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Or ient ador : Pr ofessor Dout or César Bar r eir a.
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TÂNI A ANDRADE
I X Por que cer t am ent e não ser ia possível concluir esse t r abalho sem a colabor ação de t ant as
pessoas eu gost ar ia de expr essar a t odos os que m e apoiar am os m eus m ais
pr ofundos agr adecim ent os, especialm ent e:
Ao CN PQ, pelo apoio financeir o com a bolsa de pesquisa.
Aos En t r e v ist a dos, por m e conceder em um espaço inest im ável em suas vidas.
Aos Asse n t a dos e Lu t a dor e s pela r efor m a agr ár ia, por sua r ecepção calor osa e por sua
hist ór ia de vida, sem a qual nada disso ser ia possível.
Aos M e n in os e M e n in a s do I TESP, pelo car inho, pelas hist ór ias e por m e for necer em
im agens t ão bonit as desse passado que t ant o nos m ar cou, e m ais ainda:
À M á r cia Re gin a , por seu apoio e am izade, que incluiu o envio de t ext os, m at er iais
e dicas pr eciosas em t odo o m eu per cur so;
Ao Albe r t o, pelo apoio ainda na fase de pr oj et o de pesquisa, no m om ent o da
descober t a inicial dos clássicos da sociologia, por sua disponibilidade;
A Rica r do, M a r ce lo, Gilm a r e Joã o Fe r r a r i, por m e conduzirem um a v ez m ais
nos cam inhos do Pont al, com a m esm a boa sim pat ia dos velhos t em pos;
Ao Odj a lm a , pela pesquisa m inuciosa nos j ornais do Pont al;
A An t ôn io Ca r los M a gu , Kik i e Ar t h u r , pelo apoio na r evisão do t ext o final.
Ao Pr of. Rica r do Abr a m ov a y, pelo apoio inicial na t r ansição da vivência execut iv a par a
a acadêm ica, que m e facilit ou a escolha do t em a da pesquisa e m e apr esent ou a
est a figur a adm ir ável, que se t ornou m eu or ient ador .
Ao Pr of. Cé sa r Ba r r e ir a , sem pr e t r anqüilo e sor r ident e, por or ient ar rum os segur os e ao
m esm o t em po per m it ir a const rução do m eu própr io cam inhar .
À Pr ofa. Au x ilia dor a Le m e n h e , pela leit ur a at ent a, pelo t em po de conver sa int er essada,
com a indicação de pr oblem as e sugest ões que m e for am t ão valiosas, desde ant es
e depois da banca de qualificação.
Ao Be lisá r io, exem plo de ét ica pública e font e de inspir ação per m anent e, por sua
disposição sem pre am iga e respost a lépida às m inhas insist ências.
Aos hom ens da m inha vida: Sa u lo, Ola v o e Ca e t a n o, os filhos – por m e em pr est ar em
sua ar t e e pela com pr eensão, que m e perm it iu passar t ant o t em po m er gulhada em
papéis e let ras, sem out r os conflit os além daqueles que m e dedicava a analisar ; e
Ar t h u r , o com panheir o – por par t ilhar com igo a r iqueza das descober t as da
pesquisa e pelas t r ocas incansáveis, pr odut ivas, plenas de est ím ulo e de am or .
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XI Y est o acont ece con la lucha y la paz. Así en la sucesión com o en la
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Est e t r abalho t r at a de conflit os colet ivos r ur ais e de acor dos const r uídos par a sua pacificação em um pr ocesso de m ediação est at al.
I nicia pela hist ór ia de 150 anos de fr audes e gr ilagem no Pont al do Par anapanem a, acom panhando a t r ansfor m ação da lut a de r esist ência dos posseir os em gr andes ocupações de t er r a lider adas pelo
Movim ent o Sem Ter r a ( MST) , num conflit o colet ivo de gr andes pr opor ções que ganhou as m anchet es nacionais e int er nacionais em 1995. A par t ir daí, t r aça um per fil hist ór ico dos pr incipais
at or es sociais envolvidos – sem - t er r a, fazendeir os e Est ado – e r esgat a as cir cunst âncias que culm inar am na elabor ação de um Plano de Ação Gover nam ent al, const r uído a par t ir de pr opost as
negociadas ent r e esses t r ês at or es, que incluía a r et om ada pelo Est ado das t er r as devolut as est aduais em poder dos fazendeir os e o assent am ent o gr adual das fam ílias acam padas.
Esse Plano de Ação que se pr et endia pacificador deu início a um a espir al de conflit os e acor dos que par ecia t endent e ao infinit o. Num esfor ço de com pr eensão desse pr ocesso, a nova for m a de ação
est at al, iniciada com a exper iência de ex ecução do Plano, e as dinâm icas sociais daí r esult ant es for am m inuciosam ent e r econst r uídas com r ecur so às falas dos at or es e im agens que r et r at am os
pr incipais episódios. A nar r at iva pr ossegue at é o ano de 1996, quando as pr im eir as m il fam ílias envolvidas naqueles conflit os com eçam a ser assent adas em lot es definit ivos e a sit uação ganha
ar es de nor m alidade. O Plano de Ação enfim cum pr ia seus obj et ivos de pacificação.
Ao final, o t rabalho analisa os vár ios planos em que esses conflit os se desenv olver am , com fat or es r elacionados sim ult aneam ent e a quest ões pessoais ou colet ivas; aos aspect os de honr a, pr est ígio e
car ism a; aos aspect os de poder econôm ico e polít ico; aos valor es e códigos m or ais com par t ilhados nos gr upos sociais; e aos j ogos de cenas e espet áculos volt ados ao público ex t er no, em que a im pr ensa exer cia papel fundam ent al. Analisa t am bém a ação de m ediação est at al desenvolvida, as
pr át icas dos m ediador es e os dilem as r elacionados à dualidade do agent e est at al na condição de m ediador - ex ecut or dos acor dos r efer ent es ao Plano de Ação.
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Rur al collect iv e conflict s and agr eem ent s conceived t o it s pacificat ion w it hin a pr ocess of st at e m ediat ion is t he subj ect of t he pr esent w or k.
I t is int r oduced by t he hist or y of 150 year s of fr auds and illegal land appr opr iat ion in Pont al do Par anapanem a, follow s t he landholder s st r uggle of r esist ance t r ansfor m at ion int o huge land
occupat ion pr ocess led by Movim ent o Sem - Ter r a ( MST) , w it hin a collect ive conflict of gr eat pr opor t ions, r egist er ed in nat ional and int er nat ional headlines in t he 1995 new s. Then, it t r aces a hist or ical pr ofile of t he cent r al social act or s in field – landless w or ker s, far m er s and St at e agent s – and r escues t he cir cum st ances t hat led t o t he const r uct ion of a Plan for Gover nm ent Act ion, based on negot iat ed pr oposals am ong t hese t hr ee act or s, w hich included t he r eclaim ing of t hose land due
t o t he St at e t hat w er e under t he far m er s possession, and t he gr adual set t lem ent of t he cam ped fam ilies.
That Plan, int ended t o be peacem ak er , st ar t ed a spir al of conflict s and agr eem ent s t hat seem ed t o st r et ch t ill infinit e. I n t he effor t t o under st and t his pr ocess, t he new w ay of st at e act ion, init iat ed w it h t he execut ion of t hat plan, and t he r esult ing social dynam ics, w er e r econst r uct ed in it s m inor det ails, by t he act or s speeches and im ages t hat pict ur ed t he m ain episodes. The nar r at ive goes on
unt il t he year of 1996, w hen t he fir st t housand fam ilies t hat t ook place in t hose conflict s ar e definit ively set t led in r ur al set t lem ent and t he sit uat ion t ur ns t o nor m alit y. The Plan of Act ion
fulfilled it s obj ect ives of pacificat ion, at last .
I n t he final par t , t he w or k analyses t he sever al plans in w hich t hese conflict s w er e developed, w it h sim ult aneous fact or s r elat ed t o per sonal and collect ive issues; t o honor , pr est ige and char ism a aspect s; t o econom ic and polit ic pow er aspect s; t o beliefs and m or al codes shar ed by t he social gr oups; and t o t he show ing off and scenes dir ect ed t o ext er nal public, w hen pr ess act ed key r ule.
I t also analyses t he act ion developed by st at e in m ediat ion, t he m ediat or s’ pr act ices and t he dilem m as r elat ed t o t he dualit y of t he st at e agent in t he dual r ule of m ediat or - execut or of t he
agr eem ent s or iginat ed by t he plan.
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IIGGUURRAASSFI GURA 1.1.LOCALI ZAÇÃO DO PONTAL DO PARANAPANEMA EM SÃO PAULO. ... 22
FI GURA 1.2.MUNI CÍ PI OS COM CONFLI TOS VI OLENTOS NA 10ª REGI ÃO ADMI NI STRATI VA. ... 22
FI GURA 1.3.EROSÃO EM PASTAGEM NO PONTAL DO PARANAPANEMA. ... 23
FI GURA 1.4.MAPA DOS PERÍ METROS DO PONTAL DO PARANAPANEMA. ... 51
FI GURA 1.5.MAPAS DE PERÍ METROS DO PONTAL ANTES E DEPOI S DE 1991. ... 53
FI GURA 1.6.OCUPAÇÃO NA SÃO BENTO ( 1991) ... 56
FI GURA 2.1.OS FAZENDEI ROS SE ARMAM. ... 80
FI GURA 2.2.AVI OLÊNCI A DOS SEM- TERRA. ... 91
FI GURA 3.1.MANI FESTAÇÃO PELA MANUTENÇÃO DO I TESP. ... 127
FI GURA 3.2.ACAMPAMENTO 1º DE ABRI L NA DI VI SA DE FAZENDAS NO PONTAL... 129
FI GURA 3.3.AMBI ENTE AUSTERO NAS REUNI ÕES NA SJDC... 137
FI GURA 3.4.INFORMALI DADE NAS REUNI ÕES NO PONTAL. ... 140
FI GURA 3.5.ACAMPAMENTO DO MST ... 144
FI GURA 4.1.APRESENTAÇÃO PÚBLI CA DO PLANO DO PONTAL... 167
FI GURA 4.2.PRI SÃO DE LÍ DERES DO MST( OUTUBRO DE 1995) . ... 179
FI GURA 4.3.REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTI CA DAS FAZENDAS DE PECUÁRI A NO PONTAL. ... 183
FI GURA 4.4.FAC-SÍ MI LE DE DOCUMENTO ASSI NADO ENTRE MST E I TESP... 212
FI GURA 4.5.CAMI NHÃO DE MUDANÇA ATRAVESSANDO O ACAMPAMENTO 1º DE ABRI L... 219
FI GURA 4.6.CONTATO INDI VI DUAL COM AS FAMÍ LI AS. ... 237
FI GURA 4.7.OCUPAÇÕES FORA DO 11º MP NO PONTAL (JANEI RO DE 1996) ... 247
FI GURA 4.8.REUNI ÕES NOS ASSENTAMENTOS PROVI SÓRI OS... 250
FI GURA 4.9.FAC- SÍ MI LE DE CARTA ENTREGUE NOS ASSENTAMENTOS PROVI SÓRI OS. ... 250
FI GURA 4.10. FAC- SÍ MI LE DE PROPOSTA DE AQUI SI ÇÃO DE ÁREAS EM SANDOVALI NA. ... 268
FI GURA 4.11. JUNGMANN E COVAS VI SI TAM OS ASSENTAMENTOS... 274
FI GURA 4.12. IMAGENS DA RADI CALI ZAÇÃO DOS CONFLI TOS ... 279
FI GURA 4.13. FAC-SÍ MI LE DE CARTA DE AMEAÇA: RADI CALI ZAÇÃO CONTRA OS ACORDOS. ... 281
FI GURA 4.14. ASSENTAMENTOS NO 11º MP ... 283
FI GURA 4.15. NOVOS ACORDOS NO PONTAL... 284
FI GURA 5.1.ESQUEMA SI MBÓLI CO DE RELACI ONAMENTO NOS CONFLI TOS DO PONTAL... 297
FI GURA 5.2.PRESENÇA MACI ÇA DA IMPRENSA NOS CONFLI TOS DO PONTAL. ... 348
FI GURA 5.3.FAC- SÍ MI LE DO PLANO DO PONTAL: ASSENTAMENTOS PROVI SÓRI OS. ... 352
FI GURA 5.4.A LI NGUAGEM DAS I MAGENS NO PONTAL. ... 353
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QUADRO 2.1. OBJETI VOS DA UDR. ... 83
QUADRO 2.2. OBJETI VOS DO MST. ... 92
QUADRO 2.3. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTI CA DA ORGANI ZAÇÃO DO MST. ... 94
QUADRO 2.4. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTI CA DO MST DO PONTAL. ... 95
QUADRO 2.5. ASSENTAMENTOS I MPLANTADOS PELO I NCRA EM SÃO PAULO ( 1970 A 1994) . ... 104
QUADRO 2.6. ASSENTAMENTOS I MPLANTADOS PELO GOVERNO DE SÃO PAULO ( 1983 A 1994) . ... 106
QUADRO 2.7. HI STÓRI CO DAS INSTI TUI ÇÕES DE SÃO PAULO NA ÁREA AGRÁRI A ( 1961- 1994) ... 107
QUADRO 2.8. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTI CA DA ESTRUTURA DO I TESP EM 1995. ... 116
QUADRO 3.1. OCUPAÇÕES NO 11º MP ENTRE ABRI L E JUNHO DE 1995. ... 134
QUADRO 4.1. PLANO DE AÇÃO GOVERNAMENTAL PARA O PONTAL DO PARANAPANEMA. ... 168
QUADRO 4.2. PROJEÇÃO NACI ONAL DOS CONFLI TOS NO PONTAL ( OUTUBRO DE 1995) . ... 179
QUADRO 4.3. AÇÕES REI VI NDI CATÓRI AS PARA ASSENTAMENTO EM 1995. ... 188
QUADRO 4.4. REUNI ÃO DE ARGUMENTAÇÃO COM AS FAMÍ LI AS. ... 229
QUADRO 4.5. AS COI SAS NO CAMI NHÃO. ... 241
QUADRO 4.6. OS CAMI NHOS DI FÍ CEI S. ... 242
QUADRO 4.7. ASOLI DARI EDADE. ... 243
QUADRO 4.8. ASENSAÇÃO DE VI TÓRI A. ... 244
QUADRO 4.9. ‘DI ÁLOGO’ MST X ESTADO NA FOLHA DE SÃO PAULO ( JANEI RO/ 1996) . ... 246
QUADRO 4.10. TERRA, DI GNI DADE... 286
QUADRO 4.11. TERRA, MORADI A... 287
QUADRO 4.12. TERRA, EDUCAÇÃO... 288
QUADRO 4.13. TERRA, TRABALHO... 289
QUADRO 4.14. TERRA, ALI MENTO... 290
QUADRO 5.1. APOLÊMI CA DOS ASSENTAMENTOS PROVI SÓRI OS ( 1995) . ... 351
QUADRO 6.1. A VERSÃO FI NAL DO PLANO DO PONTAL (SÍ NTESE) . ... 360
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IIGLGLAASS11º MP – 11º Perím et ro de Mir ant e do Par anapanem a 13º MP – 13º Perím et ro de Mir ant e do Par anapanem a 8º PP – 8º Per ím et r o de Pr esident e Pr udent e
BANESER – Banespa S.A. Ser viços Técnicos e Adm inist r at ivos CAI C – Com panhia Agr ícola, I ncorporadora e Colonizadora CCA – Cooperat iv a Cent r al dos Assent ados
CCTA – Cent r o de Capacit ação Técnico- Agr ár ia
CEAGESP – Cent r al de Abast ecim ent o Ger al do Est ado de São Paulo CEB – Com issão Eclesial de Base
CESP – Com panhia Energét ica do Est ado de São Paulo CNA – Confederação Nacional da Agr icult ur a
COCAMP – Cooper at iva dos Assent ados do Pont al
CODASP – Com panhia de Desenvolvim ent o Agr ícola do Est ado de São Paulo CONTAG – Confeder ação Nacional dos Tr abalhador es na Agr icult ur a
CPT – Com issão Past oral da Ter r a
CSCF – Cent r o de Solução de Conflit os Fundiár ios CUT – Cent ral Única dos Tr abalhador es
DAF – Depar t am ent o de Assent am ent o Fundiár io DRF – Depar t am ent o de Regular ização Fundiár ia
FAESP – Feder ação da Agr icult ur a do Est ado de São Paulo FUNDUNESP – Fundação par a o Desenvolvim ent o da UNESP
GEBAM – Gr upo Execut ivo de Ter r as par a a Região do Baixo Am azonas GETAT – Gr upo Ex ecut ivo das Ter r as do Ar aguaia- Tocant ins
I AF – I nst it ut o de Assunt os Fundiár ios
I BAMA – I nst it ut o Br asileir o de Meio Am bient e I BRA – I nst it ut o Br asileir o de Refor m a Agr ár ia
I NCRA – I nst it ut o Nacional de Colonização e Reform a Agrária I NDA – I nst it ut o Nacional de Desenvolvim ent o Agr ár io
I TESP – I nst it ut o de Ter r as do Est ado de São Paulo MAB – Movim ent o dos At ingidos por Bar r agens MDA – Minist ér io do Desenvolvim ent o Agr ár io
MI RAD – Minist ér io Ext raor dinár io par a o Desenvolvim ent o e a Reform a Agrária MPF – Minist ério Ex t raordinário da Polít ica Fundiár ia
MST – Movim ent o dos Tr abalhador es Rur ais Sem Ter r a; Movim ent o Sem Ter r a. ONU – Or ganização das Nações Unidas
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PM – Polícia Milit ar
PMDB – Part ido do Movim ent o Dem ocrát ico Brasileiro PNRA – Plano Nacional de Refor m a Agr ár ia
PR- 10 – Pr ocur ador ia Regional da 10ª RA – President e Pr udent e PROCERA – Pr ogr am a de Cr édit o Especial par a a Refor m a Agr ária PSDB – Par t ido da Social Dem ocr acia Br asileir a
PT – Par t ido dos Tr abalhador es PTB – Part ido Trabalhist a Brasileir o RA – Região Adm inist r at iva
SAA – Secret ar ia da Agr icult ur a e Abast ecim ent o
SEAF – Secret aria Ex t raordinária de Assunt os Fundiários SENAC – Ser viço Nacional do Com ér cio
SJDC – Secret ar ia da Just iça e da Defesa da Cidadania SRB – Confederação Rural Brasileira
STF – Suprem o Tr ibunal Feder al STJ – Superior Tr ibunal de Just iça
SUPRA – Super int endência da Refor m a Agr ár ia TDA – Tít ulo da Dívida Agr ár ia
TJ – Tr ibunal de Just iça
UDR – União Dem ocrát ica Ruralist a UNESP – Univer sidade Est adual Paulist a UNI CAMP – Univer sidade de Cam pinas USP – Universidade de São Paulo
SI GLAS UTI LI ZADAS PARA A I MPRENSA:
CB – Jornal Correio Brasiliense
DGABC – Jor nal Diár io do Gr ande ABC DP – Jor nal Diár io Popular
FSP – Jor nal Folha de São Paulo FT – Jor nal Folha da Tar de JB – Jor nal do Br asil JT – Jor nal da Tar de
OESP – Jornal O Est ado de São Paulo OG – Jornal O Globo
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IN TROD U ÇÃO... 1
CAPÍ TULO 1 :PON TAL D O PARAN APAN EM A, UM A HI STÓRI A D E CON FLI TO. ... 1 9 1.1. VI OLÊNCI A E PODER... 26
1.2. NOVOS VENTOS NO PONTAL... 32
1.3. OPONTAL É VERMELHO... 49
1.4. ACHAMA DE UMA BANDEI RA... 55
CAPÍ TULO 2 :OS ATORES E SUAS CI RCU N STÂN CI AS ... 6 9 2.1. OS SENHORES DA TERRA... 72
2.2. OS COMPANHEI ROS DE LUTA... 86
2.3. AGENTE DO ESTADO... 97
C CAAPPÍÍTTUULLOO33::CCOONNVVIICCÇÇÕÕEESSEEMMCCOONNSSTTRRUUÇÇÃÃOO.. ... 1 2 1 3.1. OS ALI CERCES... 127
3.2. UM GRANDE QUEBRA- CABEÇA... 143
CAPÍ TULO 4 :CON FLI TOS E ACORD OS EM ESPI RAL... 1 6 3 4.1. OS PONTOS DE DI SCÓRDI A... 173
4 4..11..11..AAQQUUEESSTTÃÃOODDOOSSPPRRAAZZOOSS... 173
4 4..11..22..AAQQUUEESSTTÃÃOODDAAOOBBTTEENNÇÇÃÃOODDAATTEERRRRAA... 182
4 4..11..33..AAQQUUEESSTTÃÃOODDAASSEELLEEÇÇÃÃOODDAASSFFAAMMÍÍLLIIAASS... 191
4 4..11..44..AAQQUUEESSTTÃÃOODDOOAASSSSEENNTTAAMMEENNTTOOPPRROOVVIISSÓÓRRIIOO... 205
4.2. DI AS DE MUDANÇA... 227
4 4..22..11..AABBAATTAALLHHAADDOOSSAARRGGUUMMEENNTTOOSS... 228
4 4..22..22..UUMMAALLOONNGGAAJJOORRNNAADDAA... 238
4.3. ANO NOVO,VI DA NOVA. ... 245
4.4. OVÔO DO BESOURO... 284
CAPÍ TULO 5 :HON RA, AM OR E ÓD I O N OS CON FLI TOS D O PON TAL. ... 2 9 3 5.1. DESAFI OS DE HONRA... 300
5.2. CÓDI GOS E COMUNHÃO... 309
5.3. COMPETI ÇÃO, AUTORI DADE E CARI SMA... 324
5.4. REDES DE PODER... 332
XXI I
CAPÍ TULO 6 :MED I AÇÃO, NEUTRALI D AD E E RELAÇÕES D E POD ER. ... 3 5 7
6.1. OPODER-SABER E AS PRÁTI CAS DO DI REI TO. ... 364
6.2. MEDI AÇÃO E PODER. ... 369
6.3. DE PARTE A MEDI ADOR, DE MEDI ADOR A PARTE. ... 377
CON CLUSÕES... 3 9 9 REFERÊN CI AS BI BLI OGRÁFI CAS... 4 1 1
DOCUMENTOS ... 419
PERI ÓDI COS ... 420
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Uma Ponta de Saudade
Pontal do Paranapanema
A palavra evoca lembranças de dor, de sofrimento Sol e calor causticante nas planícies imensas e nuas Pessoas de olhar suplicante ou desafiador
Um dia no Pontal eu vi as cinzas do incêndio provocado Fruto maduro da incompreensão e da arrogância
Porteiras fechadas, cercas farpadas, ouvidos lacrados, palavras duras Conflito
E quando fecho os olhos e volto ao Pontal
Posso ver as lonas pretas que se estendem até bem longe Posso ouvir as histórias de luta e esperança
Posso sentir o cheiro de suor e poeira, e imaginar
Pés calejados, mãos ásperas do trabalho duro, corpos cansados Mas ainda assim os sorrisos brotam espontâneos
Tão miraculosos como as plantações de quem nada tem Doces e inacreditáveis como frutos do mato na hora da fome Revigorantes como o jorro de água cristalina escorrendo nos cabelos Em um longo dia sob o sol
Em algum lugar do Pontal aprendi a ser mais humana A saber que não sei tudo que a vida pode ensinar E a ter paciência com o fluxo da vida
A suprema arte do camponês
Em algum momento no Pontal aprendi a ter mais sentimentos A ser mais simples em cada uma das minhas facetas
E simplesmente aceitar a dádiva da vida E então descobri a magia
Talvez quando eu voltar não encontre esse lugar de minhas lembranças
Talvez tudo tenha mudado
E a beleza esteja só em minha visão interior Mas ainda assim eu vou voltar
Porque Pontal lembra mudança E no final um saldo bom
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NNTTRORODDUUÇÃÇÃOOTodo esse j ogo de difer enças é pr escr it o pela função do aut or , t al com o a r ecebe de sua época ou t al com o ele, por sua vez, a m odifica. Pois em bor a possa m odificar a im agem t r adicional que se faz de um aut or , ser á a par t ir de um a
nov a posição do aut or que r ecor t ar á, em t udo o que
poder ia t er dit o, em t udo o que diz t odos os dias, a t odo m om ent o, o per fil ainda t r êm ulo de sua obr a
( FOUCAULT, 2004: 29) .
Pont al do Par anapanem a. Pr im eir a par ada: Pr esident e Pr udent e. Maio de
2005, seis hor as da m anhã.
Desço do ônibus, m eio am ar fanhada, sonolent a, num a r odoviár ia com cheir o
e car a de dez anos at r ás. Dor m i pouco. A sem ana t oda com a sensação de que o t únel do
t em po se abr ia. A viagem que sacolej ou a noit e int eira é a m esm a que eu fazia em 1995,
quando er a Dir et or a do Depar t am ent o de Assent am ent o Fundiár io do I nst it ut o de Ter r as
do Est ado de São Paulo – o I TESP. Tom o um café na rodov iár ia ( a m esm a v elha
lanchonet e...) e vou dir et o pr o t r abalho. Com o ant es, quando o Pont al ficou fam oso pelos
conflit os pela t er r a que ganhar am reper cussão nacional e int er nacional.
O escrit ór io do I TESP em Prudent e m udou. Muit a gent e saiu, eu sei. Chego
cedo, ant es do escr it ór io abr ir e esper o o dia com eçar . Um ou out r o dos ant igos faz fest a,
a m aior ia cum pr im ent a num m ist o de t im idez e surpresa, quase incredulidade. Afinal, eu
j á hav ia deix ado há m ais de t rês anos a direção do I TESP e nunca m ais est iv era na
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Meu t rabalho t am bém m udou: essa foi m inha prim eira v iagem de cam po para
a pesquisa do Mest r ado na Univer sidade Federal do Cear á, Est ado que é o novo lar de
m inha fam ília. Agr onom ia, Dir eit o e agor a Sociologia? Per gunt am - m e os am igos
sur pr esos com a decisão de m or ar no Cear á. Novos conceit os, novas linguagens, t am bém
por isso, o Mest r ado r epr esent a par a m im um gr ande desafio. Depois de quase duas
décadas env olv ida em at iv idades execut ivas na área agrária e algum a aproxim ação
t ópica com a Academ ia, volt ar a est udar par ecia um m er gulho em águas desconhecidas.
Para m inha felicidade, as águas no Cear á são t épidas.
Com ecei o Mest rado com m uit os receios: t alv ez t er part icipado t ão
int ensam ent e dos episódios do Pont al pudesse pr ej udicar de algum m odo à pesquisa;
t alvez eu não conseguisse exer cer o dist anciam ent o acadêm ico, t endo vivido o obj et o de
est udo; t alvez as pessoas não m e r ecebessem adequadam ent e, t endo sido t ão polêm ico
aquele per íodo; t alv ez ninguém m e dissesse a ver dade, ou pelo m enos a sua ver dade,
não para m im ; t alv ez eu j am ais deix asse de ser quem eu fui.
No pr oj et o1 que enviei à Univer sidade, m anifest ei a pr et ensão de r ealizar a análise com parat iva da m ediação de conflit os no Pont al ent re fazendeiros e t r abalhadores
r ur ais, em lut a pela t er r a, em que o papel de m ediador coube pr eponder ant em ent e ao
Execut ivo Est adual, com out r a sit uação de m ediação vivida no Tocant ins, dessa feit a
com binando a at uação do Minist ér io Público Est adual e a m ediação pr ivada cont r at ada
pela em pr esa const r ut or a de um a hidr elét r ica, nos conflit os havidos ent r e a em pr esa, os
r eassent ados r ur ais e diver sas pr efeit ur as e inst it uições públicas em t or no dos im pact os
or iundos do em pr eendim ent o. Mas am bas enquadr am - se na sit uação de conflit o colet ivo
r ur al de gr andes pr opor ções, em que há m últ iplos int eresses em j ogo, incluindo o
int er esse público, ent ão essa sem pr e é um a m ediação sui generis.
Assim , a com plexidade dos casos e as dificuldades r elat ivas à int er face da
sociologia com o dir eit o, no que r espeit a ao conceit o de m ediação e seu enquadr am ent o
j ur ídico, fez- m e opt ar pela apr ox im ação do foco, m er gulhando m ais fundo na análise dos
conflit os do Pont al, t r ansbor dando das prát icas de m ediação para as r elações
desenvolvidas ent r e os at or es sociais, explícit as ou ocult as, que se t r avar am no
desenr olar daquele caso.
Meu per cur so m et odológico iniciou com um r ot eir o dos acont ecim ent os, que
escr evi de m em ór ia, t ent ando seguir a or dem cr onológica em que acont ecer am , em bor a
isso não sej a de t odo possív el. Ent ão iniciei o t r abalho de cam po, pesquisando not ícias de
1 O t em a da pesquisa havia sur gido num a conv er sa elet r ônica com o Pr of. Ricar do Abr am ovay, pesquisador
not ável, am igo e ex- com panheir o do Conselho Cur ador da Fundação I TESP: Por que você não faz um a r eflex ão
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j or nal pela I nt er net e r esgat ando em m eu arquivo pessoal, de disquet es e papéis ant igos,
r ecor t es de j or nal, m apas, docum ent os, anot ações e inúm er os depoim ent os r ealizados
em 1998, par a a elabor ação de cer t o ‘livr o do I TESP’ que at é hoj e não foi edit ado. Tive a
sor t e de obt er acesso ao “ Clipping SJDC” , um enorm e conj unt o de m at erial j ornalíst ico
r eunido em cinco volum es pela assessor ia de im pr ensa da Secr et ar ia da Just iça e da
Defesa da Cidadania do Est ado de São Paulo, cobr indo t oda a at uação da Past a ent r e os
anos de 1995 e 1998. Tam bém obt ive, at r avés da Bibliot eca da Câm ar a Feder al, os
depoim ent os pr est ados em 1997 por pr efeit os m unicipais, r epr esent ant es do Est ado, dos
fazendeir os e do Movim ent o dos Tr abalhador es Rur ais Sem Ter r a ( MST) , em um a
Com issão Ext erna relat iva aos conflit os do Pont al do Par anapanem a.
Com a incer t eza t ípica do pesquisador de pr im eir a v iagem , com ecei a aplicar
as prim eiras ent rev ist as. De um rot eiro de pergunt as inicial absurdam ent e det alhado
evoluí par a um a conver sa m ais solt a que focava m eus int er esses fundam ent ais: os
conflit os, os acor dos, a conver são de um em out r o e do out r o em um . E à m edida que
m er gulhava cada vez m ais fundo nesse m ar de lem br anças, m eu obj et o de est udo foi se
delineando m ais clar am ent e. I nt er essava- m e saber a v isão que cada um t inha sobr e os
conflit os do Pont al e quem os int egr ava. Qual er a o conflit o? Com o ele se const it uía?
Quem er am as par t es? Qual o papel de cada um a? O Est ado er a o m ediador ? I nvest igava
em que posição no conflit o cada um via a si, com o at or social, e aos out r os que com ele
int er agiam , com o essa r elação se dava e o que m ot ivava conflit os e acor dos.
Pr ocur ei ouvir t odos os segm ent os e per cor r er os t r ês vér t ices do t r iângulo
for m ado pelo Est ado, fazendeir os e sem - t er r a, invest igando t am bém suas divisões
int er nas r elacionadas ao obj et o de est udo. Dest aco alguns m om ent os que m e for am
especiais.
Ouvi m uit os pr ofissionais do I TESP. Há m ais ent revist as com eles do que com
pessoas dos dem ais segm ent os e apr esent o m inhas r azões par a isso: a pr incipal é m eu
int er esse em ent ender os m ecanism os que levar am o ‘Est ado’ a agir de for m a t ão
diferent e dos aparat os públicos em ger al; out r a foi pr ovavelm ent e a m inha pr ópr ia
insegurança inicial ver sus o fat o de que a agor a ent r evist ador a t inha sido ‘a chefe’ por
set e anos consecut iv os ( I sso influenciar ia as r espost as?) ; por fim , os laços afet ivos que
m e pr endem a esses t écnicos, que j á cham ei m eus ‘m eninos’ e que m e r eceber am com
t ant o car inho2. Tant os quer iam ser ouvidos! Tant as hist ór ias par a cont ar ! Com ovent es,
2 Pelos m esm os bons m ot ivos, com ligeir a var iação, t am bém dediquei especial at enção aos m eus out r or a
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alegr es, t r ist es, sur pr eendent es... E inúm er as, quase t odas as ent r evist as m ar cadas por
vozes em bar gadas de em oção.
Com os assent ados em Mir ant e houve um a car act er íst ica m uit o especial.
Cheguei em suas casas sem avisar , num final de sem ana, a bor do do m esm o fusquinha
br anco com que t ant as vezes m e avent ur ei pelo Pont al em com panhia dos m eus
‘m eninos’. Depois da surpresa inicial ( Não acr edit o! ! Olha quem est á aqui! ) , as
dem onst r ações espont âneas de alegr ia e a hospit alidade sim bolizada na visit a ao sít io
( Venha ver o que nós fizem os! ) confir m avam a gener osidade que sem pr e os
car act er izou. Havia t ant o or gulho em sua voz quando m e m ost r avam suas cult ur as e
const r uções! Tant a vit ór ia no olhar quando m e apr esent avam filhos sor r ident es, na
univer sidade ou a cam inho dela, t écnicos agr ícolas, secundar ist as... ( Conseguim os t udo
da t er r a...) ! As ent r ev ist as acabavam vir ando r odas de conver sas em que fam ílias
int eiras part icipav am , anuindo, div ergindo, r indo, dando det alhes, explicações,
com plem ent ando as hist ór ias uns dos out r os, enr iquecendo a t odos nós.
Quer o declar ar que fiz par t e dessa hist ória, com ela m e em ocionei m uit as
vezes. E guar do vívidas lem br anças disso t udo.
Esse não é, no ent ant o, um livr o de m em ór ias, ainda que elas,
evident em ent e, est ej am pr esent es no est udo, algo assim com o um pont o de par t ida.
Esse não é t am bém um liv r o de hist ór ias, se bem que elas, nat ur alm ent e, vão r echeando
t odo o t ext o, m esm o sem o r igor nar r at ivo do hist or iador .
A palavr a escr it a nem sem pr e r epr oduz bem a palavr a falada3, nem sem pr e ficam per cept íveis a ênfase, a hesit ação, a em oção que t ransbor da, a r aiva, a alegr ia, a
ironia, a div er são, a lágr im a fur t iv a nos olhos, o em bar gado da voz... Muit as hist órias m e
for am confiadas... Tant os causos, det alhes, opiniões e lem branças às v ezes t ão pessoais.
No m om ent o de com eçar a escrev er pesa, sobret udo, a responsabilidade do uso que
dar ei a elas, o dever de r ecipr ocidade à confiança deposit ada na pessoa- pesquisador . Por
isso t am bém t ent o ser o m ais fiel possível às nar r at ivas.
A hist ór ia do Pont al é um a hist ór ia not ór ia, vivida por alguns per sonagens
conhecidos publicam ent e e out r os não. Sendo assim , opt ei por m ant er a denom inação
dos locais e as dat as, m ant er os nom es r eais das pessoas públicas, dos ‘fam osos’ por sua
posição pr ot agonist a ou exposição const ant e na m ídia, pr eser vando anônim os aqueles
que assim o for am no desenr olar dos fat os. A esses ident ificar ei por sua posição de at or
3 Adot ei no t r abalho a linha de t r anscr ever com o m áx im o de fidelidade as falas dos ent r ev ist ados, m ant endo
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social no m om ent o vivido na nar r at iva.
A dist ância de For t aleza às m inhas font es det er m inou ent r evist as em blocos,
com os ent revist ados sendo ouvidos em seqüência, nos hor ár ios m ar cados num a agenda
lot ada em que pr ocurava apr oveit ar ao m áxim o as viagens que pude fazer : a par t ir de
m aio de 2005, no Pont al, na cidade de São Paulo, em Brasília e at é em Palm as ( TO) ,
para onde m igraram profissionalm ent e diver sos ex- int egr ant es do I nst it ut o de Ter r as,
per egr inei por r esidências e escr it ór ios de t r abalho, r est aur ant es, bibliot ecas, saguões de
hot éis e aer opor t os, ent r evist ando t écnicos e dir igent es do I TESP, aut or idades e
pr ocur ador es do Est ado e da União, dir igent es do Sindicat o dos Fazendeir os e o prim eir o
President e da União Dem ocrát ica Ruralist a, a UDR, assent ados em Mirant e e lideranças
do Movim ent o dos Sem Ter r a, o MST, quase 60 pessoas. Alguns m e r eceber am com
sust o, out ros com alegr ia, m as a fr anqueza das r espost as m e sur pr eendeu. E a boa
r ecepção que t ive em t oda par t e aj udou a superar m eus receios iniciais em relação à
pesquisa, em que t em ia ser classificada ou r ot ulada de t al m odo que pr ej udicasse a
fluência das ent r evist as. Obviam ent e fui r ot ulada – ou m apeada, na per spect iva
apr esent ada por John Com er for d ( 2003) – e os ent r evist ados ‘sabiam ’ quem eu er a, de
um conhecim ent o const r uído na vivência com um daquele per íodo. Alguns depoim ent os
inclusive se dirigem a m im dir et am ent e ou fazem r efer ência à m inha par t icipação no
pr ocesso, o que t alvez fosse m esm o inevit ável.
Se esse conhecim ent o inegavelm ent e facilit ou m eu per cur so, por out r o lado,
fazer pesquisa t endo sido m ilit ant e é difícil, por que você t em que oper ar sobr e suas
pr ópr ias r epr esent ações4. Nesse sent ido, o m ais próx im o é m uit o m ais difícil, t ornando m ais const ant e e m ais cerrada a v igilância necessária par a exercer o dist anciam ent o
acadêm ico. Talvez por isso, e t am bém par a evit ar confundir m inhas pr ópr ias lem br anças
com a m em ór ia dos ent r evist ados, pr ocur ei gr avar t odas as ent r evist as. Escapou da
gr avação um a ou out ra conver sa t elefônica5.
Tent ei, m as não pude ent r evist ar alguns dos pr incipais per sonagens: José
Rainha, ausent e do Pont al nas duas vezes que lá est ive, a últ im a m ais um a vez for agido
de m ais um pedido de pr isão por cont a de suas at ividades com o lider ança da lut a pela
t erra; o ex - Minist ro Raul Jungm ann, agora deput ado feder al, ocupado dem ais com um a
das CPI sobre a cor r upção e depois com a cam panha cont r a a com er cialização de ar m as
no plebiscit o; o ex- pr esident e do I NCRA Milt on Seligm an e o ex- Pr efeit o de Mir ant e do
4 Nesse sent ido m e aler t ou a Pr ofª . Beat r iz Her edia, com quem t ive a opor t unidade de conv er sar sobr e m eu
t r abalho, dur ant e sua est ada com o pr ofessor a visit ant e na UFC.
5 Tam bém não há r egist r o escr it o das m uit as, int er m ináv eis, int er essant es e pr oveit osas conver sas com Ar t hur