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OU A PROTEÇÃO DO MATRIMÔNIO E DO CORPO

“Não adulterarás” (Êx 20.14; Dt 5.18).

“A família é o único fenômeno social, além do fenômeno religioso, que se encontra em todos os tempos e em todas as culturas.”1 No plano de Deus, a famOia é uma ordem da criação; foi instituída antes da queda (Gn 1.26-31; 2.18-25) e colocada sob a bênção divina (Gn 1.28).

Em termos positivos, o teor do sétimo mandamento é a proteção e santificação do matrimônio instituído por Deus. Na versão crítica, por sua vez, ele se torna bem mais amplo e específico, condenando qualquer imoralidade sexual, seja a fornicação, a prostituição, o adultério, o incesto, o homossexua- lismo masculino, o lesbianismo ou a sodomia (Lv 20.10-21).

João Calvino definiu o teor e a aplicação principal deste mandamento com • as seguintes,palavras: “A suma, portanto, será que nos não poluamos de qualquer imundície ou libidinosa incontinência. A isto corresponde o preceito afirmativo: que dirijamos todas as partes de nossa vida casta e continentemente. Proíbe, porém, expressamente, a fornicação, a que tende toda concupiscência, para que, por sua torpeza, que é mais crassa e mais palpável em que, de fato, até imprime ao corpo a (sua) mácula, nos conduza à abominação de toda concupiscência, qualquer que seja”.2

I. A versão positiva do sétimo mandamento

Ao percorrer a Saxônia, Lutero sentiu-se impulsionado a escrever o

Catecismo Menor, para que os evangélicos se livrassem de tanta miséria moral.3

ensinar os dez mandamentos com fidelidade e constância. O pai perguntava a seus filhos: “Não adulterarás. Que significa isso?” E eles respondiam: “Devemos temer e amar a Deus, de maneira que vivamos vida casta e decente em palavras e ações, e cada qual ame e honre seu consorte”.4

Gostaríamos, pois, de desenvolver a versão positiva deste mandamento sob quatro aspectos diferentes: a pureza sexual, a bênção matrimonial, a opção celibatária e a viuvez assumida.

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A PUREZA SEXUAL

A pureza sexual envolve ações, palavras e pensamentos. O salmista responde à pergunta: “De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho?” (SI 119.9) com as palavras: “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (SI 119.11). E Jesus Cristo ensinou que os limpos de coração são bem-aventurados porque verão a Deus (Mt 5.8).

O que contamina as ações é aquilo que está dentro do coração: “... do coração procedem maus desígnios” (Mt 15.19). Tiago aprendeu que nossas tentações têm origem na própria cobiça, que atrai e seduz o homem. A cobiça, por sua vez, dá à luz o pecado, e o pecado gera a morte (Tg 1.14,15).

A impureza sexual começa nos pensamentos, evolui nas palavras e culmina em ações erradas (pecado), que geram a morte. Para reverter este ciclo, é preciso vigiar para manter puros os pensamentos. É evidente que na medida em que nos inclinarmos para a carne cogitaremos da carne, e na medida em que nos inclinarmos para o Espírito cogitaremos das coisas do Espírito (Rm 8.5).

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A BÊNÇÃO MATRIMONIAL

O matrimônio é outro equivalente positivo para nos prevenir contra o adultério. O sexo praticado dentro do casamento monogâmico é o modo de satisfazer aquilo que seria concupiscência e levaria à promiscuidade se fosse perpetrado fora do casamento. Em 1 Coríntios 7.2, o apóstolo Paulo ensinou: "... por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa e cada uma o seu próprio marido”. Além dessa recomendação preventiva, Paulo diz também o seguinte: “Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado” (1 Co 7.9). Finalmente, ele recomenda aos casais: “Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e novamente vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência—(UCo 7.5). Nessas três referências, vemos que o funcionamento prático do matrimônio é a melhor

prevenção contra o adultério e qualquer espécie de impureza sexual.

Para termos uma visão mais completa do casamento, analisaremos seus aspectos fundamentais, tais como: definição de casamento; sua origem, natureza e funções; o início do casamento; os deveres mútuos; e as responsabilidades específicas do homem e da mulher.

1. Definição de casamento

O casamento é uma união íntima e verdadeira entre duas pessoas de sexos

opostos que manifestam publicamente o desejo de viver juntas.

Do ponto de vista cristão, o matrimônio é a relação amorosa entre um homem e uma mulher que, sob a orientação e direção de Deus, manifestam publicamente o desejo de pertencerem exclusivamente um ao outro, até que a morte os separe.

Pelo menos quatro aspectos são indispensáveis para um casamento: vontade e apreciação amorosa de ambas as partes, publicação oficial do desejo de convivência, cumprimento físico da união entre os parceiros e convivência real de cama e mesa: “Não tendes lido que o Criador desde o princípio os fez homem e mulher, e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?” (Mt 19.4, 5).

2. Origem do casamento

O casamento originou-se na mente e no coração de Deus. O Criador não queria que o homem vivesse só, por isso criou para o homem uma auxiliadora que lhe fosse idônea (Gn 2.18). O matrimônio é a primeira instituição criada por Deus, uma ordem estabelecida no paraíso (Gn 2.18-25).

3. Natureza do casamento

Quanto à natureza, o matrimônio cristão é uma aliança solene, um pacto sagrado, legal, monogâmico, público e social que dura toda a vida. E uma união de cama e mesa entre um só homem e uma só mulher que desejam viver juntos sob a orientação, direção e bênção divina.

O matrimônio é um pacto sagrado porque é uma instituição divina. Deus o

instituiu antes da queda, enquanto Adão e Eva ainda viviam em plena harmonia com seu Criador e Sustentador (Gn 1.27). Também é sagrado porque tem a aprovação de Deus para perpetuar a raça humana e porque está sob a bênção divina: “Deus os abençoou” (Gn 1.28).

O casamento é uma aliança solene entre um só homem e uma só mulher

que prometem fidelidade mútua até que a morte os separe. Esse pacto é subentendido em Provérbios 2.17; Ezequiel 16.8 e Malaquias 2.14. A promessa

de lealdade conjugal também está implícita no sétimo mandamento, porque o adultério é a infidelidade conjugal de uma das partes envolvidas.

O matrimônio só é legal quando legalizado. No Brasil, existem duas

maneiras de legitimar o matrimônio: o casamento civil realizado no cartório ou o casamento religioso com efeito civil, efetuado na igreja por um ministro ordenado e judicialmente habilitado. A Igreja Católica Romana tem convicções próprias bem definidas quanto ao aspecto legal do matrimônio. No direito canônico, ela exige a concretização do casamento independentemente das leis civis do estado secular. Eis a razão pela qual muitos católicos se casam apenas na igreja, embora esse casamento não tenha efeito civil, a menos que seja devidamente registrado no cartório.

A tradição e as convicções evangélicas sempre favoreceram o aspecto legal, civil do casamento. Em alguns países católicos, entretanto, principalmente na América Latina, isso nem sempre foi possível. No Brasil, o casamento civil foi introduzido com a criação da República e garantido pela primeira Constituição, em 1892. Antes, os evangélicos não podiam se casar legalmente, porque rejeitavam o casamento católico como o único legítimo. Muitos ministros evangélicos, porém, realizaram casamentos religiosos evangélicos e registraram o acontecimento em atas, juntamente com as assinaturas das testemunhas, até que o país, pela influência de liberais, maçons e dos próprios evangélicos, estabeleceu o casamento civil.

t O casamento é público e social. Isso é visto na festa, nos convites, no

registro civil, na mudança do sobrenome da mulher e na certidão de casamento. Não se pode nem deve negar ou subestimar a dimensão social do matrimônio. Sua preservação é uma questão social de interesse nacional. Uma nação só existe devido a seus núcleos familiares. A família é o lugar de proteção, procriação, afeição, compreensão, disciplina e educação. Para o estado moderno, mesmo quando são aprovados casamentos alternativos ou o divórcio, a família continua sendo uma realidade social indispensável, sem a qual é impossível manter a estabilidade política e a paz social.

O caráter público e social do casamento é fortemente salientado no Antigo Testamento. Em Gênesis 34.4; 38.6 vemos que os pais negociavam os casamentos. Em Gênesis 29.15-20, Josué 15.16 e Juizes 1.12 encontramos indicações de um dote. Em Gênesis 29.22 vemos que o chefe da família do noivo convidou todos os homens do lugar para um banquete. As vezes os convidados eram tantos que o vinho faltava (Jo 2.3). A festa era supervisionada por um mestre-sala (Jo 2.9, 10). As festividades se estenderam até sete dias no caso de Jacó e Lia (Gn 29.7), e até duas semanas no caso de Tobias e Sara (Tobias 8.20). O contrato de casamento em forma escrita é mencionado pela primeira vez em Tobias 7.14, sendo apresentado pelo pai da noiva.

Além da legitimidade, o ato de tornar público o enlace conjugal traz proteção, segurança, apoio e confiança aos recém-casados, o que é muito importante. O casamento em Caná (Jo 2) revela o caráter público e social do

matrimônio em sua perspectiva neotestamentária: Jesus Cristo apóia o matrimônio com Sua presença festiva.

O casamento é monógamo. A monogamia, como norma divina para o

bem-estar do homem, está implícita: na história de Adão e Eva, haja vista que Deus criou apenas uma esposa para Adão (Gn 2.18ss.); no decálogo, pois de outra forma o sétimo mandamento seria ilusório; na natureza, porque “não se pode ter um relacionamento único (de um só tipo) com mais do que uma só esposa";5 na vontade de Deus na criação (Gn 2.18-25); no ensino de Jesus Cristo (Mt 19.4-6); na experiência humana, haja vista que ciúmes e ódio são os resultados naturais do relacionamento poligâmico;6 e na ilustração do relacionamento entre Deus e Seu povo (Jr 3; Ez 16; Os 1-3), e entre Cristo e Sua Igreja (Ef 4.22-33).

O matrimônio é uma união permanente que só pode ser anulada pela morte

de um dos cônjuges (Rm 7.1ss.; 1 Co 7.39; 1 Tm 5.14). “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19.6). E evidente que o caráter perpétuo do casamento exclui qualquer forma de divórcio, que Jesus qualifica como pecado (Mt 19.3-12) e que nunca corresponde à vontade divina para o homem (Mt 19.8). O plano de Deus é sábio e perfeito. Quando o casamento foi instituído, não havia espaça para a separação. O divórcio foi criado pelo homem por causa da dureza de seu coração, e não por causa de Deus.

O casamento é uma união de cama e mesa. O casamento não é uma união

teórica ou platônica. Um casamento sem relações sexuais é como um carro sem lubrificante nem combustível: não vai muito longe, não vai para lugar nenhum.

A função do sexo no casamento é unificar dois seres de sexos opostos. A Bíblia sustenta esta dimensão conjugal com a frase: “Os dois se tornarão uma só carne” (Gn 2.24; Mt 19.5, 12; 1 Co 6.16; Ef 5.31). Se, sob qualquer pretexto, a relação sexual nunca chega a ser concretizada num casamento, este pode ser anulado perante a lei, porque as relações sexuais estão implícitas num casamento verdadeiro.

4. Funções do casamento

O testemunho bíblico aponta cinco funções fundamentais do casamento: unificação, procriação, recreação, prevenção e glorificação.

Unificação matrimonial significa efetuar uma unidade íntima, sem igual,

entre duas pessoas de sexos opostos. O casamento leva duas pessoas de sexos opostos à unificação mais estreita possível, nos âmbitos físico, emocional, moral, ideal e espiritual. As referências bíblicas clássicas que sustentam a unificação como parte fundamental do casamento são Gênesis 2.24, Mateus 19.5,1 Coríntios 6.16 e Efésios 5.31. O matrimônio é uma união espiritual para glorificar a Deus, uma união emocional para o gozo do amor puro, uma união física para perpetuação da raça humana, uma união social para criação dos filhos num ambiente saudável e seguro, uma união preventiva contra a

impureza sexual.

A segunda função do casamento é a procriação. Os filhos são o resultado natural e biológico, porém não necessário, do matrimônio. Isso significa que o casamento é válido mesmo que não haja filhos; não perde seu valor e caráter, embora perca seu resultado biológico.

Quando nascem, os filhos precisam da união e da segurança fornecida pelo matrimônio feliz de seus pais. “No aspecto puramente biológico, a função da família é perpetuar a raça. Na família humana, porém, há outras funções um pouco menos importantes do que a básica de propagação da espécie. São funções econômicas, religiosas, protetoras, educacionais e de prestígio, que re­ cebem maior ou menor ênfase segundo a sociedade e a época.”7

Há várias histórias de filhos que não têm pais, de filhos cujos genitores passaram por uma separação dolorosa ou de filhos que passaram por problemas de falta de segurança e equilíbrio no lar. A procriação é uma função importante do casamento e tem a aprovação de Deus: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra” (Gn 1.28). Todavia, é bom lembrar que a procriação não é a única função do casamento, nem a mais importante. Se assim fosse, os casais deveríam separar-se quando a mulher deixasse de ser fértil (geralmente por volta de 45 anos de idade).

Por outro lado, não podemos separar os filhos dos pais. A união inclui o “sim” para os filhos, que fazem parte do casamento e correspondem à vontade criadora de Deus. Eles são uma bênção do Senhor (Gn 1.27-30; 2.18; 2.21-24; Sl’127.3; Mt 19.3-6).

No plano de Deus, a recreação é a terceira função do casamento. Não se pode negar a volúpia sexual. A união física e o prazer sexual são “a reunião feliz daqueles que foram feitos um só pelo casamento. A satisfação que o sexo fornece é o prazer obtido da reafirmação do preito original do mútuo amor”.8

Sem o prazer do sexo, sem a união física, o casamento se torna platônico, estéril e ilusório. A verdadeira alegria vem somente com a união verdadeira, e a união verdadeira só existe onde há um relacionamento único e permanente entre um homem e uma mulher que se unem pelos laços do amor (1 Tm 4.3; 6.17).

As vantagens e o prazer das relações sexuais são recomendadas sem rodeios nas Sagradas Escrituras: “Bebe a água da tua própria cisterna, e das correntes do teu poço. Derramar-se-iam por fora as tuas fontes, e pelas praças os ribeiros de águas? Sejam para ti somente e não para os estranhos contigo. Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, corça de amores, e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias” (Pv 5.15-19); “goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste debaixo do sol” (Ec 9.9); “como és formosa, querida minha como és formosa! Os teus olhos são como os das pombas, e brilham através do teu véu.

Os teus cabelos são como o rebanho de cabras que descem ondeantes do monte de Gileade” (Ct 4.1); “que é o teu amado mais do que outro amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado, que tanto nos conjuras?” (Ct 5.9); “formosa és, querida minha, como Tirza, aprazível como Jerusalém, formidável como um exército com bandeiras” (Ct 6.4).

O casamento é uma forma de prevenção contra a imoralidade. O sexo praticado dentro do casamento monogâmico é a maneira de satisfazer aquilo que seria concupiscência e levaria à promiscuidade fora do matrimônio. Dentro dessa perspectiva, o apóstolo Paulo recomendou aos coríntios: “... por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa e cada uma o seu próprio marido” (1 Co 7.2); “não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e novamente vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência” (1 Co 7.5); e “caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado” (1 Co 7.9).

A quinta função do casamento é especificamente cristã: a glorificação de Deus. A família cristã não existe para seu próprio proveito e, sim, para trazer honra e glória a Deus. O cristão dá graças a Deus por tudo, em todas as circunstâncias, e exalta o nome do Senhor. Faz tudo em nome de Jesus, não vive mais para si mesmo, mas para Aquele que por ele morreu e ressuscitou (2 Co 5.15). O casamento é um estado propício para glorificar a Deus no corpo: “Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1 Co 6.20).

Assim, na unificação, procriação, recreação, prevenção e glorificação vemos um conjunto de funções para o bom funcionamento do lar. Vale redescobrir, revalorizar e reviver estes princípios benéficos, para que a pureza moral seja mantida e o glorioso nome de Deus exaltado.

5. Início do casamento

A questão do início do casamento foi levantada principalmente no século XX. Matrimônios não-legalizados, concubinatos e outras formas alternativas de casamento inquietam igrejas e organizações eclesiásticas.

O Novo Testamento não contém normas específicas e detalhadas quanto ao início do casamento: não é salientada a forma do casamento, mas sua realidade social (Mt 5.31, 32; 19.7; Jo 2.1ss.; 1 Co 7.1ss.). A teologia bíblica supõe que os primeiros cristãos se casavam conforme a praxe dos judeus ou de acordo com a tradição greco-romana.9 Surgem então quatro perguntas. Qual era a praxe dos judeus no Antigo Testamento? Como se caracteriza a tradição greco-romana? Quais os elementos especificamente cristãos no período neotestamentário? Quais as conseqüências morais para a situação presente?

distintos: o noivado, como início judicial do matrimônio, e o casamento público e festivo, como cumprimento prático (vivência real) do matrimônio. Por isso, a relação sexual entre uma noiva e outro homem que não o noivo era considerada adultério, e o castigo era o apedrejamento (Dt 22.23-24). É por isso que Maria, sendo noiva, foi chamada de esposa (Mt 1.20; Lc 2.5) e José queria separar-se dela (Mt 1.19). O noivado só podia ser dissolvido através do divórcio ou da morte de um dos parceiros.10

A tradição greco-romana favorecia uma espécie de mancebia socialmente reconhecida como matrimônio de fato, mas sem efeito legal. Em toda antigüidade, o casamento era um assunto particular com conseqüências públicas e legais. Era determinado pelos envolvidos (noivo, noiva e seus familiares), e não por uma instituição do Estado, e geralmente testemunhas caracterizavam seu aspecto público.11 O casamento não era considerado uma relação legal, mas uma realidade social.12 O consensus nuptialis (consentimento nupcial) dos envolvidos era reconhecido como sinal do matrimônio e na prática excluía o concubinato, porque, para a sociedade, o concubinato já era considerado casamento.13

O Novo Testamento pressupõe o matrimônio como instituição definida e como realidade social de caráter público. As novas dimensões matrimoniais tipicamente cristãs são a indissolubilidade e fidelidade conjugal (Mt 19.1-9; Mc 10.1-12; Rm 7.2; 1 Co 7.10, 12) e a presença real divina (Mt 19.6; Mc 10.9). Em Caná, Jesus apóia o matrimônio com Sua presença (Jo 2.1ss.).

Nos países civilizados e nos Estados modernos do século XX, o casamento civil sinaliza legalmente o início do casamento. Mundialmente, os evangélicos seguem esta forma e tradição cultural, embora isso não tenha nenhuma sustentação neotestamentária. Independentemente da expressão cultural do início do casamento, o cristão defende a vontade nupcial do casal, a legalização e o caráter perpétuo do casamento.

A vontade nupcial é declarada de forma diferente em cada cultura. Na nossa, mostra-se no relacionamento crescente entre os namorados e na promessa pública de pertencer um ou outro no noivado.

A legalização do casamento também varia de acordo com a cultura. No Brasil, é feita através do casamento civil no cartório, na presença do juiz, ou pelo casamento religioso com efeito civil na igreja. Em ambos os casos, em nossa cultura o casamento civil representa o aspecto público, social e legal do matrimônio, que oferece proteção e segurança ao casal.

O terceiro aspecto importante para o casamento cristão é seu caráter perpétuo, que se manifesta na fidelidade conjugal até a morte de um dos cônjuges, como ensinado e apoiado firmemente por Jesus e pelos apóstolos (Mt 19.1-9; Mc 10.1-12; Rm 7.2; 1 Co 7.10,12).

6. Deveres mútuos no casamento

O matrimônio é a convivência real de um homem e uma mulher, que em si são pessoas independentes e diferentes, mas que se uniram nos mesmos propósitos e ideais. A busca do consenso, a boa vontade, o diálogo constante e a tolerância são elementos indispensáveis para o sucesso do matrimônio. E o desejo dessa convivência que faz com que o matrimônio imponha deveres e responsabilidades aos dois. “A família é a instituição melhor adaptada para o treinamento do homem, para a proteção da infância e da mocidade.”14 Gostaria de mencionar sete deveres mútuos indispensáveis para o sucesso do matrimônio: fidelidade conjugal, afeição, cooperação, tolerância, submissão mútua, diálogo e perdão.

a. Fidelidade: ambos os parceiros devem ser fiéis em tudo o que se

relaciona com o matrimônio (convivência social, sexo, educação dos filhos, religião, profissão, finanças, alegrias e tristezas). Além de ilusória, a fidelidade que se limita apenas ao sexo é também morta. Ser fiel nas múltiplas relações matrimoniais é consolidar a própria base da sociedade.

b. Afeição: é preciso que o lar seja construído com amor verdadeiro.

Portanto, é um dever ético do casal conservar vivo o amor que serviu de base ao casamento. Para isso, devem-se evitar as ilusões do noivado e as emoções da