• Nenhum resultado encontrado

2 PROVAS DIGITAIS, UMA ANÁLISE DO CONCEITO, DAS

2.2 CARACTERÍSTICAS E PECULIARIDADES DA PROVA DIGITAL

2.3.3 Prova Digital obtida pelo meio pericial

Por fim, outra forma de captação das Provas Digitais ocorre por meio da realização de um exame pericial nos dados constantes dos dispositivos eletrônicos.

145 VAZ, Denise Provazi. Provas Digitais no Processo Penal: formulação do conceito, definição das características e sistematização do procedimento probatório. Orientador: Antonio Scarance Fernandes, 2012. 198 f. Tese (Doutorado em Direito) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo. 2012, p. 101.

146 KIST, Dário José. Prova digital no processo penal/ Dário José Kist. - Leme (SP): JH Mizuno, 2019. p. 173

147 KIST, Dário José. Prova digital no processo penal/ Dário José Kist. - Leme (SP): JH Mizuno, 2019. p. 173.

148 Idem, p. 174. 149 Ibidem, p. 184.

Conforme pontuado no Capitulo 1, a perícia consiste na “análise técnica de uma situação, fato ou estado redigida por um especialista numa determinada disciplina”150. Em

suma, é um exame realizado por profissional especialista, legalmente habilitado, destinado a verificar ou esclarecer determinado fato, apurar as causas motivadoras deste, ou o estado, a alegação de direitos, ou a estimação da coisa que é objeto de litígio ou processo.151

Com relação às funções da perícia, o autor italiano Paolo Tonini (2002) apud Denise Vaz salienta que:

a perícia tem três funções que, para serem exercitadas, requerem conhecimentos específicos: 1) desenvolver investigações para adquirir dados probatórios; 2)adquirir referidos dados, selecionando-os e interpretando-os; 3)realizar a valoração em relação aos dados produzidos (Art. 220, inciso I, do CPP).152

Trazendo o tema ao âmbito das Provas Digitais, de acordo com Denise Vaz, a necessidade de uma análise técnica, por meio do uso de perícia, pode ocorrer em diversos momentos, em virtude das características intrínsecas a essa fonte de prova. Faz-se necessária a realização da perícia para a própria pesquisa da prova, uma vez que existem diversos dispositivos eletrônicos que demandam conhecimento técnico para o acesso ao seu conteúdo; para a análise dos dados apreendidos, a fim de que sejam extraídos somente aqueles que interessam ao processo e por fim para ser constatada a veracidade e autenticidade das provas digitais.153

Em se tratando de fonte de prova complexa, a qual demanda procedimentos técnicos para sua captação, assevera a autora supramencionada que é conveniente a adoção dos procedimentos já vinculados à perícia, regulamentados na legislação brasileira, no artigo 159 e seguintes do Código de Processo Penal.154

Dessa forma, havendo indícios de que certo dispositivo contempla uma Prova Digital, proceder-se-à perícia, a qual “deve ser realizada por Perito Oficial, portador de diploma de

150 PERÍCIA. In: Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADcia. Acesso em: 27 abr 2019.

151 PERÍCIAS. In: Glossário de terminologia básica aplicável à engenharia de avaliações e perícias do IBAPE/SP. Disponível em: http://files.peritos-br.webnode.com.br/ 200000151-ad1e6ad773/Glossario%20Per %C3%ADcias.pdf. Acesso em: 27 abr. 2019.

152 VAZ, Denise Provazi. Provas Digitais no Processo Penal: formulação do conceito, definição das características e sistematização do procedimento probatório. Orientador: Antonio Scarance Fernandes, 2012. 198 f. Tese (Doutorado em Direito) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 116.

153 VAZ, Denise Provazi. Provas Digitais no Processo Penal: formulação do conceito, definição das características e sistematização do procedimento probatório. Orientador: Orientador: Antonio Scarance Fernandes, 2012. 198 f.Tese (Doutorado em Direito) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo. 2012, p. 116.

curso superior” ou, em sua falta, “por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior na área específica”.155

Após a realização do exame nos dispositivos eletrônicos, “o perito oficial ou os dois peritos nomeados deverão apresentar um laudo minucioso sobre o examinado, bem como responderão os eventuais quesitos (perguntas) que lhes forem feitos pelo juiz, MP ou querelante, assistente de acusação e defesa”156, nos termos do artigo 160 do Código de

Processo Penal.157

Acerca do conteúdo do Laudo, Guilherme Madeira Dezem pontua que devem estar contidos: os elementos identificadores do perito e do objeto da perícia; relatos do que foi examinado; a análise técnica do caso; a conclusão a partir dos resultados obtidos com análise da perícia; e, por fim, a resposta aos quesitos apresentados pelas partes158.

Além disso, conjuntamente à elaboração do Laudo Pericial, conforme salienta a doutoranda Denise Vaz, a atividade do perito não será limitada à extração e detalhamento da prova, devendo estender-se à análise da autenticidade dos dados digitais descobertos, com o intuito de averiguar se não foram efetuadas modificações.159

Em seguida, apresentado o laudo, deve ser concedido prazo às partes para manifestação e, a partir disso, o Juiz pode levar o documento em consideração no momento da prolação da sentença ou outra decisão.

Sobre o tema, Guilherme de Souza Nucci defende, em síntese, que todos aqueles exames vinculados aos fatos apurados no processo penal, como as perícias, dosagem alcóolica, toxicológicos, realizados sem participação das partes, não impede sua posterior intervenção, em virtude da necessidade da observância dos princípios da Ampla Defesa e Contraditório.160

155 “Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de

diploma de curso superior.

§ 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.”

156 LOPES JUNIOR, Aury. Direito Processual Penal. 13 ed - São Paulo: Saraiva, 2016. p. 440

157 “Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem,

e responderão aos quesitos formulados.

Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.”

158 DEZEM, Guilherme Madeira. Da prova penal: tipo processual, provas típicas e atípicas (atualizado de acordo com as Leis 11.689/08, 11.690 e 11.719/08. Campinas: Milenium Editora, 2008. p. 177

159 VAZ, Denise Provazi. Provas Digitais no Processo Penal: formulação do conceito, definição das características e sistematização do procedimento probatório. Orientador: Antonio Scarance Fernandes, 2012. 198 f.Tese (Doutorado em Direito) - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo. 2012, p. 117.

160 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. 3.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 345-346.

Havendo manifestação das partes acerca do laudo finalizado, será procedida à apreciação do elemento probatório pelo magistrado. Importante relembrar que, nos termos do art. 182 do CPP161, o Laudo Pericial final não é vinculativo, ou seja, pode ser que o laudo

ateste a autoria de determinado delito, contudo, existam no contexto probatório outras inúmeras provas indicando o contrário. Nesse caso, o Juiz deve analisar o laudo em conformidade com as demais provas produzidas nos autos.

Isso, pois assim como o restante dos meios de provas admitidos no Processo Penal brasileiro, será atribuído valor relativo à Prova Digital, independentemente do seu meio de obtenção, de acordo com o que consta da exposição de motivos do CPP, que assim estabelece: “todas as provas são relativas; nenhuma delas terá, ex vi legis, valor decisivo ou necessariamente maior prestígio que as outras”.162

De toda a exposição, é possível concluir-se que não há óbice à inclusão da prova digital no Processo Penal, utilizando-se de formas já constantes da legislação, como a busca e apreensão, interceptação telemática e perícia. Contudo, considerando a complexidade de suas características, é evidente que a questão pende de regulamentação específica, com o intuito de que a Prova Digital seja devidamente extraída, permaneça íntegra e, assim, esteja apta a produzir efeitos quando da sua introdução no processo penal.

161 Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. 162 BRASIL. Decreto-Lei n. 3689, 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Exposição de Motivos n.

212, 9 de maio de 1983. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei- 3689-3-outubro-1941-322206-exposicaodemotivos-149193-pe.html. Acesso em: 02 maio 2019.

3 A PROBLEMÁTICA DA UTILIZAÇÃO DA PROVA DIGITAL NO PROCESSO