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Projetos institucionais do Sindicato dos Produtores Rurais de Campos

A experiência mais recente de ações dirigidas aos jovens rurais sob a coordenação do Sindicato dos Trabalhadores de Campos Novos aconteceu nos moldes dos projetos desenvolvidos por meio da Confederação Nacional de Aprendizagem (CNA) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de SC (Senar/SC) com o “Programa de Empreendedorismo Rural”.

O “Programa de Empreendedorismo Rural” foi desenvolvido com um grupo de jovens em 2010, no município da Vargem, através do Sindicato dos Produtores Rurais, o qual participa na identificação e na mobilização dos jovens, contribuindo na organização da logística, acompanhando o desenvolvimento e a avaliação do curso através da Pedagoga do Sindicato.

O presidente do Sindicato elenca as motivações para realizar o curso de Empreendedorismo com os jovens rurais por: Santa Catarina se tratar de um Estado eminentemente agrícola; pela necessidade de reconversão das propriedades rurais; de novas lideranças; necessidade de visão empresarial e pela valorização da atividade rural.

Destaca-se aqui o entendimento de Fernando Dolabela (2003) sobre a Pedagogia Empreendedora como uma metodologia de ensino de

empreendedorismo para a Educação Básica: educação infantil até o ensino médio. Abrange, portanto, idades de 4 a 17 anos. Estimula a capacidade de escolha do aluno sem influenciar as suas decisões, preparando-o para as suas próprias opções. O autor trata o empreendedorismo como uma forma de ser e não somente de fazer, transportando o conceito que nasceu na empresa para todas as áreas da atividade humana. No Brasil, a Pedagogia Empreendedora foi aplicada com sucesso em diferentes escolas, cidades e contextos, inclusive no meio rural.

Ainda, segundo Dolabela (2003), a pedagogia do empreendedorismo tem como propósito desenvolver o potencial dos alunos para tornarem-se empreendedores em qualquer atividade que escolher, cabendo ao aluno, e somente a ele, fazer opções profissionais e decidir que tipo de empreendedor será. Com uma abordagem acentuadamente humanista, a metodologia elege como tema central a preparação, não só do indivíduo, mas da comunidade vinculada a tecnologias de desenvolvimento local sustentável para que essa participe ativamente da construção do desenvolvimento social, com vistas à melhoria de vida das pessoas, e com vistas à promoção de processos de inclusão social.

Sobre o propósito do curso de empreendedorismo com os jovens rurais, a pedagoga do sindicato afirma que o Programa tem como meta desenvolver habilidades para que os jovens saibam identificar necessidades do mercado e transformá-las em oportunidades de negócios, identificar quem pode contribuir para o planejamento da atividade e buscar ajuda, seja através de pesquisa, assistência técnica, reivindicações, entre outras, bem como saber planejar a atividade.

O Programa tem como objetivo geral desenvolver competências empreendedoras e preparar líderes para ações sociais, políticas e econômicas sustentáveis no agronegócio. É desenvolvido em três fases, sendo que a primeira trabalha com Gestão do conhecimento e Desenvolvimento Humano; a segunda com Implementação de Projetos e Integração dos Participantes; e a terceira com Desenvolvimento de Liderança. Tem como objetivos específicos: dotar o agronegócio de empreendedores qualificados e líderes comprometidos com o desenvolvimento sócio-econômico do meio rural; aumentar o poder político, econômico e social dos agricultores; aumentar a qualidade de vida da população no meio rural; contribuir para o desenvolvimento de um sistema de educação voltado para o meio rural e contribuir para o aumento da renda líquida dos produtores rurais.

Na compreensão da pedagoga do Sindicato, a estratégia, para tanto, é a de: identificar e buscar novas parcerias institucionais e fortalecer as existentes; fomentar o espírito de grupo nos empreendedores rurais promovendo a formação de uma confraria de participantes; procurar elementos aglutinadores de oportunidades de negócios, objetivos comuns, tecnologias, parcerias e associativismo. Essas ações pretendidas evidenciam que o sindicato empenha-se em um papel formativo e está mais aberto ao desenvolvimento de ações de interesse coletivo que incluam o jovem na percepção e transformação da realidade. Essa postura foi assim manifestada.

O mundo rural contemporâneo já não se caracteriza como uma massa coesa, como uma única corporação inserida em determinado território e os jovens devem estar a par das mudanças que vem ocorrendo e precisam se preocupar com o aperfeiçoamento dos conhecimentos que objetivem avaliações comportamentais e busquem soluções. (Pedagoga do Sindicato).

A pedagoga chama atenção para as sociedades rurais contemporâneas que apresentam significativas transformações no âmbito das concepções de mundo, de estilos de vida, modalidades de trabalho e, sobretudo, dos processos de tomada de decisão. Diante deste contexto, verifica-se que em parte da juventude á uma problemática: a da desvalorização do meio rural que, dentre outras implicações, tem contribuído com a saída de jovens para as cidades em busca de novos horizontes profissionais e pessoais.

Considerando a complexidade da agricultura contemporânea e a relevância dos jovens enquanto atores fundamentais para o processo de desenvolvimento da agricultura e diante da possibilidade de permanecer ou sair do meio rural, o presidente do Sindicato evidencia os reflexos que podem ocorrer com a saída do jovem:

Torna-se relevante os investimentos com os jovens rurais. Além disso, objetiva-se analisar quais as implicações das decisões dos jovens para a unidade de produção agropecuária, para o bem-estar familiar e para as políticas públicas em nível local e regional. Por isso a preocupação de inserir o Programa de Empreendedorismo Rural na vida dos jovens.

(Presidente do Sindicato).

Nota-se a possibilidade de estabelecimento de alianças, pois o sindicato reconhece a importância de trabalhar em parceria com instituições que estão diretamente interligadas com os jovens por conhecerem a realidade local e as reais dificuldades encontradas no contexto rural. Esta abertura mostra o esforço da

organização voltada a apoiar as lideranças jovens que possam assumir os destinos do território que tem na agricultura sua principal economia. Esta constatação pode ser vista na fala que reforça as ações da organização sempre na perspectiva econômica voltada à produção da atividade agrícola.

O grande desafio da atual gestão é de cumprir um papel fundamental no município, já que têm sua base econômica centrada na agropecuária e continuar atuando em defesa da produção e de condições para que os produtores possam produzir, com todo o esforço, diante dos reflexos da crise da agricultura. (Presidente do Sindicato).

O presidente salienta ainda que as atividades do Sindicato também estejam centradas na parceria com o Senar e com a Faesc na oferta de cursos profissionalizantes que proporcionem capacitação sem nenhum custo para os jovens.

A respeito de como o Sindicato recebe avaliação para saber do alcance dos investimentos das ações com a juventude, foi informado de que ele realiza ao final de cada ano uma reunião de planejamento com as entidades parceiras para levantar as reais necessidades, como sugestões e críticas. Além disso, um questionário é aplicado após o término do Programa de Empreendedorismo Rural para detectar pontos fracos e fortes do programa, levando em conta a opinião dos participantes.

Essa experiência de trabalho com jovens tem uma característica inovadora que está relacionada à proposta da Pedagogia Empreendedora que se oferece, segundo Dolabela (2003), como uma estratégia para a produção de novos conhecimentos a partir de uma plataforma individual já existente, ou seja, a partir de suas realidades e de seus sonhos com a possibilidade de empreender.

Todavia, por conta da falta de infraestrutura evidencia-se uma preocupação com o acompanhamento dos projetos dos jovens uma vez que o Senar apenas ministra o curso, que tem durabilidade de quatro meses, e depois se afasta, não oferecendo apoio ao pós-curso. Logo, percebe-se que fica em haver o acompanhamento dos jovens e o assessoramento em seus projetos profissionais, pois houve tão somente o oferecimento do curso de empreendedorismo.

O que é possível constatar dessa experiência sobre empreendedorismo é que o jovem recebe no período de quatro meses um conjunto teórico de conhecimentos do que é ser um jovem empreendedor do agronegócio, um líder no meio rural. Portanto, então, deduz-se que a imagem que se almeja é a de um jovem

empreendedor ligado a atividades agrícolas e produtivas e que reconheça as mudanças que vêm ocorrendo nos espaços rurais. A questão é saber se o curso de empreendedorismo, do ponto de vista metodológico e político pedagógico, garante em suas múltiplas dimensões que o jovem consiga adquirir conhecimento e, sobretudo, aplique-os na sua prática cotidiana. Entende-se, pelos depoimentos, que após o término do curso o sindicato não tem uma infraestrutura de apoio para que os jovens possam dar continuidade ao processo de ser empreendedor, pois não basta fazer o curso, é preciso ter a condição de aplicabilidade.

Como diz Gadotti (2005), hoje as teorias do conhecimento estão centradas na aprendizagem. Porém, só aprendemos quando nos envolvemos profundamente naquilo que aprendemos, quando o que estamos aprendendo tem sentido para as nossas vidas. Só conhecemos realmente o que construímos autonomamente. Ou, como diz Maturana e Varela (1995), conhecer e aprender são processos autopoiéticos, isto é, auto-organizativos.