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Com base no quadr o expost o, a Secr et ar ia da Just iça e da Defesa da Cidadania pr opõe adot ar as seguint es m edidas, na busca de solução par a os pr oblem as fundiár ios do Pont al:

• Abr angência a t oda a 10ª Região Adm inist r at iva;

• At ualização dos Planos de Legit im ação de Posses nos Per ím et r os j á j ulgados devolut os e que se encont r avam par alisados em gover nos ant er ior es;

• Per m issão de Uso a t ít ulo oner oso at é 500 hect ar es ( cr it ér ios e r em uner ação a ser em definidos em r esolução conj unt a da Secr et ar ia da Just iça e da Defesa da Cidadania e da Pr ocur ador ia- Ger al do Est ado) ;

• Ár eas que não se enquadr ar em nos cr it ér ios t écnicos e legais ser ão ar r ecadadas par a assent am ent o;

• Dinam izar a legit im ação das pr opr iedades com at é 100 ha no 11º Per ím et r o; • Ent r ega de Tít ulos j á em fase de expedição em Mir ant e do Par anapanem a;

• Const it uição de Com issão SJDC/ PGE par a execução de ações conj unt as na r egião;

• For m alização de convênios com t odas as pr efeit ur as int er essadas par a legit im ação/ ar r ecadação das ár eas m unicipais;

• Pr oposit ur a de Ações Reiv indicat ór ias na ár ea do 11º per ím et r o de Mir ant e do Par anapanem a: o Set em br o/ 95 – Fazenda Ar co- Í r is de 2.616 ha

o Out ubr o/ 95 – Fazendas Canaã e King Meat de 3.018 ha

o Novem br o/ 95 – Fazendas Sant a Apolônia e Mir ant e de 4.257 ha o Dezem br o/ 95 – Fazendas Flor Roxa e Sant a Cr uz de 2.310 ha o Janeir o/ 96 – Fazendas Sant a Helena e Sant a Car m em de 1.062 ha

ƒ Tot al: 13.263 ha

• Ár eas em r eivindicação: Fazendas Har oldina e Sant a Rosa de 3. 362 ha

• Ár eas j á ar r ecadadas: Fazendas São Bent o, Sant a Clar a e Est r ela D’Alva de 6.491 ha ƒ Tot al Geral: 23.116 ha

• Nas ações r eiv indicat ór ias poder á ser est abelecido, por acor do ou lim inar , a ut ilização de 500ha ou at é 30% do t ot al da ár ea, par a assent am ent os pr ovisór ios, sem pr ej uízo do pr osseguim ent o r egular da ação;

• I naugur ar assent am ent os pr ovisór ios nas ár eas r eiv indicadas;

• Tr ansfor m ar em assent am ent os definit ivos os assent am ent os pr ovisór ios das ant igas fazendas São Bent o, Sant a Clar a e Est r ela D’Alva;

• Ut ilização de cr it ér ios t écnicos par a o est abelecim ent o dos m ódulos dos assent am ent os definit ivos, confor m e a vocação da ár ea;

• Assent am ent o de 2.101 fam ílias cadast r adas pelo I TESP com per fil de assent am ent o;

• Reit er ação dos cr it ér ios legais par a assent am ent o ( t em po de dom icílio na r egião m ínim o de dois anos, vocação agr ícola, for ça de t r abalho, idade, não ser funcionário público, não possuir pr opr iedade r ur al, não t er r enda de at iv idades não agr ícolas – ex: com ér cio, et c.) .

Font es: FERNANDES ( 1996: 198- 199) e OESP ( 2/ 2/ 96, p. A- 14)

Singelo em sua for m a, o Plano do Pont al pret endia ser um inst rum ent o de ação e de pacificação, m as foi recebido com m uit a descr ença e desconfiança. MST e fazendeir os m anifest avam seu descont ent am ent o em declar ações at r avés da im pr ensa.

As m edidas não agr adar am nem aos fazendeir os nem aos sem - t er r a. Os pecuar ist as da r egião cr it icam o Gover no por não t er est abelecido pr azos e cr it ér ios par a as indenizações, enquant o os sem - t er r a exigem o

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assent am ent o im ediat o na t ot alidade da ár ea. ( OG, 28/ 09/ 95, p. 4)

O MST cr it icava a pr opost a de ant ecipação de apenas 30% da ár ea e quer ia 100% de t odas de im ediat o. Segundo Rainha, “ a pr opost a não vai r esolver o pr oblem a e pode agr avar os conflit os no local. As ações vão dem or ar m uit o t em po e o que precisam os é da posse im ediat a e perm anent e da t er r a” ( DP, 28/ 09/ 95, p. 10) . O Movim ent o t am bém discor dava da exclusão das ár eas m enor es do que 500 ha no Plano do Gover no, em bor a sua posição ant er ior ao anúncio par ecesse ser out r a, com o indica essa m at ér ia publicada na im prensa, not iciando j ust am ent e a par t icipação do PT e do MST na r eunião com o Gover no:

Segundo Dir ceu, o Gover no paulist a t inha gar ant ido a r epr esent ant es do MST que as t er r as devolut as acim a de 500 ha ser iam cedidas aos sem - t er r a. “ O discur so est á difer ent e. Agor a falam em ceder apenas as t er r as acim a de m il hect ar es. I sso m uda m uit a coisa. É pr eciso cum pr ir o acor do ant er ior ” disse Dir ceu, que na sext a- feir a est eve em Mir ant e do Par anapanem a num at o público em favor dos sem - t er r a. ( OG, 25/ 9/ 95, p.5)

Poucos dias após o anúncio do Plano, t r ês fazendas foram r e- ocupadas em Mir ant e do Par anapanem a, t odas com m enos de 500 hect ar es. Segundo José Rainha, esse er a um at o de prot est o, por que “ o gover no só levou em consider ação o t am anho

das fazendas. Eles não levar am em consideração que elas per t encem a conhecidos lat ifundiár ios e gr ileir os, que t êm ext ensas propr iedades em out r as r egiões de São Paulo e em out ros Est ados” ( FSP, 30/ 9/ 95, p.1- 10)

Os fazendeir os, por seu t urno, duvidavam de que fosse r ealm ent e possível obt er a t ut ela ant ecipada das ár eas e expressavam essa dúvida, m as se pr eocupavam principalm ent e com as indenizações que lhe ser iam pagas “ pr om et endo abandonar a

idéia da m ilícia ar m ada apenas se o gover no pagar as indenizações pelas t er r as” ( JB,

28/ 09/ 95, p.5) , m as t am bém se assust avam com a am pliação da abr angência da r eiv indicação de t er r as devolut as par a t oda a 10ª Região Adm inist r at iva, com 33 Per ím et r os, não m ais se r est r ingindo ao 11º Per ím et r o de Mir ant e do Par anapanem a. Para o president e do Sindicat o Rural de President e Pr udent e, Dom ingos I shii, o acor do est aria " levando o pânico” à região: “ o pr oblem a est á localizado apenas na região do

Pont al. É um absur do colocar t odos os fazendeir os dos out r os m unicípios, que não t êm nada a ver com o pr oblem a, na m esm a sit uação de insegur ança” ( FSP, 29/ 09/ 95, p.1- 8) .

De fat o, at é ali t odas as reivindicações lim it av am - se ao 11º MP. Havia com o que um acor do t ácit o ent r e Gover no, m ovim ent o social e fazendeir os, em que t odos agiam com o se apenas esse Per ím et r o fosse devolut o. Par a os fazendeir os, ali e som ent e

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ali est ava o Pont al, quando se referiam aos problem as dom iniais da r egião. E o MST, m esm o nas suas declar ações m ais ousadas, nunca havia m encionado m ais do que os 66 m il hect ar es daquele Per ím et r o. No dia ant er ior ao anúncio do Plano, Rainha conceder a a seguint e ent r evist a:

Folha: O que vocês esper am da r eunião?

José Rainha Jr : Nós quer em os um a ár ea de 21 m il hect ar es, j á ocupada, par a o assent am ent o das 2.100 fam ílias.

Folha: Se o Gover no concor dar , est á t udo r esolv ido?

Rainha: Não. A nossa lut a cont inua. A br iga é por um a ár ea de 66 m il hect ar es que per t ence ao gover no. Vam os cont inuar lut ando pelo assent am ent o de m ais fam ílias.

Folha: E se o gover no não conceder a t er r a?

Rainha: Vam os m obilizar 5000 fam ílias e ocupar t odos os 66 m il hect ar es. ( FSP, 27/ 09/ 95, p. 1- 14) .

Tam bém os fazendeir os est avam pr epar ados par a um acor do que per m anecesse nesses lim it es. No m esm o dia, alguns fazendeir os ofer ecer am a possibilidade de acordo em 100% da ár ea: “ Eles pediram , em t roca da ent rega das

fazendas, pr ior idade par a a avaliação t écnica do valor da ár ea e pagam ent o das indenizações” ( DP, 28/ 09/ 95, p. 10) ; “ Eles calculam que o valor das m elhor ias por hect ar e est á em t or no de R$ 2 m il” ( OG, 28/ 09/ 95, p.4) . Nas ent r elinhas, a ofer t a

em but ia um condicionant e: que valor e condições de pagam ent o fossem sim ilar es ao acor do da Fazenda São Bent o. Er a a som br a dos acor dos ant er ior es ainda pair ando no ar .

Essa r eação dem onst rava que ninguém havia esper ado um a m udança t ão radical na form a de fazer polít ica em relação à do governo ant erior, ou t alvez a expect at iva fosse pela sua m anut enção sim plesm ent e. O Gover no Fleur y t inha se por t ado de m aneir a am bígua, at endendo pont ualm ent e alguns int er esses, m as sem int er fer ir dem ais, sem se posicionar ou t ent ar conduzir efet ivam ent e esse pr ocesso.

A m inha im pr essão er a que o Est ado j ogava ali um pouco, at é 1994. O Est ado ent endia que não t inha papel a desem penhar ali. O papel er a um pouco t ut elar algum as r elações com o MST, m as não de conduzir um pr ocesso. Essa foi a im pr essão que eu t ive, pelas ações que for am adot adas. Er a um pouco de fazer o j ogo de int er vir quando cham ado, é com o se o Est ado não t ivesse t er r as discr im inadas, ações j udiciais a adot ar , com um a det er m inada velocidade, et c. E r ealm ent e não t inha plano. ( Belisár io, Secr et ár io da SJDC de 1995 a 2000, 30/ 05/ 05) .

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O Fleur y nunca foi sim pát ico, nunca t eve essa int enção de fazer a Refor m a Agr ár ia em São Paulo. Ele fez aquelas duas, m as só fez isso t am bém . Pr ecisava de um confr ont o por lá, at é que t eve uns dias que ele não agüent ou. ( Bill, lider ança do MST, 27/ 05/ 05)

O que a gent e per cebia é que o Gover no ant er ior t inha deix ado um pouco essas quest ões nas m ãos dos m ovim ent os sociais e por or ient ação de um deput ado est adual específico que de cer t a for m a m onopolizava essa quest ão da polít ica agr ár ia no Est ado de São Paulo. Ent ão o Gover no ant er ior t inha deix ado um pouco isso cor r er solt o. ( Edson Vism ona, Secr et ár io Adj unt o da SJDC de 1995 a 2000, 02/ 08/ 05)

O Covas, eu acho que t inha out r a post ur a. Ele t inha um a linha m ais... por exem plo, aquele per cent ual que ele quer ia, não abr ia m ão. Ent ão eu acho que ele foi m ais dur ão, em não abr ir m ão, em não ceder . ( Pr esident e do Sindicat o Rur al de Pr esident e Pr udent e em 1995, 24/ 05/ 05)

Ent ão fazendeir os e sem - t er r a t alvez est r anhassem essa m udança de post ur a. De qualquer m odo, em bor a t iv essem par t icipado de m uit as r euniões durant e a for m at ação do Plano, sem - t er r a e fazendeir os não est avam sat isfeit os com seu r esult ado. Par a os sem - t er r a a abr angência do Plano er a insuficient e, par a os fazendeir os essa abr angência er a exager ada. As duas declar ações apar ent em ent e opost as conver giam em um pont o: o descont ent am ent o com o Gover no por que est ava fazendo algo difer ent e do que se esper ava, indo além da sua paut a e assum indo um a posição pr ópr ia que não se alinhava com nenhum dos dois segm ent os exat am ent e.

Eles t r aziam um a paut a e o Gover no r eagia a essa paut a, foi sem pr e assim . A part ir de set em br o eles com eçar am a t r azer a paut a e a gent e discut ia a paut a, at é por que er a um a paut a a ser r espeit ada do m ovim ent o social, m as a par disso havia um pr ocesso que nós t ínham os dado início, e que t er ia início, m eio e fim . ( Belisário, Secr et ár io da Just iça de 1995 a 2000, 30/ 05/ 05) .

Essa paut a pr ópr ia que com eçou a se delinear com o anúncio do Plano do Pont al era vist a pelo Movim ent o Sem - t er r a com o um a int r usão ou t alv ez com o um a ext r apolação do papel do Est ado, que pr et endia fazer o que dever ia ser feit o pelo MST. Quer dizer , se o Est ado ar r ecada cada Fazenda, m esm o que lent am ent e, a part ir das ações do Movim ent o, o r esult ado é vist o com o um a conquist a do MST; ao cont r ár io, se o Est ado or ganiza um Plano par a agir m assiv am ent e e ar r ecadar t odas as fazendas, o r esult ado ser á vist o com o um a dádiva do Est ado.

A difer ença é que o Movim ent o t inha um a for m a de or ganizar os t r abalhador es e essa for m a er a um a for m a de t á conscient izando o

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pessoal m esm o da necessidade de lut ar , de fazer a sua lut a pr a que a r efor m a agr ár ia m esm o haj a. E aí out r as vezes t inha int er venção do Est ado com t odo o seu apar at o. E aí quando o Est ado ent r a, com t odo o seu apar at o, com t oda a sua... ofer ecendo algum as coisas, isso m uit as vezes quebr a a or ganização, né? Aí o Est ado passa a dir igir um pr ocesso que vinha de anos o Movim ent o organizando. Aí o pr ópr io Movim ent o m uit as vezes per de o com ando da coisa por cont a que o Est ado vem e... sabe que os t r abalhador es v év e m uit as v ezes de... coisas concr et as, né? E m uit as vezes o Movim ent o não t inha respost as concr et as. E quando t inha a r espost a concr et a par ecia que er a um a coisa que o Est ado que deu. Mas não foi o Est ado que deu. Foi fr ut o de um a longa lut a, de or ganização do Movim ent o que vem or ganizando desde lá da base. ( Már cio Bar r et o, lider ança do MST, 27/ 05/ 05)

SI GAUD ( 1977) ofer ece elem ent os suficient es par a a consider ação dessa hipót ese, ao analisar com o a conquist a dos dir eit os t r abalhist as na década de 1960 se configur ou com o um a gr aça ou um a dádiva do Gov erno na consciência social dos t r abalhador es r ur ais na Zona da Mat a de Per nam buco.

Esse dom t er ia sido dado aos t r abalhador es, no m esm o est ilo que os dons concedidos pelo Sr. de engenho, sendo por t ant o r egido pela m esm a lógica de r ecipr ocidade. [ ...] O t r abalhador não r econhece os dir eit os com o adquir idos, nem r esult ant es de um a lut a que ele t er ia t r av ado sob a lider ança dos Sindicat os ou das Ligas [ ...] . O t r abalhador não v incula a m obilização polít ica de que foi um dos pr incipais at or es, ao lado dos cam poneses, ao sur gim ent o dos dir eit os ( SI GAUD, 1977: 118) .

Por essa lógica, se os assent am ent os fossem vist os com o algo dado pelo Est ado, a lógica da r ecipr ocidade ( MAUSS, 1974) se est abelecer ia par a com o Gover no e não m ais para com o Movim ent o e a dádiva poder ia se const it uir em um a dívida de gr at idão a ser r et r ibuída, por exem plo, com o vot o. Ou pior : com a cessação dos confr ont os na lut a pela t er r a, com o pedia o Gover no.

E os fazendeir os r eceavam per der o poder que desfr ut avam no Est ado nos últ im os oit o anos, pr eocupavam - se com os valor es das indenizações, não ‘confiavam ’ no Gover no, quer iam saber quando ser iam pagos. E, t endo Már io Covas um per fil t ão sem elhant e ao de Fr anco Mont oro, hav ia j ust ificat iv a suficient e par a esse t em or .

Você pega os dois pólos, t ant o o Mont or o com o o Covas, nesses dois m om ent os, nesses dois Gover nadores, t eve um r om pim ent o com a quest ão do sobr enom e, quem er a o fazendeir o. Não im por t a o sobr enom e! [ ...] Passados 8 anos, você vê essa m esm a post ur a no Gover no do Covas.

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Que o Covas t am bém : a t er r a é devolut a, o fazendeir o t á lá, não quer o saber o sobr enom e dele! Nós vam os lá. A t er r a é do Est ado? Já t á j ulgada, t r ansit ada em j ulgado? Per feit am ent e, vam os t irar lá, vam os pagar as benfeit or ias do suj eit o e vam os ar r ecadar essa t er r a pr o m ovim ent o que t aí bat endo na por t a e t al, t al. Pr ecisa de t er r a e nós vam os t irar isso aí. Vam os indenizar ? Ok, pr ecisa pagar pr a ele, t al, t al, não sei o que. Ent ão o Mont or o com o Covas eu acho m uit o par ecido a obst inação. ( Agr ônom o da SEAF/ I TESP desde 1986, 31/ 05/ 05)

Assim , o que se const it uiu for m alm ent e com o um gr ande acor do desdobr ou- se em novos conflit os que dem andar am novos acor dos, num pr ocesso em espir al. Tudo acont ecendo em diver sos planos, sim ult âneos e im bricados.

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