• Nenhum resultado encontrado

Procedimentos de Pesquisa: trilhando o percurso da pesquisa

5.2 Sobre o trabalho de campo

[...] a pesquisa fenomenológica não se inicia centrada em um método, mas [...] os percursos vão se definindo na medida em que a compreensão vai se fazendo para quem intencionalmente interroga e atentamente ouve o interrogado (BICUDO, BAUMANN, MOCROSKY, 2011, p. 3)

Temos como objetivo, neste trabalho, investigar as propostas de formação inicial de professores de Matemática que atuarão nos anos iniciais, abrangendo do 1º ano ao 5º ano, do Ensino Fundamental, buscando compreender como os projetos pedagógicos, provenientes dos cursos de Licenciatura em Pedagogia e Licenciatura em Matemática, são compreendidos e atualizados para a realização do ser professor de Matemática dos anos iniciais.

Assim, para delinear os procedimentos que se mostram apropriados, no contexto de nossas preocupações e compreensões aqui expostas, explicitamos, novamente, a pergunta, pois é ela que guiará esta investigação e que direcionará os procedimentos da pesquisa: “Como o projeto pedagógico do curso de Licenciatura em Pedagogia e do curso de Licenciatura em Matemática realizam o ser professor de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental?”.

Nos próximos itens explanamos os procedimentos escolhidos e que se mostraram apropriados para o andamento da pesquisa. Enunciamos desde a escolha dos sujeitos que participaram da pesquisa até o modo como procedemos para a análise dos discursos dos sujeitos.

5.2.1 A escolha dos sujeitos

Para entender como os projetos de formação se desdobram em compreensões e atualizações, pretendemos situar o fenômeno formação inicial de professores de Matemática dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ou seja, procuramos compreendê-lo e interpretá-lo nos loci em que seja oferecida a formação do professor de Matemática dos anos iniciais.

Nossa pesquisa se dá no município de Goiânia, onde a situação delineada pela rede municipal de educação se difere um pouco da organização da grande maioria historicamente definida desse país. No projeto do município, licenciados, tanto em Pedagogia quanto em Matemática, atuam como professores de Matemática nos anos iniciais, mais especificamente no 2º ciclo. Tal situação nos convidou a olhar para os cursos de formação desses profissionais, ou seja, Licenciatura em Pedagogia e em Matemática.

Desse modo, centramos nossa atenção na Universidade Federal de Goiás – UFG, escolhida por oferecer os cursos de Pedagogia e de Matemática, e por situar-se no município de Goiânia. Assim, vemos, portanto, a UFG como uma das Universidades responsáveis pela formação desses futuros professores no tempo de graduação.

Em ambos os cursos buscamos sujeitos significativos para nossa pesquisa, ou seja, que vivenciaram, enquanto formadores ou formandos, a experiência de forma-ação45 nos cursos de Licenciatura em Matemática e Licenciatura em Pedagogia.

Os dados foram obtidos mediante encontro com coordenadores, com professores e com alunos das licenciaturas, em Pedagogia e em Matemática, onde, à luz da interrogação desta pesquisa, intencionamos ouvi-los em uma situação de entre-vista46 presencial, que é propícia para que ocorra um diálogo esclarecedor. Assim, o contato com os coordenadores foi feito e agendada uma entrevista, que ocorreu no fim do semestre letivo de 2007. O mesmo procedimento foi observado com os professores. Os alunos foram contatados na época da entrevista com os coordenadores e professores e o convite foi realizado por intermédio de um professor ou diretamente em sala de aula, e as entrevistas foram realizadas em alguma janela do horário ou no próprio momento da aula, que foi gentilmente cedida pelo professor.

No curso de Pedagogia, à época, havia uma única professora efetiva que estava naquele momento atuando com a disciplina de Fundamentos e Metodologia de Matemática e foi com ela que nossa entrevista foi realizada. A outra professora efetiva do curso estava, à época de nosso contato, de licença por motivos de saúde e, por isso, não foi possível entrevistá-la.Havia uma professora substituta atuando com a disciplina de Fundamentos e Metodologia da Matemática, mas infelizmente, mesmo depois de várias tentativas, não conseguimos entrar em contato com ela. Dessa forma, no curso de Pedagogia entrevistamos a então coordenadora do curso e a professora responsável pelas disciplinas que envolvem a Matemática.

No curso de Matemática, além do coordenador do curso conseguimos agendar entrevista com três professores da área de Educação Matemática. Na época da coleta dos dados, o curso de Licenciatura em Matemática contava com quatro professores ativos da área da Educação Matemática e um substituto. Conseguimos agendar entrevista com o professor

45Forma-ação: de acordo com Bicudo (2003, p.31) o significado de formação se encontra na ideia, na ação de

perseguir a forma tida como ideal. Mas, esse ideal não é assumido como uma “forma perfeita que submeta a formação a um modelo que a aprisione dentro de limites rígidos. Ideal tido como o que imprime direção ao movimento. Porém, movimento que se efetua com o que se move, e isso que se move também tem sua força, o que significa que a forma não pode conformar a ação, mas a própria ação, ao agir com a matéria, imprime nela a forma”.

substituto e com um dos professores efetivos ativos. Com os demais professores não foi possível o contato em função de eles não estarem presente no Instituto à época, por motivos diversos. Ainda, conseguimos agendar uma entrevista com uma professora aposentada da área, mas que, apesar de aposentada, ainda se envolvia com os projetos do Laboratório de Educação Matemática do curso e com projetos de pesquisa. Assim, do curso de Matemática conseguimos quatro entrevistas.

Os alunos, diferentemente dos professores e coordenadores, foram entrevistados coletivamente. Como ambos os cursos possuem turmas matutinas e noturnas, resolvemos trabalhar com quatro grupos. Dois grupos compostos por alunos da Licenciatura em Matemática e dois por alunos da Licenciatura em Pedagogia. Da Licenciatura em Matemática não foi possível entrevistarmos uma turma do turno matutino e, assim, entrevistamos alunos do curso noturno: um dos grupos estava no 8º semestre do curso e era a última turma que se formava cumprindo o currículo do projeto Pedagógico anterior ao ano de 2003, ano que o projeto foi modificado; o outro grupo entrevistado estava no 6º semestre do curso e foram escolhidos por que eram da primeira turma do novo projeto pedagógico. Com a Licenciatura em Pedagogia entrevistamos dois grupos compostos por alunos do 8º período do curso, um grupo do período matutino e o outro do noturno. Os alunos de ambos os cursos foram convidados a participarem da pesquisa e os que se voluntariaram foram levados para uma sala preparada para a gravação da conversa. O tema desses encontros foi o processo de profissionalização, onde o grupo pode tecer considerações a respeito da sua formação em processo, do interesse de trabalhar na primeira fase como professores de Matemática, e da visão que têm de si como tais profissionais, além de conversarmos sobre o projeto do curso como um todo e como as atividades foram e são realizadas

Assim, ao ouvirmos os coordenadores desses cursos, almejamos saber sobre o modo pelo qual compreendem a formação do professor de Matemática dos anos iniciais presente no projeto pedagógico do curso e em sua realização; ao ouvir os professores, de ambas as licenciaturas, que trabalham com as disciplinas que enfocam a formação do professor para atuar em sala de aula com a Matemática, almejamos que, no diálogo mantido, pudessem emergir suas preocupações e, principalmente, suas concepções sobre a formação inicial oferecida aos graduandos, visando ao trabalho com a Matemática na primeira fase do Ensino Fundamental; ao ouvirmos os alunos das Licenciaturas, que já tinham cursado as disciplinas acima descritas e que estavam concluindo o curso ou próximo de o concluírem, buscamos compreender o modo pelo qual eles se viam em forma-ação. Esses alunos são considerados significativos, por se entender que já estão capacitados a exercerem a profissão. Ao exporem

suas ideias em um debate, entendemos que estão vivenciando um momento de reflexão sobre a formação e, especificamente sobre um tema que poderá ser do interesse deles, favorecendo, assim, a autocompreensão enquanto futuros profissionais da educação.

É importante ressaltar que as entrevistas utilizadas em nossa pesquisa de doutorado foram realizadas quando estávamos desenvolvendo nossa pesquisa de mestrado. Naquela época a intenção era que tais entrevistas viessem a compor o trabalho de mestrado que tomou outro rumo ao desenvolvermos a investigação do tema. Naquele momento da investigação, imperou aprofundar a análise de ambos os cursos na perspectiva dos documentos legais, ou seja, da história dos cursos mediante os documentos que os regulamentavam e dos projetos pedagógicos do curso, na busca de compreender o processo de formação na perspectiva do projetado. Em 2007, ambos os cursos estavam passando por momento importante no que diz respeito ao projeto pedagógico. O curso de Pedagogia estava no processo de adequação às DCN para o curso de Pedagogia aprovadas em 2006 e os alunos entrevistados estavam vivenciando todo o processo. O curso de Matemática estava com sua última turma de um projeto pedagógico antigo e com a primeira turma que vinha vivenciando o novo projeto aprovado em 2003, em função das alterações também solicitadas pelas DCN para o curso de Matemática. Desse modo, tais entrevistas retratam um momento importante de ambos os cursos e, por isso, tomamos a decisão de analisá-las no doutorado tendo como sustentação a pesquisa de mestrado e a análise dos projetos Pedagógicos desses cursos.