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Ranking e Comparação Social “Quando nos comparamos com os outros”

Programa de tranquilização/

Sessão 8: Ranking e Comparação Social “Quando nos comparamos com os outros”

Introdução

Deve-se começar a sessão por explorar a realização do trabalho inter-sessões proposto na sessão anterior, neste caso, se o jovem conseguiu fazer a ligação correta entre o ditado popular e o respetivo sistema de regulação de afeto. Se o jovem tiver realizado a tarefa, o terepeuta deve elogiá-lo com verbalizações do género “muito bem”, “bom trabalho”; se o jovem não realizou a tarefa ou caso não tenha todas as correspondências corretas, o terapeuta deve averiguar quais as dificuldades do jovem e propor fazê-lo em conjunto no início da sessão, reforçando o seu empenho e esforço “não tem mal teres não teres acertado esta, alguns ditados são difíceis ou menos conhecidos”, “o que importa é que te esforçaste e deste o teu melhor” ou “eu também não conheço os ditados todos, podia ter-me escapado algum”.

Nesta sessão, deve introduzir-se a temática do ranking social como estratégia evolucionária de sentido de pertença ao grupo e de coesão social, a sua utilidade para a preserveração da espécie e as consequências negativas do funcionamento num modo exclusivamente comparativo e competitivo. O objetivo é, igualmente, explorar a posição social de vantagem e desvantagem quando existe comparação social e a sua associação

Objetivos da sessão

1. Introduzir a temática da comparação (ranking) social, segundo a perspetiva evolucionária.

2. Explorar a função do ranking social como mecanismo de preservação da espécie, isto é, a sua função adaptativa para a sobrevivência.

3. Explorar o funcionamento num modo de comparação e competição social, no jovem, e os diferentes papéis ou posições sociais percebidos.

4. Consciencializar o jovem para o funcionamento excessivo, disfuncional, de uma mentalidade de ranking social.

Estrutura da sessão

A. Expôr o conteúdo da sessão

“Na nossa última conversa, estivemos a falar sobre o terceiro programa que temos no nosso cérebro que, juntamente com os outros, regula as nossas emoções. Chegámos à conclusão que este último programa, a que chamámos de “querer mais” tinha também a ver com a comparação que fazemos com os outros e a nossa ambição para alcançarmos um estatuto ou posição social mais elevada, certo? É sobre quando nos comparamos uns com os outros, e competimos entre nós que gostava de falar contigo hoje, parece-te bem?”

O terapeuta deve fazer o seguinte questionamento ao jovem:

“Uma vez que fizeste a correspondência com os ditados populares na nossa conversa anterior, hoje trago mais um que tem a ver com o tema que vamos falar hoje “a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha.”

“O que achas que este ditado quer dizer? Achas que tem a ver com quê?”

“Todos nós, nalgum momento, já nos comparámos com os outros. Por exemplo, algum colega da escola tem roupa mais fixe que a nossa, somos bons no desporto mas não somos bons a Português como alguns colegas.”

“Recordas-te de alguma situação em que este tipo de ideias, ou outras do género, te tenha vindo à cabeça?

“Consegues lembrar-te de alguma situação em que te possas ter comparado aos outros?”

“Alguma vez sentiste que olhavas à tua volta e davas por ti a pensar coisas do tipo “ele é melhor a Matemática que eu?”

“Nós fazemos isto de forma automática, nem pensamos nisso e pode ser difícil darmo-nos conta que o fazemos. Mas isso acontece com todos nós. Isto faz sentido? ”

“Porque é que achas que todos nós nos comparamos uns aos outros?” B. Racional da Comparação (Ranking) Social

“Como sabes, nós somos seres sociais e, por isso, desde sempre que precisamos de nos dar uns com os outros para sobreviver, por exemplo, para obtermos recursos, proteção, alimentarmo-nos e reproduzirmo-nos. Mas desde essa altura também tivemos que competir uns com os outros, nomeadamente, para caçar, disputar a fêmea, etc. Este comportamento de competição está presente em todos nós ainda hoje, de outra forma. Por exemplo, competimos entre nós para sermos bons jogadores de futebol, queremos que as miúdas reparem em nós, desejamos atingir um certo estatuto no nosso meio. Fazemos isso, de alguma forma, para que os outros nos aceitem e valorizem. Já reparaste alguma vez nisto?”

“Inevitavelmente, nós comparamo-nos uns com os outros. Isso acontece contigo, comigo, com a maioria das pessoas. Quando nos comparamos e sentimos que nos vamos sair bem nalguma coisa, a nossa cabeça diz-nos que nos devemos esforçar, seguir em frente e mostrarmos aos outros como somos bons naquilo. Por exemplo, se achamos que somos bons jogadores de futebol, vamos empenhar-nos em mostrar isso aos outros porque sabe bem quando sentimos que somos valorizados e reconhecidos. Podemos treinar mais, tentar ir a todas as partidas, comprar umas sapatilhas melhores, seguir a carreira de um jogador que achamos que joga muito bem. Mas como nós já vimos, nós não podemos ser os melhores em tudo. Em determinadas coisas, quando nos comparamos e achamos que estamos em desvantagem, que estamos a competir numa área que não dominamos tão bem, podemos até sentir-nos inferiores e a nossa cabeça manda-nos uma mensagem completamente diferente: que não vale a pena nos esforçarmos, mais vale desistir para não fazermos má figura, tentar esconder isso dos outros, fugirmos ou evitarmos confrontar-nos com aquela tarefa na qual achamos que vamos ficar a perder… Isso porque nós receamos que os outros possam ficar com uma imagem negativa sobre nós. Por exemplo, se acharmos que não somos muito bons a Matemática ou a outra disciplina, podemos não estudar o suficiente porque achamos que nunca iremos conseguir, podemos evitar ir aos testes com receio de fracassar, ou até desistir e isso impede-nos de aprender e desenvolvermos outras competências. Como tal, a nossa cabeça pode dizer-nos algo do género “já que somos nabos, de nabos não

“Isto alguma vez aconteceu contigo?”

“Mas a posição em que nos colocamos em relação aos outros, acima deles quando estamos em vantagem ou abaixo se sentirmos que estamos em desvantagem, é sempre relativo. Por exemplo, uma pessoa com 1,70cm pode achar-se alta em Portugal e pode pensar coisas absolutas como “Eu sou o mais alto de todos” mas se se comparar com alguém da Noruega, em que a maioria das pessoas é bem mais alta, essa pessoa pode sentir-se baixa e pensar exatamente o contrário. Se reparares a pessoa é a mesma, o que muda é o contexto no qual se compara.

“Já vimos que todos nós, nalgum momento, já fizemos este papel de nos compararmos com os outros, mas secalhar podemos ficar um bocadinho escravos disto, o que é que te parece? Podemos, mesmo que não nos apercebamos, estar constantemente neste modo de comparação e competição com os outros e isso pode fazer com que não disfrutamos de outras tarefas e atividades que gostamos, porque queremos ser os melhores. Achas que isto faz sentido?”

“Achas que nalgum momento da tua vida, nalgumas situações ou atividades, já podes ter estado muito focado na comparação e competição com os outros? Ou seja, achas que te revês, nalgum período, escravo desta comparação?”

“Achas que se funcionarmos constantemente neste modo, isso nos pode trazer chatices? “Que tipo de chatices?”

“Todos nós nos comparamos, isso acontece automaticamente. Não tem problema nenhum porque isso nos faz esforçarmo-nos para termos coisas e para sermos bons naquilo que fazemos e os outros reconhecerem isso. Mas, se estivermos demasiado focados nisto, podemos desperdiçar muita energia a querer ficar por cima dos outros, a tentar “passar-lhes a perna” porque isso nos sabe bem. Ou, por outro lado, podemos achar que não chegaremos aos calcanhares dos outros, e nunca tentamos realizar alguma tarefa ou atividade que saia da nossa zona de conforto porque partimos do princípio que vamos ficar a perder e só investimos nas coisas em que achamos que temos jeito, ou que gostamos. Isto faz sentido para ti?”

C. Trabalho Inter-Sessões:

“Esta semana proponho-te um novo desafio. A ideia é trazeres durante esta semana três situações em que sintas que ficaste “por cima”, ou seja, em vantagem em relação

aos outros nalguma coisa e, por outro lado, três situações em que sintas que ficaste “por baixo”, isto é, em desvantagem em comparação aos outros. Pode ser?”