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Projeto I – Correta Utilização das Máscaras de Proteção Individual

Parte II – Projetos Desenvolvidos na Farmácia 5 de Outubro

1. Projeto I – Correta Utilização das Máscaras de Proteção Individual

A OMS atribuiu o nome oficial COVID-19 à doença causada pelo novo coronavírus, SARS-CoV-2, que foi responsável pelo aparecimento de um surto epidémico, em dezembro de 2019, em Wuhan, na China. Tem-se verificado, diariamente, uma disseminação internacional, devido à rápida e elevada contagiosidade deste vírus, com consequências graves à escala

mundial. A OMS declarou, a 11 de março de 2020, a evolução de epidemia para pandemia25,26.

Quando foi declarada a pandemia, já tinha completado cerca de um mês de estágio, pelo que ainda consegui conhecer a F5O no pré-COVID-19, o que me permitiu perceber quais as mudanças que foram mais fraturantes no dia a dia desta farmácia. A 13 de março de 2020, interrompi o estágio, por um mês e meio, devido às medidas de confinamento aplicadas a todos os estudantes da FFUP. Durante este período, a equipa da farmácia trabalhava com atendimento pelo postigo. Quando regressei, no dia 3 de maio, a situação parecia começar a ficar controlada no distrito do Porto e o atendimento já era feito normalmente, nos balcões de atendimento, respeitando as devidas medidas de segurança pública.

Os sintomas mais frequentes nas pessoas infetadas têm sido sintomas respiratórios leves e agudos, nomeadamente febre, tosse seca e dor no peito; no entanto, há relatos de vários casos com sintomas mais graves, que podem evoluir para doenças como a pneumonia. Com a evolução e disseminação da doença pelo mundo, novos sintomas têm sido identificados, como: cansaço extremo, dores musculares e/ou corporais, dores de cabeça, perda de olfato e/ou paladar, garganta inflamada, nariz congestionado, náuseas, vómitos, diarreia, entre outros27,28,29.

Existem, de uma forma geral, duas vias de transmissão do vírus SARS-CoV-2:

• Uma via de contacto direto: através de gotículas, transmitidas pela boca ou nariz de uma pessoa infetada, quando esta tosse, fala ou espirra (não cumprindo as regras de etiqueta respiratória), que podem entrar diretamente para a boca/nariz de uma pessoa próxima; • Uma via de contacto indireto: através das mãos, que tocam nas superfícies contaminadas

com as gotículas expelidas por uma pessoa infetada e, posteriormente, são levadas à cara, à boca ou ao nariz (não tendo sido feita a higiene das mãos)28.

O quotidiano das FC teve de sofrer adaptações, assim como aconteceu em todas as áreas. Ao longo deste ano tão atípico, foram várias as diretrizes e normas impostas pela DGS e pelo Infarmed, que apelavam ao sentido de responsabilidade e altruísmo de cada cidadão e de cada instituição. Como seria de esperar, os profissionais de saúde estão na linha da frente da

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prestação de cuidados a doentes com COVID-19, o que lhes atribui um maior risco de exposição profissional ao novo coronavírus. Este risco pode ser diminuído, com a adoção de medidas de prevenção e controlo de infeção, como é o caso do uso de EPI e da aplicação de medidas adicionais de cuidados na limpeza e desinfeção de superfícies. As FC, “pelo papel fulcral que representam no sistema de saúde e pelas especificidades da população que servem”, têm o dever de “adotar uma série de medidas para proteger os seus colaboradores e cidadãos, bem como contribuir para impedir a propagação da COVID-19”; devem ainda possuir o seu “próprio plano de contingência”, tendo como objetivo final a rapidez na resposta a esta situação preocupante e imprevisível28,30.

A F5O adotou medidas de segurança e prevenção, nomeadamente: colocação de proteções de acrílico nos balcões de atendimento e de marcas no chão, para separar o farmacêutico do utente; utilização obrigatória de EPI pela equipa da farmácia e pelos utentes; desinfeção obrigatória das mãos, à entrada e à saída da farmácia; lotação máxima de 3 utentes no interior da farmácia, para assegurar o distanciamento social; permuta do local de medição dos parâmetros bioquímicos para a entrada da farmácia; troca do calçado de toda a equipa, à entrada da farmácia. É louvável o trabalho realizado pela equipa da F5O, na satisfação das

necessidades dos seus utentes. Responsabilizaram-se pela entrega de medicação ao domicílio, mesmo não havendo este serviço na farmácia, para evitar que os utentes saíssem de casa.

Relativamente às recomendações de prevenção e controlo de infeção, é imprescindível que toda a comunidade cumpra os seguintes pontos: lavar as mãos com frequência, com água e sabão e/ou com SABA e evitar tocar nos olhos, nariz e boca, sem as mãos devidamente higienizadas; evitar contacto próximo com outras pessoas, cumprindo o distanciamento social de cerca de 2 metros – esta medida é especialmente importante nos casos assintomáticos que, apesar se não apresentarem sintomas, podem ser capazes de transmitir o vírus; usar máscara de proteção individual, quando em contacto com outras pessoas – o nariz e a boca têm de estar cobertos, caso contrário, o efeito da máscara é nulo; tapar a boca e o nariz sempre que se tosse ou espirra, com um lenço, que deve ser rejeitado no lixo, higienizando as mãos de seguida, ou com a parte interior do cotovelo; limpar e desinfetar, frequentemente, todas as superfícies que são tocadas diariamente; monitorizar o estado de saúde diariamente – estando alerta para possíveis sintomas (especialmente se a nossa rotina nos obriga a estar em contacto com várias pessoas) e verificando a temperatura corporal31.

No panorama geral, grande parte dos utentes estavam receosos e assutados, dado tratar-se de uma situação anormal e preocupante, principalmente aqueles com doenças cardiovasculares, problemas respiratórios e/ou com doenças autoimunes, visto serem considerados população de risco. Com o decorrer do estágio, senti que os utentes estavam mais calmos e familiarizados com a situação, pois a maioria já tinha regressado aos seus empregos. Ainda assim, senti muita despreocupação por parte dos mesmos, o que pode ser preocupante para a resolução desta situação no país. Com muita pena minha, apercebi-me que o papel dos farmacêuticos, nesta situação alarmante, poderia ter sido mais valorizado, uma vez que estão sempre ao serviço da população e fazem tudo o que podem em prol dos utentes.

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1.2.

Enquadramento Teórico

Em função da rápida evolução da COVID-19, a utilização de máscaras é cada vez mais assunto de debate, como medida de controlo da transmissão do novo coronavírus na comunidade. Todavia, além da promoção de uma utilização mais alargada de máscaras pela comunidade, é essencial definir quais os critérios e requisitos que estas devem cumprir em termos de conceção, desempenho e usabilidade. A “definição desses critérios, nomeadamente em termos de filtração, respirabilidade, dimensionamento e resistência, foram objeto de consenso por grupos de peritos com competências técnicas nas áreas médico-farmacêutica, da tecnologia têxtil, da infeção e desinfeção, das normas e ensaios a aplicar, da fiscalização, etc”32.

Um EPI define-se como “qualquer equipamento usado como barreira protetora, com o objetivo de proteger as mucosas, a pele e a roupa do contacto com agentes infeciosos”, como o SARS-CoV-2. A escolha do EPI (máscaras, luvas e viseiras) mais adequado deve ser feita

consoante a atividade desempenhada e/ou o risco de exposição à COVID-19. Neste contexto,

as máscaras destinadas a serem usadas na comunidade, segundo o Infarmed, podem ser classificadas, por tipo de utilizador e de acordo com a finalidade:

• Nível 1: máscaras destinadas à utilização por profissionais de saúde;

• Nível 2: máscaras indicadas para outros profissionais que, não sendo da saúde, contactam com um elevado número de indivíduos;

• Nível 3: máscaras dirigidas à proteção de grupo (“utilização por indivíduos no contexto da sua atividade profissional, por indivíduos que contactam com outros indivíduos portadores de qualquer tipo de máscara e nas saídas autorizadas em contexto de confinamento, como em espaços interiores com múltiplas pessoas”). O uso destas máscaras continua a exigir que se cumpram as medidas de confinamento, que se faça higiene das mãos e se sigam as regras de etiqueta respiratória e que as escolas e entidades empregadoras adotem me- didas que possibilitem melhorar a proteção dos funcionários33,34.

As máscaras dos níveis 2 e 3 não são categorizadas como DM ou como EPI, mas como artigos têxteis e devem ser testadas para avaliar a percentagem de filtração, assim como a re- sistência ao desgaste durante o tempo de utilização (com simulação do uso real e da quantidade de ciclos de reutilização previstos). Cabe ao fabricante fornecer a informação sobre o processo de reutilização (lavagem, secagem, conservação e manutenção), bem como sobre o número de reutilizações para cada modelo34.

Relativamente às máscaras com finalidade médica (designadas por máscaras cirúrgi- cas), são DM, que devem cobrir a boca e o nariz do profissional de saúde, de forma a minimizar a transmissão direta de agentes infeciosos entre o profissional e o doente (o objetivo é proteger a saúde do doente, independentemente de também protegerem o profissional). Podem ser clas- sificadas em diferentes tipos (I, II e IIR), segundo a eficiência de filtração bacteriana (BFE), a pressão diferencial (permeabilidade da máscara ao ar), a resistência aos salpicos e a carga mi-

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Tabela 2. Características de desempenho por tipo de máscara com finalidade médica

Teste Tipo I * Tipo II Tipo IIR

eficiência de filtração bacteriana (%) ≥ 95 ≥ 98 ≥ 98 pressão diferencial (Pa/cm2) < 40 < 40 < 60

resistência aos salpicos (kPa) Não exigido Não exigido > 16,0 carga microbiológica (cfu/g) ≤ 30 ≤ 30 ≤ 30

* As máscaras do Tipo I só devem ser usadas no contexto de prevenir o risco de disseminação de infeções, nomeadamente, em caso de epidemia e pandemia. Não devem ser usadas por

profissionais de saúde no bloco operatório ou noutros locais com os mesmos requisitos.

No caso das máscaras autofiltrantes (respiradores), são consideradas EPI e destinam- se a proteger quem as utiliza, contra um ou mais riscos suscetíveis de ameaçar a sua saúde ou segurança. São classificadas em FFP1, FFP2 e FFP3 (representado na Tabela 3), tendo dife- rentes eficiências de filtração (FFP3> FFP2> FFP1) e valores de fuga total para o interior35.

Tabela 3. Características de desempenho por Classe de Semimáscaras de Proteção Respiratória AutoFiltrantes

Classe Eficiência Fuga total para o interior Penetração no material filtrante

FFP1

Baixa 22% 20%

FFP2

Média 8% 6%

FFP3

Alta 2% 1%

Algo que tem sido comovente, ao longo destes meses de pandemia, é a “mobilização do tecido empresarial nacional, para colaborar no esforço conjunto de combate à pandemia, recon-

vertendo as linhas de produção para o fabrico de EPI e DM essenciais”32.

A F5O, desde o início da obrigatoriedade de utilização de EPI, optou pelas máscaras comunitárias reutilizáveis/laváveis, que não contribuem para o problema do lixo descartável, que está a ser uma realidade, no nosso país e no mundo. Assim, aquando da dispensa de EPI (as viseiras, mais confortáveis que os modelos comuns, também laváveis, recicláveis, com propriedades antiembaciamento e as máscaras, confortáveis e com diferentes padrões e modelos), era tarefa de quem estava a fazer o atendimento, explicar a respetiva ficha técnica e instruções de lavagem. As máscaras foram certificadas pelo CITEVE (Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário) e encomendadas diretamente da empresa Petratex® (Anexos II e III), assim como bolsas para guardar a máscara, impermeáveis e também laváveis36.

1.3.

Enquadramento Prático e Objetivo

Desde a fase inicial do meu estágio, que coincidiu com a fase inicial da venda de EPI, algo que era bastante triste de assistir, era o uso incorreto da máscara, por parte dos utentes – nariz e queixo destapado, máscara ao contrário, tocavam constantemente na máscara, etc. Apesar de inúmeras chamadas de atenção, tentando sempre explicar a razão de termos de usar

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a máscara corretamente, era uma tarefa difícil. Deste modo, e por sugestão do Dr. Nuno Duarte, que me orientou ao longo do estágio, achamos que seria uma mais valia a realização de algum tipo de comunicação, direcionado aos utentes, que explicasse a maneira correta de colocar, usar e retirar a máscara. O objetivo principal do desenvolvimento deste projeto foi a sensibilização dos utentes para esta medida de prevenção e controlo da transmissão comunitária de SARS- CoV-2, sobretudo quando utilizada de forma correta e alargada pela sociedade.

1.4.

Métodos

Relativamente ao método escolhido para intervenção, optamos pela execução de um panfleto, com cores convidativas e com linguagem acessível para os utentes (Anexo IV), que foi afixado nos balcões de atendimento, como podemos ver representado no Anexo V. Assim, evitamos a troca panfletos em suporte físico (flyers de papel), que era a minha ideia inicial para a divulgação deste projeto, na F5O. Devido às medidas de distanciamento social aplicadas a toda a comunidade, entendi que este método seria o mais coerente e responsável para executar.

1.5.

Resultados, Discussão e Conclusão

O único material utilizado foram os panfletos e foram impressos oito, sendo que quatro deles foram afixados nos balcões de atendimento, um deles foi afixado na porta de entrada e os restantes ficaram guardados na F5O, caso a equipa os quisesse afixar noutro sítio. A decisão de os afixar nos balcões permitiu que suscitassem o interesse das pessoas, durante o atendimento. Este foi um projeto simples de por em prática, mas que implicou, em cada atendimento, que estivesse atenta à maneira como os utentes utilizavam a máscara e, quando não a usavam corretamente, era fácil apontar para o panfleto e conversar sobre o tema. Aconteceu uma vez

aparecer uma utente que estava a usar uma máscara cirúrgica, que me explicou que usava a mesma desde o início da pandemia e que a lavava, de vez em quando. A utente em questão mostrou recetividade para a minha sugestão de adquirir uma máscara comunitária, passível de ser lavada, resolvendo assim o seu problema inicial de ter de investir em muitas máscaras.

No meu entender, o objetivo de sensibilizar os utentes para a gravidade desta situação que o mundo está a atravessar, foi cumprido. Houve alguns utentes que elogiaram a forma como a informação presente no panfleto estava escrita, referindo que a linguagem simples e objetiva era um ponto positivo. Enquanto futura farmacêutica, quando havia utentes que vinham

propositadamente à farmácia para esclarecimento de dúvidas sobre a correta utilização ou lavagem da máscara, que aconteceu inúmeras vezes, era algo que me deixava feliz.

2. Projeto II – Passos para uma Rotina de Dermocosmética

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