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4. AS IDEOLOGIAS E REPRESENTAÇÕES A RESPEITO DA DISCIPLINA FILOSOFIA: AS FALAS DOS SUJEITOS PESQUISADOS.

4.3. RESPOSTAS DOS “PEDAGOGOS”, COORDENADORES DOS PROGRAMAS.

Seguindo a mesma direção da pesquisa com os professores, o estudo selecionou 20 pedagogos e registra as respostas mais abrangentes de cinco dos pesquisados. Ocorrem as observações favoráveis à Filosofia como parte do currículo escolar, mas revelam dificuldades quanto ao trato da disciplina e ao fato de a disciplina constar da parte diversificada e não da Base Comum Nacional.

Considero fundamental que haja a inserção da Filosofia à nossa realidade. Assim como as outras disciplinas do currículo, a Filosofia é significativa para formação dos alunos (Pedagogo B)

Vale citar Châtelet (1992, p. 8) que diz: “a filosofia é no fundo uma atividade corporal e prática. É preciso que assim seja, pois a filosofia pode atingir o outro, com sua palavra, expondo-se a si mesmo como sujeito falante, sujeito visível e, em última análise, público”.

É importante a filosofia no currículo escolar, visto que os alunos encontram caminhos de reflexão sobre determinados assuntos. Além disso, eles podem pensar em suas vidas para um melhor conhecimento sobre o ser humano. (Pedagogo B)

A resposta ratifica a importância da filosofia como um ponto de reflexão e de enriquecimento dos alunos. Utilizando-se das palavras do pensador alemão Karl Jaspers, pode-se marcar a filosofia como um via pensamento e reflexão. Ele define a Filosofia antes de tudo como a atividade viva do pensamento e a reflexão sobre esse pensamento. Assim, o pensador assinala que “é uma investigação racional direcionada não só para a determinação dos princípios gerais da realidade, mas também para a análise crítica do próprio instrumento – da razão e das idéias, concepção e valores elaborados pelo homem e pelo exercício da razão” (1998 p. 181).

Necessária por ser uma disciplina que busca a sabedoria, a razão. (Pedagogo D) É importante e necessária para o cotidiano escolar. (Pedagogo E)

Também aqui se valoriza a presença da disciplina no currículo escolar. Na resposta, pode-se considerar os modos de conhecer o mundo, a partir da contribuição de Aranha e Martins, quando ensinam que “todo conhecimento

manifesta-se por meio do pensamento. Os autores destacam que pensar é articular signos, ou seja, é ligar ou unir as representações em cadeias”.

Deve constar do currículo escolar, pois envolve o ser humano em sua existência. (Pedagogo D)

Nessa contribuição, o pensamento de Chauí (2002, p. 13) destaca que o conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. Ela completa: “É sistemático porque não se contenta em obter respostas para questões colocadas, mas exige que as próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam verdadeiras”. Conforme Chauí, as respostas devem estar relacionadas entre si, esclarecendo umas às outras, formando conjuntos coerentes de idéias e significações, de modo que sejam provadas e demonstradas racionalmente.

Considero importante a disciplina no currículo, incentivando o aluno a ter uma atitude crítica para a construção de uma sociedade mais humana, justa e igualitária. Ela é muito valiosa para o currículo. (Pedagogo E).

Traduzindo a importância da Filosofia, as respostas trazem o posicionamento de quase todos os pedagogos entrevistados, que são favoráveis à Filosofia no contexto escolar – currículo. Mais uma vez se percebe, como foi marcado no pensamento de Chauí (2003, p. 21), que a Filosofia dirige nossas indagações ao mundo que nos rodeia e esclarece as relações que mantemos com ele.

Das dificuldades no trato da disciplina, a contribuição dos pedagogos se resumem nas respostas seguintes:

A falta de hábito de reflexão por parte dos jovens e a ausência de profissionais capacitados para a disciplina. (Pedagogo A)

Há nas respostas o que se percebe em praticamente todas as contribuições, ou seja, a preocupação com a falta de interesse dos jovens e a necessidade da formação de profissionais qualificados para atuar na orientação da disciplina. O veto ao retorno da disciplina Filosofia como disciplina obrigatória no nível médio (Governo Fernando Henrique Cardoso, em 2001) justificava-se na precariedade da formação de profissionais para a área. Mas, segundo educadores, uma análise mais atenta da questão releva que nem sempre esse argumento procede, porque, por exemplo, há no Paraná cinco cursos de Filosofia autorizados pelo Ministério da Educação (MEC), número considerado suficiente para formar profissionais habilitados para o ensino da Filosofia. (Texto da Secretaria de Estado da Educação, 2006)

É preciso valorizar a disciplina diante das outras áreas do conhecimento (PedagogoB).

Como uma tentativa de explicar o mundo, a Filosofia amplia o seu horizonte nas mais diversas disciplinas, interagindo o passado com o presente. (DORNAS, 2006) Portanto, torna-se necessária a reflexão sobre a amplitude da disciplina que já traz em seu conjunto o sentido da avaliação.

Os alunos não querem pensar, refletir e, portanto, não acham a disciplina importante. Eles se voltam somente para as notas, ou seja, passar ou reprovar. (Pedagogo C).

No âmbito do sentido da avaliação, a resposta ganha um reforço a partir desta reflexão encontrada em Puiggrós: “nós concebemos a educação como um processo de ensino aprendizagem, cuja função é transmitir/adquirir cultura” (1997 p. 105). A autora considera que sustentar esses dois binômios não é tarefa fácil. Isso porque implica combater, ao mesmo tempo, o espontaneísmo e a especulação conceitual;

ou, mais precisamente, em repelir, a um só tempo, a supervalorização da mensagem educadora que tem como resultado o ensino enciclopédico e o excessivo dimensionamento da capacidade autodidática do aluno, e a conseqüência da sua condenação à ignorância. (1997 p. 105).

Não temos muito conhecimento das dificuldades para se trabalhar com a Filosofia. (Pedagogo D).

Alguns professores não levam a sério a disciplina relegando-a a segundo plano. As dificuldades acontecem quando o docente não é apto a ministrar essa disciplina, pois não exige preparo técnico e teórico. (Pedagogo E).

Percebe-se nas respostas a presença de um profissional distante dos compromissos de conjunto que envolve a sua participação na escola. Nessa direção, Linhares (1997, p. 13), na apresentação do livro “Voltar a Educar” de Adriana Puiggrós, destaca educar como “a aventura de pensar, de rememorar e projetar ações com que vamos percebendo os caminhos para ressignificar nossos conceitos, nossas condutas e nossas melhores utopias”.