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“Os estudos de caso tem como foco situações holísticas em contextos da vida real, e tendem a ter um contexto de interesse delimitado, tais como uma organização, uma indústria em particular, ou um determinado tipo de operação” (ELLRAM, 1996, p 99). Por outro lado, Eisenhardt (1989, p. 534) afirma que “o estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que enfoca a compreensão da dinâmica dentro de um único contexto”.

Entre as definições de estudo de caso fornecidas por Eisenhardt (1989) e Ellram (1996) há pelo menos uma idéia convergente, a de que os estudos de caso buscam compreender uma situação específica (que é o caso) dentro de um determinado contexto (que é a contextualização do problema ou condições de contorno). Portanto, dado que o estudo de caso é o mais adequado às necessidades desta pesquisa, nesta seção é definido o que é “o caso” delimitando suas fronteiras, e os procedimentos usados para coleta e análise dos dados.

4.2.1 UNIDADE DE ANÁLISE E TIPO DE ESTUDO DE CASO

“Como regra geral, uma tentativa de definição da unidade de análise (e, portanto, o caso) está relacionada à maneira como foi definida a pergunta de pesquisa inicial” (YIN, 2003, p. 23). Esta tese é orientada pela seguinte questão de pesquisa:

“Como planejar o processo de suprimento de frutas e legumes para as redes varejistas?”

A partir da questão de pesquisa pode ser identificado o que é o caso e qual é a unidade de análise. O caso é o “ciclo de pedido e reposição de frutas e legumes na cadeia de suprimentos varejista”. Conhecido o que é o caso, faz-se necessário definir se esse caso é composto por uma única unidade de análise, compondo assim um caso holístico, ou por diversas unidades de análise, característica essa dos estudos de caso incorporados. A Figura 19 mostra os diferentes tipos de estudos de caso.

CONTEXTO Caso CONTEXTO Caso CONTEXTO Caso CONTEXTO Caso CONTEXTO Caso CONTEXTO Caso Unidade de  análise 1 Unidade de  análise 2 CONTEXTO Caso CONTEXTO Caso CONTEXTO Caso CONTEXTO Caso Unidade de análise 1 Unidade de análise 2 Unidade de análise 1 Unidade de análise 2 Unidade de análise 1 Unidade de análise 2 Unidade de análise 1 Unidade de análise 2 Incorporado (múltiplas unidades de análise) Holístico (unidade de análise única)

Projeto com caso único Projeto com múltiplos casos

Figura 19: Tipos básicos de projeto de estudo de caso. (Fonte: Yin, 2003, p. 40)

Compreender os requisitos da demanda e as características de suprimento de frutas e legumes na cadeia de suprimentos varejista faz parte do contexto. Quando, dentro de um único caso, a atenção também é dada a uma subunidade ou mais subunidades, não importa como as unidades são selecionadas, o projeto resultante é chamado um estudo de caso incorporados (YIN, 2003, p. 43). Além da unidade e subunidades resultantes da questão de pesquisa, o projeto do estudo de caso incorporado permite ao pesquisador examinar qualquer fenômeno específico em detalhes operacionais, o que não seria facilmente alcançado se uma concepção holística tivesse sido escolhida.

Ao se projetar estudos de caso, outro aspecto a ser definido é se será feito estudo de casos múltiplos ou estudo de caso único. Mesmo que possa ser feito um estudo de caso com apenas dois casos, as chances de um bom resultado são maiores do que quando se realiza estudo de caso de um único caso. Projetos de caso único são vulneráveis e, mais importante do que isso, os benefícios analíticos de ter dois (ou mais) casos podem ser substanciais (YIN, 2003). Outro ponto a favor dos casos múltiplos é que múltiplas experiências representam

repetições que permitem o desenvolvimento de um quadro teórico rico (ELLRAM, 1996; YIN, 2003). Portanto, nesta tese foram desenvolvidos estudos de casos múltiplos.

O número de casos é outro ponto relevante, que está relacionado com a questão: quando parar de adicionar casos? Para responder a esta pergunta Eisenhardt (1989) defende que, idealmente, os pesquisadores devem parar de adicionar casos quando se atingir a saturação teórica. No entanto, a mesma autora reconhece que:

“embora não haja um número ideal de casos, um número entre 4 e 10 casos geralmente funciona bem. Com menos de quatro casos, muitas vezes é difícil gerar teoria com muita complexidade, e é pouco provável que sua fundamentação empírica seja convincente, a não ser que o caso tenha vários mini-casos embutidos (casos incorporados). Com mais de 10 casos, torna se difícil lidar com a complexidade e o volume dos dados” (EISENHARDT, 1989, p. 545).

Eisenhardt não está sozinha em sua análise sobre o número de casos. Yin (2003) considera que na maioria das situações entre 6 e 10 casos fornecerão evidências convincentes para apoiar um conjunto de conclusões. Portanto, de acordo com Eisenhardt (1989) e Yin (2003), o número de casos para os fins deste projeto não deve ser superior a 10. Para a execução deste projeto foram desenvolvidos dois estudos de caso. O primeiro estudo de caso tem quatro unidades de análise e o segundo soma um total de seis unidades de análise, totalizando dez mini-casos. Com base em Eisenhardt (1989), entende-se por um mini-caso cada unidade ou subunidade de análise dentro de um caso.

A Figura 20 apresenta as unidades e subunidades de análise de cada um dos dois estudos de caso realizados. Embora na Figura 20 as unidades de análise estejam nomeadas como fornecedor, CD, compras e lojas, cada uma destas unidades de análise representam os processos e subprocessos do ciclo do pedido e reposição executados em cada um destes elos da cadeia. Ou seja, a unidade de análise fornecedor na verdade é o processo de atendimento do pedido do ponto de vista do fornecedor que é a unidade de análise. Dentro dessa unidade de análise serão examinadas as atividades realizadas pelas pessoas envolvidas em atender o pedido do cliente.

Na unidade de análise CD, lê-se recebimento, separação e expedição da mercadoria para as lojas. Na unidade de análise compras, lê-se recebimento do pedido das lojas e envio do pedido ao fornecedor. Por fim na unidade de análise lojas, lê-se recebimento da mercadoria, estocagem, reposição de gôndola, previsão de demanda e colocação do pedido. A principal diferença entre o estudo de caso 1 e o estudo de caso 2 está nas subunidades de análise da unidade de análise loja. Enquanto o caso 1 conta com apenas um tipo de loja, o caso 2 conta com três tipos de loja diferentes. Os diferentes tipos de loja serão tratados na próxima seção, na qual os aspectos relativos à amostragem e seleção dos casos são discutidos.

CONTEXTO Caso Unidade de análise 1 - Fornecedor Unidade de análise 2 – Centro de distribuição Caso 1 Caso 2 Unidade de análise 3 – Compras Subunidade de análise 4 -Loja Subunidade de análise 5 – Loja Subunidade de análise 6 – Loja CONTEXTO Caso Unidade de análise 1 - Fornecedor Unidade de análise 2 – Centro de distribuição Unidade de análise 3 – Compras

Unidade de análise 4 -Loja

Unidade de análise -Loja

Figura 20: Unidades e subunidades de análise de cada caso. (Fonte: elaborado pela autora)

Ainda com relação às sub-unidades de análise, poder-se-ia considerar cada fruta e cada legume como uma unidade de análise, e far-se-ia então necessário escolher quais frutas e legumes seriam foco de estudo. No entanto, optou-se por estudar o conjunto de frutas e legumes que tivessem algumas características em comum, e limitar a pesquisa apresentada nesta tese a este conjunto.

Das características dos produtos estão: frutas e legumes distribuídos pelos CDs do varejista; transportados para o CD e do CD para as lojas à ambiente; armazenados no CD à temperatura ambiente e comprados de fornecedores localizados no estado de São Paulo, mesmo estado onde estão localizadas as sedes das empresas participantes desta pesquisa. Exemplos de frutas e legumes com estas características são: banana, laranja, limão, vagem, abobrinha, entre outros.

4.2.2 SELEÇÃO DOS CASOS

“A amostragem da pesquisa qualitativa envolve duas ações. Primeiro, você precisa estabelecer limites para definir os aspectos do seu caso (s) que você pode estudar, dentro dos limites de seu tempo e meios, que se conectam diretamente às suas perguntas de pesquisa, e provavelmente irá incluir exemplos do que você quer estudar. Em segundo lugar, ao mesmo tempo, você precisa criar um quadro para ajudar a descobrir, confirmar, ou qualificar os processos básicos ou construtos que fundamentam o seu estudo” (MILES; HUBERMAN, 1994, p.27).

Em estudos de caso, a amostra intencional é uma situação comum (ELLRAM, 1996). Para a seleção dos casos foi tomado como base as 20 maiores empresas do varejo supermercadista nacional (RANKING ABRAS, 2010). Inicialmente foram contatadas empresas que tem sede nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais. Das empresas contatadas, duas empresas que atuam no estado de São Paulo concordaram em participar da pesquisa.

Foi foco estudar empresas com diferentes formatos de loja (por exemplo, hipermercado e supermercados). As empresas que concordaram em participar da pesquisa atendiam à condição de ter, entre as duas empresas, pelo menos dois formatos de loja, hipermercados e supermercados. Além disso, o posicionamento de varejista é uma condição que pode alterar o contexto e requerem diferentes processos, a fim de proporcionar um equilíbrio entre a oferta e a demanda. Portanto, dentre os varejistas selecionados para compor a amostra, buscou-se lojas com diferentes posicionamentos (por exemplo, liderança em custos e diferenciação). O Quadro 14 apresenta a seleção de formatos de loja e posicionamento das lojas estudadas nesta tese.

Caso Formato da loja Posicionamento

Caso 1 Supermercado A empresa não tem um posicionamento definido de forma explícita. O mix de produtos e serviços tem como foco oferecer qualidade e variedade, preços médios a baixos, e média gama de serviços

Caso 2 Hipermercado Liderança em custo – política de preços baixos Supermercado Liderança em custo – política de preços baixos

Supermercado Diferenciação – preços altos associados à altos níveis e ampla gama de serviço

Quadro 14: Seleção dos casos. (Fonte: Elaborado pela autora)