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3.5 Procedimentos de Co-Construção dos Dados

3.5.5 Projeto de Formação de Leitores e Escritores

O Projeto Formação de Leitores e Escritores é composto por dois subprojetos: “A Hora do Conto e a Escrita Significativa de Textos” e o da “Bolsa de Leitura”. A seguir, apresentamos os subprojetos.

Subprojeto “A Hora do Conto e a Escrita Significativa de Textos” -

(SPHC)

O subprojeto “A Hora do Conto e a Escrita Significativa de Textos”- SPHC foi realizado por meio de situações estruturadas - (SEs) pela pesquisadora com a finalidade de co-construir a leitura e escrita das crianças. A decisão de incluir o subprojeto neste estudo foi reforçada com as observações da prática pedagógica e das entrevistas realizadas com a professora e as famílias deste grupo de crianças.

Neste subprojeto, foram realizadas atividades de leitura e escrita no período de 19/10 e 02/12/04, a partir de onze SEs, as quais tiveram duração variada, perfazendo um total de 1.298 minutos, correspondendo a 21 horas e 38 minutos. No planejamento deste subprojeto foi previsto a leitura de um livro de literatura infantil diferente em cada sessão, seguida de atividades tais como, reconto do livro lido, compreensão de leitura por meio do desenho, modelagem da parte que a criança mais gostou, ordenação de gravuras e atividades de escrita de palavras, de textos, desenhos e recorte/colagens de revistas usadas. Estas três últimas atividades resultaram na construção de um livro, no qual as crianças contaram um pouco sobre sua história pessoal, destacando a identidade (Quem sou eu?), a idade, a família, a casa, a escola, o nome dos colegas, as brincadeiras do seu dia-a-dia, o que gostam de comer, avaliação sobre as leituras (texto escrito) e a comunicação pessoal (escrita de um bilhete ao Papai Noel).

As SEs foram realizadas na própria sala de aula das crianças apenas com a pesquisadora. A professora da turma participou apenas da última SE. Procuramos utilizar esse espaço da forma mais adequada possível, buscando garantir a aprendizagem e momentos de prazer de forma equilibrada. Para registrar as atividades de leituras compartilhadas, posicionamos a filmadora (fixa) sobre uma mesa do lado esquerdo da sala. Nas demais atividades as crianças ocupavam as mesas, mudando-se, assim, a posição da câmera de vídeo. Algumas vezes esta ficou fixa para que pudéssemos coordenar melhor as atividades. Em outras, buscamos fazer o

registro com a câmera na mão a fim de captar mais detalhes. Entretanto, o registro das atividades com um grupo de crianças em uma sala ampla, utilizando apenas com uma câmera fica bastante limitado. A seguir, apresentamos os livros utilizados neste subprojeto.

Ilustração 2 – Livros utilizados no Subprojeto A Hora do Conto e a Escrita Significativa de Textos - SPHC

Subprojeto “Bolsa de Leitura” - (SPBL)

O subprojeto “Bolsa de Leitura” caracterizou-se como atividades de leitura com o objetivo de oportunizar às famílias participarem do processo de co-construção de aprendizagem de seus filhos, bem como despertar o potencial destas famílias para realizarem eventos de leituras com seus filhos.

Este subprojeto previu que um dos pais realizasse a leitura de um livro de literatura infantil para o filho, uma vez que as crianças não liam convencionalmente, durante dez semanas no período de 19/10 e 17/12/04. A Bolsa de Leitura continha um livro e um caderno de registro. Privilegiamos a confecção artesanal da bolsa, a fim de estimular a leitura e ao mesmo tempo, preservar o material, tendo em vista a pouca idade das crianças. A seguir apresentamos a ilustração da Bolsa de Leitura e os livros utilizados neste subprojeto.

Livros utilizados no Subprojeto Bolsa de Leitura

Durante as dez semanas, todas às quintas-feiras, a Bolsa de Leitura foi enviada às famílias, as quais devolviam às segundas-feiras. Apenas na penúltima semana a Bolsa foi enviada duas vezes (7/12 e 9/12), considerando que as famílias já estavam mais adaptadas ao processo de ler para as crianças. Depois da leitura, este leitor-adulto respondia por escrito no caderno de registro três perguntas simples: Quem leu o livro para a criança? A data da leitura e se a criança gostou da história. Vale destacar que as famílias foram orientadas para fazer este registro.

Foram utilizados neste subprojeto onze livros, os quais eram trocados, semanalmente entre as crianças, assegurando, assim, o acesso a uma maior diversidade de textos. Dentre as diversas opções de livros infantis, adotamos como critérios na escolha dos livros, exemplares indicados para a faixa etária das crianças desta turma, autores reconhecidos, textos pequenos com boa qualidade e ilustração atraente a fim de despertar o interesse das crianças para a leitura. A seguir apresentamos, no Quadro 7, os livros utilizados neste subprojeto e seus respectivos autores.

Quadro 7 – Livros utilizados no Subprojeto Bolsa de Leitura e seus respectivos autores

Ord Livros utilizados na Bolsa de Leitura Autores

1 O jogo e a bola Mary França e Eliardo França

2 Cinderela Bruno de La Salle (adaptação)

3 Branca de nove e os sete anões Maria Heloisa Penteado

4 O trenzinho do Nicolau Ruth Rocha

5 O rabo do gato Mary França e Eliardo França

6 Travadinhas Eva Furnari

7 Chapéu de palha Mary França e Eliardo França

8 Gato com Frio Mary França e Eliardo França

9 Pinóquio Walt Disney

10 Nosso amigo ventinho Ruth Rocha

11 O pote melado Mary França e Eliardo França

A idealização deste subprojeto surgiu durante a primeira entrevista com as famílias, quando uma das mães, a Sra Marta, demonstrou preocupação com a aprendizagem de sua filha, Helena. Expressou, portanto, que tinha interesse em ler “alguma coisa” para a filha. Apesar de possui assinatura de um dos jornais de circulação diária no DF, relatou:

acho que ela (filha) não gosta dessa leitura. O jornal fica aí, não vejo ela se interessar. As vez também eu leio (jornal) e não entendo nada. Queria ler uma coisa simplezinha, uma historinha...

Ao término da entrevista, combinamos que iria consultar o grupo de pais para planejar um projeto de intervenção que envolvesse todas as famílias. Na entrevista com o Sr. Marcelino e D. Albertina, a idéia do subprojeto tornou-se mais evidente, quando estes declararam que “hoje a escola sozinha não dá conta de ensinar as crianças muito bem, os pais têm de fazer a

sua parte”. Isto é, para estes pais, hoje a escola sozinha não é capaz de cumprir com sucesso

seu papel, portanto, na concepção desta família, a parceria entre escola-família é de fundamental importância. Com isto, tivemos mais força para instituir o subprojeto, pois nenhuma das famílias considerou a impossibilidade de realizá-lo, uma vez que os textos literários infantis para esta faixa etária são geralmente curtos e de fácil leitura. Dentre as famílias, duas delas expressaram com mais ênfase sua preocupação em relação à leitura dos filhos, pois já vivenciam situações de reprovações freqüentes e abandono escolar por filhos mais velhos, contrariando, assim, suas expectativas em relação à formação dos filhos. Segundo estes pais, uma das justificativas dadas pelos professores para as reprovações de seus filhos mais velhos é a dificuldade e a falta de prática de ler. À medida que fomos realizando as primeiras entrevistas nos lares, quando expunha a idéia do subprojeto, a aceitação era unânime. Com aceitação de todas as famílias, estruturamos o subprojeto para colocá-lo em prática.

3.6 A Sala de aula e a Rotina Pedagógica

Com base nas observações apresentamos neste tópico a descrição da sala de aula e a rotina pedagógica da turma que realizamos este estudo. A sala de aula era muito ampla - 10m x 7m - para o tamanho da turma (Croqui do espaço físico - Anexo 1). Possuía quatro janelas duas de tamanho médio na parede da lateral esquerda e duas grandes na lateral direita, ao lado da porta de entrada. Apesar das janelas, P considerava a iluminação insuficiente para o espaço. O banheiro utilizado pelas crianças desta turma localizava-se em um espaço fora da sala de aula, próximo à sala da coordenação. Adultos e crianças utilizavam o mesmo banheiro, portanto, o vaso e a pia eram adequados aos adultos e não as crianças.

Apesar do espaço privilegiado da sala de aula, o material das crianças era guardado em outro local, pois na sala de aula não tinha armários. As crianças não tinham acesso aos materiais pedagógicos sem que fossem liberados pela professora, inclusive os livros infantis, os quais eram guardados na parte mais altas de uma das estantes em uma sala pequena que fazia a ligação entre as duas salas de aula, impossibilitando o acesso direto das crianças.

As ornamentações da sala dirigidas, especificamente às crianças, eram: um quadro de numerais, com ilustrações representando a quantidade de cada numeral, construído à medida que estes iam sendo trabalhados, que ficava exposto abaixo do quadro de giz, na parede em frente à entrada da sala; um alfabeto disposto em uma centopéia colado à parede da lateral esquerda; abaixo das janelas; um cartaz fixo de boas vindas às crianças, pintado à tinta na parede de entrada da sala e um varal fixado na parede do fundo da sala, utilizado para colocar as atividades que careciam secar antes de serem guardadas. Geralmente havia, nesse espaço, outros cartazes feitos pela turma de alfabetização de jovens e adultos que utilizavam essa sala no período noturno.

A turma tinha uma rotina com atividades de jogos de construção, rodinha, leitura, escrita, desenho, pintura, modelagem, preparação para o lanche, higiene bucal e brincadeiras ao ar livre ou no parquinho. No primeiro semestre, no início da aula, às 13h30, P organizava duas mesas com jogos de construção para as crianças que iam chegando brincarem enquanto esperavam as demais. Durante esse tempo, P permanecia em sua mesa elaborando atividades mimeografadas ou no próprio caderno das crianças para serem executadas naquele dia. No segundo semestre, a atividade de jogos de construção foi substituída pela brincadeira ao ar livre no início da aula, sob a supervisão da professora ou da zeladora da instituição.

Quando P terminava de preparar as atividades, organizava em um canto da sala a rodinha com as cadeiras. Neste espaço, eram realizadas as conversas informais, os cantos, a chamada, as atividades de leitura de fichas e cartazes com letras, sílabas, palavras, numerais e outras orientações. Por exemplo, o dever de casa, orientações envolvendo cuidados com a saúde e avisos sobre reuniões com os pais e eventos promovidos pela instituição.

Após o momento da rodinha, P organizava as mesas de acordo com a necessidade requerida pela atividade. Em frente ao quadro de giz ou no centro da sala, mas sempre deixando espaços vagos nas laterais para facilitar a circulação das crianças. Na composição dos grupos, P indicava a mesa que cada criança deveria se sentar para desenvolver as atividades de escritas, denominadas por P “de dever”, desenhos, pinturas ou brincadeiras com massa de modelar. Havia, entretanto, grande mobilidade na composição do grupo, de modo que sua configuração era alterada diariamente, privilegiando uma composição mista, meninos e meninas, e oportunizando as crianças mais agitadas trabalharem próximas das mais calmas para equilibrar o clima de sala de aula.

Ao término destas atividades, normalmente, P alterava a posição das mesas, colocando- as mais na entrada da sala para aproveitarem melhor a iluminação natural e circulação do ar e organizava o momento do lanche. Neste momento era também usual P transformar as mesinhas em uma única grande mesa, o que permitia maior interação entre as crianças.

Seguido o momento do lanche, era realizada a higiene bucal coordenada por P. Após esta atividade, era permitida a brincadeira livre na área externa, incluindo o parquinho, sem a intervenção de P ou a mediação com qualquer material pedagógico ou esportivo (bola, bambolê, corda, pião ou jogo) disponível na instituição. O parquinho era a brincadeira predileta das crianças. Entretanto, durante os meses de maio e agosto de 2004, as crianças não puderam usufruir deste espaço, pois dois brinquedos estavam quebrados, colocando em risco a saúde física das crianças. Normalmente, a brincadeira livre ocorria até o momento que as famílias iam buscar as crianças na escola. Em dias de chuva, P recolhia o mobiliário em um canto da sala e liberava o espaço para as crianças brincarem.

As atividades externas à instituição não eram freqüentes. A única realizada, no caso pelas três turmas (matutino e vespertino) da educação infantil no ano do estudo, como já mencionamos foi a visita à Feira do livro, que ocorre em um dos centros de compras do Plano Piloto da cidade de Brasília. Nos dias anteriores à visita, as crianças demonstraram grande curiosidade e muita expectativa. Durante a visita, as crianças ficaram encantadas com o ambiente da Feira - livros, brincadeiras, teatro e contos de histórias. No dia seguinte, seus comentários atestavam o prazer que experimentaram com a atividade. Nenhuma das crianças conhecia aquele centro de compras e nunca tinha participado de eventos desta natureza. No entanto, a novidade não foi apenas para as crianças, mas também para as professoras da instituição.

Um dos comentários da professora da turma do estudo em relação à visita foi que a atividade despertou ainda mais sua vontade de continuar estudando para ter acesso a livros interessantes e ao conhecimento. Desta forma, constatamos que P continuava interessada em realizar seu desejo de freqüentar um curso superior.