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3.2 PROCEDIMENTALIZAÇÃO, PROCEDIMENTO E PROCESSO

3.2.2 Acepção das Categorias Procedimentalização, Procedimento, Processo e sua

3.2.2.2 Proposta de disposição dessas categorias

De acordo com o até aqui observado pelos doutrinadores, necessário esclarecer nosso posicionamento, que reflete uma contribuição às discussões em busca de uma teoria que melhor identifique a processualística administrativa. Não deduzimos erro em outros posicionamentos, uma vez que ainda é preciso amadurecer a teoria do processo administrativo para que se tenha um sólido posicionamento doutrinário sobre a questão.

Temos que o procedimento indica o modo pelo qual a atividade administrativa será exercida, enquanto que somente no processo teremos uma vinculação entre pessoas – particular (interessado) x Estado-administração (ou agente público x Estado-administração). A partir daí estruturamos nossa visualização.

Com esse desiderato, (1) duas expressões devem ser consideradas: (1.1) procedimentalização administrativa, relativa a um conjunto de procedimentos necessários à execução das complexas atividades administrativas e que é instrumento democrático de controle e participação do povo nas escolhas e decisões administrativas.

Esta procedimentalização não se confunde com o procedimento que

acompanha o processo judicial, estudado como rito processual, e, (1.2) processualidade administrativa, relativa a processo. Então, quando nos referimos a processualística administrativa, processualidade administrativa, processualidade administrativa ampla, estamos inferindo a processo. E a adjetivação ampla (normalmente empregada para determinar a existência de processo nas esferas legislativa e administrativa do Estado), tem dimensão democrática, no sentido de que com a constitucionalização do direito há uma amplitude de possibilidades de participação das pessoas (físicas ou jurídicas) nos direcionamentos administrativos.

Desse modo, nem todas as atividades administrativas são processualizadas. Por conseqüência, (1.2.1) há procedimentalização de uma série de atividades estatais, destas várias processualizadas.

Daí são necessárias observações importantíssimas, no sentido de que (2) estamos no âmbito administrativo e toda a acepção quanto à terminologia empregada, deve ser permeada pelo regime jurídico administrativo com todas as suas especificidades. Ainda que as locuções tenham sido retiradas de outros ramos do direito, deverão ser lidas com olhar administrativo, por esse fato (2.1) não há que se confundir processo administrativo com processo judicial. Somente o exercício jurisdicional pode conduzir à definitividade de uma decisão. Se uma autoridade administrativa entender ao contrário e isso limitar ou causar dano à esfera jurídica de alguém, não haverá maior dificuldade em caracterizar o ato como abuso de poder.

Consideramos que (3) procedimento é gênero e processo é espécie. Deflui então, (3.1) que a procedimentalização administrativa contém uma série de procedimentos (em sentido amplo), e nessa estrutura (3.2) o processo administrativo está alocado como espécie desse procedimento (em sentido amplo). Justificamos (3.3) esse entendimento pelo fato de que o processo administrativo é uma das inúmeras atividades administrativas dentro de um quadro geral de atividades típicas do Poder Executivo.

Assim, (3.3.1) acreditamos não ser possível isolar o processo administrativo

desse contexto específico e obrigatório à Administração Pública (procedimentalização). Mas, (3.4) isso não o torna inexpressível em importância.

Apenas reafirma as peculiaridades próprias do nosso campo de estudo: Direito Administrativo, razão pela qual advertimos anteriormente que a apropriação de termos cuja origem não é de direito público, por assim dizer, exige seu estudo, adaptação e compreensão de acordo com o emprego que lhe for destinado. Essa, ao nosso entender a posição destinada ao processo na esfera administrativa.

E, por último, (3.5) observamos a possibilidade da existência do procedimento administrativo em sentido estrito, que está contido no processo administrativo e se refere ao rito, caminho, modo de desenvolvimento a ser observado especificamente ao processo administrativo. O que determina sua existência é a instauração do processo administrativo.

Por tais razões, (3.6) a sistematização dessas categorias, em suma, tem no procedimento administrativo (em sentido amplo) métodos de exercício da atividade administrativa, situação distinta do processo administrativo, que se desenvolve quando se estabelece uma relação jurídica processual administrativa, e tem no procedimento administrativo em sentido estrito, o iter relacionado especificamente com o processo administrativo.

Pertinente, em vista do exposto, vencermos a questão que se refere a quando teremos processo administrativo. Para isso, nos estudos de MOREIRA, destacamos que o “ponto de partida não seria a ‘acusação’ ou o ‘litígio’, mas o vínculo entre particulares e/ou servidores públicos e Administração; posto em ação em uma seqüência de atos previamente definida, com vistas a resultado final.”312

Para atender à noção de processualidade ampla, dentro da organização que propusemos, sempre que comprovadamente houver interesse (individual ou coletivo) que possa ser traduzido numa relação jurídica administrativa, o processo é o meio hábil ao desenvolvimento das idéias que conduzirão à decisão final.

312 MOREIRA, OP. CIT., p. 49.

Em suma, pensamos inexistir impedimento de ordem jurídica que inviabilize o uso na esfera do processo administrativo de designativos que sejam próprios, ou ao menos até aqui insulados no processo judicial. Acresce à esse raciocínio MOREIRA, para enfatizar que

A alteração do conteúdo da definição apenas por motivos semânticos somente seria válida quando indispensável. A restrição justifica-se seja quando duas realidades não puderem ser designadas pelo mesmo termo preciso (pois absolutamente diversas), seja quando um termo ambíguo preste-se sempre a designar equivocadamente mais de uma realidade (pois absolutamente vago). (...) Assim, não será o adjetivo ‘administrativo apto a criar confusões e/ou transposições indevidas de normas de um regime jurídico ao outro. Nem tampouco o uso da expressão ‘processo administrativo’ poderá potencializar e/ou legitimar eventuais comportamentos ilegítimos e ilegais por parte de qualquer uma das funções estatais. Ao contrário. A expressão ‘processo administrativo’ designa, técnica e inequivocamente, realidade normativa específica.”313

Vencidas essas questões terminológicas e a estrutura que pensamos para o processo administrativo, cumpre assinalar considerações sobre o regime jurídico processual, que é basicamente de ordem principiológica. Fazemos também considerações a respeito da interpretação a ser dada a esse regime, face a constitucionalização da Administração Pública.

3.3 APONTAMENTOS SOBRE O REGIME JURÍDICO PROCESSUAL