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2. IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO NO PROCESSO DO CONHECIMENTO NUMA PERSPECTIVA DA FILOSOFIA DA PRÁXIS.

2.4. A IDEOLOGIA NO SENTIDO AMPLO.

2.4.3. O PROLETARIADO E A PRÁXIS EM MARX.

É necessário que se elabore um conceito científico de proletariado. Será construído, em Marx, a partir da análise das relações capitalistas posteriormente condensada em “O Capital”.

É preciso que se tenha clareza quanto o sentido do proletariado. Até então, fora visto como missão histórico-universal, sem derivação da sua posição econômica e social no seio da sociedade burguesa. Nessa concepção filosófica de missão universal, o proletariado se entende como encarnação do universalmente humano. É um ponto-de-vista histórico estreito, alheio a uma posição histórico-científica, objetiva, devido a que não se conhecem as leis que regem a produção material capitalista, as relações de classe, a natureza e a função do Estado burguês. “Revela-se especial carência de uma concepção de história que permita fundamentar a necessidade da revolução do proletariado”. (Vázquez, 1977, p. 131).

Para que o conteúdo da práxis social revolucionária se enriqueça, e, com isso, o conceito do proletariado como seu sujeito, será necessário que Marx chegue à descoberta de uma práxis original e ainda mais radical, uma práxis que não só enriqueça o conceito do proletariado, mas também – e precisamente por ser o proletariado a imagem negativa do homem verdadeiro – o do próprio homem. Essa práxis original é exatamente a produção material, o trabalho humano.(Vázquez, 1977, p. 131).

Segundo Marx, a práxis revolucionária consciente pelo proletariado só será possível, se passar necessariamente pela consciência da práxis material produtiva. Conceitos estes expressos nos “Manuscritos econômico-filosóficos” de 1844; aqui lhes imprime um novo conteúdo, falando de práxis produtiva ou trabalho humano; com isso, dá novo enfoque à práxis social da Crítica do Direito de Hegel e enriquece as investigações.

Apesar de, anteriormente aos Manuscritos de 1844, Marx ter mostrado estreita aliança com a filosofia e com o proletariado, como sujeito de uma classe que

era destinado a mudar e a libertar a sociedade existente, ainda era impossível avançar. Considerava, esse texto, que havia grande concentração de sofrimento a infligir os trabalhadores, e seria necessária a abolição de toda a humanidade, o que era ainda impossível, pois proletariado ainda não era visto como existência proletária capaz e produtora, participante em determinadas relações econômicas e sociais aceitáveis.

Naquele contexto histórico, o proletariado se apresentava como sujeito passivo, a sofrer. Seria “destinado” a libertar-se como sujeito de uma práxis revolucionária. Trata-se de um conceito um tanto especulativo e antropológico do proletariado, não de um conceito científico. Conceito científico se terá conforme a formulação de Marx em “O Capital”: o proletariado será constituído como membro de uma classe social, mas ainda precisará continuar como meio de produção e será social, forçado a vender sua força de trabalho como mercadoria e produzir mais valia. Até os “Manuscritos”, porém,

“o proletário se apresentara a Marx como a negação da essência humana, e não como agente da produção. Marx via nessa negação a necessidade e a possibilidade de sua emancipação”. (Vázquez, 1977, p. 132/133).

Fica bem caracterizada a situação do proletário como lugar de sofrimento humano. No sentido de fundamentar a emancipação como práxis revolucionária, Marx passa a analisar sua situação como sujeito da práxis produtiva.

É expressão berrante a do operário numa Alemanha atrasada com baixo desenvolvimento de produção; ali o próprio Marx vê ainda o operário apenas como revolucionário, ou mais do que como produtor de bens materiais. É isso que leva Marx a examinar a prática, material, do operário no processo de produção alienado.

A práxis produtiva pode servir como trabalho alienado, quando o trabalho é visto como fonte de toda a riqueza. Assim, quando o trabalho é objetivo exterior do homem, a riqueza subjetiva se torna apenas produto do trabalho humano e se constitui a alienação do sujeito que produz. Visto que o sujeito da atividade produtiva é o operário que se encontra numa situação desigual e desvantajosa em relação ao capitalista e assim é na economia burguesa que tem no trabalhador uma fonte de riqueza e não propriamente um ser humano a essência humana é negada ou mutilada na produção.

[...] a economia política, que tem como princípio o trabalho, é antes a aplicação conseqüente da negação do homem... A economia política reconhece, com uma franqueza que raia o cinismo – como acentua Marx –, que essa desumanidade existe, mas que o trabalho humano só lhe interessa como produção de bens visando o lucro. (Vázquez, 1977, p. 134).

A práxis criadora ao contrário, segundo Marx está ligada a consciência do sujeito frente ao objeto no processo do trabalho como, por exemplo, nas sociedades capitalistas. A consciência do sujeito como práxis criadora dá-se em virtude da história fundamental do ser humano e é determinantemente universal. Tal atitude possibilita ao homem re elaborar a práxis produtiva transformando-a, e assim permitindo ao sujeito sair do seu estado de alienação.

2.4.4. A ALIENAÇÃO

A negação do trabalho do homem como ser produtivo e participativo é pregação que o afeta também vitalmente, numa dimensão mais profunda do que meramente econômica; o operário é afetado radicalmente na condição humana. O operário não pertence a uma categoria econômica pura e simples. Por isso, Marx

examina a ”atividade humana que se baseia na produção de um tipo peculiar de objetos dos quais se apropria o não operário, ou seja, o capitalista” (Vázquez, 1977, p. 134).

Examina a atividade alienada, que é caracterizada pela atividade prática, material pela qual o operário transforma a natureza e faz surgir um mundo de produtos, no qual, ele como sujeito não se reconhece. O que lhe é imposto, como alheio e independente, dotado de certo poder voltado contra ele operário. Não se trata apenas da alienação da consciência (Feuerbach) e sim de uma alienação real, efetiva, que tem lugar no processo real, efetivo da produção material.

Vázquez entende que, para Marx, a alienação ocorre por parte também do não-operário, do homem que participa diretamente do processo de produção e que se apropria do produto do operário. Esse não-operário, agora, mantém uma relação contemplativa com o produto, agora já separado do próprio processo produtivo.

O operário, por sua vez, agora enxerga o objeto de sua atividade (trabalho) numa relação puramente exterior.Tanto a relação passiva como a ativa com os objetos, a relação teórica como a prática com a produção, determinam a alienação do homem.

Na análise do sujeito e da sua práxis material, realizada nos Manuscritos de 1844, Marx conclui que o trabalho é a negação do homem como essência humana. Visto que o homem não se reconhece no mundo do objeto que se volta contra ele, se tem à negação da existência real, efetiva do operário. Nisso consiste a alienação

Ou seja, a alienação não se verifica apenas como relação entre sujeito e objeto, mas também como relação entre o operário e os outros homens. Isto é, só alienação entre seres humanos.Mediante o trabalho alienado – diz Marx –, o homem não só engendra sua relação com respeito ao objeto e ao ato de produção como potências alheias e hostis a ele, como engendra também a relação em que outros se mantêm com respeito a sua produção e a seu produto, e a que ele mesmo mantém com respeito a outros homens. Esse tipo de relações, entendidas como relações sociais – não intersubjetivas –, são as quais mais tarde Marx irá denominar de relações de

produção. A produção não só cria objetos, como cria relações humanas, sociais. À produção material de objetos se revela assim como produção social. (Vázquez, 1977, p. 136).

A análise da práxis como atividade humana deixa pontos negativos, que propiciam uma alienação do homem em relação a seu trabalho, e na sua atividade produtiva assim como, na sua relação com outros homens “trata-se de uma relação alienada entre sujeito e objeto”.

O conceito de alienação, tão presente no processo de formação do pensamento de Marx, abre caminhos para uma concepção posterior sobre o papel da produção e sobre o papel das relações contraídas entre os homens nos processos da produção. Vázquez pretende, não sem muitos esforços realizados, ter sido fiel ao pensar marxiano:

[...] pensamos não ser infiel ao pensamento de Marx se dissermos que ele estende a toda a história esse caráter da práxis material. Nesse sentido, poderíamos afirmar – por nossa conta, mas com a pretensão de interpretar Marx fielmente – que, até chegar ao comunismo, a história do homem não passa da história da alienação do ser humano no trabalho. Essa alienação não só é o fato fundamental da existência humana na sociedade capitalista, como também historicamente. O homem vive e tem vivido constantemente alienado, o que equivale a dizer: em constante negação de si mesmo, de sua essência.(Vázquez, 1977, p. 137).

A discussão (dramática) da alienação em Marx remete à preocupação com a transformação do mundo e do homem. Segundo Hegel, o homem é produto de seu trabalho, porque o trabalho não produz apenas objetos e relações sociais, com um caráter alienante em ambos os casos, mas produz igualmente o próprio homem. Essa conclusão de Hegel, e presente em ”A Fenomenologia do Espírito”, de que o homem é produto de seu próprio trabalho, foi aprovada por Marx com ressalvas. Marx critica Hegel por não haver percebido o aspecto negativo do trabalho – sua

alienação – porém não entende que o trabalho seja apenas pura negação ou então pura afirmação. Há uma contradição. Para entendermos essa contradição, é necessário diferenciar objetivação de alienação e ao mesmo tempo estabelecer uma relação entre elas. A primeira (objetivação) torna possível a segunda.

O homem, enquanto ser ativo e genérico, tem como comportamento real a manifestação de si mesmo, como ser genérico real, como ser humano. Contudo, ao exteriorizar sua força genérica, numa ação conjunta com os outros homens como resultado da própria história, adota diante dela e dos objetos um determinado comportamento, e este propicia a forma de alienação.

Ao objetivar as suas forças essenciais genéricas, o ser humano propicia a práxis material, ou seja, o trabalho humano, bem como a relação com outros homens. A alienação se consolida através do comportamento dos outros homens diante das forças objetivadas por eles como objeto; o objeto se afirma como algo alheio e estranho a seu conhecimento.

No próximo capítulo, abordaremos o processo de inserção a partir dos elementos teórico-políticos adotados pelos autores da SEED, para maior compreensão a respeito do referencial adotado. Este referencial que até então tratava-se de uma Filosofia de cunho idealista, mais voltada para o pensamento da Idade Média com bases religiosas, vindo culminar com uma proposta da SEED, quando das lutas no Paraná pela sua implantação no currículo, no contexto histórico político pedagógico no Brasil.

CAPÍTULO III

3. AS LUTAS NO PARANÁ PELA INSERÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA