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3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

3.2 Caracterizando a EJA na rede municipal de ensino de Belo Horizonte

3.2.2 O Projeto EJA/BH

O Projeto EJA/BH, portanto, tem início em 1997, segundo Proposta Político- Pedagógica, demandado por mães bolsistas do Programa Bolsa Escola Municipal que desejavam aprender a ler e escrever para assinarem seu nome ao receberem o benefício. O programa passou a atender a outras pessoas da comunidade e veio a ser chamado de Projeto Educação de Jovens e Adultos do Programa Bolsa Escola Municipal de Belo Horizonte – EJA/BEM-BH. Em 2004, a proposta foi ampliada para

receber egressos do Programa Brasil Alfabetizado e, em 2005, passa a certificar o ensino fundamental. Vinculando-se às escolas da Rede Municipal de Educação, mas funcionando nos locais de origem (próximo à residência ou local de trabalho do público-alvo), torna-se EJA/BH. Coordenado pelo Núcleo de EJA e Educação Noturna, da Gerência de Coordenação da Política Pedagógica e Formação (GCPF) da Prefeitura de Belo Horizonte, possuía turmas que desenvolviam seus trabalhos em variados espaços e horários, desde escolas a centros comunitários, igrejas, shoppings populares, bancos e associações de bairro (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2005/2006).

No segundo semestre de 2010, após a admissão desta pesquisadora na carreira do magistério na Rede Municipal de Educação (RME) de BH, tendo recebido convite para o ingresso no Projeto EJA/BH como professora, pudemos entender um pouco melhor o processo de mudança política no qual ele está inserido. Os professores que atuam no Projeto, na maioria, trabalham em regime de extensão de jornada,35 exercendo a docência em dois turnos, pois há uma ordem da PBH de não lotar, ou seja, destinar educadores exclusivamente para a EJA até que a demanda de professores no ensino fundamental esteja preenchida.

As turmas que funcionavam em espaços não escolares passaram a se vincular à escola municipal mais próxima de sua localização, e no segundo semestre de 2010 todas essas escolas foram chamadas a se mobilizar para elaborar o Projeto Político-Pedagógico (PPP) de EJA. Para entender a mudança, é importante destacar que antes as turmas do Projeto EJA/BH também eram vinculadas às escolas, entretanto, não necessariamente à mais próxima de sua localização. O Núcleo de EJA da SMED era o responsável pela formação continuada dos educadores. Hoje as turmas são todas vinculadas à escola municipal mais próxima, que responde pela formação dos educadores, que ocorre às sextas-feiras. Este movimento se configurou no que o núcleo de EJA da SMED tem chamado de “EJA da Cidade”. Assim, atualmente, verificamos a tendência de não haver mais Ensino Regular Noturno nas escolas, tampouco referência às “turmas do Projeto EJA/BH”. O que se pretende é vincular a educação de jovens e adultos à escola municipal que a turma

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A extensão de jornada acontece quando há turmas sem professores efetivos. Neste caso, um professor efetivo, que já está em exercício, é convidado a “dobrar”, ou seja, estender sua jornada de trabalho e assumir outra turma, em outro turno.

pertence, organizando o atendimento à EJA numa mesma proposta, eventualmente sob o nome de turma externa.

Podemos verificar essa “unificação” da proposta de atendimento da EJA no “Guia da Secretaria Municipal de Educação”, publicado e editado pela própria SMED em 2011 com a intenção de informar e divulgar as gerências, os núcleos, as coordenações, os programas e os projetos de secretaria, além de serviços oferecidos e telefones. No Guia está presente o Núcleo de Educação de Jovens e Adultos, que fornece informações sobre o público alvo da EJA, o procedimento de matrícula e as escolas municipais com as respectivas turmas, internas e/ou externas, vinculadas.

Segundo Pedroso (2008),36 em relação ao ingresso do corpo docente no referido Projeto, num primeiro momento, os professores que já estavam à frente das turmas incorporadas do Projeto EJA/BEM e do Programa Brasil Alfabetizado foram mantidos. Posteriormente, a entrada de educadores passou a acontecer por meio de seleção (a partir de um pequeno teste ou relato escrito de sua experiência e posterior entrevista) e/ou convite,37 sempre considerando a disponibilidade de atuarem de acordo com o horário e o local de funcionamento das turmas.

No geral, as aulas acontecem de segunda a quinta-feira, assegurando-se a oferta de 3 horas diárias de aula. As sextas-feiras são destinadas a reuniões de formação continuada e em serviço. De acordo com Pedroso (2008), os educadores participavam dessas ações de formação continuada e em serviço de forma centralizada, na SMED, com duração de quatro horas semanais, coordenadas pelo Núcleo de EJA e Educação Noturna/GCPF da SMED.

Atualmente, essas reuniões de formação acontecem toda sexta-feira e seguem uma pauta de acordo com a demanda do grupo de professores vinculados à escola. Na Regional Norte, da qual a escola municipal investigada faz parte, por mês acontecem duas reuniões no próprio espaço da escola e mais duas sob responsabilidade do acompanhante de turmas da Regional. Na primeira sexta-feira de cada mês é realizado um grande encontro, normalmente no auditório de alguma escola do grupo de educadores, onde geralmente são apresentadas pesquisas e/ou relatos de experiência por educadores convidados da própria RME. Na terceira

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Autora que desenvolveu sua dissertação de mestrado tendo como campo empírico o Projeto EJA/BH.

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sexta-feira do mês, também acompanhada pelo representante da Regional, são discutidas e planejadas propostas de trabalho por um coletivo menor de educadores, agrupados por microrregiões. Nas outras duas sextas-feiras, o grupo de educadores da escola permanece nesse ambiente para planejar, discutir e avaliar o trabalho pedagógico que vem sendo desenvolvido.

Ao analisar a Proposta Político-Pedagógica do EJA/BH, destacando seu processo de criação, por meio de entrevistas realizadas junto aos educadores do Projeto, Pedroso (2008) destaca que:

a maior preocupação sempre foi construir uma proposta que realmente caracterizasse a organização e o funcionamento almejados para o EJA-BH. [...] sua construção tem sido pensada de forma coletiva, contando com a colaboração não só da equipe técnico-pedagógica vinculada ao Núcleo de EJA e Educação Noturna, mas, também, dos professores que estão à frente das turmas. Tal iniciativa teve como principal objetivo aproximar o proposto no PPP da realidade vivenciada em sala de aula (PEDROSO, 2008, p. 85).

Com relação à permanência dos estudantes no Projeto EJA/BH, essa Proposta destacava que as turmas se localizavam em diversos espaços da cidade no intuito de garantir o acesso e a permanência das pessoas mais próximas de suas residências ou do local de trabalho, além de oferecer horários flexíveis. O modelo educacional apresentado é, segundo o documento, flexível para atender às especificidades desse público, que com dificuldade retorna à escola nos cursos noturnos na modalidade EJA.

Sobre o processo de formação continuada, a Proposta Político-Pedagógica do Projeto EJA/BH propõe que os educadores se percebam na condição de profissionais que atuam numa modalidade educativa diferenciada e se identifiquem com as questões pedagógicas do público atendido – pessoas jovens, adultas e idosas. A formação continuada, de acordo com o documento, buscava levar em consideração as experiências concretas dos educadores, de trabalho e de vida, no processo educativo. Alguns eixos norteadores desse processo de formação explicitados na Proposta Político-Pedagógica do Projeto EJA/BH, no PPP da Escola Municipal e na Resolução 093/02 são:

 organização coletiva do trabalho docente;

 reflexão crítica sobre a prática educativa tendo em vista as especificidades dos educandos jovens e adultos e seus modos de aprender;

 construção coletiva de tempos e espaços de aprendizagem mais includentes;

 trocas de experiências entre educadores;

 diálogo com teorias apoiadas no legado da Educação Popular;

 participação em espaços políticos de luta pela efetivação do direito à EJA;

 conhecimento e participação em outros espaços formadores da cidade. Essa proposta pedagógica abarcava o diálogo como princípio educativo, de modo que a construção do conhecimento se desse com a participação de educadores e educandos, considerados como sujeitos criadores de história e de cultura.

Baseada em Freire (2005) e Alvarez Leite (1996), a Proposta Político- Pedagógica do Projeto EJA/BH sugeria que a construção do trabalho pedagógico devesse partir da inquietação dos educandos e de suas relações construídas com o mundo e com os outros.