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Subsistema Social

EXPRESSÕES Política Econômica Psicosso-

6 AMBIENTE DE INOVAÇÃO DA BID

6.1 PROPÓSITO E REALIDADE DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA (BID)

O conceito Base Industrial de Defesa (Defense Industrial Base – DIB) é comumente encontrado na literatura sobre economia de gastos militares, porque a maioria das Nações tem uma BID. Uma nova visão foi proposta em 1995, onde a BID se representava por um setor ou grupo de indústrias que são dependentes em algum dos diversos níveis do orçamento de Defesa, e onde o Estado é tributário por demandar produtos necessários para a Defesa Nacional, assim a BID participa ativamente do orçamento da Defesa, e integra os interesses que compõem um Complexo Industrial de Defesa (DUNNE, 1995, p. 401). Esse estudo é considerado percursor e referência para definição da BID (MASSON, 2014, p. 147).

Dunne (1995, p. 399-429) propôs considerar a diversidade de produtos produzidos pela BID, porque as armas diferem desde a produção de armas de alta tecnologia e caros sistemas de armas até as inexpressivas pequenas armas. Assim, apresentou uma classificação em três grupos, considerando a relação dos produtos com ações militares ou de guerra, sendo:

1º. Sistemas de armas e equipamentos letais.

2º. Produtos não letais, mas estratégicos, por exemplo combustíveis e veículos.

3º. Demais produtos fornecidos para as Forças, por exemplo alimentos e fardamento. (DUNNE, 1995, p. 402 – tradução nossa)

Masson (2014) destaca que na França os estudos sobre a BID, ou sobre a base tecnológica e industrial de Defesa concentram-se no primeiro grupo proposto por Dunne (1995), porque consideram que:

- Ele inclui as unidades que permitem, através dos programas de armamento, a autonomia estratégica; - Ele é diretamente afetado pelas escolhas dos equipamentos militares;

- Ele representa o coração das habilidades da indústria de defesa e da pesquisa e desenvolvimento (MASSON, 2014, p. 148)

O autor enfatiza a existência de problemas de identificação e delimitação por parte do setor industrial de armamento francês, por ter dificuldade em distinguir o “caráter militar ou civil de certos materiais” da área eletrônica, e porque as empresas do setor também pertencem a outros setores industriais, e conclui que:

Logo, a dificuldade em definir a base industrial de defesa tem, como consequência direta, a dificuldade de mensurar o peso desta indústria, ou seja, constituir os agregados e indicadores estatísticos confiáveis e consolidados. Ajunta-se, igualmente, a dificuldade de acesso a informação

em razão da sensibilidade do setor (caráter

estratégico)

Entretanto, qualquer que seja a definição, certas características do mercado de defesa o diferenciam da maior parte dos outros mercados. Ele possui papel central no Estado ( MASSON, 2014, p. 148 - grifo nosso).

Brick (2011) nos apresenta a abordagem da Base Logística de Defesa (BLD) para designar uma visão mais abrangente do conceito de BID empregado pelo MD. Segundo o autor, a BLD “é constituída por uma infraestrutura centrada em uma capacidade educacional, científico- tecnológica e industrial, capaz de gerar inovações e suprir as demandas de recursos de toda ordem para o sistema de defesa”. Ele representa a BLD composta por sete componentes distintos e de intensa interação entre eles, apresentados no Quadro 18.

Quadro 18 - Componentes da Base Logística de Defesa

Componentes da Base Logística de Defesa

1. Infraestrutura Industrial da Defesa: empresas e organizações envolvidas no desenvolvimento e fabricação de produtos de defesa (a BID propriamente dita).

2. Infraestrutura Científico-tecnológica da Defesa: universidades, centros de pesquisa e empresas envolvidos na criação de conhecimentos científicos e tecnologias inovadoras com aplicação em produtos de defesa.

3. Infraestrutura de inteligência da defesa: instituições e pessoas envolvidas na coleta e análise de informações existentes no exterior sobre conhecimentos científicos e inovações tecnológicas com aplicação no desenvolvimento de produtos de defesa e em prospecção tecnológica com impacto em defesa.

4. Infraestrutura de financiamento da defesa: instituições e recursos financeiros dedicados ao financiamento de pesquisa científica e tecnológica e ao desenvolvimento de produtos inovadores com aplicação em defesa e, também, ao financiamento de vendas externas de produtos de defesa.

5. Infraestrutura de apoio logístico: para garantir o aprestamento dos sistemas e produtos de defesa durante sua vida útil.

6. Infraestrutura para o planejamento e a mobilização e os recursos empregados em atividades civis para a defesa.

7. Arcabouço regulatório da BLD.

Fonte: Brick (2011, p. 7-8).

Os autores Cunha e Amarante (2011, p. 15-16) representaram teoricamente a complexidade da BID nas figuras da “Pirâmide da Defesa” e “Iceberg da BID”, para ilustrar e facilitar o entendimento sobre a relação entre as instituições responsáveis pela Defesa Nacional.

A Pirâmide de Defesa, representada na Figura 20, possui quatro blocos distintos:

 Base Nacional – sustenta “toda a estrutura de defesa, provedora dos recursos básicos, tanto humanos como tecnológicos e industriais de base”.

 BID Base Científica, Tecnológica, Industrial e Logística - provê o suporte das forças combatentes em termos de conhecimentos, sistemas, equipamentos, materiais, serviços e tecnologia.

 Forças Armadas – representa o braço armado da defesa, que é regido pelas políticas e a estratégias militares; “as hipóteses de emprego, quando da efetiva eclosão de crises e guerras, e o trato dos assuntos relacionados às operações e à logística das operações militares estão aqui representados”.

 Defesa – “refere-se à consciência sobre a necessidade de defesa do Estado, sendo ocupado pelos setores responsáveis pela definição da política e da estratégia nacionais de defesa”. Figura 20 - Pirâmide de Defesa

Fonte: Cunha e Amarante (2011, p. 16).

Na teoria, a Pirâmide de Defesa deve funcionar harmonicamente e coesa, ou seja, “devem trabalhar em conjunto e harmonia, de forma interdependente, e num ambiente em que as necessidades de cada setor sejam consideradas pelos demais para orientar suas próprias atividades” (CUNHA e AMARANTE, 2011, p. 17).

Defesa

Forças

Armadas

BID

Base Científica,

Tecnológica, Industrial

e Logística

Base Nacional

A outra representação apresentada na Figura 21, é chamada por Cunha e Amarante (2011) de “Iceberg da BID”, e recebeu o nome de “Iceberg Científico de Defesa” no LBDN. A única diferença entre as representações do iceberg está na faixa “Empresa de Engenharia” na qual Cunha e Amarante (2011) destacam a Infraestrutura.

Neste trabalho entendemos mais apropriado o termo “Iceberg da BID” por não restringir o termo somente a parte científica, visto que, a representação considera todas as fases do ciclo de vida do produto.

Figura 21 - Iceberg da Defesa

Fonte: adaptado de Brasil (2012) e Cunha e Amarante (2011, p. 19).

Podemos observar que a faixa “Universidades” representa a base da estrutura, onde “está o setor de geração, de manutenção e de transmissão do conhecimento acumulado por todas as gerações no mundo”. A atividade de “Ensino e Pesquisa” é também exercida pelos Institutos Militares. Acima, temos os “Centros de Pesquisa e Desenvolvimento” para exercer as atividades de “Pesquisa e Desenvolvimento”, ou seja, a pesquisa aplicada e o desenvolvimento experimental, com base nos conhecimentos adquiridos nas universidades.

Sobreposto, estão as “Empresas de Engenharia” que realizam os “Projetos”, e constroem as infraestruturas, utilizando os conhecimentos já disponibilizados para construir a base para o funcionamento das empresas industriais.

Acima, temos as “Empresas Industriais” responsáveis pela “Produção”, ou seja, a fabricam os produtos, sistemas, meios, equipamentos e materiais de defesa. Subindo, temos as “Empresas de Serviços” responsável pela “Logística”, ou seja, cuida da distribuição, da utilização, e da manutenção dos produtos, utilizando o conhecimento tecnológico para garantir o funcionamento dos produtos de defesa.

Ainda com relação à figura 21 destacamos a citação de Cunha e Amarante (2011):

Observando o iceberg, acima da linha d’água está o que é visível para os usuários leigos, isto é, os produtos e serviços tecnológicos disponibilizados para a Defesa. Abaixo da linha d’água está a BID, representada pelas instituições e empresas que a integram. Quanto mais próximo da base estiver a instituição participante, maior o conteúdo científico do seu trabalho. E quanto mais próximo ao usuário, maior o conteúdo tecnológico de suas atividades. (CUNHA e AMARANTE, 2011, p. 20).

No Brasil, nos anos 80 a indústria de defesa desempenhou um importante papel no desenvolvimento brasileiro, depois caiu no “vale da morte” com a redução de encomendas militares, o que levou várias indústrias à falência, aumento do desemprego, estagnação da tecnologia militar, perda de competitividade no mercado, etc.

Conforme Cunha e Amarante (2011) na prática, verifica-se o afastamento e fragmentação dos blocos da Pirâmide de Defesa, como representado na Figura 22.

Figura 22 - Pirâmide de Defesa com Blocos Afastados e Fragmentados

Fonte: Cunha e Amarante, (2011, p. 16).

Ambiciona-se que o Brasil tenha projeções internacionais, mas a realidade é que seus blocos são pouco expressivos quando comparados às necessidades, porque poucas instituições discutem o tema da Defesa Nacional, e o orçamento é descontínuo e insuficiente. O afastamento dos blocos retrata a dificuldade de interação entre eles. A fragmentação dos blocos se deve a “falta de conjunto”, as distintas visões sobre Defesa, a independência dos órgãos das FA, e pouco entendimento entre alguns elementos da BID. (CUNHA E AMARANTE, 2011)

As Indústrias de Defesa diferem das demais indústrias ao considerarmos algumas características relacionadas ao produto, tecnologias, atividades funcionais, continuidade, competência, comercialização e mobilização industrial. Por exemplo, os produtos não podem apresentar falhas, seu desenvolvimento, normalmente, é realizado

em longos ciclos, sob demanda e com custo pago pelo cliente, e exige conhecimentos multidisciplinares e especialistas. É um desafio e necessidade conquistar autonomia tecnológica nos setores estratégicos da END (espacial, cibernético e nuclear); para realizar as atividades funcionais são necessários materiais e serviços modernos e uma formação técnica especializada; e a descontinuidade dos programas de defesa desencadeia uma série de prejuízos para as indústrias. (CUNHA E AMARANTE, 2011)

Nos últimos anos, observamos a publicação de estratégias, políticas, e normativos legais voltados à reestruturação do setor e à revitalização da BID, que compreende um conjunto de empresas estatais e privadas que participam de uma ou mais das etapas do ciclo de vida dos produtos de defesa.

O MD atua como promotor das condições necessárias para: alavancar a BID, capacitar a conquista da autonomia em tecnologias estratégicas para o Brasil, e instituir o marco regulatório para o setor. Para isso, conta com o PAED e a Lei nº 12.598/2012 (Lei de fomento à BID).

O PAED atua como um instrumento do Estado para “garantir o fornecimento dos meios que as FA necessitam, bem como a infraestrutura que irá provê-los”, e para planejar e executar as compras relacionadas aos projetos estratégicos de defesa.

A Lei de fomento à BID “é um desdobramento do Plano Brasil Maior, criado para aumentar a competitividade da indústria nacional, a partir do incentivo à inovação tecnológica”, além de instituir um regime especial de tributação (o RETID), diminuir o custo de produção de companhias legalmente classificadas como estratégicas, e estabelecer incentivos ao desenvolvimento de tecnologias indispensáveis ao Brasil.

A BID atua como geradora e difusora de novas tecnologias e está ligada à excelência tecnológica, e encontra essa natureza conforme citação:

A BITD é importante geradora e difusora de novas tecnologias dentro da estrutura produtiva de uma nação. A indústria de defesa está intimamente ligada à excelência tecnológica. Ao atender à demanda do setor militar por equipamentos cada vez mais sofisticados, é importante fonte de inovação. Grande parte das inovações apresenta uso dual. [...]

A busca da vantagem estratégica ou tática, pela superioridade tecnológica, gera um esforço científico e técnico constante, que, pelas leis do