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Protagonismo dos Movimentos Sociais do Campo

1.2. A LUTA POR UMA EDUCAÇÃO NO CAMPO E DO CAMPO

1.2.1 Protagonismo dos Movimentos Sociais do Campo

O campo brasileiro está, no momento, tenso e conflituoso, próprio da contradição de classe, pois o modelo de produção da agricultura capitalista exclui os sujeitos do seu próprio território. Nesse cenário de exclusão, surgem as forças contra-hegemônicas, na linguagem de Gramsci, como forma de impedir o avanço das políticas que provocam a exclusão social, o

aumento da pobreza, a degradação da qualidade de vida, o crescente aumento da desigualdade social, a barbárie da humanidade e o surgimento de um novo ator histórico, enquanto agente que se mobioliza para efetivar as mudanças sociais e lutar por uma política de Reforma Agrária.

Desse modo, considera-se movimento social, do ponto de vista terminológico, como ação, mobilização. Do ponto de vista conceitual, existem diversas definições que vão desde as correntes teóricas do liberalismo até as visões teóricas do marxismo na analise da sociedade de classes.

No que se refere aos movimentos sociais do campo, a luta é pela modificação das estruturas latifundiárias. Tornaram-se sujeitos da ação política contra a exploração social, propondo uma reforma agrária que atenda aos direitos da classe de trabalhadores rurais. Por isso, os movimentos sociais do campo falam de liberdade para os sujeitos do campo, conforme o conceito de movimentos sociais de Alain Touraine (apud GOHN, 1997, p.145), “os movimentos sociais falam de si próprios como agente de liberdade, de igualdade, de justiça social ou de independência nacional, ou ainda como apelo a modernidade ou à liberação de forças novas, num mundo de tradições, preconceitos e privilégios”

Observando-se os movimentos históricos da luta pela terra, desde a guerra de Canudos na Bahia, em 1897, e de outros movimentos que aconteceram no Brasil, como a Guerra do Contestado em 1904 e o Movimento do cangaço em 1930, pode-se concluir que esses não pleiteavam uma reforma agrária irrestrita, ou seja, em todo território nacional, mas foram movimentos de contestação regional que serviram para mostrar a exploração a que o homem do campo era submetido.

A luta pela Reforma agrária4 no Brasil tem uma história recente, de 1954 a 1964, quando surgiram as organizações que lutavam pela reforma agrária, sendo a principal delas as Ligas Camponesas, na década de 1950 e foram reprimidas violentamente no período da ditadura militar. Mas, de forma contraditória, é durante a Ditadura Militar que foi institucionalizada a Reforma Agrária. O Estatuto da Terra demonstrou a forte concentração de terras nas mãos dos fazendeiros e latifundiários e a maioria dos brasileiros vivendo sem terra e trabalho.

Atualmente, entre os movimentos sociais surgidos no Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra tem ocupado lugar de destaque na luta pela reforma Agrária e é considerado como um movimento revolucionário mais importante da América Latina. O

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A história da luta pela terra no Brasil e a formação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra será tratada mais detalhadamente no próximo capítulo.

MST surge em 1979, através da Comissão Pastoral da Terra – CPT e, em 1980, acontece o congresso do MST, com o lema “Terra para quem nela trabalha”. Mas, foi a partir da década de 1990 que o MST começou a se expandir na luta contra o latifúndio e o agronegócio. As estratégias de luta do movimento são a ocupação de terras improdutivas e de prédios públicos, como tática para conseguir o diálogo com os governos federais e estaduais.

Contudo, o MST e os outros movimentos sociais5 e sindicais do campo, na contemporaneidade, entendem que somente a luta pela terra mediante processo de reforma agrária não garante a consolidação do processo de transformação social. Para tanto, lutam também, por uma educação e uma escola diferente para os sujeitos que trabalham, produzem e compõem suas vidas e histórias no campo.

Reivindicam o que está na Constituição de 1988, pois observa-se que, na prática, ainda se configura como um direito de uma parte da sociedade.Nesse contexto, os movimentos sociais do campo lutam contra os preconceitos e os privilégios como assinala Arroyo (2004, p.71) “estamos colocando a educação rural onde sempre deve ser colocada, na luta pelos direitos”.

Assim os trabalhadores, as trabalhadoras, os sem terras, os jovens, as crianças pleiteiam educação, pois são sujeitos de direitos que continuam a luta histórica como um direito universal. Logo, se a educação é um direito não pode ser tratada como política compensatória ou mercadoria. Deve ser uma política educacional de igualdade concreta, pois é o primeiro direito fundamental dos direitos sociais da nossa Constituição, e só com a mobilização dos movimentos sociais do campo poderá tornar efetivos esses direitos para os sujeitos do campo.

Nessa perspectiva, os movimentos sociais e sindicais do campo, inspirados nas reflexões de Paulo Freire, buscam implementar uma política educacional que respeite a experiência e as vivências da cultura dos sujeitos do campo, propondo mudanças nas políticas educacionais vigentes. Essas mudanças se materializam na construção de uma política pública da Educação do Campo como :

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É necessário ressaltar que existem vários movimentos sociais de luta pela terra. Alguns movimentos são organizados a nível nacional, a exemplo do MST e as Federações da agricultura vinculadas a CONTAG, e outros atuam a nível regional. Como exemplo, podem-se observar os movimentos sociais do campo que atuam no Estado da Bahia e que participam do Programa Nacional de Reforma Agrária - PRONERA, são eles: Pólo de Unidade Camponesa (PUC); Coordenação Estadual dos Trabalhadores Assentados e Acampados (CETA); Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAG); Movimento de Luta Pela Terra (MLT); Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais da Região do Sisal (FATRES).

[...] uma das principais características do paradigma da Educação do Campo: suas políticas públicas devem se construir com os sujeitos sociais e não para os sujeitos sociais. Planejar uma ação estatal com reais condições de intervir positivamente nesta realidade exige a participação ativa dos movimentos sociais na elaboração destas políticas públicas. (MOLINA, 2004, p.83).

A participação dos movimentos sociais na construção dessas políticas públicas são extremamente importante e indispensável, pois, em cada cidade, Estado, assentamento, existe uma diversidade cultural, política, econômica e social. Por isso deve-se levar em consideração essas especificidades. Nesse contexto, as políticas públicas de Educação do Campo é uma conquista dos trabalhadores e trabalhadoras do campo.