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Parte I – Descrição das atividades realizadas na Farmácia Ferreira

2. Projeto II – Formação em Veterinária

A procura de medicamentos e produtos veterinários tem crescido nas farmácias, aliada a dúvidas referentes à administração dos mesmos [80]. No entanto, é preciso que os farmacêuticos acompanhem este aumento ao adquirir conhecimentos na área. Durante o estágio esta foi uma das vertentes em que senti mais dificuldade ao dispensar produtos, pelo que para aprendizagem própria e dos colaboradores da FF, decidi organizar uma formação na farmácia sobre produtos de veterinária, através da Companhia Portuguesa Consumer Health (CPCH), visto ser a principal detentora dos produtos vendidos na FF.

Os colaboradores que frequentaram esta formação afirmaram que a mesma foi deveras útil e admitiram que se sentiram confiantes nos atendimentos que fizeram posteriormente, envolvendo esta temática.

2.2.

Enquadramento teórico

A medicina veterinária caracteriza-se pela aplicação de princípios médicos, de diagnóstico e terapêuticos em animais, quer sejam de companhia, domésticos, selvagens, exóticos ou de produção. É uma ciência médica que objetiva a prevenção, o controlo, o diagnóstico e respetivo tratamento de doenças que afetam os animais e que, indiretamente, afetam a saúde pública [81,82].

Estudos têm indicado que, integrar um animal doméstico na família, contribui para uma vida mais saudável [83]. De facto, por essas razões, o número de animais de companhia tem aumentado nas famílias portuguesas, sendo que, em 2017, apontou-se que 56% delas possuíam pelo menos um. A adição de um membro de quatro patas ao agregado familiar implica que lhe sejam providenciados cuidados de saúde, cujos donos afirmam ser de elevada importância [84]. Do orçamento familiar há uma percentagem que é direcionada para os cuidados de saúde dos animais: 25%, no caso dos cães, e 19% no dos gatos [85].

Na FF, os produtos veterinários mais procurados são os desparasitantes externos e internos.

2.2.1. Parasitas internos

2.2.1.1. Família Ascaradidae

Os parasitas mais frequentes, pertencentes a esta família, nos animais, são o

Toxocara canis (em cães) e Toxascaris leonina (em gatos). O ciclo de vida é igual em

presentes no meio ambiente e, após eclosão, as larvas penetram na parede do intestino. Os cachorros representam a principal fonte de contaminação ambiental por ovos destes parasitas [86].

2.2.1.2. Família Ancylostomatidae

O Uncinaria stenocephala e Ancylostoma caninum são parasitas que podem afetar os cães; no gato, é o Ancylostoma tubaeforme. O Ancylostoma braziliense pode infetar os dois animais [87]. Após eclosão e desenvolvimento, as larvas rabditiformes tornam-se infeciosas, podendo penetrar a pele do hospedeiro. Após circulação na corrente sanguínea, amadurecem na parede do intestino delgado [88].

2.2.1.3. Família Trichuridae

O parasita Trichuris vulpis tem a capacidade de infetar o cão. Após embrionados, os ovos demoram duas semanas, ou mais, a tornarem-se infeciosos e, quando ingeridos, atingem o intestino delgado, onde se alojam [89].

2.2.1.4. Família Taeniidae

Desta família, várias são as espécies que podem ser encontradas no cão. Na espécie Echinococcus (E. granulosus e E. multiocularis), a fase grávida proglótide liberta ovos para as fezes, que serão ingeridas por um hospedeiro intermediário, como a ovelha ou o cavalo e, após fases de maturação, desenvolvem-se cistos em diversos órgãos que irão ser posteriormente ingeridos pelo hospedeiro definitivo – o cão; nele continuam o seu desenvolvimento [90]. As seguintes espécies de Taenia, T. hydatigena, T.

pisiformis e T. taeniformis, infetam o cão e o gato quando estes ingerem tecidos

contaminados por larvas, de um hospedeiro intermediário, que se irão desenvolver no intestino delgado [91]. O parasita Dipylidium caninum infeta cães e gatos, onde grávidas proglótidas, após serem libertadas nas fezes ou emergirem na região perianal, libertam vários ovos que serão ingeridos por pulgas (Ctenocephalides spp.; hospedeiro intermediário), fazendo com que o animal fique infetado ao ingeri-las [92].

2.2.1.5. Família Trypanosomatidae

Desta família faz parte o género Leishmania spp., sendo que a principal espécie que parasita o cão é L. infantum. O ciclo de vida deste parasita envolve dois hospedeiros que, no caso do cão, é o próprio e o mosquito flebótomo (Phlebotomus perniciosus). Este último injeta o estádio infecioso – promastigotas – através dos seus proboscis, no cão. Neste hospedeiro são fagocitados por macrófagos e outras células fagocíticas, onde se transformam em amastigotas e se multiplicam por divisão simples. O mosquito

fica infetado ao ingerir células infetadas quando se alimenta do sangue do animal [93,94].

2.2.2. Parasitas externos

2.2.2.1. Família Pulicidae

O género Ctenocephalides spp., a comum pulga, infeta cães – C. canis, e gatos – C. felis. A pulga fêmea liberta ovos no meio ambiente que, após eclosão e desenvolvimento, dão origem a pupas que irão procurar um hospedeiro para se alimentarem, os cães e os gatos [95].

2.2.2.2. Família Ixodidae

Os parasitas Dermacentor reticulatus, Rhipicephalus sanguineus e Ixodes

hexagonus infetam tanto os cães como os gatos e, os Ixodes ricinus e Rhipicephalus turanicus, apenas infetam os gatos, sendo comummente designados por carraças. O

ciclo de vida destas três espécies, que pode durar mais de três anos, envolve três hospedeiros. Após eclosão dos ovos, as larvas procuram um hospedeiro roedor que abandonam posteriormente para hibernarem. Assim, transformam-se em ninfas que procuram novamente um roedor, desenvolvendo-se para a fase adulta, altura em que se alojam num terceiro hospedeiro mamífero de grande porte [96,97].

2.2.2.3. Família Trichodectidae

O parasita Trichodectes canis é comummente conhecido por piolho mordedor do cão; no gato é o Felicola subrostrata. São ambos parasitas permanentes pois todos os estádios do ciclo de vida ocorrem no hospedeiro: o piolho fêmea liberta os ovos nos pelos do cão/gato que, quando eclodem, dão origem a ninfas [98,99].

2.2.2.4. Família Sarcoptidae

O ácaro Sarcoptes scabiei var. canis afeta cães, completando o seu ciclo de vida no hospedeiro em 21 dias. As fêmeas escavam galerias na epiderme onde colocam os seus ovos que, após eclodirem, libertam larvas que se deslocam à superfície para conseguirem alimento [100].

2.3.

Desparasitação

A CPCH tem disponível no mercado desparasitantes, para cão e para gato, conforme o seu peso, e conforme o tipo de parasita que se quer combater ou de que se quer prevenir uma infeção (Anexo 4 [101–115]). É importante perceber se se trata de

uma situação de profilaxia ou uma infestação instalada, para que se possa poder aconselhar o produto mais indicado.

Ao longo do estágio consegui aperceber-me que esta temática era uma lacuna na minha formação, enquanto estudante, e que os colaboradores da FF também sentiam dificuldades na dispensa deste tipo de produtos. Assim, a tabela do Anexo 3, para além de uso pessoal, foi disponibilizada para consulta dos colaboradores e de futuros estagiários, para que pudessem providenciar um melhor atendimento aos utentes.

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