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Racionalização do processo construtivo tradicional

CAPÍTULO 3 – PROJETO PARA PRODUÇÃO DE ALVENARIA DE

3.1 Racionalização do processo construtivo tradicional

Empresas que atuam na área de construção de edifícios buscam alternativas para se tornarem competitivas frente à realidade das condições de mercado. A adoção de estratégias como a racionalização dos métodos, processos e sistemas construtivos e de alterações organizacionais internas vêm sendo empregadas com o objetivo de diminuir custos, cumprir prazos de execução e melhorar a qualidade dos edifícios produzidos.

3.1.1 Processos construtivos: níveis tecnológicos

Os processos construtivos são classificados por Martucci (1990) e Sabbatini (1989) de acordo com o nível de desenvolvimento tecnológico. Martucci (1990) estabelece cinco níveis: Artesanais, Tradicionais, Tradicionais Racionalizados, Pré-fabricados e Industrializados. Sabbatini (1989) estabelece três níveis: Tradicionais, Racionalizados e Industrializados, assim designados:

Processo Construtivo Tradicional: “uso intensivo de mão-de-obra, baixa mecanização, elevados desperdícios de recursos humanos, de materiais e de tempo, dispersão e subjetividade nas decisões, e por fim, fragmentação e descontinuidade da obra” (SABBATINI, 1989).

Os materiais industrializados (cimento, tubos elétricos e hidráulicos, blocos, azulejos, etc) ou naturais (areia, pedra, etc) são transportados para o canteiro de obras, no qual ocorre a construção da edificação por meio da cultura da região e ou prática construtiva disseminada pela empresa construtora.

Processo Construtivo Racionalizado: “empregam técnicas organizacionais das indústrias de manufatura, sem alterações radicais dos métodos de produção em uso, incorporação de princípios de planejamento e controle de fluxo de produção, com objetivo de centralizar e programar as decisões e de eliminar os desperdícios e aumentar a produtividade” (SABBATINI, 1989).

Ocorre maior preocupação com elaboração de detalhamento dos projetos, treinamento da mão-de-obra e valorização das normas de segurança.

Os materiais industrializados ou naturais, como no processo construtivo tradicional, também são transportados ao canteiro de obras, mas armazenados de forma ordenada (existem projetos de canteiros e de unidades produtivas) com o intuito de diminuir perdas de materiais de construção.

Martucci (1990) denomina o processo construtivo racionalizado como processo tradicional racionalizado, ou seja, são originalmente tradicionais, mas apresentam projetos elaborados racionalmente com mais e melhores definições técnicas.

Processo Construtivo Industrializado: “usam intensamente componentes e elementos produzidos em instalações fixas e acopladas no canteiro, utilizando técnicas industriais de produção, transporte e montagem” (SABBATINI, 1989).

O processo de trabalho deste processo construtivo caracteriza-se por ser especializado, realizado fora do canteiro de obras, em módulos, de forma seriada e padronizada, sendo transportado, basicamente, para a montagem no canteiro.

Atualmente, o processo construtivo tradicional racionalizado tem predominado as empresas construtoras do subsetor edificações com vistas à racionalização. Este processo construtivo busca a aplicação dos recursos envolvidos no processo de produção por meio da adequação tecnológica e da mudança organizacional dos processos construtivos tradicionais.

3.1.2 Do processo construtivo tradicional ao racionalizado

Entre 1945 e 1980, o Brasil deixa de ser um país com base na atividade agrária para ser um país voltado às atividades dos setores secundário e terciário, ocorrendo uma migração populacional do campo para os centros urbanos (GRANDI, s.d.).

O forte processo de urbanização desse período resulta em mudanças na indústria da construção e, sobretudo, no subsetor edificações. A demanda por habitações e a supervalorização dos terrenos estimulam o processo de verticalização dos grandes centros pela execução dos edifícios construídos em estrutura reticulada de concreto e vedações em alvenaria.

Em 1964, como destaca Barros (1998), com a mudança de regime de governo, o desenvolvimento dos subsetores construções pesadas e montagem industrial é intensificado e, devido a falta de recursos financeiros, a produção de habitações fica praticamente paralisada. Com a produção habitacional estagnada, o déficit habitacional cresce de forma vultosa e, em resposta, ocorre a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH), que proporciona a produção em massa de unidades habitacionais e, a expansão do setor de materiais e componentes.

O mercado, nesse período, volta-se para a industrialização e a pré-fabricação, utilizando intensamente a mecanização e, assim, o processo construtivo tradicional de produção de edifícios é deixado para um segundo plano. A fase da industrialização tem grande expansão no início da década de 70, mas no final da década, nota-se o início da recessão, que culmina em meados da década de 80 (BARROS, 1998).

Essa crise econômica leva a significativas retrações a atividade do subsetor edificações, que requer linhas de financiamentos em virtude dos edifícios terem longo prazo de maturação e necessitarem de expressivos recursos financeiros para sua construção.

Fabrício (2002) ressalta que, com a queda de financiamentos públicos habitacionais decorrentes da crise do sistema financeiro a partir de 1984, as construtoras passam a utilizar recursos próprios e ou privados de financiamentos e, também, diminuem suas margens de

lucros e os custos dos novos empreendimentos4 para viabilizarem a entrada de seus produtos

(unidade habitacional a ser comercializada) no mercado. A incidência dos altos custos financeiros na imobilização de capitais faz com que a comercialização dos empreendimentos seja agilizada e a parcela do empreendimento destinada ao pagamento da compra do terreno reduzida, como forma de baixar os preços de comercialização das novas unidades.

A busca pela comercialização mais ágil cria competitividade entre as empresas do setor que ainda se deparam com o aumento da conscientização de seus clientes compradores frente à qualidade dos produtos comercializados.

A necessidade de continuarem produzindo e serem competitivas, somada a escassez de recursos financeiros e maior exigência dos clientes em relação à qualidade do produto

4

As construtoras começam a se preocupar com o empreendimento como um processo (viabilização do negócio, valor de compra do terreno, projetos, execução, uso e manutenção).

edifício, conduz as empresas que atuam na área de construção de edifícios, por possuírem, segundo Melhado & Fabrício (1998), “precário domínio técnico” sobre suas atividades produtivas, a investirem na racionalização do processo construtivo tradicional, marcado pela ausência de procedimentos de execução e seqüência de atividades de serviços.

Novaes (1996) destaca que nesse novo contexto “a opção pela racionalização dos processos construtivos tradicionais representa, no âmbito da construção de edifícios, alternativa diferenciada de industrialização, baseada não mais na pré-fabricação seriada de componentes, mas na organização do processo de trabalho.”

Empresas líderes do subsetor edificações, conforme destaca Fabrício (2002), em virtude da escassez de recursos para uma mudança radical do processo construtivo tradicional, utilizam- se de estratégias baseadas em mudanças tecnológicas, na racionalização da produção e na introdução de modelos organizacionais mais eficientes para evoluírem ao processo construtivo racionalizado.

Barros (1998) relata que “com a retração do mercado, a racionalização da produção de edifícios construídos pelo processo construtivo tradicional passa a ser uma das estratégias de ação das empresas construtoras para enfrentar a concorrência.”

O processo de produção do edifício tende a ser otimizado por meio do aumento da produtividade das tarefas desenvolvidas nos canteiros e pela minimização das perdas mediante controle de desperdícios da produção. Algumas modificações introduzidas no processo construtivo tradicional para obtenção de maior produtividade e minimização das perdas de materiais podem ser consideradas:

9 elaboração dos projetos com maiores definições técnicas e mais detalhados para

execução;

9 projetos de canteiro e organização do trabalho (treinamento e motivação da mão-de-

obra e valorização das normas de segurança);

9 introdução de inovações tecnológicas;

9 definição da seqüência de execução das atividades.

Desta maneira, o cenário competitivo do subsetor edificações evidencia a estratégia das empresas construtoras ao implementarem melhorias gradativas nos processos construtivos tradicionais na busca de um processo construtivo que utilize os princípios da racionalização.