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5 A NARRATIVA DE HISTÓRIA DE VIDA DE LUIZA

5.17 Projetos futuros: planos e perspectivas

Uma vez chegando ao presente de Luiza, passamos a apresentar seus planos para o futuro, a começar pelos estudos:

Bom, é, ahm, eu preciso terminar minha faculdade na UNIP, porque eu “me formei”, eu finalizei, não me formei. Não, é errado dizer isso. Eu finalizei a faculdade, fiz tudo bonitinho, o tempo que eu tinha que fazer, só que eu terminei com, deixei 3 DP’s pra trás... que por sinal, é com exatas (risos). E daí eu... meu namorado tá vendo, ele deu uma opção de trazer minhas matérias pra cá, pra eu terminar aqui. São um ano a mais de faculdade, por exemplo. E eu quero fazer essa faculdade aqui, só que não acho que agora é o momento porque eu ainda estou aprendendo o inglês e não quero chegar na faculdade, colocar um puta dinheiro, investir um puta dinheiro e não entender um “A” do que o professor falar.

Pretende, então, retomar seu projeto de formação estudantil, incompleto por conta das três matérias e da mudança de país. Vale comentar que o referido projeto foi interrompido e

“atrapalhado” pelo favorecimento da vida em torno da representação da modelo. Não

obstante, Luiza pretende trabalhar o máximo que puder no tempo que lhe resta dentro da carreira, a exemplo do que lhe aconselhara o seu pai, fazendo seu “pé de meia”:

Então eu quero ficar mais um tempo aqui, quero realmente, é, investir o tempo que eu tenho... (...) quero passar mais o meu tempo viajando, Londres, Berlin, aqui pela Europa mesmo, fazendo o máximo de dinheiro que eu conseguir... é, porque eu sei que o meu... tempo de modelo tá acabando. Até porque, eu quero ser mãe, eu quero casar, eu quero ter uma vida normal. Vida de modelo, definitivamente não é normal. Então, voltando, eu quero fazer essa, essa, terminar essa fa culdade, um ano, aqui. Quero trabalhar na área de marketing, que acho que é o que eu mais entendo, o que eu aprendi em português, eu acho que aqui eu vou conseguir, de alguma forma, aplicar aqui, e... é, trabalhar.

Também nos revela seu desejo de concretizar um importante projeto: o da maternidade. Luiza quer ser mãe. Essa nova representação identitária depende da “vida normal” que a mesmice da personagem modelo a qual se mantém presa não lhe permite desenvolver.

Mas eu ainda me vejo mais uns dois anos modelando. Se eu quero fazer algum dinheiro, se eu quero ter alguma coisa, eu tenho que fazer isso, porque (...) chegar no exterior, onde a moeda é mais alta – não tô falando de Acapulco, porque eu só gastei, lá -, onde a moeda é mais alta, pra tentar fazer dinheiro, eu tenho que adiar o meu sonho de ser mãe. Eu tenho que, sabe? Então eu me vejo pelo menos mais dois anos modelando pra fazer um curso, porque, por ser brasileira, arrumar trabalho aqui, um trabalho ok, um trabalho bom, não é fácil. Então eu tenho que, pelo menos falar um inglês muito bom e... e ter alguma formação, porque sem uma formação você não é ninguém. Estrangeira? Não fala português? Ok. Não tem formação? Ahm, ok. Então não é isso, realmente, o que eu quero pra minha vida, mas o meu foco agora é, realmente, modelar, modelar o máximo que eu conseguir.

Para concretizar seu sonho de ser mãe, Luiza precisa, primeiro, adiá-lo. Estabelece um tempo restante de investimento na carreira de modelo para preparar sua saída. Será como das

outras vezes, quando disse a si mesma “só mais um ano e aí eu paro”? Não temos como saber.

Mas seja como for, após isso, terá que lidar com sua condição de estrangeira em um outro mercado de trabalho onde isso não constitui prestígio, mas, como acredita, um

obstáculo. Enquanto que modelos internacionais são altamente requisitadas, em outras profissões, o estrangeiro costuma encontrar dificuldades.

É uma coisa que eu tô adiando, inclusive, ainda ontem me perguntaram “quando que você quer ser mãe?”, aí eu respondi “se eu pudesse, eu seria mãe hoje”. Mas eu não posso. É. “Quando que você quer ser mãe?”. “Hoje”. As pessoas riem, dão risada da minha cara, não sei, acho que o povo olha pra minha cara e imagina que eu sou nova, para -, eles falam que eu pareço mais nova do que eu sou, então eu falo que eu quero ser mãe, já, acho que é meio “pá!” pra eles.

Luiza conta sobre a reação das pessoas em seu trabalho (foi onde lhe perguntaram isso

“quando que você quer ser mãe?”), diante da exposição de seu sonho de ser mãe. A

reconhecem como modelo, como uma mulher bonita e jovem, mas tem dificuldades para entenderem um desejo de ser mãe naquele momento, justamente por essas características. Em outras palavras, o reconhecimento como modelo nega a possibilidade da representação da

mãe.

De volta à narrativa, Luiza nos conta mais sobre seus projetos profissionais para o futuro, revelando-nos também o que não pretende fazer:

[com voz de choro e riso] Ai, eu não me vejo trabalhando, não. Assim, ahnm..., eu não me vejo tendo chefe, essas coisas, sabe? Porque, como eu disse, eu tive uma experienciazinha, assim, de trabalhar em escritório, todo dia, de 8 as 18, aquela coisa, de todo dia, AI, eu não sei, acho que isso, não sei..., eu penso, eu sei que é uma coisa beeeeem longe, mas eu me vejo, realmente, tendo o meu próprio negócio. Eu acho que eu me daria melhor tendo o meu próprio negócio, trabalhando bastante..., e as vezes, tipo, hoje eu não quero trabalhar, hoje eu não quero olhar pro computador, eu não vou trabalhar..., sabe? Então isso é uma coisa que me excita, de verdade: ter o meu próprio negócio, é, ter meu horário flexível, porque esse negócio de ter horário, AAAH! Me dá um “bode”, uma coisa estranha. Não sei se eu vou gostar, não. Eu quero muito ter o meu negócio, só não sei ainda do quê. Não sei aonde que eu vou investir, MAS... eu quero.

O tempo que passou representando a modelo-que-também-é-secretária, onde os horários eram fixos, foram bastante desgastantes, como vimos anteriormente, e foi determinante para essa visão de Luiza frente a ideia de ter um trabalho nos mesmos moldes. Quer trabalhar com algo onde sinta que tenha autonomia e flexibilidade com horários e agendas.