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Prova testemunhal: Decisões dos tribunais a respeito da confiabilidade e

1 DOS SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS E DAS PROVAS NO PROCESSO

3.1 Prova testemunhal: Decisões dos tribunais a respeito da confiabilidade e

Os Tribunais de Justiça, e os Tribunais Superiores todos os dias julgam demandas diferentes, ou em alguns casos semelhantes, tendo já entendimento consolidado sobre determinados assuntos, os quais prevalecem para julgar inúmeras lides.

Assim, ao avaliar as jurisprudências proferidas por estes Tribunais, no tocante a prova testemunhal, verificou-se que predomina o sistema do livre convencimento motivado do Magistrado, o qual já vem consolidado pela doutrina.

3.1 Prova testemunhal: Decisões dos tribunais a respeito da confiabilidade e valoração.

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul traz em um de seus julgados, a questão das falsas memórias que afetam o processo penal, assim vejamos:

Ementa: PECULATO DESVIO DE RENDA PÚBLICA ÓLEO DIESEL ADQUIRIDO PELO MUNICÍPIO E NÃO ENTREGUE PROVA PRODUZIDA EM CPI E CONFIRMADA EM INSPEÇÃO DO TRIBUNAL DE CONTAS CONFIRMAÇÃO DA PROVA EM JUÍZO. Conjunto probatório produzido antes do oferecimento da denúncia e confirmado em juízo por significativa parcela da prova oral colhida, autorizando condenação. Comissão Parlamentar de Inquérito concluindo que foram desviados 8.140 litros de óleo diesel, fato confirmado em inspeção do Tribunal de Contas, responsabilizando o Prefeito, um Secretário Municipal e um empresário pelo desvio. Parte da prova oral colhida em juízo, cinco anos depois, certamente foi prejudicada pela ação do tempo, que opera o esquecimento dos fatos e até a inclusão de falsas memórias. Provimento da apelação do Ministério Público para condenarem-se os réus. Penas prescritas em concreto, determinando a extinção da punibilidade.

Trata-se os autos de denúncia formulada pelo Ministério Público em face N. D. F., C. J. T. e A. G. P. nas penas do artigo 1º, incisos I e II, do Decreto-Lei 201/67 (quatro vezes), combinado com os artigos 29, “caput”, e 71, “caput”, ambos do Código Penal.

Após o regular trâmite do processo, sobreveio sentença, julgando improcedente a ação penal, para absolver os acusados das imputações que lhes pesam, com fundamento no artigo 386, inciso II, do Código de Processo Penal.

Da decisão, apelou o Ministério Público. Em razões recursais, pleiteou a condenação dos acusados nos termos da inicial acusatória, entendendo restarem comprovadas autoria e materialidade do delito.

O Desembargador Gaspar Marques Batista em seu voto declarou que a Juíza de 1° grau baseou o édito somente na prova colhida em juízo, pouco valorando o que foi dito na Câmara de Vereadores e no relatório do Tribunal de Contas do Estado. O nobre Desembargador afirmou que, ficou demonstrado nos autos, que a prova testemunhal colhida em juízo foi açoitada pelo trabalho do tempo. Tempo que produz o natural esquecimento e que sofre a ação de falsas memórias.

Fundamentou ainda que os depoimentos colhidos na calidez dos fatos, mesmo que declarados perante outras autoridades, tem mais compromisso com a verdade e, portanto, mais confiáveis.

Sendo assim foi dado provimento ao apelo do Ministério Público, para condenar os réus como incursos no art. 1º, inc. I, do Dec.-Lei nº 201.

Tal decisão foi acertada pelo Desembargador Gaspar, o qual salienta em seu voto que em razão do fenômeno das falsas memórias decorrentes do decurso do tempo se verificam várias omissões na prova judicial, como dito pelo Desembargador, o tempo traz o esquecimento da memória.

Dessa forma importante o depoimento prestado em fase policial, uma vez que são sempre prestados logo após a ocorrência dos fatos, onde a memória está

fresca, com todos os detalhes, onde a testemunha ainda não está contaminada pelo decurso do tempo, e pelas falas memórias.

Já no tocante a confiabilidade que é dada para a prova testemunha, o Tribunal de Justiça já se manifestou no seguinte sentido:

Ementa: LEI Nº 11.343/06. DROGAS. ART. 33. TRÁFICO. ART. 28. PORTE PARA USO PRÓPRIO. EXISTÊNCIA DO FATO E AUTORIA. Apreensão de 10 (dez) "pedras" de crack, pesando aproximadamente 4,70g. Flagrado que sequer admite o porte. PROVA TESTEMUNHAL. Não é a condição da testemunha que retira validade do seu depoimento, mas a confiabilidade decorre da forma como contam o ocorrido. Se os policiais pouco ou nada lembram da ocorrência, ou até mesmo nada sabem, não há como admitir seja suficiente a prova para uma condenação. APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO IMPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Crime Nº 70050051960, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ivan Leomar Bruxel, Julgado em 11/10/2012).

Trata-se de recurso de apelação interposto pelo Ministério Público, contra a decisão que julgou improcedente denúncia, absolvendo o acusado V.M.S das sanções do art. 33, caput, da Lei 11.343/06.

O MP requereu o provimento do recurso para reformar a sentença, com a finalidade de condenar o acusado pela prática do delito tipificado no art. 33, caput, da Lei 11.343/06.

O Desembargador Ivan Leomar Bruxel, baseou seu voto na sentença proferida pela Juíza de 01º grau, bem como fundamentou que:

Ainda que o conteúdo declinado em sede policial deixe a impressão de traficância, esse não se repetiu ao longo da instrução processual, pois inaptos os relatos obtidos em juízo para admissão de certeza sobre a autoria do crime imputado ao réu”.

Assim sendo, todo depoimento prestado pelas testemunhas devem ser coerentes e concisos com os fatos da denúncia, bem como pelos depoimentos prestados em fase policial, para assim o Magistrado possa avaliar, para ao final proferir a sentença.

Rangel (2013) destaca que a principal finalidade da prova é o convencimento do Magistrado. Assim, a prova produzida deve ser segura, robusta, e isenta de dúvidas.

O Desembargador tem entendimento de que não é a condição da testemunha que retira a validade do seu depoimento, mas a confiabilidade decorre da forma como contam o ocorrido.

Sendo assim, negado provimento ao recurso do Ministério Público.

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