3.3 G-fibrados de Morita
3.3.1 Pseudogrupo de solu¸ c˜ oes de uma forma multiplicativa
Nessa subse¸c˜ao mostraremos que os G-fibrados de Morita que s˜ao Γ-planos permitem transportar formas multiplicativas de G ⇒ M para o correspondente grupoide de gauge, ap´os a escolha certa do pseudogrupo generalizado Γ. A seguir lembramos os conceitos de formas multiplicativas com valores em uma representa¸c˜ao e pseudogrupo de solu¸c˜oes de uma forma multiplicativa, esses conceitos s˜ao tomados de [Sal13].
Defini¸c˜ao 3.29. Sejam G ⇒ M um grupoide de Lie e G y E uma representa¸c˜ao7. Uma k-forma multiplicativa em G com valores em E ´e uma forma ω ∈ Ωk(G, t∗E) satisfazendo
(m∗ω)(g,h) = (pr∗1ω)(g,h)+ g · (pr∗2ω)(g,h)
para todo (g, h) ∈ G(2).
Formas multiplicativas aparecem naturalmente na integra¸c˜ao de variedades de Poisson [Wei87] ou mais geralmente na integra¸c˜ao de estruturas de Dirac [BCW+04]. Em [Sal13] se estuda o vinculo das formas multiplicativas com equa¸c˜oes diferenciais parciais.
Defini¸c˜ao 3.30. Seja ω uma k-forma multiplicativa em G com valores em E. Uma bise¸c˜ao local β de G ´e chamada de solu¸c˜ao de ω se β∗ω = 0.
O fato que a forma ω ´e multiplicativa implica que o seu conjunto de solu¸c˜oes ´e um pseudogrupo generalizado de G. Ent˜ao, seja Γ o pseudogrupo de solu¸c˜oes de uma k-forma multiplicativa ω ∈ Ωk(G, t∗E). A seguir mostraremos que para todo Γ-fibrado principal P o seu G-fibrado associado P herda uma k-forma Ω ∈ Ωk(P, µ∗E) satisfazendo certa condi¸c˜ao de compatibilidade com ω e com a a¸c˜ao θ : G y P .
7
Esse fibrado vetorial E n˜ao ´e o fibrado ancorado modelo da se¸c˜ao anterior. Nessa se¸c˜ao o fibrado ancorado modelo ´
G-FIBRADOS DE MORITA 73
Afirma¸c˜ao 3.31. Sejam ω uma k-forma multiplicativa em G com valores em E e Γ o pseudogrupo generalizado de solu¸c˜oes de ω. Para todo Γ-fibrado principal P o seu G-fibrado associado P herda uma forma Ω ∈ Ωk(P, µ∗E).
Demonstra¸c˜ao. Seja π : P −→ B o G-fibrado principal Γ-plano associado ao P . Ent˜ao, de acordo com a Se¸c˜ao 1.7.2, ele admite um atlasσi : Ui −→ P
i∈I cujas fun¸c˜oes de transi¸c˜ao s˜ao da forma
γij(b) = Zij(b, fj(b)) ∀b ∈ Ui∩ Uj
onde Zij tem a propriedade de que para cada b0 ∈ Ui∩ Uj existe uma vizinhan¸ca Wb0 de (b0, fj(b0)) em B × M e uma bise¸c˜ao local βb0 ∈ Γ tal que Z
ij(b, x) = βb0(x), para todo (b, x) ∈ Wb0, isto implica que γij = βb0 em uma vizinhan¸ca de b0 ∈ Ui ∩ Uj. Por outro lado, cada se¸c˜ao local σi determina um G-morfismo Φi : p ∈ PUi −→ δ p, σi(π(p)) ∈ G da restri¸c˜ao PUi para o G-fibrado
unit´ario cobrindo a aplica¸c˜ao fi= µ ◦ σi.
PUi G
Ui M
Φi
π s
fi
Assim fazendo o pullback da forma multiplicativa ω ∈ Ωk(G, t∗E) por cada Φi obtemos uma cole¸c˜ao de formas localmente definidas Φ∗iω ∈ Ωk(PUi, µ
∗E)
i∈I. Para verificar que de fato essa cole¸c˜ao define uma forma em P usamos as fun¸c˜oes de transi¸c˜ao. Note que para cada p ∈ PUi∩Uj temos
Φj(p) = m Φi(p), γij(π(p)) Logo Φ∗jω p(v1, . . . , vk) = ωm(Φi(p),γij(π(p))) dm(dpΦiv1, dp(γij ◦ π)v1), . . . , dm(dpΦivk, dp(γij ◦ π)vk) = (m∗ω)(Φi(p),γij(π(p))) (dpΦiv1, dp(γij ◦ π)v1), . . . , (dpΦivk, dp(γij◦ π)vk)
agora usamos o fato que ω ´e multiplicativa, ent˜ao
Φ∗jω p(v1, . . . , vk) = pr ∗ 1ω (Φi(p),γij(π(p))) (dpΦiv1, dp(γij◦ π)v1), . . . , (dpΦivk, dp(γij◦ π)vk) + Φ(p) · pr∗2ω (Φi(p),γij(π(p))) (dpΦiv1, dp(γij◦ π)v1), . . . , (dpΦivk, dp(γij◦ π)vk) = ωΦi(p) dpΦiv1, . . . , dpΦivk + Φi(p) · ωγij(π(p)) dp(γij ◦ π)v1, . . . , dp(γij ◦ π)vk = (Φ∗iω)p(v1, . . . , vk) + Φi(p) · π∗(γij∗ω) p(v1. . . , vk)
como γij localmente ´e uma solu¸c˜ao de ω conclu´ımos que Φ∗jω = Φ∗iω em PUi∩Uj. Assim, todas
as formas localmente definidas Φ∗
iω ∈ Ωk(PUi, µ
∗E)
i∈I colam para produzir uma forma Ω ∈ Ωk(P, µ∗E).
Afirma¸c˜ao 3.32. A k-forma Ω ∈ Ωk(P, µ∗E) constru´ıda na Afirma¸c˜ao3.31 satisfaz
onde denotamos por θ : G ×MP −→ P a a¸c˜ao de G em P , pr1 : G ×MP −→ G e pr2: G ×MP −→ P denotam a proje¸c˜ao na primeira e segunda componente respectivamente.
Demonstra¸c˜ao. Como a condi¸c˜ao (3.10) ´e pontual, logo ´e suficiente verificar-a localmente. Assim, suponha que (g, p) ∈ G ×M PUi, ent˜ao obtemos
(θ∗Ω)(g,p)= θ∗Φ∗iω
(g,p) = (idG× Φi) ∗m∗ω
(g,p)
logo, usando o fato que ω ´e multiplicativa temos
(θ∗Ω)(g,p) . . . , (u, v), . . . = (m∗ω)(g,Φi(p)) . . . , (u, dpΦiv), . . . =(pr∗1ω)(g,Φi(p)) . . . , (u, dpΦiv), . . .+g · (pr ∗ 2ω)(g,Φi(p)) . . . , (u, dpΦiv), . . . =ωg . . . , u, . . .+g · (Φ∗iω)p . . . , v, . . . =(pr∗1ω)(g,p) . . . , (u, v), . . .+g · (pr∗ 2Ω)(g,p) . . . , (u, v), . . .
Tendo provado que Ω ∈ Ωk(P, µ∗E) satisfaz a condi¸c˜ao de compatibilidade (3.10) gostar´ıamos de saber quando ela desce para uma forma em Ωk(B, P ⊗GE). De acordo como ApˆendiceBdevemos saber quando Ω ´e horizontal e G-invariante. Uma condi¸c˜ao necess´aria para que Ω seja horizontal e G-invariante ´e que ω ∈ Ωk(G, t∗E) pensada como uma forma no G-fibrado unit´ario seja horizontal e G-invariante. Assim temos a seguinte proposi¸c˜ao
Proposi¸c˜ao 3.33. Seja ω ∈ Ωk(G, t∗E) uma forma multiplicativa, horizontal e G-invariante. Ent˜ao existe ϑ ∈ Ωk(B, P ⊗
GE) tal que Ω = π∗ϑ, onde Ω ´e a k-forma constru´ıda na Afirma¸c˜ao 3.31. Por´em, formas multiplicativas e b´asicas no G-fibrado unit´ario podem ser escassas e assim fica claro que n˜ao toda forma Ω ∈ Ωk(P, µ∗E) desce para uma forma em B.
Agora passamos para os Γ-f.v.a., lembre-se que nessa se¸c˜ao o fibrado ancorado modelo ´e o algebroide ρ : A −→ T M de G e o pseudogrupo generalizado Γ ´e o pseudogrupo de solu¸c˜oes da forma multiplicativa ω ∈ Ωk(G, t∗E). Mostraremos que para um Γ-f.v.a. a forma multiplicativa ω ∈ Ωk(G, t∗E) induz uma forma multiplicativa no correspondente grupoide de gauge ω0 ∈ Ωk(P ⊗
G P, t∗(P ⊗GE)).
Vamos construir ω0 a partir de Ω, para isso lembre que P ⊗GP ´e o quociente de P ×MP pela a¸c˜ao diagonal θ∆: G y P ×MP cuja aplica¸c˜ao de momento ´e µ∆: (q, p) ∈ P ×MP 7−→ µ(q) = µ(p) ∈ M . Note que Ω ∈ Ωk(P, µ∗E) induz uma Ω0 ∈ Ωk(P ×
M P, µ∗∆E) definida por
Ω0(q,p) (u1, v1), . . . , (uk, vk) = Ωq(u1, . . . , uk) − Ωp(v1, . . . , vk) Agora verificamos que
• Ω0 ´e horizontal: Lembre-se que o kernel da proje¸c˜ao P ×M P −→ P ⊗G P s˜ao os vetores tangentes a orbita da a¸c˜ao G y P ×M P . Logo Ω0 ´e horizontal se ela se anula em vetores da forma (d1xθ qξ, d 1xθ pξ) ∈ T (q,p)P ×M P , onde ξ ∈ Ax e x = µ(q) = µ(p). Ent˜ao Ω0(q,p) (d1xθ qξ,d 1xθ pξ), (u 2, v2), . . . , (uk, vk) = Ωq(d1xθ qξ, u 2. . . , uk) − Ωp(d1xθ pξ, v 2. . . , vk)
G-FIBRADOS DE MORITA 75
Agora vamos calcular cada um dos somandos acima. Para isso, escrevemos d1xθ
qξ = d
(1x,q)θ(ξ, 0)
e usamos a identidade u = d(1x,q)θ(dxu · dqµ · u, u). Pela equa¸c˜ao de compatibilidade (3.10) obtemos
Ωq(d1xθ
qξ, u
2. . . , uk) = (θ∗Ω)(1x,q) (ξ, 0), (dxu · dqµ · u2, u2), . . . , (dxu · dqµ · uk, uk)
= ω1x(ξ, dxu · dqµ · u2, . . . , dxu · dqµ · uk)
De forma semelhante provamos que
Ωp(d1xθ
pξ, v
2. . . , vk) = ω1x(ξ, dxu · dpµ · v2, . . . , dxu · dpµ · vk)
Finalmente, como dqµ · ui = dpµ · vi, conclu´ımos que Ω0 ´e horizontal.
• Ω0 ´e G-invariante: De acordo com a Eq. (B.1) devemos calcular
(θ∗∆Ω)(g,q,p) (φ · dpµ∆· (u1, v1), (u1, v1)), . . . , (φ · dpµ∆· (uk, vk), (uk, vk)) =(θ∗Ω)(g,q) (φ · dqµ · u1, u1), . . . , (φ · dqµ · uk, uk) − (θ∗Ω)(g,p) (φ · dpµ · v1, v1), . . . , (φ · dpµ · vk, vk)
para algum φ : Ts(q)M −→ TgG em J1G. Ora, usando a equa¸c˜ao de compatibilidade (3.10) temos que (θ∗Ω)(g,q) (φ · dqµ · u1, u1), . . . , (φ · dqµ · uk, uk) = ωg φ · dqµ · u1, . . . , φ · dqµ · uk + g · Ωq(u1, . . . , uk) (θ∗Ω)(g,p) (φ · dpµ · v1, v1), . . . , (φ · dpµ · vk, vk) = ωg φ · dpµ · v1, . . . , φ · dpµ · vk + g · Ωp(v1, . . . , vk) Como dqµ · ui= dpµ · vi, obtemos (θ∆∗Ω)(g,q,p) (φ · dpµ∆· (u1, v1), (u1, v1)), . . . , (φ · dpµ∆· (uk, vk), (uk, vk)) =g · Ω(q,p) (u1, v1), . . . , (uk, vk)
Tendo verificado que Ω0 ´e horizontal e G-invariante ent˜ao ela desce para uma forma ω0 ∈ Ωk(P ⊗GP, t∗(P ⊗GE)).
Exemplo 3.34. Seja P o Γ-f.v.a. determinado pela f : B −→ M . Lembre-se que neste caso a fibrado ancorado associado ´e o algebroide pullback f!A e o grupoide de gauge ´e isomorfo ao grupoide pullback f!G, e al´em disso a proje¸c˜ao F : f!G −→ G ´e um morfismo de grupoides de Lie sobre a f : B −→ M . Pode-se verificar que neste caso a forma ω0 = F∗ω ∈ Ωk(f!G, t!(f∗E)), em particular ω0 tamb´em ´e multiplicativa.
Cap´ıtulo 4
Γ-folhea¸c˜oes
Nesse cap´ıtulo introduziremos as Γ-folhea¸c˜oes, onde Γ ´e um pseudogrupo generalizado de G, e apresentaremos o seu teorema de classifica¸c˜ao. As Γ-folhea¸c˜oes ser˜ao folhea¸c˜oes regulares com estrutura na transversal `a folhea¸c˜ao, e dessa forma obteremos uma generaliza¸c˜ao das geometrias transversais estudadas por Haefliger para pseudogrupos cl´assicos. Desde outro ponto de vista, as Γ-folhea¸c˜oes ser˜ao uma classe de G-fibrados de Morita que s˜ao Γ-planos.
Come¸caremos com os mesmos objetos que na Se¸c˜ao 3.2. Isto ´e, temos um grupoide de Lie G ⇒ M, uma representa¸c˜ao θ : G y E no fibrado vetorial q : E −→ M e uma ˆancora a : E −→ T M. Consideramos Γ um subpseudogrupo em AutG(E, a).
Defini¸c˜ao 4.1. Uma Γ-folhea¸c˜ao em B ´e uma classe de isomorfismo de Γ-fibrados principais com aplica¸c˜ao de momento µ : P −→ M submers˜ao.
Como vimos na Se¸c˜ao3.2, para todo Γ-fibrado principal π : P −→ B com aplica¸c˜ao de momento µ : P −→ M temos o morfismo de fibrados vetoriais sobre a identidade de B definido em (3.4)
b
µ : T B P ⊗ΓT M
vb [σ(b), dbf · vb]
(4.1)
onde σ ´e uma se¸c˜ao local de π ao redor de b ∈ B e f = µ ◦ σ. Agora, para Γ-folhea¸c˜oes temos uma observa¸c˜ao semelhante `a Observa¸c˜ao 3.13.
Observa¸c˜ao 4.2. Como Γ ⇒ M ´e um grupoide ´etale ent˜ao para todo Γ-fibrado principal π : P −→ B temos que π ´e um difeomorfismo local. Isto produz as seguintes equivalˆencias
• µ ´e submers˜ao.
• Para toda se¸c˜ao local σ de π temos que f = µ ◦ σ ´e submers˜ao.
• µ ´b e um epimorfismo.
Afirma¸c˜ao 4.3. Toda Γ-folhea¸c˜ao em B define uma folhea¸c˜ao regular em B.
Demonstra¸c˜ao. Comoµ ´be um epimorfismo ent˜ao o seu kernel Ker(µ) ⊂ T B define uma distribui¸b c˜ao regular. Essa distribui¸c˜ao ´e integr´avel pois pode-se verificar que para cada se¸c˜ao local σ : U −→ P de π temos que
Ker(µ)b
U = Ker(df )
onde f = µ ◦ σ. Denotaremos por F `a folhea¸c˜ao regular definida por P , e por T F a sua distribui¸c˜ao tangente. Em particular Ker(µ) = T F , e o epimorfismo (b 4.1) induz um isomorfismo entre o fibrado vetorial associado P ⊗ΓT M e o fibrado normal de F .
Observe que o pseudogrupo generalizado Γ projeta para o pseudogrupo cl´assico ΓM = Diffloc(M ) de todas as transforma¸c˜oes locais de M
β ∈ Γ 7−→ t ◦ β ∈ ΓM
Em outras palavras existe um morfismo de grupoides de Lie ´etales
E0: Γ ΓM
germx(β) germx(t ◦ β)
(4.2)
Portanto toda Γ-folhea¸c˜ao P produz, por meio da constru¸c˜ao do fibrado associado, um ΓM-fibrado principal Q = P ⊗ΓΓM −→ B, e denotaremos por ν : Q −→ M a sua aplica¸c˜ao de momento. Agora mostraremos que o ΓM-fibrado principal Q define uma folhea¸c˜ao regular em B de acordo com a Defini¸c˜ao 3.4, de fato define a mesma folhea¸c˜ao F que a Γ-folhea¸c˜ao P constru´ıda na Afirma¸c˜ao
4.3.
Proposi¸c˜ao 4.4. A aplica¸c˜ao de momento ν : Q −→ M ´e uma submers˜ao e portanto Q define uma folhea¸c˜ao regular em B. Essa folhea¸c˜ao coincide com a folhea¸c˜ao regular definida por P .
Demonstra¸c˜ao. O fibrado Q ´e o quociente do fibrado produto P ×M ΓM pela a¸c˜ao diagonal de Γ definida ao longo da aplica¸c˜ao µ : (p, g) ∈ P ×e M ΓM 7−→ t(g) ∈ M , e temos o seguinte diagrama comutativo P ×M ΓM M Q e µ ν
Ademais, lembre-se que temos o seguinte diagrama pullback
P ×M ΓM ΓM M P M pr2 pr1 e µ s t µ
Logo, como µ ´e submers˜ao ent˜ao µ ´ee submers˜ao e portanto ν tamb´em ´e submers˜ao. Portanto Q ´e uma folhea¸c˜ao regular sobre B de acordo com a Defini¸c˜ao 3.4.
Ora, sendo ν submers˜ao ela induz o epimorfismo
b
ν : T B Q ⊗Γ
0 T M
vb [σ0(b), dbf · vb]
79
onde σ0´e uma se¸c˜ao local de π0: Q −→ B, e f = ν ◦ σ0. Al´em disso, o kernel Ker(bν) ´e a distribui¸c˜ao tangente da folhea¸c˜ao definida por Q.
Por outro lado temos um E0-morfismo entre P e Q definido por
Ψ : P Q
p [p, germµ(p)(idM)]
Esse morfismo induz um isomorfismo entre os fibrados vetoriais associados `a representa¸c˜ao em T M
b
Ψ : P ⊗ΓT M Q ⊗Γ
0 T M
[p, v] [Ψ(p), v]
O isomorfismo bΨ comuta com os epimorfismos (4.1) e (4.3), i.e. bΨ ◦µ =b bν. Portanto, tanto P atrav´es deµ quanto Q atrav´b es debν definem a mesma folhea¸c˜ao F em B.
Dada uma folhea¸c˜ao F em uma variedade B, dizemos que uma aplica¸c˜ao diferenci´avel f : B −→ X ´e b´asica se ela ´e constante ao longo das folhas de F . Seguindo Molino [Mol72] ou Vaisman [Vai74], um fibrado vetorial E0 −→ B ´e folheado sobre F se as suas fun¸c˜oes de transi¸c˜ao s˜ao fun¸c˜oes b´asicas em (B, F ). Por exemplo, se ψ : B −→ M ´e uma submers˜ao e E −→ M ´e um fibrado vetorial ent˜ao o fibrado pullback ψ∗E −→ B ´e um fibrado vetorial folheado para a folhea¸c˜ao simples em B definida pelas fibras de ψ.
Das constru¸c˜oes feitas na Se¸c˜ao1.5temos que, fixada uma se¸c˜ao local σ : U −→ P de π, o fibrado vetorial P ⊗ΓT M ´e localmente difeomorfo ao fibrado vetorial pullback f∗T M , onde f = µ ◦ σ. Ora, seja P uma Γ-folhea¸c˜ao em B e seja F a folhea¸c˜ao regular definida por P . Neste caso temos que f ´
e uma submers˜ao e F
U s˜ao as fibras de submers˜ao f : U −→ M . Portanto f
∗T M −→ U torna-se um fibrado vetorial folheado sobre F
U no sentido de Molino [Mol72] ou Vaisman [Vai74]. Pode-se verificar que, ap´os escolher trivializa¸c˜oes locais adequadas para o fibrado T M −→ M , o fibrado P ⊗ΓT M −→ B ´e um fibrado vetorial folheado sobre F . Analogamente, temos que P ⊗ΓE −→ B tamb´em ´e um fibrado vetorial folheado sobre F .
´
E claro, uma Γ-folhea¸c˜ao produz outra estrutura al´em da folhea¸c˜ao regular F . Essa estrutura adicional vem do fibrado ancorado associado aP: E[P ] −→ T B que sempre temos ligado a todo Γ-f.v.a., e em particular a toda Γ-folhea¸c˜ao.
E[P ] P ⊗ΓE
0 T F T B P ⊗ΓT M 0
aP a
b µ
A estrutura adicional que produz a Γ-folhea¸c˜ao P ´e uma estrutura de fibrado ancorado na transver- sal `a folhea¸c˜ao F . Para verificar isto, basta escolher uma se¸c˜ao local σ : U −→ P de π e logo uma se¸c˜ao local T : V −→ U da submers˜ao f = µ ◦ σ : U −→ M . Assim T (V ) ⊂ B ´e uma subvariedade transversal `a F , e verifica-se T!E[P ] = E
V.
Observa¸c˜ao 4.5. Pela discuss˜ao acima gostar´ıamos de chamar ao fibrado ancorado associado aP: E[P ] −→ T B de estrutura transversal `a Γ-folhea¸c˜ao P , e dizer que uma Γ-folhea¸c˜ao P em
B define uma folhea¸c˜ao regular F com uma estrutura transversal localmente modelada no fibrado vetorial ancorado a : E −→ T M .
Pullback de Γ-folhea¸c˜oes
Agora gostar´ıamos de saber quando o pullback de uma Γ-folhea¸c˜ao por uma aplica¸c˜ao dife- renci´avel produz uma nova Γ-folhea¸c˜ao. Para isto, seja π : P −→ X uma Γ-folhea¸c˜ao sobre X com aplica¸c˜ao de momento µ : P −→ M , e denote por F a folhea¸c˜ao em X definida por P . Seja ψ : B −→ X uma aplica¸c˜ao diferenci´avel e considere o Γ-fibrado principal pullback P0 = ψ∗P , denote por µ0 a sua aplica¸c˜ao de momento e por Ψ : P0 −→ P o Γ-morfismo definido entre estes Γ- fibrados principais. Seguindo as constru¸c˜oes da Se¸c˜ao3.2e em particular a Observa¸c˜ao 3.11temos o seguinte diagrama comutativo.
T B P0⊗ΓT M T X P ⊗ΓT M b µ0 dψ ΨT M b µ
Nesse diagrama lembramos que ΨT M ´e um isomorfismo na fibra pois ´e o morfismo de fibrados vetoriais associado ao Ψ, e que bµ ´e epimorfismo pois P ´e uma Γ-folhea¸c˜ao em X. Do diagrama acima conclu´ımos queµb0´e epimorfismo, e portanto P0´e uma Γ-folhea¸c˜ao, se e somente seµ◦dψ ´b e um epimorfismo. Por sua vez, essa ultima condi¸c˜ao ´e equivalente a dizer que a aplica¸c˜ao ψ : B −→ X ´
e transversal `a distribui¸c˜ao tangente T F da folhea¸c˜ao definida por P . Dessa forma temos provado a seguinte proposi¸c˜ao
Proposi¸c˜ao 4.6. ψ∗P ´e uma Γ-folhea¸c˜ao se e somente se ψ t T F.
Observe que a conclus˜ao do par´agrafo anterior coincide com a defini¸c˜ao usual de quando uma aplica¸c˜ao diferenci´avel ψ : B −→ X ´e transversal a uma folhea¸c˜ao1F , e nesse caso sempre podemos construir a folhea¸c˜ao pullback, e que nas nota¸c˜oes acima essa folhea¸c˜ao pullback ´e a folhea¸c˜ao F0 definida por P0 = ψ∗P . A observa¸c˜ao importante aqui ´e que com essa mesma defini¸c˜ao, se a fo- lhea¸c˜ao F vem com alguma estrutura transversal, i.e. ´e uma Γ-folhea¸c˜ao, ent˜ao a folhea¸c˜ao pullback mant´em a mesma estrutura transversal. Essa estrutura transversal ´e o fibrado ancorado associado `
a Γ-folhea¸c˜ao. Lembramos que, de acordo com a Proposi¸c˜ao 3.19, para a Γ-folhea¸c˜ao pullback P0 = ψ∗P temos duas formas equivalentes de obter a sua estrutura transversal aP0: E[P0] −→ T B,
uma delas ´e como o fibrado ancorado associado a P0 e a outra ´e como pullback ancorado do fibrado ancorado associado a P .
Homotopia de Γ-folhea¸c˜oes
Agora vamos a definir homotopia de Γ-folhea¸c˜oes
Defini¸c˜ao 4.7. Sejam P0 e P1 duas Γ-folhea¸c˜oes em B. Dizemos que P0 e P1 s˜ao integralmente homot´opicas se existem um Γ-fibrado principal P −→ B × I e dois Γ-morfismos Ψ0 : P0 −→ P e Ψ1: P1 −→ P tais que:
CLASSIFICAC¸ ˜AO DE Γ-FOLHEAC¸ ˜OES 81
1. Para cada t ∈ I temos que itt P , e portanto i∗tP ´e uma Γ-folhea¸c˜ao em B. 2. Os seguintes diagramas s˜ao comutativos
P0 P B B × [0, 1] Ψ0 i0 P1 P B B × [0, 1] Ψ1 i1 Em particular P0 ' i∗0P e P1 ' i∗1P .
Novamente, denotaremos por P0 ≈ P1 quando P0 e P1 sejam Γ-folhea¸c˜oes em B integralmente homot´opicas. Observe que se P0 e P1 s˜ao Γ-folhea¸c˜oes integralmente homot´opicas ent˜ao P0 e P1 s˜ao Γ-f.v.a. integralmente homot´opicos, e portanto Γ-fibrados principais homot´opicos.