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APÊNDICE U – LISTA DE ESCOLAS (L1+L2) 209 APÊNDICE V – LISTA DE ESCOLAS (L3+L4)

3 OS ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DAS AÇÕES AFIRMATIVAS DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO

3.8 Transitoriedade das políticas de ação afirmativa

3.8.2 Proporcionalidade entre meios e fins

A análise de uma política pública também deve ser pautada na proporcionalidade entre os meios e os fins a serem atingidos. Por mais efetiva que seja uma medida, esta não deve ser instituída quando os danos por ela causados superarem os ganhos. Isso leva a dois pressupostos. Primeiro: a política deve ser instituída através dos meios menos gravosos possíveis, bem como deve tentar reduzir ao máximo os danos causados. Segundo: qualquer política pública ineficiente deve ser descartada ou reavaliada, uma vez que sempre que os

resultados forem ínfimos os danos tenderão a superar os ganhos. Isso equivale a afirmação de que os recursos existentes devem ser utilizados de forma eficiente.

A instituição das cotas em universidades públicas não atendeu a esse primeiro pressuposto ao não tentar minorar os danos causados. Explica-se: a instituição de cotas não se deu através da instituição de novas vagas em universidades públicas, ao contrário, reservou-se as vagas já existentes. A consequência disso foi que os candidatos não abrangidos pelas cotas, que antes concorriam a um determinado número de vagas, agora disputam um número menor de vagas. Em seu voto na ADPF 186, Gilmar Mendes traz o exemplo da Faculdade de Direito da Universidade Nacional de Brasília, onde, das 120 vagas ofertadas por ano somente 72 estavam disponíveis na ampla concorrência. No caso das cotas instituídas pela Lei 12.711/12, os alunos de escolas particulares, que antes despontavam no acesso aos cursos de maior concorrência, agora só disputam metade das vagas de outrora.

Gilmar Mendes, por ocasião de seu voto na ADPF 186, por diversas vezes destacou o caráter excludente da Universidade Pública exatamente em virtude das poucas vagas ofertadas. O ministro questiona o porquê de não aumentar o número de vagas por professor137. Este afirma que no Brasil, em 2006, havia apenas 10,6 alunos por professor em universidades, número bem distante dos 16 alunos por professor existentes em diversos países considerados desenvolvidos.

Também pode-se questionar a quantidade de vagas reservadas, posto que 50% das vagas é um número bem considerável. Entretanto, no ano de 2015, existiam no Brasil 14.998 escolas de ensino médio onde mais de 10 alunos prestaram o ENEM e cuja taxa de participação na prova fora superior a 50%. Dessas, 8.732 (58,22%) são públicas, enquanto 6.266 (41,78%) são privadas. Já no Estado do Ceará, foram analisados dados de 738, sendo 241 (32,66%) privadas e 497 (67,34%) públicas. Portanto, prevalece com grande margem o número de escolas públicas em relação às escolas particulares, o que justificaria uma reserva de vagas no percentual adotado.

Por outro lado, o segundo pressuposto abre um debate acerca da eficiência das ações afirmativas. Reservar metade das vagas das Universidades e Institutos Federais sem alcançar resultados muito satisfatórios certamente seria desproporcional. Por isso a necessidade do acompanhamento constante dos resultados da política instituída.

137 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamento 186 do Distrito Federal. Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Brasília, 2012. Voto do Ministro Gilmar Mendes. P.

Daí também a necessidade de verificação constante dos grupos beneficiados pela política, uma vez que estes devem estar em condições de vulnerabilidade social apta a justificar uma ação de impactos tão severos. O capítulo final do presente trabalho dissertativo utilizará a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará como paradigma para demonstrar a existência de distorções nos grupos beneficiados pela política de cotas, o que representa consequências negativas na análise da efetividade da política. Tais distorções não são aptas a retirar as qualidades da política instituída, mas a prejudicam na medida em que tornam seus resultados finais menos efetivos, o que impacta na proporcionalidade e na justiça das medidas adotadas.

4. A RESERVA DE VAGAS NO ENSINO SUPERIOR: Estudo de caso do curso de Direito da UFC

4.1 Introdução

Conforme demonstrado no capítulo 2, a Lei 12.711/12 instituiu um regime de reserva de vagas para acesso ao ensino superior, baseado prioritariamente no critério “escola pública” e subsidiariamente nos critérios “raça” e “renda”. Não obstante, também demonstrou-se que o critério “escola pública”, apesar de garantir a reserva de vagas para candidatos decorrentes de realidades bem diferentes daqueles que usualmente são aprovados por ampla concorrência, deve ser reavaliado com a finalidade de tornar a política pública ainda mais efetiva. Procurou-se demonstrar, assim, uma maior adequação da utilização do critério socioeconômico das escolas.

Os dados do INEP referentes ao ENEM 2015 apontam a existência, no Brasil, de escolas públicas compostas por alunos de perfil socioeconômico e com resultado semelhante ao das melhores escolas particulares do país, ainda que apenas 3 escolas públicas (todas federais) estejam entre as 100 com melhores resultados no ENEM. Por outro lado, também verificou-se a existência de escolas particulares de nível socioeconômico e resultados no ENEM comparáveis ao das piores escolas públicas do país.

No Estado do Ceará, os dados apontam para uma situação mais polarizada. Segundo os dados de 2015, das 738 escolas listadas no Estado, todas as 430 piores colocadas são públicas, bem como apenas três escolas públicas estão entre as 3 melhores colocadas. São elas: Colégio Militar de Fortaleza, na 16ª posição, Colégio da Polícia Militar do Ceará em 53º lugar e o Colégio Militar do Corpo de Bombeiros em 88º lugar. Ressalta-se, entretanto, que os dados excluem as escolas técnicas e que, no período de 2011 a 2013, quando o Instituto Federal de Educação do Ceará – Campus Fortaleza fora ranqueado, este só obtivera resultados inferiores ao do Colégio Militar de Fortaleza entre as escolas públicas. Ressalta-se também que estas instituições de ensino também são as escolas públicas classificadas como as de maior perfil socioeconômico no Estado.

Dessa forma, o capítulo 2 levantou a hipótese de que permitir que alunos oriundos dessas escolas pleiteiem vagas reservadas por cotas provavelmente leva a uma situação onde eles preencherão um significativo número de vagas nos cursos considerados de maior prestígio. É de se salientar que, no ano de 2015, o INEP classificou 45,2% das escolas públicas brasileiras como de nível socioeconômico “Muito Alto”, “Alto” ou “Médio Alto”, enquanto no Estado do Ceará esse número só chega a 0,6% (somente 3 escolas). De toda

forma, mesmo com tão poucas escolas cearenses com nível socioeconômico alto, espera-se verificar a existência de um número bastante significativo de alunos delas provenientes na Faculdade de Direito da UFC.

Não se nega, entretanto, que a Lei 12.711/12 provavelmente modificou o perfil socioeconômico da Universidade Federal do Ceará, sendo o objetivo do presente estudo uma reavaliação da política com a finalidade de trazer-lhe maior efetividade.