serem realizadas, o PATI estruturou-se “(...) para atender às necessidades educativas dos alunos das escolas estaduais localizadas em áreas de vulnerabilidade social” (MINAS GERAIS, 2007a, p. 06). Segundo consta no projeto o mesmo se constituiu como estratégia para buscar a melhoria do desempenho acadêmico do aluno e a ampliação das experiências artísticas, culturais e esportivas. As atividades previstas podiam ser desenvolvidas tanto na escola como em outros espaços da comunidade através do estabelecimento de parcerias com a sociedade civil.

O PATI por originar-se de um projeto que reunia intencionalidades também da secretaria de segurança carrega marcas de um foco educacional impregnado pelo sentido da guarda, do disciplinamento e da proteção. No contexto do projeto, essas finalidades são consideradas como socialmente necessárias. Porém, o educar na perspectiva integral, alcança um sentido mais pleno e concreto quando propicia a emancipação por meio da apropriação dos diversos saberes e da realidade com as suas contradições, assim como da construção de um conhecimento que possibilite de certo modo a transformação dessa mesma realidade. Para tal, necessário se faz uma ampla formação da pessoa humana, implicando que estejam integrados os mais diversos aspectos do processo educativo.

Na análise de Cavaliere (2009), um componente importante que não pode ser descartado é a concepção de educação integral assumida por cada política implantada, tendo em vista que esse aspecto pode trazer implicações do ponto de vista prático. A utilização do termo “aluno”, como é o caso do projeto em discussão, pode induzir a posicionamentos

políticos com repercussões no investimento que deveria ser feito na melhoria da estruturação da escola enquanto instituição primordialmente responsável pelo desenvolvimento dos projetos aventados. Sendo o aluno o elemento objetivo do que se contempla como primordialmente de tempo integral, subentende-se que esse sujeito pode estar em qualquer outro ambiente e não necessariamente na escola e, por isso, não se entende, ou não se quer entender, como indispensável a melhoria da estrutura física, da composição humana e da ambiência pedagógica das instituições escolares.

Se se toma como sentido de análise o termo aluno na perspectiva da totalidade, enquanto sujeito no e do processo educativo, ele não pode ser “aluno” em tempo integral, ele é uma pessoa, um ser humano integral inserido em seu tempo histórico com todas as determinações, mediações e interações desse contexto. E a educação formal na qual ele está inserido ficaria muito reduzida se o considerasse apenas como aluno no sentido da escolarização, mesmo esta se dando em tempo-espaços diversificados. A exagerada escolarização da pessoa no contexto escolar pode tornar a experiência na ETI menos significativa do que deveria, esse fato pode contribuir para causar desmotivação, desinteresse e, consequentemente, evasão.

No ano de 2007 o governador Aécio Neves, do PSDB, fora reeleito e nesse mandato se iniciaria a segunda geração da política de “Choque de Gestão” cujo objetivo primordial era, em tese, potencializar a efetividade da administração pública estadual promovendo um ajuste à realidade (VILHENA, 2006). O Estado mantinha uma relação administrativa que previa em caso de resultados positivos as recompensas por meio da concessão de prêmio por produtividade aos servidores e, caso fossem negativos, as retaliações cujas consequências poderiam chegar à censura pública do dirigente dos órgãos e entidades estaduais e até a perda do cargo público por parte dos servidores (VILHENA, 2006).

Nas palavras da então Secretária de Planejamento Renata Vilhena o grande desafio do novo período administrativo seria

[...] consolidar, institucionalizar o processo de transformação, de forma a assegurar a sua irreversibilidade, indo além da ideia de responsabilidade fiscal e incluindo uma responsabilidade social e de gestão, que, em última análise, significa o comprometimento com os resultados de desenvolvimento e a respectiva prestação de contas à sociedade. Um projeto como o Choque de Gestão não pode estar circunscrito a apenas um governo. A transformação do padrão de gestão é um desafio que requer o comprometimento de todos: da sociedade, que, em última instância, será a beneficiada, e dos servidores que serão os operadores da mudança. Por isto, não pode ser um projeto de um só governo, deve ser um projeto de Estado, mais ainda um projeto da sociedade mineira. Uma administração pública, dotada de condições

adequadas, vai permitir maior efetividade no atendimento das demandas sociais, vai permitir o desenvolvimento do setor privado e de segmentos da sociedade organizada e, por fim, vai contribuir para a consolidação da democracia. (VILHENA, 2006, p, 354-355).

Nessa direção o Estado projetava continuar adotando medidas para, segundo eles, consolidar os avanços alcançados na última gestão assim como fazer ajustes no sentido de corrigir rumos para mais um período sob o guante de choque de gestão (VILHENA, 2006).

Como mecanismo que contribui para aplacar contradições sociais, a educação em tempo integral continuou sendo uma estratégia interessante no desenvolvimento da política educacional de Minas Gerais. Com a experiência acumulada no desenvolvimento do PATI, o programa foi reformulado e ampliado, transformando-se em “Projeto Escola de Tempo Integral” (PROETI) previsto para atender, de forma gradativa, todas as regiões do Estado.