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4 Da proposta de realização de obra coletiva ‘Temas do Direito Penal” envolvendo alunos e professor

No documento e formação docente (páginas 107-110)

Com base nas premissas acima, foi desenhada a seguinte proposta, levada ao conhecimento dos alunos:

(a) partindo da autorização regimental do UNICEUB que limita ao mí-nimo de 02 (duas), mas não limita ao máximo o número de avaliações para afe-rição de rendimento, os alunos passaram a ser obrigados a elaborar um artigo como terceira avaliação, para além das duas consideradas obrigatórias;

(b) aqueles que tivessem interesse em participar do livro, poderiam me-lhorar o texto com base nas correções e, após definida a editoria, todos deveriam dividir os custos da edição.

Apresentada a proposta, constatei uma resistência inicial, e em um dos motivos, além daqueles já indicados acima, foi o prazo concedido para a en-trega do texto – algo em torno de 01 mês. Essa resistência, aliás, já era espera-da pela experiência adquiriespera-da nos outros projetos anteriores. Nesse momento, entra em cena o papel de convencimento que deve ser desempenhado pelo Professor. Para tanto, utilizei-me da racionalidade econômica apreendida pe-las leituras a que tive acesso quando cursava o Mestrado em Políticas Públicas

no mesmo UniCEUB (POSNER, 2006). Mais do que a força da própria ideia, reconheci que deveriam ser concedidos alguns benefícios aos alunos para que o caráter impositivo da terceira avaliação deixasse eventualmente de ser uma barreira psicológica.

Os incentivos foram: (a) A terceira avaliação, apesar de obrigatória, somente seria levada em consideração caso levasse a uma melhor menção final do aluno; (b) deixei à disposição no “Espaço Aluno” (espaço de comu-nicação virtual entre alunos e professores, mantido pelo UniCEUB) alguns modelos de artigos elaborados, indicando a forma de começar e terminar um texto, entre outras sugestões; (c) indiquei as regras de formatação que deve-riam ser seguidas, e foi enfatizado que o plágio seria severamente punido; (d) sugeri um número máximo de páginas, algo em torno de cinco e também um número mínimo de referências de consulta, também de cinco; (e) sugeri no espaço aluno um tema para cada um dos alunos (mais de cem no total), e foi facultada a troca de tema por outro da preferência do participante ou mesmo entre os participantes; (f) fiquei à disposição dos alunos no sábado anterior a data da entrega para tirar eventuais dúvidas;6 (g) Por fim, mencionei que a publicação de capítulo de livro é pontuada na fase de títulos dos concursos públicos.

Na data marcada, recebi artigos de todos os alunos e passei dois dias com-pletos corrigindo-os, cheguei às seguintes impressões:

(a) os alunos têm realmente dificuldade com aspectos formais, como for-matação e indicação correta das fontes;

(b) seguramente, mais de 90% dos alunos aderiu à proposta de tema por mim indicada;

(c) ficou claro o esforço dos alunos na elaboração do artigo, o que refletiu no tamanho dos textos, pois todos eles superaram o limite máximo indicado nas instruções. Muitos, inclusive, espantaram-se com o entusiasmo demonstrado no estudo do tema a respeito do qual se propuseram a escrever, bem como a surpre-sa com as diferentes visões a respeito da mesma temática;

(d) por outro lado, teve-se também a impressão geral relacionada à

difi-6 Na data marcada, cheguei às 8h05 da manhã, mas, para minha surpresa, a primeira aluna chegou às 8h30 e ao todo foram à orientação 15 alunos, pouco mais de 10% da totalidade das duas turmas.

109 O ENSINO COMO PESQUISA: UMA ANÁLISE DA REALIZAÇÃO DO

LIVRO “TEMAS DO DIREITO PENAL” ENVOLVENDO PROFESSOR E ALUNOS

culdade na estruturação do texto, e pouquíssimos alcançaram a menção máxima que poderia ser atribuída.

(e) assim, poucos conseguiram incrementar a menção final com base no artigo.

Devolvidos os mais de cem artigos corrigidos, e alguns deles com a cons-tatação de plágio,7 nem todos se interessaram em ter acesso ao texto corrigido e pouco mais de vinte alunos se interessaram no desenvolvimento do livro com os temas escritos. Ou seja, menos do que 20% dos alunos, que já tinham um artigo escrito, interessaram-se pelo prosseguimento do projeto, alguns deixaram claro que se tratava de impedimentos de natureza financeira.8

Estabelecido o valor e a cota-parte, fiquei responsável por centralizar os pagamentos feitos por todos, o que, inegavelmente, reflete o papel que a confian-ça no professor, bem como seu protagonismo e sua participação efetiva devem desempenhar no projeto.

Feitas as revisões do texto, e diante da proximidade do fim do semestre e a já conhecida dificuldade nas comunicações, foram coletados os endereços eletrônicos dos alunos, bem como seus telefones, endereços e outros dados com vistas à assinatura do contrato com a editora, o que foi feito no prazo de duas semanas. Também fiquei responsável pela comunicação direta com a editora.9

Após a revisão do texto pela editora, apenas dois alunos se manifestaram a respeito das correções e pedidos de explicação feitos pelo revisor, o que mais uma confirmou a dificuldade de manter a coesão dos grupos após a finalização do semestre letivo finalizado. Com isso, mais uma vez tive que entrar em cena para averiguar item a item todas as observações indicadas pelo revisor e, diante da omissão dos autores, acabei por tentar elucidar as dúvidas apontadas.

Publicado o livro, este fora distribuído entre os alunos, e a concretização do projeto também foi levada ao conhecimento da coordenação do curso e de

7 A existência do plágio foi aferida apenas quando se constatava alguma impropriedade no texto. Sem dúvida essa aferição foi bastante subjetiva, o que depõe a favor dela é a experiência do professor em mais de seis anos como orientador de monografias. O método de consulta, aliás, limitou-se, até pelo tempo disponível, à pesquisa em sítios de busca.

8 Oportuno registrar que naquele momento já se sabia que o livro eletrônico tendo cada autor direito a um exemplar física giraria em torno de R$ 4.000,00 (quatro mil reais).

9 Ao final do projeto, já tinham sido trocados mais de 500 e-mails com os alunos, entre eles e com a editora.

outros colegas professores, e o caráter original da proposta acabou por gerar surpresa a muitos que eram apresentados ao projeto concretizado.

No documento e formação docente (páginas 107-110)