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O “Pro-jeto” Pedagógico em foco: um ensaio sobre o devir da forma-ação

4.2 Projeto Pedagógico em foco: elaborando articulações

4.2.1 Projeto e Projeto Pedagógico: o que dizem os autores da contemporaneidade

Até o momento, buscamos dialogar sobre projeto nos pautando nas ideias de autores como Heráclito, Heidegger e Aristóteles. Neste tópico, no entanto, procuramos dizer sobre projeto, tomando como interlocutores autores contemporâneos que teorizam sobre projeto e projeto-pedagógico. Vimos, pelas leituras e reflexões efetuadas, que muitas das ideias postas, mesmo que não indicadas de modo explícito ou que não foram postuladas de modo intencional, apresentam nuanças semelhantes com as ideias já anunciadas anteriormente, as quais possuem base filosófica. No entanto, não poderíamos, ao falar de projeto pedagógico, nos furtar a tais leituras e exposições do compreendido. A princípio, elencamos alguns autores que nos parecem centrais por trabalharem com a ideia de projeto de um modo mais geral e, também, pela importância das pesquisas envolvendo projeto político-pedagógico escolar.

Cabe, neste momento, ressaltar que dentre os autores visitados nem todos compartilham da mesma postura científica e filosófica que assumimos. Todavia, ao buscarmos por interlocutores para trabalhar sobre projeto pedagógico, nos deparamos com os autores ora apresentados, e a leitura e reflexão sobre o que dizem se mostraram importantes, ou pela proximidade que compreendem e expõem sobre projeto, ou por trazerem pontos específicos sobre a construção e atualização de um projeto pedagógico.

Primeiramente, fomos ao dicionário buscar a etimologia da palavra projeto e o que encontramos não nos causou surpresa. Etimologicamente tal palavra tem origem no latim projectus, que significa “ação de lançar para a frente, de se estender, extensão”, é radicado na palavra projectum, e é o supino, ou particípio passado, de projicère que significa “lançar para a frente”(HOUAISS, 2007, grifo nosso). Na definição da língua portuguesa projeto significa: 1) ideia, desejo, intenção de fazer ou realizar (algo), no futuro; plano. 2) descrição escrita e detalhada de um empreendimento a ser realizado; plano, delineamento, esquema. 3) esboço provisório de um texto. 4) esboço ou desenho de trabalho a se realizar; plano. 5 ) plano geral para a construção de qualquer obra, com plantas, cálculos, descrições, orçamento etc. (HOUAISS, 2007, grifo nosso)

Pela definição trazida do dicionário Houaiss, temos, novamente, a ideia do lançar à frente, ou seja, traz a ideia de um futuro, de um planejamento para a realização de algo em um

tempo que está por vir. Da etimologia da palavra às acepções trazidas, essa é a ideia que impera.

De acordo com Vale (1999), pautando-se em Paulo Freire, “o projeto visa, em essência, [...] ao futuro ainda não-existente, mas possível de se tornar realidade”. Clarifica, ainda, pautado em Freire, que esse futuro não é certo, não está dado, bastando apenas ir à sua direção, alcançando-o. Ele é fruto daquilo que as pessoas quiserem que ele se torne, venha a ser. Nesse sentido colocado por Vale (1999), vemos que ele também compreende projeto como o que se lança às possibilidades do vir a ser, um vir a ser incerto e aberto, pois ele pensa o conceito de projeto como “possibilidade pensada, planejada, em função de um futuro problemático, incerto e não dado aprioristicamente” (VALE, 1999, p. 70).

É interessante como esse autor coloca essa questão do incerto, daquilo que pode ser. Ele coloca como uma utopia, e afirma que pensar em projeto, seja ele em qualquer dimensão – social, educacional, política – consiste em pensar nessa utopia, mas ressalta que pensar nela não é pensar em algo impossível, mas como algo que deve ser possível.

Em suma, a dimensão utópica do projeto é a capacidade humana de não aceitar a realidade atual como determinada e imutável e, em contrapartida, estabelecer alvos e metas que transformem a contexto numa outra realidade mais adequada aos fins e desejos humanos (VALE, 1995, p. 3, grifo do autor).

Vale (1999) coloca algo importante na compreensão e concepção de projeto, a saber, a dimensão avaliativa da realidade que ele possui. De acordo com esse autor, pelo fato de um projeto se configurar em uma tomada de posição diante da realidade natural, social e humana, ele se coloca numa dimensão de avaliar o existente, seja para se contrapor ou reafirmar o que está posto, com base em verificações do existente seja por meio de informações, percepções etc.

De acordo com Vale (1999), os projetos devem explicitar suas concepções de ser humano, de sociedade e, também, as tarefas a ser realizadas. Essa explicitação faz com que fique claro qual a intencionalidade presente nos projetos. E é nesse sentido que um projeto pedagógico é sempre um projeto político-pedagógico, pois, ao decidir e efetuar escolhas, se posiciona perante a realidade existente e deixa evidente (ou deveria deixar) a que veio. Sobre essa questão da explicitação das concepções, valores e objetivos, Vale (1999, p. 71, grifo do autor) ressalta que:

Essa atitude de definição em relação aos fins e valores evidencia que o projeto, seja social, educacional, político, individual, será sempre um instrumento de ação e, nesse sentido, terá de se definir em termos não apenas teleológicos (em função de fins), axiológicos (em função de valores), mas, também, em termos políticos (em função do sentido social e abrangência), sociais (em função de prioridades) e científicos (em função do conhecimento existente).

Ao expor essas questões o autor deixa clara a compreensão de que o projeto jamais é tomado como pronto e acabado, pois nesse mesmo sentido ele é como a própria existência, isto é, arraigada à historicidade e, por isso, à mercê das transformações mundanas. Em busca de uma síntese ele diz que todo projeto

é ação consciente voltada para a criação de uma realidade futura. É ação consciente porque planejada tendo em vista o futuro. É sempre um misto de realidade e suprarrealidade, isto é, algo além da realidade existente que pretende transformar. Nesse sentido, o projeto é transcendência, pois postula algo além do existente hic et nunc. É da natureza, é próprio do projeto, não se contentar com o presente com o qual se convive. Projetar é lançar-se ao futuro incerto ou pelo menos problemático. É preciso ter em mente que o projeto, ao questionar o presente, insatisfeito com a situação existente, torna-se referencial crítico, questionamento do contexto existente, avaliação do status quo (VALE, 1999, p. 71).

Concatenada com as ideias postas por Vale, e pelas apresentadas por nós anteriormente, está a compreensão apresentada por Bicudo, Mocrosky e Baumann (2011, p. 124). Para as autoras,

[...] o projeto é entendido como aquilo que tem uma estrutura prévia, que comporta planos de intenção, mas que, sobretudo, guarda em si energia para tornar-se atual pelo modo de realização do antevisto. Isso que está em projeto endereça-se ao futuro visível. O futuro é o esperado, o que está sempre em aberto, à espera de atualizações contínuas, coadunando na expressão do pretendido. A ação de tornar atual o planejado destaca o que se efetivou de cada projeção, como o destino do ser do projetado. Destino este que não fica ao acaso (casuisticamente), pois está entrelaçado ao legado por herança e do como isso que vem remetido é acolhido, compreendido, (escolhido) e tornado efetivo.

Endereçar-se ao futuro visível tem o sentido, nesse texto e no contexto das obras referidas pelas autoras,de um horizonte de possibilidades que se abrem a ocorrências mediante escolhas a serem feitas, não denotando algo que deverá acontecer de um determinado modo, deterministicamente. Destino, embora carregue também o sentido do que é determinado pela providência ou pelas leis naturais, como fatalidade, também significa direção, meta, rumo. Conforme significado no dicionário Houaiss (2007), destino significa: 1- personalização da fatalidade a que supostamente estão sujeitas todas as pessoas e todas as coisas do mundo; sorte, fado, fortuna; 2 - tudo que é determinado pela providência ou pelas leis naturais; sequência de fatos supostamente fatais; fatalidade; 3 - acontecimento (bom ou mau); fortuna, sorte, fado; 4 - o que há de vir, de acontecer; futuro; 5 - objetivo ou fim para o qual se reserva algo; destinação, serventia; 6 - resultado final; remate, termo; 7 - local aonde alguém vai; direção, destinação, meta, rumo. Nesse último sentido, indica fim e remete às escolhas que, ao serem efetuadas, contribuem à sua consecução. Fim entendido como transcendência do que se dá no aqui e agora.

Direcionando o pensar, agora, para o projeto pedagógico, de modo específico, é importante que deixemos claro como estamos pensando o pedagógico, para, então, trazermos

exposições sobre o projeto pedagógico propriamente dito, mesmo compreendendo que tudo o que foi exposto anteriormente sobre projeto é abrangente e diz de qualquer projeto.

Compreendemos pedagógico como ação educadora refletida, a qual busca atender aos valores de formação da pessoa, do cidadão e do profissional. Valores que “valem no bojo da cultura em que essa ação é esperada e estão historicamente entrelaçados com as expectativas da sociedade” (BICUDO; MOCROSKY; BAUMANN, 2011, p. 124).

Assim, nesse sentido, para as autoras, a concepção de projeto pedagógico “articula ação educadora refletida, pois, intencionalmente na dimensão do contexto histórico-cultural, carrega valores e visões políticas de formação – de pessoa, do cidadão e de profissionais – postas de modo claro como ação a ser realizada [...].” (BICUDO; MOCROSKY; BAUMANN, 2011, p. 125).

Nesse mesmo viés, Veiga coloca que em um projeto planeja-se o que se tem intenção de fazer, de realizar. Para ela, é também o movimento de lançar-se a frente, tomando como base o que já se possui e buscando antever um futuro diferente do presente. Para auxiliá-la nesse pensar, busca as palavras de Gadotti, as quais citamos abaixo:

Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. (GADOTTI, 1994, p. 579 apud VEIGA, 1998, p. 1)

Nessa perspectiva, para Veiga (1998), o projeto político-pedagógico não é algo apenas burocrático, construído para cumprir as exigências externas a escola. Ele é algo vivo em todos os momentos, ou seja, vivenciado por todos os envolvidos no processo educativo.

De acordo com Veiga (2001, p.110), projeto pedagógico é entendido como:

Um instrumento de trabalho que mostra o que vai ser feito, quando, de que maneira, por quem para chegar a que resultados. Além disso, explicita uma filosofia e harmoniza as diretrizes da educação nacional com a realidade da escola, traduzindo sua autonomia e definindo seu compromisso com a clientela. É a valorização da identidade da escola e um chamamento à responsabilidade dos agentes com as racionalidades interna e externa. Esta ideia implica a necessidade de uma relação contratual, isto é, o projeto deve ser aceito por todos os envolvidos, daí a importância de que seja elaborado participativa e democraticamente.

Nessa citação de Veiga (2001) chamamos a atenção para vários pontos, pois além de ficar explícita a concepção de projeto pedagógico pela autora, fica também evidenciado o que é entendido como importante para a construção e desenvolvimento de um projeto pedagógico. Vemos que o projeto é entendido como o responsável pela organização do trabalho pedagógico como um todo, definindo bem os papéis e as ações; que ele deve estar de acordo

com as diretrizes da educação nacional, harmonizando estas com a realidade escolar, bem como atendendo aos anseios da sociedade em que a escola está inserida; e que ele deve ser acolhido por todos os envolvidos no processo de formação, e desse modo deve ser elaborado de modo coletivo e democrático por todos os agentes.

Assim, na mesma linha de raciocínio anterior, Veiga (2007, p. 3) coloca que:

O projeto político-pedagógico inscreve-se, assim, numa visão conjunta, articulando as dimensões da intencionalidade com as da efetividade e possibilidade. E o projeto tem que ser viável; colocado em prática, deve ser exeqüível e assumido coletivamente pelo grupo, ou seja, pelos vários segmentos da comunidade escolar (alunos, professores, funcionários, pais e representantes da comunidade); deve ser participativo e democrático.

De acordo com Veiga (2007), sendo o projeto uma construção participativa e democrática, onde há a participação dos envolvidos no processo de formação – professores, alunos, funcionários, pais, comunidade – ele, de modo algum, será uma construção vinda de fora da escola, com a interferência de decretos ou agentes externos àquela comunidade, ou seja, sem a identidade daquela da escola e da comunidade.

Veiga, em seus estudos, de um modo geral, se debruça de modo mais concreto para a discussão do projeto pedagógico escolar, ou seja, aquele da escola fundamental e média. Mas, as compreensões trazidas por essa autora nos auxiliam em nossa busca, pois independente do foco tomado, a autora trata de projeto pedagógico, e nesse sentido, podemos estender às outras fases do ensino. Assinalamos tal ponto, pelo fato de que olhar para um curso superior, no caso de formação de professores, olha-se para mais uma perspectiva além daquelas olhadas para um projeto pedagógico escolar, qual seja, a da formação de um profissional; tal dimensão, de modo geral, ainda não especificada de modo direto em determinados estabelecimentos de ensino da Educação Básica (a não ser nos estabelecimentos de ensino técnico profissionalizantes).

Se faz salutar compreendermos quando, na legislação educacional brasileira, o projeto pedagógico, enquanto organização pedagógica escolar autônoma passa ser definido e indicado. Isso ocorre a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, Lei Federal nº 9.394/1996, em seu artigo 12, onde: “os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”. Assim, fica estabelecido que os estabelecimentos de ensino possuem a incumbência de elaborar, executar e avaliar seu projeto pedagógico.

De acordo com Bicudo, Mocrosky e Baumann (2011) é também na década de 1990 que se torna imperiosa a apresentação formal de projetos pedagógicos para os cursos, principalmente no Ensino Superior, tanto para a abertura de novos cursos, como para a

continuidade daqueles em funcionamento, visto que a avaliação dos cursos de graduação foi incorporada ao sistema de ensino superior

Apresentamos, de acordo com o pensamento de dois autores, Vale (1995) e Bicudo (1995), alguns aspectos tidos como importantes para a construção de um projeto pedagógico, ou seja, pontos que são tidos como essenciais e que em um projeto devem constar.

Como já dito, para Vale (1995) em um projeto há sempre escolhas a serem feitas, e é a partir delas que a sociedade dá ou confere sentido às ações planejadas. Nesse sentido, Vale coloca que na ideia de projeto há alguns elementos importantes a ser pensados, sendo eles:

– a intencionalidade32 ou finalidade do projeto (para quê?)

– a situação ou o contexto (onde?) – a temporalidade (quando?) – a escolha ou opção (o quê?) – o meio ou a técnica (como?) – o resultado (quanto e qual?)

– o julgamento da ação (vale?) (VALE, 1995, p. 3)

Esses aspectos trazidos por Vale (1995) são, de certo modo, traduzidos por ele em aspectos importantes que um projeto pedagógico de um curso deve abarcar, são eles: “a consciência do profissional a ser formado para atender às exigências sociais futuras”, ou seja, o perfil do profissional; “a ação coletiva necessária para atingir os fins colimados”, isto é, as ações a serem realizadas com fim a alcançar o perfil pensado; “as etapas a vencer; os meios a empregar; as decisões a tomar; os ajustes a fazer; os problemas a resolver; os recursos a providenciar; os resultados a avaliar” (VALE, 1995, p. 5-6), ou seja, as escolhas a serem assumidas para a atualização do projetado e as avaliações efetuadas no caminhar possibilitarão a tomada de novas decisões e, por consequência, (novas) ações serão efetuadas. Aqui nesse processo trazido por Vale, desde a escolha do perfil do profissional à avaliação do planejado, nos encontramos com o que já foi apresentado sobre projeto e sobre o movimento de atualização que apresentamos nesse capítulo.

Um curso deve ter claro, inclusive em seu projeto, para quê?e a quem? serve o curso, ou seja, na elaboração do projeto esses pontos são cruciais, pois é a destinação do curso que está sendo definida. Em segundo, um projeto pedagógico deve conter uma proposta de formação, a qual deve articular os anseios individuais dos alunos com àqueles da sociedade em que o curso está inserido e irá servir no futuro, com profissionais formados (VALE, 1995).

32 É importante esclarecermos que a intencionalidade que o autor fala nessa citação não é àquela da

fenomenologia. Ver capítulo 5. Ele traz, nessa citação, a ideia de intencionalidade como fim, desejo, propósito. Conforme é trazido no dicionário Houaiss, intencionalidade é: “característica do que é intencional; intenção, deliberação, propósito”.

Um outro ponto colocado por Vale (1995, p.7), diz respeito à estrutura curricular, tida para ele como o “elemento nobre” do projeto pedagógico. É assim considerada, pois ela tem a função de garantir a formação e “assegurar a relevância, o significado e o caráter científico de uma área de conhecimento”. É essa estrutura que garantirá a formação do aluno por meio dos conteúdos teóricos e práticos, indispensáveis para a edificação de seu conhecimento. Assim, de acordo com Vale (1995), a grade curricular deverá se preocupar com as disciplinas nucleares ao curso, pois tais disciplinas darão a cara do curso, bem como com o que é complementar para o processo de formação, além de estabelecer um equilíbrio entre os aspectos teóricos e práticos, fundamentais para a formação profissional. É também na estrutura curricular que ficam estabelecidos os conteúdos programáticos de cada disciplina e suas articulações interdisciplinares.

Entendendo a importância da estrutura curricular de um curso que se dá na tríade ensino, pesquisa e extensão, Vale (1995), em relação ao ensino, coloca algumas questões de fundo e que são interessantes para o coletivo que constrói ou reformula um projeto pedagógico de um curso. Em forma de citação, apresentamos apenas as questões trazidas por ele, não apresentando as perguntas que se ramificam dentro dos questionamentos centrais. São elas: “ Para quê? se ensina e Por quê? se ensina. O que se ensina? A quem se ensina? Como se ensina? Em que condições se ensina? Em que contexto se ensina? Quem participa direta ou indiretamente do ensino? Que valores animam o ensino?” (VALE, 1995, p. 8). Percebemos que todos esses questionamentos são importantes para direcionar e conduzir a proposta ou o projeto de um curso, deixando claras suas concepções, ideologias e seu papel na sociedade, ou seja, mostrando a que ele veio.

O último ponto colocado por Vale (1995) é sobre a avaliação do projeto pedagógico. É por meio da avaliação que se tem condições de olhar para o que está sendo realizado e julgar a necessidade de possíveis reformulações. Ele vê a avaliação de um projeto pedagógico de um modo global, ou seja, ela deve abarcar o currículo, o corpo docente, a coordenação, os propósitos do projeto, os conteúdos, os alunos, os instrumentos avaliativos, a eficiência interna, a eficácia externa do curso.

Esses são os pontos trazidos por Vale como importantes para se pensar no projeto pedagógico de um curso. Não diferente do apresentado por Vale, Bicudo (1995), em um trabalho de acompanhamento e avaliação dos cursos de graduação da Universidade Estadual Paulista, também apresenta os aspectos que devem constar no projeto pedagógico de um curso, entendido como “o que articula o currículo, conferindo a este globalidade e tornando as

ações e decisões significativas do ponto de vista pedagógico” (BICUDO, 1995, p. 12). Desse modo, do projeto pedagógico de um curso devem constar:

[...] as ideias que o articulam, o profissional a ser formado, os princípios que norteiam a formação do profissional e do cidadão, as expectativas mantidas em relação ao aluno egresso, as atividades curriculares importantes para a formação pretendida, a grade curricular que organiza as disciplinas, as formas de ensino eleitas pela equipe, traduzidas em metodologias de ensino, as formas de avaliação do ensino, da aprendizagem e do curso (BICUDO, 1995, p. 12).

No trabalho coordenado por Bicudo, foi efetuada a avaliação dos projetos pedagógicos dos cursos da universidade. Ao receber os projetos de 83 dos 84 cursos, todos os oferecidos à época por essa universidade, efetuou um estudo que teve o intuito de acompanhar e analisar o que vinha sendo feito buscando auxiliar na melhora da qualidade do ensino na graduação. Nesse processo, com os projetos pedagógicos em mãos, a equipe se ateve, também, aos modos pelos quais o documento recebido foi elaborado. Nesse sentido, os documentos receberam algumas denominações como: Carta de intenção; Anteprojeto; Programação de Atividades; Análise e Estudo do Curso Visando à elaboração do Projeto Pedagógico; Diagnóstico do curso; Projeto Pedagógico. Cada uma dessas denominações dadas aos projetos pedagógicos recebidos foi designada mediante as características que o documento