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PROPOSTA DE PROTOCOLO PARA O TELETRABALHO

A revisão teórica conjugada à análise empírica propiciou o surgimento de novos conhecimentos acerca do teletrabalho no âmbito do Poder Judiciário, culminando com a criação de uma proposta de protocolo para o trabalho remoto.

Nesse sentido, a presente tese traz uma visão interdisciplinar que reconhece a contribuição de múltiplas áreas do conhecimento para a construção desta proposta. Assim, ao mesmo tempo em que se valorizam princípios organizacionais de eficiência e celeridade do Poder Judiciário, reconhece-se a importância do sujeito e de sua subjetividade na consecução de tais objetivos.

Corroborando os resultados desta tese, as experiências com trabalho remoto durante a pandemia de 2020 também mostraram que, embora as tecnologias de informação e comunicação sejam imprescindíveis para a execução do trabalho remoto, não são suficientes para assegurar uma prestação laboral satisfatória e produtiva. Significa dizer que, para além dos recursos tecnológicos, há outros elementos que influenciam na execução do trabalho e que demandam planejamento, preparação e reavaliação constante.

Em termos físicos, é de fundamental importância a existência de um local preparado para a execução do home office, tanto em termos ergonômicos – com cadeiras, mesas, telas adequadas à execução das tarefas – como em termos de privacidade, luminosidade e temperatura. Assim, a existência de um local adequado e, tanto quanto possível, livre de interrupções é fundamental para evitar o comprometimento da produtividade e a sobrecarga psíquica do trabalhador.

Além disso, destaca-se a necessidade de uma avaliação prévia do servidor e de suas circunstâncias atuais de vida, pois, embora não se reconheça a necessidade de um perfil específico para a atuação em teletrabalho, sabe-se que determinadas características individuais tendem a facilitar a sua execução. Também se salienta que o momento do ciclo de vida e as características familiares do servidor podem influenciar positivamente ou não na execução das tarefas. Nesse sentido, entende-se que a presença de familiares que demandem atenção contínua tende a dificultar a realização das tarefas.

Quanto à organização da rotina, verifica-se que, embora a jornada laboral do teletrabalho comporte flexibilidade, o estabelecimento de horários ajuda o trabalhador a organizar suas atividades a partir de um parâmetro específico (tempo),

possibilitando a diferenciação entre períodos de trabalho e não trabalho. Além disso, a determinação de horários de começo e fim do expediente permitem avaliações mais precisas em termos de produtividade, assim como diminuem a possibilidade de sentimentos de culpa em relação à não disponibilidade integral – fator imprescindível sob o aspecto da saúde mental.

Observa-se, também, a importância de reavaliações constantes, preferencialmente de periodicidade semestral, já que a dinamicidade do sujeito e das circunstâncias de trabalho podem gerar situações dificultadoras ou até mesmo inviabilizadoras do teletrabalho.

Isto posto, esta tese propõe a adoção do teletrabalho a partir de uma série de ações de planejamento e preparação, com avaliações periódicas:

1. Planejamento: nessa fase, o servidor com interesse na execução do teletrabalho apresentaria um projeto em que constaria a descrição dos recursos tecnológicos e do espaço físico destinado à execução do teletrabalho, com observância de regras de ergonomia e saúde do trabalho. Ainda nesse estágio, o servidor participaria de um processo de avaliação com psicólogo da instituição, com vista à coleta de informações sobre história de vida, configuração familiar, circunstâncias atuais de vida, formas de socialização, expectativas em relação ao teletrabalho, viabilidade do trabalho remoto no presente, benefícios almejados, desafios e possíveis dificuldades desse arranjo;

2. Preparação: após a aprovação das dependências físicas pela instituição e prévia avaliação psicológica, o trabalhador seria instruído sobre questões relativas à organização da rotina laboral, administração do tempo, delimitação de jornada, metas de produtividade, estratégias para melhor execução das atividades, desafios inerentes ao trabalho remoto, estratégias de conciliação entre vida privada e profissional. Nessa fase, seria imprescindível que o servidor e o gestor, de comum acordo, estabelecessem uma meta de produtividade que atendesse a três parâmetros: execução factível, adaptabilidade a novas circunstâncias e mensurabilidade dos resultados. A escolha desses critérios justifica-se pela perspectiva institucional, porquanto o acréscimo da produtividade é um fator que legitima o teletrabalho no serviço público e, principalmente, pela perspectiva do servidor, uma vez que metas claras e realizáveis tendem a promover

segurança, autoconfiança e autorrealização, evitando sentimentos de culpa e de incompetência;

3. Avaliações contínuas: no trabalho remoto, a relação homem-trabalho, mediada pela tecnologia, apresenta um caráter processual que se desenvolve e se torna conhecido ao longo da execução da atividade laborativa. Assim, tendo em vista a dinamicidade do sujeito e o caráter não- estático da relação homem-trabalho-tecnologia e considerando que os desdobramentos dessa modalidade só se tornam conhecidos a longo prazo, o servidor seria avaliado periodicamente por um médico do trabalho e por um psicólogo da instituição, a fim de analisar suas condições de saúde e suas circunstâncias atuais de vida e também para verificar a pertinência da manutenção do teletrabalho. Nesse viés, o exame do estado mental abrangeria uma pesquisa sobre sinais e sintomas de alterações do funcionamento psíquico (sono, atenção, humor, afetividade, memória, sensopercepção, pensamento), assim como questões relativas à ansiedade, anedonia, satisfação profissional, socialização, rendimento profissional, adaptação ao teletrabalho, relacionamento familiar, rotina e possíveis dificuldades na execução das atividades. Nessas avaliações periódicas, seria possível analisar circunstâncias inicialmente imprevistas, surgidas ao longo do exercício dessa modalidade, bem como identificar agravos aleatórios à saúde do teletrabalhador e constatar eventuais necessidades de mudança na forma de execução da atividade laboral.

Desse modo, este protocolo assume a importância do planejamento e da instrução do servidor para uma boa implementação e execução do teletrabalho, bem como reconhece que a dinamicidade do sujeito, a processualidade do trabalho e a mutabilidade das circunstâncias demandam avaliações contínuas e respostas institucionais ágeis, com vista à preservação da higidez do servidor, à promoção da execução saudável do trabalho remoto e ao cumprimento das metas organizacionais de produtividade.

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