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CAPÍTULO 5 – VEDAÇÕES VERTICAIS DE EDIFICAÇÕES: VISÕES DA PRÁTICA PRODUTIVA

5 ESTUDO DE CASO

5.4.2 Projetos da obra C

Com o intuito de ampliar o potencial hospitalar com novas especialidades de atendimento, o cliente da obra C, apoiado pelo conselho administrativo, optou pela construção de uma nova torre, anexa ao hospital existente. Porém, as diretrizes da nova edificação não se encontravam bem definidas e, desta maneira, havia falta de consenso na tomada de decisões entre os membros do conselho administrativo, repercutindo em indefinições para a elaboração dos projetos do edifício. As especialidades de atendimento médicas estavam bem definidas, mas o

lay out da arquitetura sofreu várias mudanças no transcorrer da obra.

Com o objetivo de elaborar o projeto estrutural, contratar e coordenar os projetos do empreendimento e contratar a empresa construtora para a execução da obra, o hospital contratou um projetista de estruturas, o qual encontrou dificuldades no desenvolvimento de suas tarefas por indefinições, como comentado, do conselho hospitalar. Indefinições, especialmente, quanto ao tipo de equipamentos a serem instalados retardaram a contratação de projetos, como os de elétrica, ar condicionado e gases medicinais (oxigênio, óxido nitroso, vácuo e ar comprimido), os quais dependiam de definições para posterior elaboração.

A escolha pelo sistema de laje protendida possibilitou grandes vãos, permitindo a inexistência de pilares centrais que limitassem os ambientes internos. Esta escolha possibilitou, inicialmente, que o projeto estrutural fosse baseado apenas em um anteprojeto arquitetônico. De acordo com o engenheiro, ora determinado ambiente era destinado a uma especialidade, ora mudava essa especialidade para outro ambiente, o que comprometeu a coordenação dos projetos pela constante alteração da arquitetura e conseqüentes alterações de seus pontos de instalação.

Com a estrutura em execução foram contratados, em fases distintas, os projetos de arquitetura, instalações elétricas e hidráulico-sanitárias, gases medicinais e ar condicionado. A localização dos cabos de protensão na laje foi repassada aos demais projetistas para, caso necessário alguma furação, houvesse desvios dos mesmos, como por exemplo, para a locação de ralos hidráulicos.

A falta de coordenação dos projetos do produto e da conseqüente compatibilização de interfaces deixaram para a fase de execução as definições, servindo os projetos apenas para balizamento conceitual. Em determinado momento, as inúmeras alterações solicitadas pelo

cliente ao projetista de instalações, após projeto entregue, fez o mesmo recusar-se a realizar mudanças em seu projeto, criando atrito entre os agentes envolvidos, dificultando ainda mais a exeqüibilidade dos serviços no canteiro de obras.

Apesar da contratação dos projetos e das empresas instaladoras serem de responsabilidade direta da direção do hospital, mas com supervisão da execução desses serviços pela construtora, conforme contrato com o cliente, a empresa construtora, com o intuito de se resguardar de futuros problemas, contratou uma equipe de especialistas (consultores) para fiscalizar as instalações elétricas, de ar condicionado e de gases medicinais, em virtude das várias soluções adotadas em campo. Os consultores tinham como principal tarefa inspecionar a execução dos serviços instalados e suas alterações, originando uma ata de reunião com o aceite ou recusa das alterações ocorridas, levando em consideração o conceito dos projetos contratados.

Sem atentar para medidas de racionalização construtiva para o aumento do nível organizacional do empreendimento, a falta de coordenação de projeto repercutiu na ampliação dos custos para o cliente e perda da qualidade dos serviços executados.

5.4.3 Interfaces projetos – vedações verticais

O sistema construção por pacotes da obra C, no qual os projetos foram elaborados por etapas seqüenciais à medida que a obra foi executada, dificultou ao projetista de estruturas contratado diretamente pelo cliente uma atuante coordenação de projetos, sendo esta tarefa de sua responsabilidade. Desta forma, para as vedações verticais, executadas sem elaboração do projeto para produção, não foi realizado estudo de compatibilização com os demais subsistemas do edifício.

A falta de projetos para produção com definição de detalhes construtivos das interfaces dos subsistemas que interagem com as vedações verticais preocupou a empresa construtora quanto à integridade das paredes internas de vedação com reflexo em ocorrências de manifestações patológicas, pois as paredes sofreram muitos rasgos para a acomodação das instalações embutidas de gases medicinais, hidráulico-sanitárias e elétricas. Após fechamento dos rasgos e acabamento em gesso liso nas referidas paredes de alvenaria, o canteiro de obras deverá realizar minuciosa inspeção para verificar e corrigir possíveis fissuras no revestimento de gesso para posterior liberação do acabamento em pintura (ainda não foram iniciados os

serviços de pintura por ocasião da realização deste trabalho, estando os serviços de revestimento de gesso em andamento).

Sempre trabalhando com a mesma empresa fornecedora de blocos cerâmicos, a parceria entre construtora e seu fornecedor continuou mantida.

a) alvenaria – estrutura

A necessidade de preparo do cabo de protensão para pós-tencionamento limitou a concretagem das lajes a cada doze dias trabalhados. A indefinição do projeto de arquitetura permitiu que a estrutura do edifício fosse concluída antes do início dos serviços das vedações verticais, minimizando possíveis patologias nas paredes de alvenaria oriundas das deformações da estrutura.

A falta dos projetos das instalações (ar condicionado, elétrica e hidráulica, rede lógica) fez com que o engenheiro do cliente adotasse junto à empresa construtora uma estratégia de seqüência de serviço para as vedações verticais, dividindo sua execução em alvenaria externa e interna.

Para a execução da alvenaria externa, a falta do projeto para produção de vedações verticais foi substituída por um projeto de paginação das paredes, entregue pela engenharia do cliente, na qual a única informação relevante foi a definição da altura dos peitoris e vãos dos caixilhos, exigindo que as modulações fossem definidas pela obra, pois no projeto de paginação os blocos foram desenhados de tal forma que cabiam perfeitamente no reticulado de concreto da estrutura, não levando em consideração as espessuras das juntas: no campo, a incompatibilidade da alvenaria externa com a estrutura definiu a necessidade de corte de blocos para completação da modulação vertical de alguns pavimentos, lembrando da variação existente de pé-direito entre os pavimentos.

Após a conclusão da alvenaria externa iniciaram-se os serviços da alvenaria interna, ficando definido para esta a não execução das duas últimas fiadas, possibilitando, assim, um vão entre a alvenaria interna e a estrutura de, aproximadamente, 40 cm para caminhamento dos dutos de ar condicionado, das tubulações hidráulico-sanitárias e gases medicinais e das eletrocalhas, conforme figura 5.24.

FIGURA 5.24 – Alvenaria interna com vão para passagem de tubulações, eletrocalhas e dutos Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

Como as paredes internas não foram fixadas na sua parte superior, a empresa construtora preocupou-se em travar essas paredes por meio de pilaretes com o próprio bloco cerâmico nas extremidades dos vãos de abertura e nos cantos da alvenaria e executando a última fiada de elevação da parede com bloco tipo canaleta. Na elevação das paredes, os pilaretes armados com ferro CA50 de Ø10 mm no seu interior foram grouteados a cada cinco fiadas. Para completar a amarração da parede, as canaletas da última fiada de elevação foram grouteadas após liberação da execução das instalações elétricas e de gases medicinais, como mostra a figura 5.25. Nota-se, na mesma figura, a incompatibilidade de seqüência de serviços pela execução de solda na tubulação de cobre (gases medicinais) próximo a eletrodutos que podem sofrer alteração pelo calor da chama do maçarico.

Com a interrupção na elevação das paredes internas, a falta de compatibilização estrutural piso-laje não interferiu na modulação vertical para as vedações internas, mas muitos vãos de passagem foram insuficientes, especialmente para os dutos de ar condicionado, que às vezes danificaram trechos constituídos por canaletas, conforme figura 5.26.

FIGURA 5.25 – Passagem de eletrodutos e da tubulação de gases para posterior liberação da concretagem dos blocos tipo canaleta

Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

FIGURA 5.26 – Vão insuficiente para duto de ar condicionado Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

b) alvenaria – esquadrias

A coordenação da empresa construtora definiu groutear os blocos laterais dos vãos dos caixilhos na etapa de elevação da alvenaria de fachada, considerando a existência de vergas e contravergas em blocos tipo canaleta como especificado no projeto de paginação das paredes externas. Esta tarefa criou maior racionalização construtiva, evitando retrabalho da mão-de- obra na etapa de fixação dos contramarcos, pois com os vãos grouteados ocorreu possibilidade de fixação dos contramarcos da obra C com pinos de aço na parte superior, inferior e nas laterais da alvenaria, evitando o corte do bloco para chumbamento das grapas, tempo de espera para secagem da argamassa de chumbamento das grapas e posterior preenchimento do vão entre alvenaria-contramarco, como ocorrido nas obras A e B.

A falta do projeto para produção de vedações verticais com seus respectivos detalhes construtivos repercutiu na necessidade de adaptações no canteiro de obras. Para a fachada principal, o projeto de arquitetura especificou caixilhos de 3 m de largura, fixados na sua parte superior em vergas de bloco tipo canaleta. Os vãos de 3 m a serem vencidos pelas vergas mereceram atenção, pois estas não se encontravam dimensionadas e havia preocupação da ocorrência de alguma deformação que prejudicasse o perfeito funcionamento do caixilho a ser instalado.

Na tentativa de solucionar o problema diretamente no campo, o engenheiro residente da empresa construtora em conjunto com o mestre-de-obras optou por fazer um modelo protótipo para análise da situação, levando-se em conta apenas suas experiências práticas e não o cálculo de dimensionado da verga: para esta situação a mesma deveria ser calculada como viga.

Desta maneira, optou-se pela confecção de ganchos com ferro CA 50 (Ø12, 5 mm), como mostra a figura 5.27, os quais foram fixados na viga da estrutura por meio de resina epóxi. Dentro dos blocos canaletas foram colocadas 2 barras de ferro Ø10 mm, também fixados nos pilares que delimitavam os vãos de 3 m por meio de resina epóxi. Novos ganchos de Ø10 mm sustentaram a ferragem da canaleta junto aos primeiros (fixados na estrutura). Depois de executada essa amarração os blocos canaletas (vergas) foram grouteados, mas a solução construtiva adotada apresentou falta de construtibilidade no assentamento da fiada de bloco entre a verga e a estrutura, uma vez que os ganchos permaneceram instalados para garantir a estabilidade do conjunto.

FIGURA 5.27 – Ganchos para sustentar ferragem das vergas dos caixilhos de fachada Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

A indefinição de escolha do tipo de porta a ser instalada, madeira ou ferro, exigiu que a execução da alvenaria deixasse a largura dos vãos com as dimensões previstas em planta do

projeto de arquitetura. Não existindo nenhum corte que especificasse a altura do vão, o

canteiro de obras definiu criar vergas com blocos canaletas na altura da décima primeira fiada de elevação da alvenaria (220 cm). Iniciada a execução da alvenaria interna do primeiro andar foi definido, pelo conselho hospitalar, pela instalação de batentes metálicos, para os quais as medidas dos vãos dos dormitórios de internação eram insuficientes para a entrada de cadeira de rodas. Ajustadas as medidas dos vãos com a necessidade de quebra da alvenaria no andar, as novas dimensões foram obedecidas para os demais pavimentos.

A instalação destes batentes após conclusão das alvenarias de vedações, conforme figura 5.28, prejudicou a produtividade da mão-de-obra pela necessidade de quebra dos blocos laterais para fixação das grapas e posterior chumbamento e completação dos vãos com argamassa de cimento e areia.

A largura dos batentes metálicos foi definida em função do acabamento (azulejo ou gesso liso) a ser utilizado no ambiente de sua instalação.

FIGURA 5.28 – Assentamento de batentes metálicos após execução da alvenaria Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

c) alvenaria – instalações elétricas e hidráulico-sanitárias

Na etapa de execução da estrutura, foram posicionados nos cantos externos da caixa de escada/elevadores, localizada no centro da laje, quatro shafts para descida das prumadas hidráulico-sanitárias, de incêndio e de gases medicinais, para as quais os projetistas deveriam direcionar as redes de distribuição dos andares, na etapa de elaboração de seus respectivos projetos. Para as instalações elétricas e rede de lógica foram posicionados dois shafts confinados em áreas técnicas.

A execução dos projetos de instalações sem compatibilização entre si e entre os projetos de gases e ar condicionado, somados à extensão do pavimento, exigiu que o canteiro de obras criasse algumas prumadas auxiliares de esgoto embutidas na alvenaria de vedação, em virtude da falta de caimento suficiente até a prumada inicialmente pensada e desenhada em projeto: a quantidade de interferências nos corredores com tubulações, eletrocalhas e dutos, como mostra a figura 5.29, impossibilitou a distribuição da rede de esgoto até a prumada inicialmente projetada, pois seu caminhamento com a queda necessária causaria perda de altura do pé direito no pavimento em questão. Logo, a passagem da nova prumada de esgoto

por dentro da alvenaria exigiu retrabalho para reconstituição da parede, criando descontinuidade da mesma com probabilidade de futuras manifestações patológicas.

FIGURA 5.29 – Interferências de tubulações e dutos para caminhamento da rede de distribuição de esgoto até prumada

Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

As constantes mudanças de lay out por parte do cliente afetaram os serviços acabados de alvenaria e das instalações hidráulico-sanitárias, com necessidade de retrabalho de demolição, como mostra a figura 5.30, e reconstrução de acordo com a nova arquitetura.

FIGURA 5.30 – Demolição de serviços acabados Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

Igualmente à obra B, os furos nas lajes para os passantes hidráulicos foram executados por extratora, após execução da alvenaria, o que traduziu em otimização construtiva pela precisão dos distanciamentos alcançados.

Para a obra C os rasgos nas paredes foram em quantidade maior dos que os realizados nas obras A e B, pois não houve passagem de eletrodutos por entre os blocos cerâmicos na fase de elevação das paredes e, também, pela necessidade de rasgos para descida da tubulação dos gases medicinais, conforme figura 5.31.

FIGURA 5.31 – Rasgos nas alvenarias para passagem de eletrodutos e tubulação de cobre de gases medicinais

Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

Diferentemente das obras A e B, nas quais os rasgos foram executados com a alvenaria fixada na sua parte superior, a necessidade de passagem de eletrodutos e tubulações de cobre dos gases pelos blocos canaletas fez com que os rasgos das paredes internas da obra C fossem realizados sem travamento da alvenaria, isto é, sem o grouteamento dos blocos canaletas, causando para alguns casos, o descolamento de algumas canaletas da argamassa de assentamento, exigindo retrabalho para a sua reconstituição.

d) alvenaria – revestimento externo de argamassa

Para a obra C também não foi realizado o projeto para produção de fachada, sendo utilizado o mesmo procedimento de execução de serviços para revestimento de fachada das obras A e B, com uso de argamassa industrializada para revestimento externo.

Com pilares externos de 40 cm de largura e blocos cerâmicos de 19 cm de espessura, a alvenaria da fachada foi executada sempre faceando internamente os pilares, como mostra a figura 5.32, desta forma não existindo continuidade da interface alvenaria/estrutura na face externa da fachada. O assentamento de blocos faceando a parte interna do pilar criou necessidade de requadro das vigas e pilares externos da fachada, pois caso contrário (blocos na face externa do pilar) ocorreria requadro interno dos pilares e do piso a ser instalado.

FIGURA 5.32 – Alvenaria de fachada pelo lado interno do pilar Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

Para evitar acúmulo de água com probabilidade de penetração no revestimento, atingindo o lado interno do ambiente, foram assentados peitoris de ardósia com pingadeira e caimento para a parte externa sobre as vigas da estrutura, conforme figura 5.33.

FIGURA 5.33 – Assentamento de peitoril de ardósia sobre viga da fachada Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

Em fase de produção, os caixilhos foram contratados para virem instalados com peitoris em chapa de alumínio, como mostra o modelo da figura 5.34, realizado pelo fornecedor para aprovação do cliente. A opção por esta contratação racionalizou etapas de serviço no canteiro de obras, pois caso a opção fosse pelo assentamento de peitoris em pedra natural, o revestimento da fachada demandaria maior tempo para conclusão.

FIGURA 5.34 – Caixilho instalado com peitoril em chapa de alumínio Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

e) alvenaria – impermeabilização

As indefinições de lay out e a opção pela execução de laje protendida restringiram a possibilidade de rebaixo da laje na etapa da estrutura para a impermeabilização das áreas molháveis.

Sem existência do projeto para produção, a impermeabilização das áreas internas foi executada com cimento polimérico estruturado, conforme figura 5.35. Em virtude da fina espessura de acabamento, a impermeabilização realizada pouco interferiu com o revestimento interno das paredes.

Para as áreas externas, a aplicação de manta asfáltica encontrou as alvenarias sem cavidade na parte inferior das paredes, o que exigiu, como nas obras A e B, maior consumo de argamassa de revestimento para execução de um barrado de argamassa na região da parede com manta asfáltica, como mostra a figura 5.36.

FIGURA 5.35 – Impermeabilização de box de banheiro com cimento polimérico estruturado Fonte:Empresa pesquisada (Obra C)

Como a obra C encontra-se em fase de execução, não se tem histórico de possíveis patologias na interface das vedações verticais com os subsistemas analisados. As vedações verticais foram prejudicadas pelos constantes rasgos e impactos de quebra dos blocos das paredes para a passagem de tubulações, eletrocalhas ou dutos, afetando sua integridade com probabilidade futura de patologias.

FIGURA 5.36 – Necessidade de barrado de argamassa na região de parede com manta asfáltica

A elaboração seqüencial dos projetos do produto e a inexistência de projetos para produção contribuíram para a falta de compatibilização das interferências entre os subsistemas existentes, gerando perda da visão global da edificação no tocante a seqüência dos serviços.