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Capítulo 3 A Escola Profissional como Organização Pedagógica

1 Projetos Educativos das Escolas Profissionais

Os projetos educativos das escolas profissionais considerados à partida como estruturas organizacionais devem incluir a criação e funcionamento de mecanismos de inserção na vida ativa, com a finalidade de promover a integração e o acompanhamento dos jovens.

Deste modo, a formação desenvolve-se a partir do próprio projeto educativo da escola, segundo um modelo de estrutura modular. Todos os cursos incluem um período de formação em contexto de trabalho, diretamente ligado a atividades práticas no domínio profissional respetivo e em contacto com o tecido socioeconómico envolvente que, sempre que possível deve ter a forma de estágio.

Contrariamente aos que afirmaram outros autores relativamente à organização curricular do ensino profissional e o seu nível de preparação, Azevedo (1999) salienta que não há qualquer evidência de que os modelos de avaliação e progressão praticados no ensino regular geral sejam os mais eficientes e que o “sistema modular” pode ser tão ou mais formativo, devidamente enquadrado numa certa (re) organização pedagógica das escolas. Assim, assiste-se a uma nova aposta nos sistemas educativos, centrada sobre um tipo específico de educação: a educação de matriz profissionalizante.

Mestrado em Ciências da Educação

Especialização em Administração e Organização Escolar

Assente nesta perspetiva, Maria Ilídia Cabral (2007) refere:

“As escolas profissionais pretenderam, desde sempre, afirmar-se como um projecto inovador, capaz de se constituir enquanto alternativa real ao sistema regular de ensino. (…) Assim, numa tentativa de fazer face à rigidez estrutural do ensino secundário formal, as escolas profissionais visam oferecer uma formação de largo espectro, vinculada também à finalidade do desenvolvimento pessoal e social.” (Cabral, 2007:38)

De forma a que os projetos educativos das escolas profissionais estejam sustentados por pilares que respondam à qualidade desta tipologia de ensino, este tema ganha relevância a partir de 2002, no contexto do Processo de Copenhaga que instituiu a cooperação europeia em matéria de ensino e formação profissionais, definindo um conjunto de prioridades, das quais resultou a criação de vários instrumentos: o Quadro Europeu de Qualificações (transparência); o Quadro de Referência Europeu de Garantia da Qualidade para o Ensino e a Formação Profissionais – EQAVET (qualidade); o Sistema Europeu de Créditos do Ensino e Formação Profissionais – ECVET (mobilidade); e o Europass - conjunto de documentos que favorecem a transparência das qualificações e a mobilidade de estudantes e de trabalhadores.

Com base na associação dos projetos educativos das escolas profissionais à qualidade nos processos de Educação e Formação Profissional, aquelas encontram-se num processo de certificação da qualidade, denominado EQAVET (European Quality Assurance Reference Framework for Vocational Education and Training).

Em dezembro de 2010, o Comunicado de Bruges estabelece um compromisso para reforço da cooperação europeia em matéria de educação e formação profissionais para o período de 2011-2020, tendo sido definido como resultado a alcançar a curto prazo que até ao final de 2015, os Estados-membro deveriam estabelecer a nível nacional um quadro comum de garantia da qualidade para os operadores de EFP compatível com o Quadro EQAVET.

O Quadro EQAVET, instituído pela Recomendação do Parlamento Europeu e do Conselho, de 18 de junho de 2009, permite documentar, desenvolver, monitorizar,

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avaliar e melhorar a eficiência da Educação e Formação Profissional e a qualidade das práticas de gestão e, deve ser entendido, no contexto mais lato dos objetivos estratégicos traçados pelo Conselho de 12 de maio de 2009 para a cooperação europeia na Educação e Formação 2020: tornar a aprendizagem ao longo da vida e a mobilidade uma realidade; melhorar a qualidade e a eficácia da Educação e Formação Profissional; promover a igualdade, a coesão social e a cidadania ativa; e incentivar a criatividade e a inovação, incluindo o espírito empreendedor, a todos os níveis da Educação e Formação Profissional.

É neste contexto que se constitui como uma condição temática Ex Ante do Acordo de Parceria 2014-2020, assinado em julho de 2014, entre Portugal e a Comissão Europeia, a implementação de uma abordagem nacional de garantia da qualidade da Educação e Formação Profissional articulada com o Quadro EQAVET e, em particular, a implementação por parte das escolas profissionais de sistemas de garantia da qualidade alinhados com o modelo europeu (Decreto-Lei n.º 92/2014, de 20 de junho).

A 7 de outubro de 2015, a ANQEP disponibiliza a Orientação Metodológica nº 1 sobre a “Implementação de Sistemas de Garantia da Qualidade em linha com o Quadro de Referência Europeu de Garantia da Qualidade para a Educação e Formação Profissionais (Quadro EQAVET)”, onde refere:

“O Quadro de Referência Europeu de Garantia da Qualidade para a Educação e Formação Profissionais (Quadro EQAVET), (…) ferramentas comuns para a gestão da qualidade, a aplicar no âmbito da legislação e das práticas nacionais. Com efeito, a sua utilização permite aos Estados-Membro documentar, desenvolver, monitorizar, avaliar e melhorar a eficiência da EFP e a qualidade das práticas de gestão.

(…)

Ainda que o âmbito de aplicação do Decreto-Lei n.º 92/2014, de 20 de junho, se restrinja às escolas profissionais, a implementação de sistemas de garantia da qualidade reveste-se de importância estratégica para todos os operadores de EFP, numa perspetiva de melhoria contínua dos seus processos formativos e dos resultados obtidos pelos alunos/formandos.”

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Assim, os projetos educativos das escolas profissionais têm de estar em consonância com o anteriormente referido para corresponderem a um certificação europeia com vista a garantir e a melhorar qualidade da formação prestada no ensino profissional, aumentar a transparência, a confiança e a mobilidade de formandos e trabalhadores dentro do espaço europeu, contribuir para combater o desemprego ao equacionar o desfasamento entre necessidades do mercado de trabalho e qualificações da população ativa e facilitar a cooperação entre a escola e o mercado de trabalho. Estes objetivos consistem em implicar processos de monitorização regulares, envolvendo mecanismos de avaliação interna e externa e relatórios de progresso; estabelecer critérios de qualidade e descritores indicativos que sustentam a monitorização e a produção de relatórios e evidenciar a importância dos indicadores de qualidade que suportam a avaliação, monitorização e garantia da qualidade, nomeadamente as taxas de conclusão dos cursos profissionais, de empregabilidade/prosseguimento de estudos, de diplomados a exercer profissões na área de formação e de satisfação dos empregadores.

Todos estes indicadores implicam um ciclo de qualidade, num processo de melhoria contínua, que se complementa através da definição de metas e objetivos apropriados e mensuráveis; do estabelecimento de procedimentos que assegurem o cumprimento das metas e objetivos definidos; do desenvolvimento de mecanismos de recolha e tratamento de dados que sustentem uma avaliação fundamentada dos resultados esperados; e o desenvolvimento de procedimentos para atingir os resultados ainda não alcançados e/ou estabelecer novos objetivos em função das evidências geradas, por forma a garantir a introdução das melhorias necessárias.