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3.2 Ampliação da jornada escolar em Minas Gerais: aluno, escola e educação em tempo

4.1.2 Protagonistas de uma realidade: a escola e os participantes da pesquisa

forma de preservar a identidade do local e das pessoas partícipes dessa investigação. As razões fundantes da escolha dessa instituição foram: ter ofertado o Proeeti nos anos finais do ensino fundamental no período analisado; ser uma escola que, por sua localização geográfica, atende a um público oriundo de diversos bairros da cidade; ter tradição visto ser uma instituição com mais de cinquenta anos de funcionamento; contar com um serviço público consistente com a educação de tempo integral.

A Escola “A”, situada em zona periférica da cidade, funciona nos turnos matutino e vespertino atendendo ao ensino fundamental e médio. A grande maioria dos alunos é oriunda de classes socialmente desfavorecidas ou de “baixa renda”, alguns são filhos de pequenos comerciantes da região. As famílias vivem de subempregos e os jovens precisam muito cedo procurar ocupação remunerada como meio de sobrevivência, fator que contribui para abandonarem a escola. Muitos são criados por avós e outros parentes. Quando moram com os pais, geralmente separados, assumem responsabilidades desde pequenos visto que aqueles ficam ausentes de casa o dia todo deixando aos filhos menores os afazeres domésticos.

A escola reporta o enfrentamento do fenômeno da indisciplina o qual tem contribuído com resultados considerados insatisfatórios e, nesse aspecto, conta com pouco apoio das famílias, pois estas tem delegado à escola a responsabilidade pela educação das crianças e jovens (PPP, 2010).

No que diz respeito aos participantes dessa pesquisa, no PPP (2010) consta que o quadro docente da escola era composto por um total de 35 professores, no tempo integral eram 5 profissionais. Deste total, o quadro de participantes da pesquisa foi constituído por três professoras que foram denominadas de P1, P2 e P3. Contou-se ainda com a diretora da mesma escola e sete alunos que participaram do grupo focal, estes foram identificados pela letra A, seguida da numeração correspondente (de A1 a A7). Contou-se ainda com a

colaboração de uma coordenadora da ETI da rede estadual do município. Sendo assim, o quadro total foi de 12 pessoas, todos participantes do Proeeti no período analisado.

O perfil dos entrevistados é evidenciado no quadro abaixo, o qual referencia aspectos como: função, área de atuação, formação, experiência no magistério, na instituição e na educação em tempo integral. Todas as profissionais participantes são do sexo feminino e estão na faixa etária dos 40 aos 55 anos.

Quadro 9- Perfil dos participantes da pesquisa - 2018

DADOS Função Área Formação Experiência

Magistério Experiência Instituição Experiência T. Integral Situação funcional PARTICIPANTES 1 – P1 Docente Língua Portuguesa Pedagogia/Letras Inglês e 5 pós grad.(esp.)

22 anos 6 anos 2 anos Efetiva

2 – P2 Docente e

vice-diretora Educação Física Ed. Física 2 pós grad.(esp.) 15 anos 10 anos 5 anos Efetiva

3 – P3 Docente Regente Pedagogia

5 pós grad.(esp.)

11 anos 5 anos 2 anos Contratada

4 - Direção Administrativa Matemática e Física / Pós Mat.

16 anos 11 anos / 5 gestora

4 anos Contratada

5 - Coordenação Administrativa Pedagogia Pós/Gestão Escolar (esp.)

25 anos 18

anos/SRE 10 anos Efetiva

6 (7 alunos) Estudantes Ensino Médio 4 do 2º ano e 3 do 1º ano - De 5 a 11 anos que estudam na escola De 2 a 10 anos no Tempo Integral -

Fonte: A autora, entrevistas e grupo focal, Montes Claros, 2017/2018.

Das professoras entrevistadas, duas eram efetivas e uma contratada sendo que a diretora também tinha a sua situação funcional como contratada. Cargo que, em termos gerais, é ocupado por professores efetivos. Por outro lado a coordenadora entrevistada exercia um cargo efetivo na Superintendência Regional de Ensino. Todas as profissionais possuíam formação em nível superior, com uma experiência de 11 a 25 anos de atuação no magistério e de 5 a 18 anos nas instituições em que se encontravam exercendo as suas atividades.

Quanto aos alunos, estes cursavam o Ensino Médio no ano da pesquisa, sendo que quatro estavam regularmente matriculados no 2º ano e três no 1º ano. Dos sete participantes, duas são do sexo feminino e cinco do masculino, todos na faixa etária dos 15 aos 17 anos.

O tempo em que estudaram na escola variou de 5 a 11 anos, já a frequência no tempo integral variou de 2 a 10 anos. Os dados sobre os alunos participantes do grupo focal apontaram aspectos referentes à ocupação que exerciam quando não estavam na escola, com quem moravam e quantos eram os moradores em suas respectivas residências.

No tocante à ocupação destacam-se as seguintes funções: uma era babá, outro serralheiro, dois atuavam como serventes de pedreiro, um trabalhava em uma distribuidora, um era lavador de automóveis, e o outro fazia ‘rolos ou bicos’.

A análise destas informações permite levantar a hipótese de que os alunos entrevistados no grupo focal estavam na condição de subempregados, situação esta possivelmente relacionada às condições familiares, sendo que os rendimentos recebidos contribuíam para garantir ou auxiliar a sobrevivência de suas famílias.

O relatório do IBGE (2015)55 assevera que no Brasil tem diminuído a população

jovem e ao mesmo tempo tinha crescido a parcela dessa população potencial fora do mercado de trabalho. Todavia alerta que, na faixa etária de 16 a 24 anos, a ausência ou pouca participação nesse mercado a priori não deveria ser interpretado como um aspecto negativo visto que poderia ser também considerado como uma forma de investimento da família em maior formação e qualificação desses jovens.

Conforme afirma Pochmann (2016), os novos arranjos demográficos no Brasil impõem crescentes desafios ao campo educacional. Fato que remete ao entendimento de que o jovem requer espaço e oportunidades associado ao processo educacional para ingressar em condições mais adequadas no mercado de trabalho. A ampliação da jornada escolar dos alunos tem emergido como uma possibilidade real de investimento nesse campo.

Em relação à assertiva sobre com quem moravam os alunos entrevistados e quantos membros habitavam as suas moradias, A1 informou que morava com a avó e a tia, sendo três moradores em sua residência; A2 residia com o pai, a mãe, uma irmã e uma sobrinha, num total de cinco pessoas ; A3 compunha um grupo familiar de quatro pessoas, sendo formado por ela, a avó, um tio e um irmão; A4 convivia com a irmã, a tia e dois primos, sendo quatro moradores em sua residência; A5 constituía um grupo familiar de quatro pessoas: ela, a mãe, uma prima e um tio; A6 residia com a mãe, o pai, um irmão e uma irmã, constituindo cinco pessoas em sua casa e A7 morava com a mãe, o pai e dois irmãos, num total de cinco moradores em sua residência.

Nesse aspecto, verificou-se que os grupos domésticos dos alunos participantes da pesquisa correspondem, em certa medida, aos novos arranjos familiares56, os quais

evidenciam mudanças a partir de transformações em três aspectos fundamentais a dinâmica

55INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2016 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro: IBGE, 2015.

56INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2016 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. - Rio de Janeiro: IBGE, 2015.

social, o perfil demográfico e a legislação vigente, impulsionadas por reflexos culturais, sociais, políticos, éticos e econômicos de uma sociedade em transição.

De acordo com Carvalho e Almeida (2003) a família é considerada como elemento chave não apenas para a sobrevivência, mas também para a socialização e transmissão do capital cultural e humano. Essa milenar instituição têm vivenciado transformações que complexificam o desempenho do seu papel social e de proteção de seus membros.

Assim, as diferentes formas de organização dos grupos familiares e suas dinâmicas são demandas presentes na vida dos alunos atendidos pelo projeto de educação de tempo integral na escola pesquisada.

4.2 O Proeeti na visão dos participantes: adesão, processos organizativos,