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Propor esta pedagogia é acreditar que o ser humano pode ir além, através de seu conhecimento, experiências e vivências, podendo construir e transformar seu mundo. Segundo Whays (2002, p. 12)

a pedagogia libertadora insere-se numa proposta de educação crítica, tendo como seu grande interlocutor Paulo Freire, cujo referencial pedagógico originariamente compreendia o método de alfabetização de adultos num movimento de educação popular, na década de 50, em que instituía o vínculo de cultura na defesa de opressão dos excluídos da sociedade, no caso, os analfabetos.

Para buscar compreender todo este processo, utilizei como referencial teórico a pedagogia problematizadora de Paulo Freire, que segundo Backes (1998, p.257),

apóia-se no princípio de que uma pessoa só conhece bem algo quando o transforma, transformando-se ela também no processo; que a solução de problemas implica na participação e no diálogo permanente entre alunos e professores; a aprendizagem, é concebida como a resposta, construída pelo aluno, ao desafio de uma situação problema. No processo ensino- aprendizagem, o professor deixa de ser o instrutor para ser o facilitador da aprendizagem.

A pedagogia libertadora e problematizadora proposta por Freire é entendida como “uma forma de ver o mundo, refletir sobre a leitura e recontá-lo, transformando-o pela ação consciente, ultrapassando os limites da educação enquanto disciplina social” (SAUPE et al, 1998, p. 249).

A utilização desse referencial teve como propósito também fazer com que os sujeitos se percebessem como importantes e imprescindíveis nesse processo, que sua auto-estima aflorasse e que estimulassem suas capacidades, permitindo perceber que são capazes de gerar mudanças e, que suas capacidades vão além do agir e do fazer, compreendendo afinal que suas reflexões são fundamentais para um cuidado mais digno e humano.

Trabalhando-se com o referencial de Paulo Freire, não se vai a busca de fórmulas mágicas ou prontas para a solução dos problemas. Vai se por um caminho despretensioso, que procura libertar o grupo do círculo de cultura, desvelando a realidade vivida, desmistificando as verdades, rompendo com paradigmas dogmáticos, mostrando que certezas permanentes não existem (SAUPE et al, 1998, p. 262).

A pedagogia problematizadora pode acontecer através de diferentes caminhos, os quais sejam alinhados aos princípios da concepção histórico-crítica. Neste estudo, foi utilizado para esse percurso a Metodologia da Problematização, proposta por Maguerez, que segundo Berbel (1999, p. 8) “neste se tem um conjunto de técnicas, procedimentos e atividades que são organizadas para fazer um todo desse Arco, para iniciar o trabalho e completá-lo”. A mesma ressalva ainda que “completar o estudo de um problema significa um reiniciar de outros arcos, com outros problemas que foram identificados durante o estudo”.

É um poderoso recurso metodológico, para concretizar os princípios teóricos e filosóficos de uma educação progressista e humanizadora, desde que estes princípios façam parte da intencionalidade e do modo de ser do educador, pois não será o mesmo se ela for utilizada como apenas mais uma técnica. [...] permite a transformação do sujeito que dela

participa, pelas inúmeras elaborações intelectuais que realiza, de forma associada à percepção social, política, ética, etc... da realidade, dependendo do objeto de estudo (BERBEL, 1999, p. 10).

Percebendo a imensa vontade de promover mudanças e transformações no cuidado às crianças e adolescentes vitimados pelos sujeitos deste estudo, é que visualizo uma grande possibilidade de mudança nesse processo, pois esta, partindo de suas angústias e com o intuito de serem minimizadas, farão parte de suas práticas, as quais, diariamente, poderão se reconhecer em seus atos e gratificarem- se pela participação nesse processo de transformação.

O trabalho pedagógico, em qualquer nível de ensino, e especialmente no ensino superior, deveria ter relação direta com as necessidades da vida do homem em sua relação com o mundo. Reduzir distâncias entre a teoria e a prática, portanto, é necessidade urgente nos processos educacionais. É fundamental que alunos e professores não só compreendam, interpretem e expliquem a realidade, mas também intervenham sobre ela (VASCONCELOS, 1999, p. 31).

As transformações acontecem de diferentes maneiras: muitas vezes, elas são evidentes, rápidas e concretas. Outras vezes são abstratas, permanecem em cada consciência e o que acontece é a sensibilização dos membros do grupo para um novo olhar à realidade. Mudanças ocorrem mais ou menos perceptíveis, breves ou longas, mas acontecem e vão do compromisso e do envolvimento de cada um, que somado aos outros membros do círculo de Cultura, irão buscar a transformação possível (SAUPE et al, 1998, p. 245).

Segundo Vasconcelos (1999, p. 42), a Metodologia da Problematização é uma das manifestações do construtivismo pedagógico, pois:

ƒ parte-se da realidade, com a finalidade de compreendê-la e de construir conhecimento capaz de transformá-la;

ƒ utiliza-se o que já se sabe sobre a realidade (conteúdos), não como um fim mesmo, mas como subsídio para encontrar novas relações, novas verdades, novas soluções;

ƒ os protagonistas da aprendizagem são os próprios aprendentes, por isso acentua-se a descoberta, a participação na ação grupal, a autonomia e a iniciativa;

ƒ desenvolve-se a capacidade de perguntar, consultar, experimentar, avaliar, características da consciência crítica e;

ƒ é voltada para transformação social, para a conscientização de direitos e deveres do cidadão, dentro de uma visão de educação libertadora, tratando-se de uma concepção que acredita na educação como uma prática social e não individual ou individualizante.

As contribuições de Charles Maguerez segundo Bordenave e Pereira (1986, p. 25) “é para, através de um esquema pedagógico, ter um processo de ensino em todos os níveis”. Esse processo inicia com a exposição dos sujeitos a um problema, parte da realidade física ou social, que corresponde a primeira etapa, OBSERVAÇÃO DA REALIDADE. A segunda etapa consiste em identificar as variáveis ou LEVANTAR OS PONTOS-CHAVE do problema, aqueles que se modificados, poderiam resultar na solução do problema. A terceira etapa corresponde a TEORIZAÇÃO. Nesta etapa, os sujeitos são orientados a buscar uma explanação teórica do problema, apelando para leituras, pesquisas e estudos realizados. A etapa posterior é aquela em que os alunos propõem HIPÓTESES DE SOLUÇÃO, as quais são confrontadas com os problemas levantados e estudos. Após retornam a realidade e aplicam tudo aquilo que foi construído para MODIFICAR OU TRANSFORMAR A REALIDADE (BORDENAVE; PEREIRA, 1986, p. 25).

Todas as manifestações ou práticas pedagógicas refletem, explicita ou implicitamente, teorias ou tendências pedagógicas vinculadas a um determinado fundamento ideológico.