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Propostas visando a adoção da justiça restaurativa no Brasil

Diante da inexistência de dispositivo legal que preveja uma metodologia às práticas restaurativas, sua operatividade vem se firmando através de programas brasileiros, e também seguindo os padrões da referida Resolução 2002/12 criada em 2002.

Sobre os programas que visam a aplicação da justiça restaurativa, Pallamolla (2009), afirma que no momento em que os programas ganham notoriedade,

começam a ser evitadas soluções violentas, que muitas vezes não são resolvidas no judiciário, pois as pessoas querem solucionar de forma privada, sendo assim, as práticas também aumentar o acesso à justiça.

Conforme afirma Sica (2009), a Resolução 2002/12, foi promovida pelo Conselho Social e Econômico - ONU, tal documento traz os princípios básicos para utilização de programas de justiça restaurativa em matéria criminal, sendo elaborado devido a ser necessário desenvolver um parâmetro guiador dos instrumentos da justiça restaurativa.

A Resolução 2002/12 do Conselho Social e Econômico da ONU divide-se em cinco capítulos, o primeiro abordando a terminologia acerca do programa da justiça restaurativa, e abrangendo o papel das partes perante essa metodologia.

Alguns dos dispostos mais importantes relacionados a terminologia seriam:

I – Terminologia

1. Programa de Justiça Restaurativa significa qualquer programa que use processos restaurativos e objetive atingir resultados restaurativos 3. [...] Resultados restaurativos incluem respostas e programas tais como reparação, restituição e serviço comunitário, objetivando atender as necessidades individuais e coletivas e responsabilidades das partes, bem assim promover a reintegração da vítima e do ofensor.

5. Facilitador significa uma pessoa cujo papel é facilitar, de maneira justa e imparcial, a participação das pessoas afetadas e envolvidas num processo restaurativo.

Após a supracitada Resolução explicar os conceitos referentes a essa modalidade de justiça, em seu segundo capítulo dispõe sobre a “utilização de programas de justiça restaurativa”. Sendo assim, os dispostos na 2002/12 mais relevantes sobre o tema expressam:

II. Utilização de Programas de Justiça Restaurativa

6. Os programas de justiça restaurativa podem ser usados em qualquer estágio do sistema de justiça criminal, de acordo com a legislação nacional

7. Processos restaurativos devem ser utilizados somente quando houver prova suficiente de autoria para denunciar o ofensor e com o consentimento livre e voluntário da vítima e do ofensor. A vítima e o ofensor devem poder revogar esse consentimento a qualquer

momento, durante o processo. Os acordos só poderão ser pactuados voluntariamente e devem conter somente obrigações razoáveis e proporcionais.

8. A vítima e o ofensor devem normalmente concordar sobre os fatos essenciais do caso sendo isso um dos fundamentos do processo restaurativo. A participação do ofensor não deverá ser usada como prova de admissão de culpa em processo judicial ulterior.

10. A segurança das partes deverá ser considerada ao se derivar qualquer caso ao processo restaurativo e durante sua condução. 11. Quando não for indicado ou possível o processo restaurativo, o caso deve ser encaminhado às autoridades do sistema de justiça criminal para a prestação jurisdicional sem delonga. Em tais casos, deverão ainda assim as autoridades estimular o ofensor a responsabilizar-se frente à vítima e à comunidade e apoiar a reintegração da vítima e do ofensor à comunidade.

Dando seguimento, o capítulo III da Resolução 2002/12 tutela sobre as “operações dos programas restaurativos”, e de como essas ficam em conformidade de acordo a como cada Estado irá implantá-la se sua legislação abre essa possibilidade de alternância, os casos também variam de acordo com a permissão em condições em cada país.

No tocante a recepção da Resolução 2002/12, no capítulo III, Sica (2009, p. 423) explica:

Há uma preocupação marcante quanto às garantias das partes, expressa por disposições como aquelas do artigo 13 (a) e (b): de acordo com a lei nacional as partes devem ter o direito de assistência legal em relação ao procedimento restaurativo e, antes de firmarem um acordo, ambos devem estar informados de seus direitos, da natureza do processo e das consequências daquela sua decisão. A Resolução encerra-se com uma saving clause: “23. Nenhum destes princípios básicos pode afetar quaisquer direitos de ofensor ou vítima, estabelecidos na lei nacional ou em lei internacional aplicável.”

À vista do exposto, Sica (2009) aduz que cada país estabelece os casos à quais estarão sujeitos a justiça restaurativa, e devem ser condizentes com a recepção estabelecida nos programas implantados, ressalta-se que a presente resolução é uma norteadora da justiça restaurativa que guia programas inerentes à essa em diversos países, porém, não traz obrigatoriedade.

Por último, concerne mencionar o disposto no capítulo IV da presente Resolução, ao qual é elencado sobre o “desenvolvimento contínuo de programas de justiça restaurativa” ao qual é importante frisar:

IV. Desenvolvimento Contínuo de Programas de Justiça Restaurativa 20. Os Estados Membros devem buscar a formulação de estratégias e políticas nacionais objetivando o desenvolvimento da justiça restaurativa e a promoção de uma cultura favorável ao uso da justiça restaurativa pelas autoridades de segurança e das autoridades judiciais e sociais, bem assim em nível das comunidades locais.

Destarte, a matéria exposta no capítulo IV da Resolução incentiva os Estados a criarem seus próprios programas e estratégias, respeitando os princípios básicos instaurados pela metodologia da justiça restaurativa, mas em sua prática ela é flexível para encaixar-se nas mais diversas situações, desde comunidades locais, no âmbito social e judicial.

Ante o exposto, após a compreensão do que rege a Resolução 2002/12 da ONU, também deve-se esclarecer sobre os principais programas que foram implantados no Brasil inspirados em estudos sobre a justiça restaurativa, e a presente resolução.

Conforme Lara e Orsini (2013), a justiça restaurativa foi se popularizando em alguns países, e seus estudos foram sendo observados na prática, através disso ela ganhou notoriedade sob o olhar de estudiosos do sistema penal, e no Brasil com a implantação da Secretaria da Reforma do Judiciário, em 2003.

Ademais, cabe expor segundo Adriana Goulart de Sena Orsini e Caio Augusto Souza Lara (2013, p. 308):

Com a finalidade de expandir o acesso dos cidadãos à Justiça e reduzir o tempo de tramitação dos processos, em dezembro do mesmo ano, a entidade firmou acordo de cooperação técnica com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, iniciativa esta que gerou o Programa de Modernização da Gestão do Sistema Judiciário. A Justiça Restaurativa passou a ser uma das áreas de atuação conjunta das duas entidades.

Diante disso, afirmam Lara e Orsini (2013), que o PNUD, recebeu apoio financeiro e implantou a justiça restaurativa em 3 projetos, na cidade de Brasília – DF, Porto Alegre – RS e São Caetano do Sul – SP. Após isso o PNUD lançou uma coletânea de artigos que contribuíram para implementar a ideia de restauração na justiça.

Além do mais, continua Lara e Orsini (2013), para incentivar projetos pilotos e sua elaboração, o Governo Federal aprovou o Decreto n° 7.037 de 2009, que tutela o 3° Programa Nacional de Direitos Humanos.

Dessa forma, sobre os projetos implantados no modelo restaurativo, Patrice Schuch (2008 p. 501) descreve:

No caso brasileiro, as propostas de implementação de formas não

violentas de resolução de disputas encontraram eco,

fundamentalmente, em projetos de reformulação judiciária e no engajamento de agências e agentes diversos envolvidos com a promoção da paz e da não-violência. Quando consideramos os projetos judiciários, tais propostas encontram-se associadas aos projetos descritos como de “modernização” da justiça. Os objetivos de tal política giram em torno da ampliação do acesso à justiça, redução da morosidade do aparelho judiciário, informalização da justiça e participação comunitária nos processos de resolução de conflitos, encontrando um modo de promoção no país através da “Secretaria de Reforma do Judiciário”, vinculada ao Ministério da Justiça. Esse órgão baseia seus investimentos em dois grandes focos de preocupação: o incremento técnico e a humanização do sistema de justiça brasileiro. A implantação da justiça restaurativa no Brasil insere-se nesse segundo eixo de trabalho, reunindo apelos de modernização da justiça com promoção da paz e ensejando a produção de novos procedimentos de produção da verdade.

Portanto, em outras palavras, abre-se a possibilidade de uma nova forma de lidar com o conflito, onde a Secretaria de Reforma do Judiciário, implanta as práticas restaurativas, sendo tutelado pelo Ministério Público.

É nesse sentido, que Pinto (2005, p. 34) dispõe:

Os casos indicados para uma possível solução restaurativa, segundo critérios estabelecidos, após parecer favorável do Ministério Público, seriam encaminhados para os núcleos de justiça restaurativa, que os retornaria ao Ministério Público, com um relatório e um acordo

restaurativo escrito e subscrito pelos participantes. A Promotoria incluiria as cláusulas ali inseridas na sua proposta, para homologação judicial, e se passaria, então, à fase executiva, com o acompanhamento integral do cumprimento do acordo, inclusive para monitoramento e avaliação dos projetos-piloto e, futuramente, da Justiça Restaurativa institucionalizada como uma ferramenta disponibilizada universalmente aos cidadãos e às comunidades.

Á vista disso, segundo Lara e Orsini (2013), se o acordo não for cumprido em fase de execução após sua homologação, o processo é instaurado novamente na justiça comum.

Porém, pelo processo humanizado, onde as partes dialogam, e também há o princípio de voluntariedade, se fazem raros os casos onde a execução do acordo não se faça cumprida.

Ademais, é fato notório que apesar de resultados positivos, uma justiça considerada moderna e experimental recebe críticas perante seus métodos e enfrenta desafios e impactos na justiça criminal, devido a esse fato exposto, será visto no próximo subtítulo sobre essa problemática.

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