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Durante o ano de 1939, Inojosa publicou poucos artigos sobre uma possível guerra e, mesmo depois do início do conflito, não consagrou especial atenção ao problema. Assim, nos dois meses do jornal conservados nos arquivos da FCRB relativos a esse ano, há 39 artigos de Inojosa, dos quais nove tratavam especificamente da guerra, da iminência do seu início ou de temas correlatos.

Entre os tópicos dominantes estava a defesa do pacifismo. A princípio, o escritor acreditava que a guerra poderia ser evitada. Ponderava que a Europa só teria a perder, caso se visse às voltas com um novo conflito que, muito provavelmente, não teria vence­ dores, mas tão somente destruição. Contrapunha as tensões do velho continente à América, admirada como terra onde reinava a

11. Sobre o discurso de Vargas a bordo do Minas Gerais, afirmou­se: “É evidente que se modifica o rumo dos acontecimentos e que estes se afastam da trajetória prevista por aqueles que se aferram a fórmulas arcaicas e contemplativas. O Brasil adotou, em boa hora, o regime que lhe convém, compatível com o senti­ mento popular, e único, capaz de assegurar dias duradouros de paz e de traba lho profícuo. [...] Estamos diante de um velário descerrado que nos mostra uma nova idade. É preciso compreendê­la e marchar para a frente. Como bem disse o presidente Getúlio Vargas, não é o fim da civilização, mas o início de uma era nova” (Meio-Dia, 12/6/1940, p.1). Quando da invasão da União Soviética pela Alemanha, comentou­se que “Não, o Brasil não é neutro na luta contra a Rússia vermelha. De todo coração acompanhamos as tropas que avançam no território russo, combatendo e vencendo os soldados verme­ lhos para, finalmente, extinguir o cancro da humanidade hodierna que é o bol­ chevismo” (Meio-Dia, 15/7/1941, p.2).

paz e o trabalho. Segundo sua avaliação, a culpa pelo fenecimento da paz recaía sobre os países fascistas, Alemanha e Itália (Inojosa, 11/4/1939, p.2).

França e Inglaterra contavam, nesse momento, com a simpatia de Inojosa e dos editoriais, enquanto a Alemanha nazista era alvo de críticas. Essa postura pró­Aliados de Inojosa pode ser en­ contrado em artigo exemplar, o qual exaltava a figura do Secretary

of State for Foreign Affairs, Anthony Eden, que buscou, a todo

custo, evitar uma nova conflagração na Europa, assim como nas suas considerações sobre o primeiro­ministro inglês, Neville Chamberlain, apresentado como um político sensato, que pro­ curou fortalecer a paz e a democracia no Velho Continente. Por ser uma síntese do posicionamento do vespertino no período, vale a pena reproduzi­lo por completo:

Eden, o simpático ex­secretário do Foreign Office, é uma das in­ teligências políticas mais expressivas da Inglaterra. A sua palavra dia a dia se reveste de mais autoridade, sobretudo no instante em que os acontecimentos confirmam certas previsões, feitas quando ocupava uma pasta no Gabinete. O ânimo frio do inglês receou, então, que o ministro precipitasse o país numa guerra. Ele apenas reagia, no momento, contra o previsto desfecho dos fatos que atualmente sacodem os nervos da Europa.

Eden tinha razão, se considerarmos o movimento de reação que ora se esboça entre as democracias europeias. Mas os adversá­ rios apresentavam, naquela época, motivos poderosos, dentre os quais o de se não encontrar a Inglaterra devidamente armada. E foi por isso que Chamberlain resolveu pacificar a Europa, enfren­ tando a tempestade com um guarda­chuva sem aspas...

Nada, porém, como a experiência dos fatos... Para Eden, quando no poder, apresentava­se pouco sedutora qualquer aliança da Inglaterra com os países totalitários. Hoje, a interpretarmos bem o seu último discurso, modificou­se­lhe a linguagem. Não lhe importam mais os regimes. Podem ser estes “branco, preto, cor de rosa ou vermelho”. O que interessa à velha Albion é “saber

se esse governo está disposto a ligar­se a outros, caso se torne ne­ cessário defender a paz”.

A expressão reflete bem o sentimento da democracia inglesa. Cada povo tem o regime que merece, embora, muitas vezes, seja digno de regime diferente... Mas a Inglaterra quer saber apenas da conduta internacional dos diversos países, desprezando­lhes as formas de governo. Pensassem todos assim, traçassem os dita­ dores essa norma de “boa vizinhança” (porque os continentes, hoje, são todos vizinhos), e talvez maior confiança mútua e certa tranquilidade reinasse entre os povos...

Esse é, porém, um princípio democrático, que só encontra eco nos espíritos formados em regimes de liberdade.

As palavras de Eden não têm oportunidade na América, onde a “conduta internacional” é clara, tradicional e coerente; onde cada povo vive bem com o seu regime, que por sinal é todo ele cor de rosa, e não inveja nem estranha o regime do vizinho.

Na Europa, entretanto, deveriam servir de paradigma, como remédio mais pronto à cura de certas enfermidades políticas, que ameaçam destruir civilizações milenares... (Inojosa, 23/3/1939) No texto, a política inglesa figurava como modelo e contra­ ponto aos regimes fascistas, que ameaçavam destruir a Europa numa luta insana. O texto é um exemplo claro do posicionamento do periódico a respeito da Inglaterra que, juntamente com a França, havia se batido por uma política de apaziguamento perante a Ale­ manha nazista, sempre de acordo com o proprietário do vesper­ tino.12 A França, por seu turno, foi tema de alguns editoriais, nos

12. A denominada política de apaziguamento foi uma tentativa fracassada para impedir uma nova guerra. Fizeram­se concessões a Hitler, cujo maior símbolo foi o acordo de Munique, de 1938, que cedeu à Alemanha a região dos Sudetos tchecos. Essa postura foi abandonada após a invasão de Praga pelas tropas alemãs, em março de 1939, quando ganharam força, no governo britânico, se­ tores que duvidavam da eficácia dessa política (ver Taylor, 1979).

quais Inojosa elogiava os seus esforços em prol da paz e reafirmava sua confiança no preparo dos franceses em caso de ataque.13

Em 1939, o vespertino colocou­se ao lado da aliança franco­ ­britânica, e sua postura diante da Alemanha pode ser avaliada por ocasião da escolha do cardeal Pacelli para ocupar o Vaticano. Ino­ josa preconizava que o novo pontífice deveria apoiar incondicio­ nalmente as democracias, visto que as mesmas se batiam por uma “solução mais justa e mais humana”. O texto ressaltava, ainda, o caráter violento dos países fascistas, nos quais reinavam o “arbí­ trio”, a “força” e a “escravidão” e valorizava os países democrá­ ticos, campeões da “liberdade” e do “pensamento livre”. Ao final, o autor fez questão de enunciar que eram as democracias que lu­ tavam pela paz (Inojosa, 3/3/1939, p.2). Embora o jornal defen­ desse o Estado Novo varguista, nesse ano inicial da publicação Inojosa não escondeu seu apreço pelas democracias ocidentais.

Ao longo de 1939, poucos foram os editoriais publicados no

Meio-Dia, cabendo destacar que, tal como nos artigos de Joaquim

Inojosa, evocavam o tema do pacifismo e a defesa dos Aliados. Nos 52 números consultados na FCRB, foram localizados nove editoriais, cinco dos quais tratavam da preparação para a guerra e, após setembro, da conflagração em curso. Dois exemplos da te­ mática pacifista foram publicados próximos ao Natal (Inojosa, 23/12/1939, p.1) e Ano Novo (Inojosa, 30/12/1939, p.1) e não diferiam dos textos de Inojosa, pois lamentavam o início dos com­ bates e apontavam os nazistas como responsáveis pelas lutas em curso. Pode­se concluir, pelos exemplares consultados, relativos ao primeiro ano de existência do Meio-Dia, que o vespertino fazia coro com a imprensa que ansiava pela paz e que, depois de se­ tembro de 1939, apoiava os Aliados.

13. “Daladier falou sem arrogância, numa linguagem polida, sutil, clara, própria, mesmo, do francês. A França quer a paz, mas não teme a guerra; quer decidir certas contendas diplomaticamente, mas não admite provocações” (Inojosa, 31/3/1939, p.2)