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Mapa 12 – Fotos de danos em anexo

4 O PROJETO E OBRA DO CENTRO DE CONVIVÊNCIA CULTURAL DE

Na segunda metade do século 20, Campinas passava por mais uma reforma urbana, com demolições no centro antigo para alargamento de ruas e suprir uma escolha de crescimento urbano sem controle e focada no

automóvel. Isso incentivou a iniciativa privada a realizar demolições

generalizadas. As construções antigas perdem seu valor cultural e histórico, e vêm ao chão, dando lugar aos novos investimentos que empilham metro quadrado, muitas vezes sem a mesma qualidade estética e funcional. Uma verdadeira Fênix, como a existente no brasão da cidade, só que ela renasce sempre mais feia. A especulação estimulou a verticalização e adensamento da região central sem estrutura, em detrimento da destruição quase total do centro antigo, inclusive do Teatro Municipal, demolido em 1964 com apenas 30 anos de uso. Lembrando que o mesmo tinha sido construído em substituição ao Teatro São Carlos, construído em 1850 no auge econômico e político da cidade e demolido em 1922 por uma suposta obsolescência. Faz-se o novo em um novo local.

Foto 8 – Teatro São Carlos (1885 – 1922)

Foto 9 – Teatro Municipal (1934 – 1964)

Fonte – Foto do Centro Preservação Unicamp

Em reação ao incômodo causado pela perda do equipamento cultural, a Prefeitura Municipal de Campinas abre concurso público para projeto do Teatro de Ópera a ser construído no recente Parque Portugal, local descentralizado em nova expansão urbana.

A prefeitura descarta o investimento mais descentralizado e propõe ao arquiteto Fábio Penteado, um novo desafio para um teatro na Praça Imprensa Fluminense, local mais centralizado, onde o arquiteto propõe a incorporação de uma área vizinha onde se situava a escola municipal Cesário Mota. Assim, a quadra se incorpora à Praça Imprensa Fluminense, criando uma praça circular com 40 mil metros quadrados, um anel viário e fluxo constante do trânsito.

O Centro de Convivência Cultura de Campinas nasce da necessidade de construir um espaço perdido e suprir a carência de ambientes para o entretenimento, “espaço que se abre para o encontro das pessoas, para

o contato com as coisas da cultura e do teatro.” (PENTEADO, 1998, p. 100). Compondo uma equipe com os arquitetos Alfredo Paesani e Teru

Tamaki e o engenheiro Oswaldo de Moura Abreu, Fábio Penteado, cria um conjunto de prédios que afloram do solo em diferenciados blocos, que

interagem com a praça pública: blocos foyer e administrativo; teatro; galeria de arte; torre e sala de exposição; restaurante e bar, todos interligados por uma galeria e implantados na topografia para formar um teatro de arena. O projeto do edifício rompe com conceito convencional de um teatro para criar cinco blocos formando um teatro de arena com suas empenas.

O desenho não nasceu da busca de uma forma particular, mas da necessidade de construir um espaço de encontro, “muitas vezes, o espaço que se abre para o encontro das pessoas, para o contato com as coisas da cultura e do teatro, é mais importante que o desenho do edifício” (Fábio Penteado).

Foto 10 – Foto aérea do Centro de Convivência, 1974

Fonte: MIS Campinas

A - Sinfônica Municipal de Campinas, Teatro para 500 pessoas; E - Galeria “Aldo Cardenalli”, Entrada, foyer e administração; C - Galeria “Bernardo Caro”, Galeria de arte;

D - Sala “Carlos Gomes”, torre de iluminação e sala de exposição

A

B

C

D

B - Restaurante e bar;

Teatro de arena “Teotônio Vilela”, para cinco mil pessoas.

Figura 8 – (a) Desenho Centro de Convivência, corte sul / norte, com vista oeste. (b) Desenho Centro de Convivência, corte oeste/este com vista norte.

a -

b -

Fonte: Ensaio e arquitetura Fábio Penteado. 1998

O Centro de Convivência não é reconhecido pelo órgão municipal de preservação do patrimônio histórico. O local é uma tradicional região boemia da cidade, com diversos bares, e mesmo abandonado, sua praça sempre é ocupada por feiras, saraus, encontro de grupos culturais, ficando sua estrutura de abrigo aos moradores de rua.

A estrutura que sustenta o conceito arquitetônico utiliza pórticos inclinados, dispostos paralelamente com espaçamentos regulares, como apoio para arquibancada e laje inclinada com vãos para iluminação zenital. O fechamento lateral com empenas diferenciadas cria uma envoltória de grandes dimensões, um conjunto de blocos com formas geométricas irregulares aflorando do solo, que se “tocam” pelas juntas de movimentação, compondo o teatro de arena.

Grandes estruturas como o Centro de Convivência, composto por prédios independentes, têm características próprias, cujas estruturas exigem juntas de movimentação e o selamento entre os elementos construtivos, sendo a estanqueidade do prédio o fator de maior desgaste, que demanda manutenção.

Figura 9 – Desenho corte do pórtico do prédio do bar e restaurante

Fonte: Secretaria de Cultura Campinas

A construção do Centro de convivência inicia-se em 1967 e se estende ao longo de 10 anos, com diversas paralisações. A concepção inicial de utilizar elementos pré-fabricados é logo substituída por modelagem do concreto in loco, fato que favorecerá a ocorrência de falhas no detalhamento do projeto e também no cuidado quanto à qualidade da construção; criará danos crônicos que acompanharão sua utilização a partir da primeira chuva ocorrida após sua inauguração, com o surgimento de goteiras generalizadas. Falha onerosa por conta da necessidade de recuperação do dano, além de impedir a rotina de utilização.

O corpo do prédio só termina em 1973, sendo inaugurado apenas em 1976 e já com a necessidade de recuperações localizadas e estanqueidade comprometida. Neste período extenso da construção, nota-se o afastamento dos autores do projeto, ficando a decisão de importantes detalhes do conceito inicial a cargo dos administradores e construtores, que buscam praticidade construtiva e econômica, comprometendo procedimentos construtivos. Decisões que geram alguns dos problemas crônicos, que dificultarão o uso do prédio, recebendo duras críticas de Fábio Penteado pela falta de qualidade na modelagem do concreto e mesmo pela ausência de grades, elemento básico de segurança.

Acredito que Fábio Penteado buscava a linguagem crua do material, o que exigiria uma maior fiscalização no cumprimento dos detalhes construtivos. Fica clara a negligência quanto à modelagem do concreto armado e à ausência do arquiteto na tomada de decisão de executar um revestimento superficial para homogeneizar as superfícies. Algo inconcebível em uma obra de concreto aparente que se diz “brutalista”.

A arquitetura brutalista define como principal forma de expressão a verdade dos materiais. “Esta pureza de expressão expõe o concreto bruto

aparente, destacando-o em formas cartesianas como elemento fundamental da

sua proposta ideológica” (FIEBER).

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