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Protecção da propriedade intelectual de objectos de aprendizagem

5 Gestão da propriedade intelectual de objectos de aprendizagem

5.2 Protecção da propriedade intelectual de objectos de aprendizagem

5.2.1 Os problemas da visão tradicional de protecção de direitos de autor

Tradicionalmente, o acesso a repositórios de conteúdos educativos com protecção da propriedade intelectual é feito através de processos de autenticação que se baseiam no uso de pares utilizador/senha. Este esquema simples de protecção apresenta no entanto algumas lacunas graves. Por um lado, se um destes pares utilizador/senha se tornar conhecido do domínio público, de forma voluntária ou involuntária, passa a disponibilizar o acesso a utilizadores que não estão realmente autorizados. Por outro lado, este método não impede que um utilizador autorizado descarregue os conteúdos do servidor e os distribua massivamente através da Internet, através da sua rede de contactos ou serviços de partilha de ficheiros.

Normalmente, os legítimos proprietários dos conteúdos tentam evitar estes abusos usando declarações de direitos de autor e números de série, mas a realidade demonstra que estes métodos não são um verdadeiro obstáculo à violação de direitos de autor. A facilidade com que se podem copiar conteúdos digitais sem perda de qualidade, aliada à disseminação de

aplicações de partilha de ficheiros, pode provocar enormes prejuízos aos produtores de conteúdos educativos.

Perante estes factos, é legítimo concluir que os sistemas de protecção de propriedade intelectual que se baseiam unicamente em esquemas de autorização de acesso aos servidores de conteúdos não têm uma eficácia elevada. Uma forma de contornar esta vulnerabilidade envolve a implementação dos mecanismos de protecção nos próprios conteúdos, permitindo a sua cópia física mas inviabilizando a sua utilização de forma não autorizada.

5.2.2 Gestão de direitos digitais

Na secção anterior foi concluído que para ser realmente eficaz, a protecção da propriedade intelectual de conteúdos digitais tem que ser intrínseca aos próprios conteúdos. Estas questões são estudadas numa área de investigação designada “gestão de direitos digitais”7, que investiga os mecanismos de gestão da propriedade intelectual de conteúdos digitais. A abordagem fundamental das arquitecturas de gestão de direitos digitais, ilustrada na Figura 72, envolve a encriptação dos conteúdos, que só poderão ser visualizados em aplicações especificamente concebidas para proteger a propriedade intelectual desses conteúdos. Estas aplicações necessitam de uma licença específica para que o utilizador possa usar esses conteúdos encriptados. Se os conteúdos forem copiados, sem a respectiva licença não será possível visualizá-los.

Lic ença Conteúdos encriptados

+

Pode: Imprimir Visualizar

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liente com suporte DRM

Utilizadores

Figura 72 – Modelo fundamental das arquitecturas DRM

A licença pode ser atribuída a utilizadores ou dispositivos e define inequivocamente quais as operações que o utilizador ou dispositivo está autorizado a exercer e as condições em que o pode fazer. Essas operações abrangem vários aspectos, nomeadamente:

§ Utilização: por exemplo, utilizador, dispositivo, data, local;

§ Acções: por exemplo ler, ouvir, executar, imprimir;

§ Reutilização: por exemplo, copiar, modificar, anotar, redistribuir; § Comerciais: por exemplo, vender, emprestar, alugar.

Com este conjunto de permissões e restrições deverá ser possível codificar os mais variados casos de utilização, como por exemplo:

§ Um aluno adquire um curso a um fornecedor de conteúdos. Pode visualizar esse curso as vezes que quiser. Pode utilizar a área de transferência do sistema operativo para copiar certas partes de texto para outras aplicações. Pode imprimir certas partes de texto. Pode copiar o curso para outro computador uma única vez;

§ Um aluno compra um curso a um fornecedor de conteúdos segundo o sistema de micro pagamento por cada utilização. Cada vez que visualiza o curso é-lhe debitada uma pequena quantia. Não pode imprimir, nem copiar através da área de transferência. Não é autorizado a copiar o curso para outro computador;

§ Uma Universidade disponibiliza gratuitamente um curso a uma turma de alunos durante um mês. Após esse período, o curso continua com acesso gratuito apenas nos computadores da Universidade;

§ Um fornecedor de conteúdos reutiliza um objecto de aprendizagem de outro autor. Por cada novo licenciamento do conteúdo que utiliza esse objecto, o autor do objecto reutilizado tem direito a uma percentagem do valor desse licenciamento. A complexidade e variedade das situações a descrever requer a utilização de um vasto conjunto de regras estruturadas, permissões, restrições e sua combinação. Isto torna a descrição de direitos uma questão tão complexa que originou o desenvolvimento de linguagens específicas para a descrição de direitos digitais [XRML, 2002; ODRL, 2002; INDECS, 2000; MPEG21 2002; CEN/ISSS, 2003; LTSC/DREL, 2003].

Uma consequência interessante deste tipo de arquitecturas, em termos de modelo de negócio, reside no facto de o valor não estar nos próprios conteúdos mas sim nos direitos para a sua utilização. Os conteúdos podem mesmo ser distribuídos livremente, pois só com a respectiva licença poderão ser utilizados. O desenvolvimento de arquitecturas abertas de gestão de direitos digitais pode ser um passo muito importante para a criação de aplicações normalizadas que permitam a gestão e protecção da propriedade intelectual de conteúdos digitais [Iannella, 2001], incluindo objectos de aprendizagem.

5.2.3 Requisitos específicos dos objectos de aprendizagem

Dois bons exemplos de conteúdos clássicos com severas restrições no que respeita à protecção da sua propriedade intelectual são o cinema e a música. Este tipo de conteúdos consiste normalmente em obras inteiramente originais, que não incluem trechos ou excertos externos protegidos com direitos de autor. Consequentemente, existe tipicamente apenas uma entidade que possui todos os direitos de autor da obra completa, o que facilita o modelo de negócio e as transacções financeiras.

No entanto, os conteúdos de eAprendizagem possuem algumas propriedades específicas que tornam o seu modelo de negócio e a gestão da propriedade intelectual bem mais complexos. De facto, sendo a promoção da reutilização de conteúdos um dos princípios basilares do conceito de objecto de aprendizagem, é possível que conteúdos de alto nível sejam compostos por objectos de aprendizagem de origens distintas, com ou sem direitos de propriedade intelectual. A Figura 73 mostra um exemplo de um hipotético objecto de aprendizagem cuja propriedade intelectual envolve pelo menos quatro entidades diferentes. Se alguns destes objectos exigirem algum tipo de licenciamento pela sua utilização o cenário complica-se definitivamente. No exemplo da figura, a propriedade intelectual do objecto A pertence à entidade X, pelo que se a utilização deste objecto for licenciada a uma entidade externa, será a entidade X a celebrar o contrato e a receber os respectivos pagamentos. No entanto, o objecto A inclui objectos com propriedade intelectual de outras entidades, pelo que esses objectos também devem ser licenciados, eventualmente com condições diferentes. Por outro lado, um dos objectos constituintes do objecto A, o objecto E, é também ele próprio constituído por outros objectos de mais baixo nível, pelo que a mesma abordagem se pode aplicar recursivamente até atingir os objectos de aprendizagem atómicos. Objecto A Proprietário: X Objecto B Proprietário : Y Objecto C Proprietário : X Objecto D gratuito Objecto E Proprietário : T Objecto F Proprietário : Z Objecto G gratuito Objecto H Proprietário : Y Objecto I Proprietário : Y

Figura 73 – Exemplo de integração de objectos de diferentes proveniências

A capacidade de integração múltipla de objectos não gratuitos de diferentes entidades em unidades de alto nível deve ser considerada nos modelos de gestão da propriedade intelectual dos conteúdos de eAprendizagem. Logicamente, as arquitecturas de serviços de eAprendizagem que recorrem à reutilização de objectos de aprendizagem devem suportar estes casos. Uma solução simples seria restringir este tipo de serviços a conteúdos gratuitos, mas como essa opção limitaria a variedade e qualidade dos conteúdos, é importante encarar esta questão, analisando possíveis soluções para a integração de conteúdos com protecção de propriedade intelectual.

Como os modelos apresentados no capítulo anterior têm a capacidade de agregar automaticamente objectos de aprendizagem de origens diferentes, gratuitos e não gratuitos, esta questão é particularmente relevante. Assim, um dos requisitos do modelo de gestão de direitos digitais apresentado neste capítulo é o de poder ser integrado de forma transparente

nos serviços apresentados no capítulo anterior, permitindo que estes possam agregar automaticamente objectos com e sem propriedade intelectual.