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PROJETO CASAS 20K

No documento Arquitetura da coexistência (páginas 89-99)

2. ARQUITETURA DE INTERESSE PÚBLICO

3.2 PROJETO CASAS 20K

O Projeto de Pesquisa 20K Houses60 faz parte do Programa de Extensão Universitária,

que começa em 2005 com a proposta de ser uma pesquisa contínua dentro do Rural Studio. A proposta do programa é a de projetar casas decentes; de tamanhos razoáveis; com custos acessíveis e prover uma alternativa aos trailers que servem de moradia à população norte-americana mais pobre.

A cada ano, o projeto de pesquisa tem executado, em média, duas casas. O estúdio utiliza o tempo de forma adequada para analisar cada detalhe, reletir sobre interações anteriores e aperfeiçoar o trabalho.

Este projeto é inanciado por um empréstimo do governo conhecido como Ajuda Mutual Seção 502 para Habitação e está destinado a pessoas com baixa renda para a construção de suas casas. O valor total do empréstimo chega a 124 mil dólares. Porém, aproximadamente um terço dos moradores da região do Hale County vive abaixo da linha de pobreza e não teria condições materiais de cumprir com o valor da parcela de empréstimo e, portanto, acaba não sendo elegível para o programa. A solução para essas pessoas, via de regra, são os trailers, que possuem rápida depreciação física.

A seguir, a imagem da moradia anterior do casal de idosos Ora Lee e Anderson Harry, moradores do condado de Hale County e uma das primeiras famílias a serem atendidas pelo Rural Studio. A moradia não possuía água encanada ou aquecimento.

fiGura 31 - Casa do Sr. Harry. Foto: Timothy Hursley. Fonte: (DEAN, 2002)

Logo, o desaio colocado ao grupo foi projetar uma casa que custasse 20 mil dólares, onde o comprometimento mensal do morador com o empréstimo não ultrapasse 100 dólares. Em geral, as casas do 20K estabelecem uma relação de custo de cerca de 10 mil dólares em materiais e 10 mil dólares em mão de obra.

A ideia também é criar um modelo reproduzível em escala industrial, que se liga a outra diretriz do programa: que o projeto da casa possa ser construído em três semanas. Essa diretriz está ligada a um objetivo maior que é o de proporcionar mudanças efetivas nas questões habitacionais da região. O prazo de uma casa, a cada três semanas, propiciaria a construção de 60 casas ao ano.

Outro objetivo relevante é criar uma microeconomia a partir do uso de materiais e mão de obra local. E mais adiante propiciar incremento de renda para a população.

Casa 20K V03 ou Casa do Joe & sherman

A Casa de Joe e Sherman foi concebida e produzida nos anos 2006-2007, na cidade de Greensboro. Ela também é chamada de Casa V03, sua numeração dentro do projeto 20K Houses.

Enquanto as duas primeiras versões da Casa 20K utilizavam estrutura de madeira tradicional da região, a Casa V03 utiliza duas grandes treliças de madeira, locadas na extremidade da casa no sentido longitudinal visando reduzir o número de fundações e pilares. O conceito estrutural da casa pode ser observado na imagem a seguir.

fiGura 32 - Foto da construção da casa que demonstra as duas treliças laterais e as tesouras do telhado apoiadas

nela. Fonte: Acervo Rural Studio (RURAL STUDIO)

O vão que a treliça consegue vencer determinou o tamanho da casa. Embora a casa tenha 19,51 metros de comprimento, as duas treliças têm apenas três pontos de apoio ao longo desse vão, exigindo apenas seis pontos de fundação para a casa inteira.

A casa é dividida em duas partes, com uma varanda compartilhada, conigurando duas unidades habitacionais. Este alpendre compartilhado se referencia diretamente no vernáculo do dogtrot.

As áreas internas das unidades são organizadas através de um núcleo central de serviços, otimizando sistemas e características espaciais: social próximo da entrada (sala de estar); íntima (dormitório após o núcleo central de serviços). Este tipo de solução também aperfeiçoa a circulação, criando um espaço híbrido de passagem e permanência.

Aqui cabe uma comparação entre a perspectiva axiométrica da casa, que nos mostra como ela está dividida e a planta de uma casa tradicional da região, iguras 34 e 35 respectivamente.

fiGura 33 - Perspectiva Axiométrica. Fonte: (RURAL STUDIO)

fiGura 34 -Fachada principal da casa. Fonte: (RURAL STUDIO)

Vale notar que os espaços integrados e lexíveis permitem múltiplos usos organizados pelo tempo e não por sua determinação física. Além disso, a planta aberta permite adequações que possam ocorrer durante o tempo de moradia. A próxima imagem ilustra a unidade maior da casa, com a sala de estar em primeiro plano, e logo o núcleo de serviços e, no fundo, o dormitório.

fiGura 35 - Sala de Estar e Núcleo Central de Serviço, dormitório ao fundo. Fonte: (RURAL STUDIO)

Casa 20K V06 ou a Casa de Tora de madeira

A Casa de Toras de Madeira é uma casa do ano de 2008, na cidade de Greensboro. Ela foi projetada juntamente com mais quatro, que são suas vizinhas, como mostra a imagem a seguir:

A Casa V06 parte do estudo da viabilidade de utilização de desbastes lorestais de origem local como material de construção. Em parceria com o Serviço Florestal local, a equipe foi capaz de colher madeiras de pequeno diâmetro que são removidas durante a prática de relorestamento sustentável. O material, que tem pouco valor fora da sua utilização na celulose, é muito abundante no Alabama.

A estrutura de madeira da Casa utiliza os desbastes em sua forma mais crua: redonda e verde. As árvores foram descascadas e tratadas com uma solução à base de boro para repelir insetos. Uma vez que a madeira não tinha sido seca, as peças irão sofrer encolhimento e torção ao longo do tempo.

Para permitir este movimento, cada madeira está ligada apenas no centro de cada uma das suas extremidades, permitindo o giro do pivô ao longo do seu eixo central.

As toras são depois ligadas numa coniguração de tesoura, o que tira proveito da força da madeira em tensão e compressão. Conceitualmente, as toras de madeiras são a estrutura da casa, enquanto as cortinas (fechamento) cobrem e protegem as tesouras.

Observamos aqui a assimilação do conceito estrutural da casa V03: treliças no sentido longitudinal da casa (maior vão), afastamento do solo permitindo sua permeabilidade e espaços internos organizados a partir do núcleo central de serviços.

Os espaços interiores da casa de um quarto são divididos por um núcleo central, que também contém a maioria do encanamento da casa e da eletricidade. Cada um dos quatro lados do núcleo tem uma função diferente: cozinha, banheiro, quarto e área de serviço. A centralização do núcleo também permite uma visão completa das treliças de madeira.

Apesar de esta casa incorporar as soluções da V03, elas não se assemelham em termos volumétricos e de linguagem, criando identidade do morador com a sua casa. Podemos observar na igura 39 diferença na volumetria, implantação de menor tamanho para entrada do terreno e materiais de vedação.

Pode-se observar a articulação do espaço através do núcleo central. Além de otimizar e organizar o espaço, comportar todas as atividades hidráulicas da casa em um só espaço, essa nucleação permite espaços desenhados para armazenamentos (armários).

fiGura 40 - Corte Longitudinal. Fonte: (RURAL STUDIO)

As treliças longitudinais de tora de madeira com toras transversais simples apoiadas nelas. Essas toras transversais recebem o telhado com nove camadas de materiais. As placas de vedação vertical possuem nove camadas equivalentes.

Casa 20K V07 ou a Casa Ponte

A casa V07 assimila boa parte das soluções identiicadas nas casas anteriores: Alpendre, treliça longitudinal, casa afastada do solo e núcleo de serviço central.

O diferencial deste projeto é a investigação do sistema de treliça metálica.

A solução continua sendo a de posicionar as treliças no sentido do maior vão das casas, porém usando treliças metálicas pré-fabricadas, com o objetivo de tornar a estrutura mais leve, mais fácil e mais rápida de erigir. O sistema de fato atingiu esses objetivos, com o ganho ainda de exigir menos material, mas diiculta as opções de abertura nas laterais.

Sua volumetria é enriquecida pelo uso misto de materiais de vedação (madeira e telhas metálicas) e por aberturas assimétricas. O telhado de apenas uma água, ao contrário da anterior, recolhe a água da chuva no sentido longitudinal.

A treliça, que nas casas anteriores pouco relete na volumetria inal, neste caso sai do corpo sólido do objeto e aparece marcando a entrada e formando uma varanda ao fundo. A igura 43 mostra sua fachada principal, e a igura 44 mostra a maquete apresentada na 13ª Bienal de Veneza.

A V03 já indica, mais timidamente, o deslocamento do solo. Na V06 observamos que o terreno permite e oferece um pouco mais de arrojo no desprendimento. A Casa Ponte, é assim denominada porque leva este conceito ao extremo, e das três, é a que esta mais destacada do solo.

fiGura 43 - Maquete da Casa Ponte. Fonte: (DEAN, 2002)

No documento Arquitetura da coexistência (páginas 89-99)

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