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CAPÍTULO 1 – UM PANORAMA SOBRE O ENSINO E APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS

1.8 PROMOVENDO HABILIDADES DIGITAIS NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE

Com o advento da internet, o usuário de uma nova língua tem a possibilidade de ser um participante ativo ou passivo no momento de estabelecer interações com outros falantes. Coincidimos com Buzato (s/d)52, que afirma que o aprendente contemporâneo deve desenvolver outras habilidades e passar da escrita ao design (competência de realizar websites), da leitura à navegação (produção de sentidos na net), da escuta à investigação (reconhecer informação autêntica, confiável e legalmente acessível), do diálogo à colaboração (desalentando a competição entre colegas).

Entendemos que os professores devem estar formados para realizar essa ‘tarefa’ ao longo dos cursos oferecidos por eles, e que também essas habilidades mencionadas pelo autor devem ser desenvolvidas na medida em que se configuram como uma necessidade do aprendente, para poder interagir com outros por meio dos recursos tecnológicos.

O autor cita Castells (1999), que diferencia entre os interagentes e os receptores, em uma sociedade da informação e da comunicação. Os interagentes seriam “aquelas pessoas abastadas e de alto grau de instrução, capazes de selecionar seus circuitos multidirecionais de comunicação e obtenção de informação”. Os receptores, por outro lado, “seriam aqueles cujo acesso à informação e ao conhecimento está limitado, por fatores socioeconômicos e geopolíticos, a um número restrito de opções ‘pré-empacotadas’”.

A seguir, apresentamos algumas características que o autor menciona:

Os Interagentes: selecionam seus circuitos de comunicação através de dispositivos como TV interativa digital, DVDs, telefones celulares, câmaras53 fotográficas digitais, internet,

programas de compartilhamento de música digitalizada, homebanking, etc.

Os Receptores, por seu turno, estão restritos, na melhor das hipóteses, a conteúdos “pré- empacotados” e graus menores de interatividade permitidos pela TV convencional,

52Disponível em: <http://www.pucsp.br/tead/n1a/artigos4/artigo4a.htm>. Acesso em: 05 out. 2011.

53O autor, no texto original, utiliza a palavra ‘câmara’. Entendemos que existiu um erro de digitação e que se refere a

videocassetes, telefonia convencional, câmaras fotográficas convencionais, jornais impressos, seleções musicais pré-gravadas em CDs, atendimento bancário convencional, etc. (BUZATO, s/d). (Grifos nossos).

Dessa classificação, podemos inferir o desafio ao qual devem se submeter os Estados para facilitar o acesso às novas tecnologias, bem como o investimento na formação de professores. Em relação à competência de ensinar, podemos mencionar que há novos desafios para produzir, organizar e gerir o ensino de Línguas Estrangeiras. Assim, poderíamos afirmar a existência de competências subsidiárias às necessárias já mencionadas (compreensão oral e escrita e produção oral e escrita). O ensino de línguas se faz pelas materialidades com o apoio de recursos, sendo que alguns recursos mudam o processo de aquisição e ensino correspondente por pertencerem a uma nova ordem, como, por exemplo, os recursos digitais.

O autor considera que entre as principais causas das diferenças, entre os iteragentes e os receptores, não está o acesso a computadores, mas na maneira como eles são usados, e ainda estabelece uma relação direta com o grau necessário de letramento digital. Na era digital, a escrita permanece, mas adquire novos atributos, a saber: mais imagética, com nova espacialidade (não só linear, mas também hipertextual, por exemplo), mais econômica e mais exaustiva, ao mesmo tempo. Podemos tornar essas considerações extensivas às reflexões sobre ‘aprendizagem de línguas’ Viana (2003, p. 142) para o contexto de ensino de línguas estrangeiras, no qual futuros professores atuarão:

No contexto de um mundo globalizado, a aprendizagem de línguas estrangeiras aparece como um fator quase obrigatório para a formação educacional e profissional, dadas a possibilidades e/ou necessidades de contato, cada vez mais frequentes, entre pessoas de diferentes línguas e nacionalidades, no desenvolvimento de atividades nos campos político, econômico, cultural, ou em plano pessoal particular.

Devido a esse mesmo contexto, destacam-se entre as habilidades em língua estrangeira, aquelas que permitem/possibilitam a comunicação interpessoal (oralmente, em situações face-a-face, ou por recurso tecnológico: telefone, webcam, e outros transmissores; ou por escrito correio eletrônico, carta, fax, etc.). Em qualquer dessas situações, a necessidade de saber a LE envolve a capacidade de comunicação, o que nos permite inferir que a abordagem comunicativa teria tido o seu desenvolvimento, de certa forma, imposto pelo contexto sócio-histórico (VIANA, 2003, p. 142).

Nessa perspectiva, o professor profissional, crítico (com capacidade de se posicionar perante diferentes assuntos) e reflexivo, seria um interagente ao utilizar a internet para a realização de pesquisas, extensão universitária e/ou docência.

Sobre a docência e, específicamente, as atividades desenvolvidas em sala de aula, para o contexto escolar, Stival expressa que:

[...] existe uma tendência a repetir neste ambiente as mesmas velhas práticas que acontecem na maioria das salas de aula. Isso pode ser observado tanto nos sítios visitados durante a pesquisa, quanto na escola que serviu de cenário da pesquisa. Em ambos os contextos, reproduzem-se exercícios gramaticais e de repetição, enquanto o uso efetivo da língua é deixado para segundo plano ou nem mesmo existe, assim vigora a busca por se aprender língua pela língua, pelo sistema linguístico e não de maneira conjugada à cultura de origem, aos atos de fala e aos elementos socio-culturais ligados a L-alvo (2011, p. 125).

A autora reconhece a necessidade de se pensar em novas e significativas tarefas para o contexto escolar (e, por extensão, ao contexto de formação docente) no momento de ensinar línguas estrangeiras.

A seguir, faremos uma descrição de um recurso tecnológico, a internet, que por sua vez apresenta um infinito número de possibilidades, e de onde o professor de língua estrangeira poderia selecionar/adaptar materiais genuínos para: i) promover a interação entre os aprendentes; ii) desenvolver, no aluno, as competências linguístico-comunicativa, socio-cultural, estratégica, bem como meta-competência profissional (ALMEIDA FILHO, 1993, p. 22).

A utilização de alguns desses ‘artefatos’ pode ser efetivizada mediante ‘projetos educacionais’, tendo por finalidade mostrar e educar o aluno com/nesses recursos para interagir com falantes nativos, ou não nativos, da/na língua estrangeira em um mundo globalizado.

Transpostas essas ideias para a área de Português para Estrangeiros, seria preciso um professor de língua-cultura do Brasil, com bom desempenho linguístico e um perfil com o qual seja capaz de interagir nesse espaço (competente para utilizar/selecionar/adaptar materiais autênticos) que está sempre como uma potencialidade, objetivando que o aluno seja cada vez mais autônomo na sua aprendizagem/aquisição de língua estrangeira, com diferentes fins.

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