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4. Quarteirão da Bainharia 5 Arqueossítio Rua D Hugo

4.5. Proposta de Aplicação do Caso de Estudo

Tendo em mente os benefícios procedentes do uso das novas tecnologias no campo de ação da arqueologia, pareceu-me pertinente explorar a ideia de criar uma aplicação para dispositivos móveis, baseada no roteiro criado no âmbito desta dissertação.

Como sabemos, as novas fórmulas digitais influenciaram o campo da interpretação patrimonial e conduziram à criação de “artefactos portáteis”, denominados como “nomadic museograpghy” (Grevtsova, 2012: 3), que representam um novo modo de dar a conhecer o património arqueológico. Este conceito fora explorado no âmbito dos estudos desenvolvidos pelo grupo DIDPATRI – Universidade de Barcelona -, que investigam a introdução de uma linguagem iconográfica e de ferramentas interativas nos roteiros, que envolvam a participação do público.

Figura 57: Processo de Evolução dos Meios de Interpretação Fixos e Portáteis

Fonte: Grevtsova, 2012: 6

De acordo com Grevtsova (2012: 6), as fontes de interpretação do património, de um modo geral, passam por três etapas incontornáveis, das quais resultam os três modelos apresentados na tabela da Figura 57, sendo que o último, relativo aos aplicativos interpretativos para dispositivos móveis, oferecem vantagens a diversos níveis, nomeadamente:

• da gestão dos sítios arqueológicos - otimiza os custos de manutenção e melhora a imagem institucional;

• da mobilidade - possibilita uma interpretação in situ, através da localização e identificação de pontos de interesse e oferece, ainda, a possibilidade de selecionar livremente os itinerários;

• dos conteúdos - permite efetuar uma comparação entre diferentes elementos arqueológicos, combinar imagens com informação adicional e oferecer uma grande variedade de recriações históricas em 3D, conteúdos multimédia e jogos interativos; e

• da experiência do visitante e dos recursos interativos - é um dispositivo que permite ao usuário conhecer o seu funcionamento e constitui uma ferramenta intuitiva e atrativa, que possibilita a criação, edição e gestão da informação.

Monod et al. (2006: 1366-8), à semelhança da autora referida anteriormente, também aborda a questão das aplicações para dispositivos móveis, que permitem ao visitante seguir um itinerário, onde se incluem dicas e detalhes, a partir das quais o turista desenvolve um trabalho exploratório e descobre determinados pormenores no terreno, por si mesmo, apurando, a par disto, o seu sentido de orientação. A informação contida nestas aplicações, poderá surgir na forma de vídeos ou áudio e, até, reconstruções e imagens dos monumentos arqueológicos que estamos a observar no momento, sendo igualmente pertinente incluir notas relativas a outras instituições – museus, depósitos de materiais, entre outros -, onde o visitante pode apreciar outros elementos, promovendo, assim, uma informação mais completa e uma oferta coordenada.

Contudo, é fulcral ter sempre em mente, que nunca poderemos recriar o passado exatamente como ele era, persistindo o sentimento de algo incompleto e incerto. Estamos, sim, aptos a reconstruir este ou outro compartimento com medidas exatas, contabilizar e mapear os artefactos encontrados e, até, fazer uma aproximação àquelas que seriam as características físicas de uma comunidade, mas nunca fazer um “desenho” exato da sua dimensão humana com base nas esperanças, medos, sonhos e ideologias da era em que hoje vivemos (Silberman, 2005: 9).

Desta feita, a título meramente demonstrativo, criamos uma aplicação do roteiro arqueológico para a cidade do Porto, meramente em português, tendo por base as

ferramentas disponibilizadas num website para o efeito – Fábrica de Aplicativos25 -, onde constam a cronologia, uma descrição, o espólio exumado aquando das intervenções e a sua localização, uma súmula da importância dos achados para a construção da história da cidade e a informação complementar relativamente à área em questão, devidamente acompanhadas por imagens das escavações, do espólio arqueológico e mapas.

Ao processo de construção desta aplicação (Anexo VII), estiveram associadas algumas limitações, nomeadamente o facto de, neste site, apenas ser permitida a inclusão de dez campos, que implicou optar por alguns locais, em detrimento de outros. Numa versão dita profissional, para além de serem comtemplados todos os locais do roteiro – incluindo pontos de paragem obrigatória e de passagem26 -, seriam também incluídos um mapa com o itinerário, com os locais georreferenciados, permitindo, assim, aos turistas serem guiados por GPS, e uma secção dedicada, somente, à oferta complementar passível de ser encontrada na cidade. A ideia inicial pautou pelo desenvolvimento de reconstruções 3D, tanto das estruturas remanescentes, como das que se encontram documentadas, mas que não estão visíveis, à qual estaria associado um link para a uma página web com conteúdos mais aprofundados. Esta, por sua vez, seria disponibilizada em vários idiomas e teria um custo de 1,50€27, sendo que o seu download implicaria uma inscrição no website da rota.

Em suma, ainda que a versão pensada inicialmente, não tenha sido concretizada no âmbito da dissertação – tendo em conta a falta de conhecimentos técnicos para a sua finalização -, a ideia servirá, certamente, de base a projetos profissionais futuros28, colmatando um dos aspetos referido por McCrary (2011: 359), relativos à falta de cooperação entre os profissionais das áreas intervenientes num processo deste género.

                                                                                                                25 http://fabricadeaplicativos.com

26 No Anexo VI encontram-se as fichas que serviriam de base aos sítios, que constituem uma síntese do

descrito no ponto 4.3.3.

27  No que concerne ao preço mencionado, teve por base uma verificação do custo dos aplicativos ao nível

do turismo, existentes na Apple Store para diversas cidades europeias, onde os guias de cariz geral ascendem, na sua maioria, aos 2,00€. Logo, o nosso roteiro, pela sua especificidade – a de dar a conhecer os aspetos arqueológicos da cidade do Porto -, não poderá ser comercializado com um preço muito acima das ofertas equiparáveis.

28 A iCLio é uma empresa portuguesa, dedicada à concepção e edição de conteúdos de excelência nas

áreas de história, património e cultura, para a criação de guias de turismo para smartphone, com elementos específicos para cada rota : <http://www.iclio.net/index.html>.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O património arqueológico caracteriza-se por uma riqueza e simbolismo inigualáveis, patentes na diversidade de testemunhos que o compõe e que, inevitavelmente, remetem para as questões da identidade, tendo em conta que é um património que nos permite estar mais próximos dos nossos antepassados e perceber a evolução dos seus modos de vida ao longo dos séculos, através das ruínas e dos objetos que persistiram até aos nossos dias.

Falamos, pois, dos valores culturais de cada povo que estão na base daquele que designamos como turismo cultural e do qual é indissociável o património arqueológico, porventura, alvo de crescente “re-interesse” por parte dos municípios, por via da implementação de projetos de reabilitação urbana e, até, da comunicação social. Mas há, ainda, muito por fazer, designadamente ao nível da preservação e divulgação dos achados, face à imensidão de sítios arqueológicos existentes em Portugal.

Este trabalho permitiu-me refletir sobre a minha experiência enquanto turista, fruto de diversas viagens pelo país, e sobre o contacto próximo que tive com a arqueologia enquanto estudante – ciente que tenho muito por visitar, escutar e estudar -, e aquilo que tive oportunidade de verificar, foram duas realidades bastantes díspares entre um interior, pacato e, muitas vezes, “ao abandono”, e um litoral cheio de recursos. No primeiro, pude aperceber-me, através da visita a inúmero sítios arqueológicos cronologicamente distintos, o enorme cuidado e investimento que há neste património - devidamente sinalizado, com infraestruturas de acesso adequadas, manutenção recorrente, entre outros aspetos -, que, para além de serem de conhecimento comum entre a população residente, constituem um motivo de orgulho. Por sua vez, no litoral, observei um desinteresse preocupante, onde é evidente a sobreposição dos interesses económicos, relativamente ao desenvolvimento científico, porque não chega escavar, estudar e registar os sítios, é fulcral divulgá-los e, sempre que possível, conservá-los e preservá-los para os colocar ao dispor de quem nos visita e, principalmente, das gentes a quem ele pertence. Se o turismo arqueológico é prática recorrente noutros países – com tantos recursos como Portugal -, então é porque há um público que se interesse por este património em específico.

O caso do Porto, espelha a situação do património arqueológico em muitas outras cidades portuguesas, que o veem, na maioria das vezes, como um entrave, e não como