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d a teorIa ao caso concreto :

No documento e formação docente (páginas 93-99)

5 Considerações finais: o ensino do direito é uma tarefa política

6. d a teorIa ao caso concreto :

abordagens sobre ensino Jurídico e

protagonismo discente

Cinara Sampaio1

Resumo

O artigo propõe uma reflexão sobre a importância do ensino jurídico atrelado à prática com vistas ao protagonismo discente, no intuito de dirimir as lacunas deixadas na graduação, as quais são frutos de um ensino tradicional. Nessa perspectiva, tem-se, como ponto de partida, a análise das dinâmicas reali-zadas ao longo da Reflexão Estruturante I do Projeto Direito Integral, durante o 2º semestre de 2012, que contribuíram significativamente para a construção do conhecimento desta aluna de maneira racional, solidificada.

Palavras-chave: Ensino jurídico. Protagonismo discente. Reflexão

estru-turante. Dogmática. Zetética.

1 Introdução

Com base na análise das aulas ministradas no âmbito do Projeto Direito Integral (ProDI), realizado no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), es-pecificamente na disciplina “Reflexão Estruturante I – Jurisprudência, Lógica e Argumentação”, pode-se perceber que a utilização de decisões judiciais relacio-nadas à teoria estudada conforme tema estabelecido proporcionou o protagonis-mo discente, bem coprotagonis-mo uma aplicação mais significativa da teoria apresentada. Nesse processo de entrelaçamento da teoria ao caso concreto, os enfoques zetético (FERRAZ JÚNIOR, 2004, p. 41) e a maiêutica socrática (CHAUÍ, 2000), permeiam e conduzem as discussões das atividades propostas, de forma a garan-tir uma reflexão sobre os temas em análise.

1 Estudante de graduação em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Estu-dante do Projeto Direito Integral – PRODI/UniCEUB.

Sendo assim, é de fundamental importância analisar o ensino jurídico à luz dessas práticas em sala de aula para que possa proporcionar a ressignificação do ensino e consequentemente a formação de operadores do direito mais críti-cos e reflexivos.

2 Metodologia

Os estudos desenvolvidos no Projeto Direito Integral – ProDI, em espe-cífico na Reflexão Estruturante I – “Jurisprudência, Lógica e Argumentação”, possibilitam a construção do conhecimento tendo como suporte a maiêutica socrática e a zetética.

O caráter zetético permeia todas as atividades, em que as opiniões discen-tes são postas em dúvida por meio de questionamentos relacionados ao tema do encontro, com o objetivo de alcançar o conhecimento.

Segundo Bittar (2005, p.61), o “método maiêutico, baseado na ironia e no diálogo, possui como finalidade a parturição de ideias.” Nesse sentido, a di-nâmica em sala de aula pauta-se no diálogo, em que as respostas eram obtidas por aqueles que estavam aprendendo e a figura do professor como facilitador que possibilita ao aluno desconstruir conceitos, causando estranhamento, in-segurança, pois as verdades sedimentadas, muitas vezes inquestionáveis, eram objetos de reflexão.

Observa-se que os diálogos socráticos e a zetética se complementam e proporcionam o protagonismo discente, ferramenta fundamental para um en-sino jurídico em que teoria e prática se coadunam para a concretização de um conhecimento solidificado, bem como o desenvolvimento de competências e ha-bilidades necessárias à construção do conhecimento.

Ressalta-se que, para que ocorra a aproximação entre a teoria e a realidade, faz-se necessário que, além dessas técnicas inerentes ao ensino jurídico, utilizem--se decisões judiciais para que sejam analisadas à luz dos conteúdos estudados nos encontros. Assim, ao analisar a decisão do “caso da menina de 9 anos”,2 fez-se ne-cessário recorrer ao que se entende por prudência e decisão justa e não só a análise dos votos em seu sentido literal, mas o conteúdo do voto e os efeitos dessa decisão.

95 DA TEORIA AO CASO CONCRETO:

ABORDAGENS SOBRE ENSINO JURÍDICO E PROTAGONISMO DISCENTE

Nesse contexto, partindo-se de visão aristotélica, em que a prudência está atrelada ao saber prático, ou seja, determinar a regra que seria a mais justa ao caso concreto, poderíamos chegar a uma primeira conclusão de que os votos fa-voráveis à condenação do réu no caso da menina de 9 anos seriam justos, conce-bendo a prudência nos parâmetros definidos por São Tomás de Aquino, em que ser prudente ao decidir é partir da realidade contingente. Transformando essa realidade em decisão, poderíamos chegar à segunda conclusão de que os votos de condenação estariam equivocados por não considerarem a realidade atual em que se encontra o réu.

Dessa maneira, o projeto contempla essa aproximação quando da análise das decisões propostas vê-se a interligação, a interdisciplinaridade com a teoria estudada, pois é possível analisar e comparar as fundamentações judiciais e seus conceitos explicitados pelos juízes e os mesmos conceitos na perspectiva dos doutrinadores.

Nesse cenário, tendo o discente a visão da doutrina e o conceito ora apre-sentado nos casos concretos em análise, inferirá sobre as decisões elaboradas pelos juízes de modo a perceber os excessos ou as lacunas, com a finalidade de construir uma interpretação que contemple os aspectos suprimidos, os quais tornariam a decisão mais objetiva.

A utilização da Metodologia de Análise de Decisões – MAD para anali-sar as decisões constitui-se instrumento essencial, pois este método tem como objetivo:

1) organizar informações relativas a decisões proferidas em um determinado contexto; 2) verificar a coerência decisória no contexto determinado previamente e; 3) produzir uma explicação do sentido das decisões a partir da interpretação sobre o processo decisório, a forma das decisões e sobre os argumentos produzidos (FREITAS FILHO; LIMA, 2010, p. 5240).

Nota-se que a utilização dessa metodologia proporciona ao discente, ain-da graduando, a construção de uma lógica jurídica pautaain-da na racionaliain-dade, o que contribuirá para a formulação do pensamento crítico e transformação pos-terior do cenário jurídico.

Vale ressaltar que “o enfoque dogmático revela o ato de opinar e ressalva algumas das opiniões. O zetético, ao contrário, desintegra, desenvolve as opini-ões pondo-as em dúvida” (FERRAZ JÚNIOR, 2004 p. 41). Assim, o dogmatismo

tem como ponto de partida os dogmas, conceitos fixados, enquanto que a zeté-tica, parte-se da evidência.

Segundo Ferraz Júnior (2004, p. 43), “o fenômeno jurídico, com toda a sua complexidade, admite tanto o enfoque zetético, quanto o enfoque dogmático em sua investigação”.

Nesse sentido, a quebra de dogmas não nos remete ao ceticismo, pois “o cético sempre se manifesta explicitamente dúvidas toda vez que a razão tenha pretensão ao conhecimento verdadeiro do real” (CHAUÍ, 2000, p. 92), ou seja, à medida que encontra a verdade, torna a questioná-la. Assim, o que se propõe é a desconstrução de dogmas que induziriam a uma análise equivocada das deci-sões judiciais.

Sendo assim, o ensino jurídico quando possui essa abordagem, além de propiciar uma formação acadêmica que contemple teoria e prática, aproxima o estudante da realidade, que se constitui como um diferencial no cenário da educação jurídica.

3 Conclusão

Os enfoques zetético e dogmático não são excludentes, entretanto, para que o protagonismo estudantil aconteça, faz-se necessária a prevalência da zeté-tica, dado o seu caráter investigativo.

As atividades realizadas na Reflexão Estruturante I mostram-nos que é possível um ensino jurídico interdisciplinar, participativo, em que o discente é protagonista da aprendizagem, motivando-o a encontrar possíveis soluções para os problemas jurídicos.

Além disso, possibilita uma formação acadêmica diferenciada, uma vez que, ao ampliar as possibilidades de análises das decisões por meio das leituras e discussões sobre os temas, modifica a forma de analisá-las, pois prevalece no campo da reflexão a racionalidade necessária para a formulação do pensamento crítico.

97 DA TEORIA AO CASO CONCRETO:

ABORDAGENS SOBRE ENSINO JURÍDICO E PROTAGONISMO DISCENTE

Referências

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco: Livros V-VI. São Paulo: M. Claret, 2003.

AQUINO, Tomás de. A prudência: a virtude da decisão certa. São Paulo: M. Fontes, 2005. BITTAR, Eduardo Carlos Bianca; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de filosofia do direito. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário. RE n. 418.376-5/2006. MS.Tribunal Pleno. Recorrente: José Adélio Franco de Moraes. Recorrido: Ministério Público do Estado ee Mato Grosso do Sul. Relator: Min. Marco Aurélio. Brasília, 09 de fevereiro de 2006. Disponivel em: <http://allanpatrick.wdfiles.com/local--files/re-418-376/RE_418376.pdf>>. Acesso em: 29 jun. 2015.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

FREITAS FILHO, Roberto; LIMA, Thalita Moraes. Metodologia de análise de decisões. In: ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI, 19., 2010. Anais... Fortaleza: CONPEDI, 2010. p. 5.238-5.246.

FERRAZ JR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, domina-ção. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

No documento e formação docente (páginas 93-99)