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Guião de psicoterapia individual com base na Terapia Focada na Compaixão para jovens agressores

Sessão 1: Promoção da adesão à psicoterapia individual

Introdução

Nesta primeira sessão, o terapeuta deve informar o jovem sobre os objetivos gerais da psicoterapia (numa linguagem acessível, sem recurso a termos técnicos). Deve-se deixar claro que não se pretende dar lições de moral e que a psicoterapia não funciona como uma aula. Explica-se ao jovem que aquilo que se pretende é pensar sobre as diferentes experiências pelas quais as pessoas passam ao longo da vida, com especial destaque nas relações que nós estabelecemos com os outros. Enfatiza-se, ainda, que se trata de um espaço seguro no qual, jovem e terapeuta, podem ficar a conhecer-se um pouco melhor e a compreender como é que as pessoas funcionam nos diversos tipos de relacionamento que estabelecem ao longo da vida.

A intervenção deve ser direcionada para a avaliação das principais dificuldades e necessidades psicoterapêuticas, bem como para a identificação do estádio motivacional da mudança em que o jovem se encontra em relação a cada uma das dificuldades identificadas. Mediante a eventual resistência do jovem em reconhecer quaisquer dificuldades, o terapeuta deve responder através da não-resistência (cf. estratégias transversais), evitando o confronto. Mesmo mediante esta atitude de resistência, o terapeuta deve manter uma postura empática (validando o jovem sempre que lhe parecer adequado) e uma atitude de abertura e de aceitação incondicional.

No final desta primeira sessão, deve-se enfatizar que a decisão de frequentar as sessões de psicoterapia é do jovem. Nos casos em que o jovem se mostrar ambivalente, o terapeuta deve dizer-lhe que não precisa de tomar uma decisão nesta sessão, dando-lhe a possibilidade de pensar no assunto durante a próxima semana e comunicar a decisão no encontro seguinte.

Objetivos da sessão

1. Identificar as dificuldades interpessoais do jovem.

2. Avaliar a perceção que o jovem tem das suas dificuldades.

3. Promover o reconhecimento da necessidade de mudança em aspetos do comportamento e do relacionamento interpessoal.

4. Iniciar o estabelecimento de uma aliança terapêutica.

Estrutura da sessão

A. Racional para a psicoterapia

Logo no início da sessão, o terapeuta deve comunicar ao jovem os objetivos da psicoterapia. Eis um exemplo de como pode fazê-lo:

“Olá, eu chamo-me … e sou psicólogo. Já alguma vez foste a um psicólogo ou conheces alguém que tenha ido? O que é que tu sabes sobre isso?”

“Como tu sabes, todos nós temos preocupações, mesmo que não seja connosco, podemos ter preocupações com os outros. Ou pode haver alguma coisa na nossa maneira de ser que se calhar já nos trouxe alguma chatice ou então alguma coisa na nossa vida que nós gostávamos que tivesse sido diferente. É isso que nós estamos a tentar perceber, se há alguma coisa que nós podemos fazer para ajudar os jovens. E é por isso que tu estás aqui hoje. Este será um espaço para ti, onde podemos ficar a compreender melhor como é que nós funcionamos enquanto humanos. Claro que não

tens que ficar se não quiseres mas eu gostava de conversar um pouco contigo. Eu não estou aqui para te dar lições de moral ou para te dar uma aula. A ideia é pensarmos juntos sobre as relações que nós estabelecemos com as outras pessoas e connosco próprios. Se houver alguma coisa que tu não queiras falar, não há problema nenhum. Tudo aquilo que falarmos os dois fica apenas entre nós, não sai desta sala. A isto chama-se segredo profissional. Queres perguntar alguma coisa?”

B. Identificação das dificuldades interpessoais do jovem e avaliação da sua perceção sobre as mesmas

De forma a evitar respostas do tipo sim/não, o terapeuta deve colocar questões abertas, como por exemplo:

“Há alguma coisa na tua vida que gostavas que fosse diferente? O quê?”

“Há alguma coisa que tu gostavas de mudar na tua maneira de ser e de reagir? O quê?”

“Há alguma coisa na tua maneira de ser ou no teu feitio que já te trouxe alguma chatice ou algum problema com os outros? O quê? Que tipo de chatices ou problemas é que já te trouxe?”

“Imagina que eu tinha uma varinha de condão e podia conceder-te 3 desejos. O que é que tu pedias que fosse diferente na tua vida? E na tua maneira de ser?”

Mediante a possibilidade de o jovem não reconhecer nenhum problema:

“Já percebi que não tens preocupações e que sentes que não mudavas nada mas, infelizmente, o mundo não é perfeito, há sempre qualquer coisa que achamos que podia ser diferente mesmo não sendo em relação a nós. Não há nada à tua volta ou com os outros que gostavas que fosse de outra maneira?”

C. Abordagem motivacional

“Como te disse no início, alguns psicólogos estão a falar com vários jovens que estão em Centro Educativo a cumprir medidas para ver se há alguma coisa que nós podemos fazer por vocês, mas és tu que decides se queres participar ou não. A decisão e a última palavra é sempre tua. E se não quiseres participar isso não te vai prejudicar ou interferir com a tua medida. Nós vamos falar de muitas coisas, sobre a vida em geral. A ideia é ficarmos a conhecer-nos um pouco melhor e a perceber como é que nós lidamos uns com os outros. Toda a gente gostava que alguma coisa fosse diferente na sua vida.

diferente e como é que eu te posso ajudar. O que é que te parece? Podemos nos encontrar uma vez por semana e conversar?”

Se o jovem se mostrar ambivalente: “Não precisas de me responder agora. Podes

pensar durante uma semana se queres vir falar comigo ou não e quando eu vier cá na próxima vez, tu dizes-me. Pode ser assim?”

Se o jovem mostrar de imediato vontade em frequentar as sessões: “Olha, nós

vamos estar juntos cerca de 20 vezes, uma vez por semana durante mais ou menos 1 hora. Ok?”. Nos casos em que os jovens ainda não fizeram a avaliação relativa ao pré-

teste: “Há um favor que eu te quero pedir. Eu preciso que respondas a uns questionários

e a umas entrevistas. Eu sei que pode ser um pouco chato para ti porque se calhar pedem-te muitas vezes que respondas a questionários, mas era muito importante que o fizesses. Mas não é comigo. Se não te importares, é com um(a) colega meu. Posso contar contigo? Obrigado por me ajudares.”

NOTA: É necessária a obtenção do consentimento informado do jovens a cumprirem medidas tutelares educativas de internamento, assinado pelos seus responsáveis legais (pais ou tutores).