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Programa de tranquilização/

Sessão 12: Auto-Criticismo VS Autocompaixão

D. Racional do Mindfulness

“De alguma forma, mesmo que não nos demos conta, vivemos um bocadinho «a mil», estamos constantemente a correr e a fazer tudo à pressa, e a nossa mente é invadida por muita coisa que já nos aconteceu no passado, coisas de que não nos desligamos facilmente. Outras vezes, em vez de estarmos focados no momento presente, a nossa mente está ocupada com coisas que aconteceram, que vão acontecer depois, daqui a pouco, num futuro mais distante. Parece que não estamos no aqui e agora mas sempre com a cabeça noutro lado ou noutra altura. Alguma vez te deste conta disto? Achas que faz sentido? Se pensarmos bem, vivemos todos quase em piloto automático. Por exemplo, quantas vezes vamos para algum sítio e não nos lembramos como chegámos lá? Parece que se fizermos um esforço, temos a imagem de quando saímos de casa mas não nos lembramos do trajeto que fizemos. Vamos sempre pelo mesmo caminho e se nos perguntarem, provavelmente, não vamos conseguir recordar se estava muita gente na rua, se estava muito trânsito, se alguma coisa na rua estava diferente,

nem tão pouco temos uma ideia de como nos sentimos: se notámos se estávamos agitados, com o coração acelerado, se caminhávamos muito depressa ou o que nos passou pela cabeça. A nossa mente é assim, tem quase vida própria, sempre que lhe apetece, leva-nos a viajar e nós nem percebemos que entrámos no transporte! Como se costuma dizer, “andamos todos muitas vezes com a cabeça no ar”. Mas isto acontece comigo, acontece contigo, acontece com todos nós. Apesar de ser difícil darmo-nos conta desta agitação e também de a controlarmos, é importante que treinemos a nossa mente para estar mais no presente, no que está a acontecer no momento, no aqui e agora. Se estivermos sempre em piloto automático, com a cabeça no há bocado, no ontem, no que vamos fazer depois, o que ainda temos para fazer amanhã, acabamos por não desfrutar das coisas que nos estão a acontecer no presente. Isto faz sentido para ti?”

“Tenho uma coisa para ti. Quando sentires que a tua mente vagueia e não estás realmente no momento presente lembra-te da frase ” Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. ” (Fernando Pessoa) ou “O passado não passa de uma memória e o futuro de uma incógnita. Mas o presente é um presente”.

Nota: O terapeuta deve dar um cartão com uma destas frases ao jovem (à escolha).

E. Trabalho Inter-Sessões:

“Lanço-te um novo desafio esta semana. Desta vez peço-te que estejas atento a alguma coisa que costumes fazer no teu dia-a-dia como, por exemplo, tomar banho. Sugiro que foques a tua atenção nas tuas sensações corporais, na temperatura e pressão da água, na diferença de temperatura do teu corpo quando entras e quando sais do

banho, na sensação do sabonete na pele, do cheiro e suavidade que deixa. O que achas? Podes escolher este momento ou outro qualquer e gostava que tentasses fazer o que te pedi, como experimentamos nos exercícios de hoje. Na próxima sessão contas-me como é que foi essa experiência. Caso não consigas concentrar-te o suficiente para fazeres este exercício, não te preocupes, isso acontece, afinal não estamos atentos a toda a hora e como já dissemos a nossa mente às vezes faz o que lhe apetece e não o que gostaríamos que ela fizesse. Se isso acontecer, tenta repetir o desafio mais tarde. Se, ainda assim, a tua mente estiver um bocadinho teimosa, não tem mal, isto leva tempo, nunca ninguém ainda conseguiu fazer isto à primeira,. Tens alguma dúvida ou queres dizer alguma coisa? Aceitas o desafio?”

Sessão 14: Autocompaixão I

Introdução

Deve-se começar a sessão por explorar o trabalho inter-sessões sugerido na sessão anterior, isto é, o treino de uma postura mindful durante uma atividade do quotidiano do jovem. Se o jovem realizou o desafio, o terapeuta deve explorar se houve dificuldades em funcionar neste modo, como o jovem se sentiu e se identifica vantagens em estar focado no momento presente. Caso o jovem não tenha realizado o desafio, o terapeuta deve averiguar quais foram as suas dificuldades, validar o esforço do jovem, dizendo alguma coisa do género “não tem mal que não tenhas conseguido/feito o desafio que te lancei, como dissemos a semana passada, isto é uma coisa que leva tempo e que vem com a prática. Nós não nascemos ensinados. Não nascemos a saber ler nem escrever, tivemos de treinar. E tivemos de experimentar, uma e outra vez, até nos sair bem. Não te preocupes, peço-te que numa próxima vez, tentes de novo. Pode ser difícil estar no momento presente nas primeiras vezes mas vais ver que com o tempo, vai ficando mais fácil. Agradeço que tenhas tentado e que me tenhas dito que não correu como esperavas, afinal, podias ter-me dito que o desafio correu como esperavas só para parecer bem, mas tiveste a coragem de me dizer o que aconteceu.” Assim, o terapeuta sugere que o jovem tente, numa próxima vez, repetir o desafio.

Nesta sessão, pretende-se introduzir o conceito de autocompaixão como estratégia mais saudável para lidar com situações que o jovem percepcione como falhas ou

fracassos e que ativam um discurso autocrítico. Adicionalmente, esta sessão tem o propósito de estimular um discurso interno autotranquilizador, isto é, autocompassivo no jovem.

Para isso, o terapeuta sugere a realização de um exercício de imagerie denominado “Safe Place” no qual o jovem deve tentar imaginar um cenário agradável, a fim de promover bem-estar, na plenitude do momento e, de seguida, proceder ao questionamento. Posteriormente, o terapeuta sugere um segundo exercício, “Qualidades do Eu Compassivo” no qual se descrevem algumas características associadas ao eu compassivo, procurando que o jovem se identifique com elas e explore a forma como se sente nesse papel. O exercício é acompanhado de questionamento.

O termo Compaixão surge no contexto da perspetiva evolucionária como mentalidade de prestação de cuidados, podendo assumir a direção para si próprio ou para os outros. A autocompaixão define-se, neste caso, como uma estratégia de auto- regulação emocional que visa tornar claro na consciência humana os pensamentos negativos, sentimentos dolorosos e vivências de sofrimento para o eu e conotá-los em estados emocionais positivos. Isto significa que as falhas ou erros inerentes à experiência humana não são suprimidas ou evitadas, mas sim aceites como são no momento presente. Desenvolver a capacidade autocompassiva torna-nos mais sensíveis à dor, mais disponíveis para cuidar e dar afeto, mais empáticos e incrementa o sentido de ligação em relação a nós próprios e aos outros. O sistema de afeto positivo associado à compaixão, foca-se em sentimentos de afiliação, calor e tranquilização e, como tal, confere segurança e confiança no mundo.

Objetivos da sessão:

1. Introduzir o conceito de autocompaixão. 2. Treino da mente compassiva.

3. Promover, no jovem, uma postura de aceitação e de autocompaixão.

Estrutura da Sessão

A. Expôr o conteúdo da sessão

“Na semana passada, estivemos a experimentar como podemos desligar o modo de «piloto automático» que nos leva a remoer sobre o passado e o futuro. Vimos que, focar

a nossa atenção no momento presente, faz-nos tomar consciência da experiência do aqui e agora e aceitar tal como ela nos aparece, sem a julgar. Quando conseguimos libertar a nossa mente e abrandar, temos a oportunidade de «olhar para dentro», para dentro de nós, conhecermo-nos, tratarmo-nos como merecemos. Assim, podemos cuidar de nós e confortar-nos em relação àquilo que, por vezes, corre menos bem na nossa vida, numa postura mais positiva e amiga de nós mesmos.”