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2.2 A PROTEÇÃO E EXPLORAÇÃO DO CONHECIMENTO GERADO NAS

2.2.1 A proteção da propriedade intelectual

A propriedade intelectual consiste na “expressão genérica que corresponde ao direito de apropriação que o homem pode ter sobre as suas criações, obras e produções do intelecto, talento e engenho” (UFRGS, 2003, p. 45).

Isso é enumerado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em 1948, a qual afirma em seu Artigo XXVII, que “todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual seja autor” (ONU, 1948).

A Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI, 2004) define, de forma geral, a propriedade intelectual como os direitos legais que resultam da criação intelectual nos campos industrial, científico, literário ou artístico. Complementa ainda que os países têm leis para proteger a propriedade intelectual a fim de garantir os direitos morais e econômicos dos criadores e conferir a possibilidade à sociedade em acessar essas criações. A proteção desses direitos promove a criatividade e a disseminação da aplicação desses resultados, bem como encoraja o comércio de forma justa, contribuindo assim, para o desenvolvimento econômico e social.

O Brasil foi um dos primeiros países a regular os direitos de propriedade intelectual. Antes mesmo da independência de Portugal, o Alvará de 1809 do Príncipe Regente Dom João VI, já previa a concessão de privilégio de exclusividade aos inventores e introdutores de novas máquinas e invenções, como um benefício para a indústria e as artes (PIMENTEL, 2005).

A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, garantiu, em seu artigo 5º, inciso XXIX:

A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País (BRASIL, 1988).

Atualmente, o Direito da propriedade intelectual brasileiro abrange as criações intelectuais que podem resultar na exploração econômica comercial ou vantagem econômica para o criador ou titular e na satisfação de interesses morais dos autores. Assim, a propriedade intelectual relaciona-se a um conjunto de princípios e de regras que regulam a aquisição, o uso, o exercício e a perda de direitos e de interesses sobre ativos intangíveis diferenciadores que são suscetíveis de utilização no comércio (PIMENTEL, 2005).

A expansão da indústria, o crescimento dos serviços como gerador de trabalho, o avanço na difusão do conhecimento e o desenvolvimento tecnológico projetaram a propriedade intelectual como riqueza importante no patrimônio das pessoas físicas e jurídicas. Os ativos intangíveis têm ganhado cada vez mais valor, ao passo que, uma vez protegido pelo direito de propriedade intelectual, garante benefício econômico aos seus titulares (PIMENTEL, 2005).

Considera-se que o uso adequado da propriedade intelectual por parte dos agentes de inovação tecnológica – universidades, centros de pesquisa e empresas – constitui-se como um importante instrumento para o desenvolvimento econômico nacional (UFRGS, 2003).

Entretanto, embora a constituição dos direitos já tenha se estabelecido há muito tempo, o reconhecimento acerca da importância da propriedade intelectual no Brasil

e o seu uso como potencial de desenvolvimento econômico, seja por parte de universidades e centros de pesquisa, seja por parte das próprias empresas, ainda é muito pequeno (UFRGS, 2003).

Entende-se que instrumentos são requeridos para que os investimentos em P&D acarretem em obtenção de rendimentos decorrentes da transposição do conhecimento para o sistema produtivo. Estes instrumentos se configuram, por sua vez, em mecanismos formais ou informais de proteção. Os informais dizem respeito à elaboração complexa, manutenção secreta do conhecimento ou ainda à manutenção de lead time como monopólio temporário. Entretanto, tais mecanismos se apresentam como pouco eficientes para proteger inovações baseadas no conhecimento. Por outro lado, os mecanismos formais se constituem nos direitos exclusivos, legalmente garantidos e com limitação de prazo, como é o caso, por exemplo, das patentes de invenção (HAASE; ARAÚJO; DIAS, 2005).

A literatura contempla diversas teorias que discutem a importância do sistema de patentes para o sistema econômico, sendo Machlup (1961 apud HAASE; ARAÚJO; DIAS, 2005) o pioneiro no desenvolvimento destes estudos. Para este autor, existem quatro vertentes que justificam o referido sistema, que são a Teoria da Propriedade (trata do direito do inventor em tomar posse da sua invenção); a Teoria da Remuneração (baseia-se no direito do inventor em ser remunerado pela sua contribuição ao progresso tecnológico e como conseqüência, pelo serviço prestado à sociedade); Teoria do Contrato ou da Publicação (trata da compensação ao inventor em troca da publicação de uma nova solução a um problema técnico existente) e a Teoria dos Estímulos (considera a patente como instrumento jurídico para fomentar e incentivar o progresso econômico e tecnológico). Destaca-se a teoria conhecida na

literatura como Intellectual Property Rights, a qual estabelece como elemento central o critério de exclusividade dos direitos, possibilitando ao inventor dispor de sua propriedade (material e imaterial) e privar outros agentes do uso do seu bem, o que é inteiramente respaldado pela sociedade.

Algumas características do sistema patentário são importantes para o entendimento da sua finalidade:

a) “livre transferibilidade”, uma vez que corresponde a um título de cessão ou licenciamento que possibilita a transferência do conhecimento tecnológico ao setor privado;

b) mecanismo de proteção legal clássico, tradicionalmente existente e internacionalmente aceito;

c) monopólio jurídico (título legal por 20 anos), garantindo a proteção jurídica contra imitação e violação do conhecimento tecnológico;

d) proporciona maior eficiência dinâmica, ao estimular investimentos em P&D, fomentando, assim, o progresso técnico;

e) ocasiona efeito de ampliação da reputação do titular e comprovação de resultados benéficos que o uso das patentes trazem para a sociedade (HAASE;ARAÚJO; DIAS, 2005).

Neste sentido, nota-se que o sistema patentário, ao conferir direitos de propriedade aos inventores, possibilita que exista o retorno dos recursos investidos com a pesquisa, acarretando, como conseqüência, estímulo a investimentos em P&D. As patentes incentivam ainda o interesse da iniciativa privada na exploração produtiva da invenção, interesse que poderia ser prejudicado caso não houvesse a proteção jurídica da criação.

2.2.2 A proteção e a exploração econômica da propriedade intelectual em