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4 A PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA COMO ALTERNATIVA DE

4.4 PSICOLOGIA E O COMPROMISSO SOCIAL

processo em constante movimento, que acompanha as mudanças do contexto social. Portanto, assim como Bock (1999a), a identidade profissional nunca estará pronta, pois ela sempre acompanha o movimento da realidade.

4.4 PSICOLOGIA E O COMPROMISSO SOCIAL

A perspectiva Sócio-Histórica é caracterizada por acolher a diversidade temática da Psicologia. É muito comum pegarmos um livro dessa corrente teórica e nos depararmos com produções relativas à diversas áreas da Psicologia: clínica, escolar, organizacional, saúde, políticas públicas, formação profissional, sexualidade, dentre outras. O acolhimento da diversidade temática em Psicologia foi uma postura assumida pela perspectiva Sócio-Histórica como forma de entender que as investigações acerca do homem se dão a partir de diferentes vieses e lugares. Seu intuito com isso é trabalhar com a pluralidade temática atrelada ao projeto de construção da Psicologia, objetivando que esta seja capaz de produzir transformações sociais importantes.

Nesta altura do texto podemos levantar o seguinte questionamento: mas o que seria o compromisso social para a Psicologia Sócio-Histórica? O compromisso social da produção teórica e na atuação profissional devem ser capazes de falar da vida vivida e de apresentar possibilidades de contribuição para a transformação das condições de vida na busca de dignidade (BOCK et al., 2007). Ou seja, Psicologia que deveria estar atenta as especificidades sociais e históricas da realidade estudada e tanto a produção teórica, quanto a atuação profissional devem produzir formas úteis de transformação da realidade social nos países considerados em desenvolvimento, como é o caso do Brasil e dos outros países que compõem a América Latina. Para Bock (2013), é necessário se voltar à história para compreender que pouca foi a contribuição da Psicologia para transformar as condições de vida e contribuir para a diminuição das desigualdades sociais brasileiras.

Uma profissão que, durante seus 40 anos de vida, serviu às elites, sendo um serviço de difícil acesso aos que têm pequeno poder aquisitivo.

Uma profissão com pouca inserção social, baixo poder organizativo, com entidades frágeis com pequeno poder de pressão e que negociou pouco com o Estado suas demarcações e possibilidades de contribuição social (BOCK, 2013, p. 19)

Bock (2013) dá destaque para os alguns aspectos ideológicos que acompanharam a profissão de psicólogo no Brasil, desde a sua instituição, e que fizeram com que o compromisso social da Psicologia estivesse atrelado aos interesses da elite brasileira. Isto fez com que as

52 principais perspectivas trabalhadas pela Psicologia estivessem descoladas da realidade social e cultural, constitutivas do fenômeno psicológico.

Bock (2013) destaca três elementos que contribuíram para o distanciamento da Psicologia do compromisso social no sentido de diminuição das desigualdades sociais no Brasil, são eles: 1) a Psicologia naturalizou o fenômeno psicológico – as funções como pensamento, linguagem, aprendizagem vistas como resultado da maturação dos organismos; 2) os psicólogos não terem concebido suas intervenções como trabalho – por muito tempo, psicólogos acreditaram que não direcionavam o desenvolvimento de seus clientes, já que a direção estava dada na própria “natureza humana”; 3) A Psicologia tem concebido os sujeitos como responsáveis e capazes de promover seu próprio desenvolvimento – o Homem pensado como um ser dotado de todas as qualidades necessárias para o seu desenvolvimento, estando apenas à espera da maturação de cada uma dessas etapas. Na prática profissional, essa concepção reverbera na responsabilização de cada pessoa pelo seu próprio desenvolvimento, atribuindo valores de sucesso e fracasso pelos resultados obtidos nesse processo.

Sendo assim, a Psicologia contribuiu por muito tempo para a ocultação da produção social do humano e de seu mundo psicológico (BOCK, 2013). Nesta perspectiva, os psicólogos têm se isentado da discussão contra as desigualdades sociais, já que as visões naturalizantes retiram de pauta a relação dialética entre sujeito e mundo social. Sendo assim, é preciso compreender que as relações sociais, culturais e históricas são constituintes do mundo psicológico. Não atribuindo a este um caráter universal, natural e dotado de uma força própria.

Martínez (2013) aponta duas saídas para o compromisso social implicado com a diminuição das desigualdades sociais no Brasil e nos outros países da América Latina: o primeiro seria a própria formação do psicólogo; o segundo seria o compromisso social dos formadores de psicólogos. No primeiro momento, a autora avalia que a formação de psicólogos privilegiou aspectos teóricos, técnicos e metodológicos, em detrimento dos recursos subjetivos. A autora explica que na formação dos profissionais de Psicologia também é necessário levar em consideração a compreensão do sujeito que está em formação. Neste sentido seria importante ter investimentos educacionais que estimulassem a sensibilidade humana e social, o sentido de justiça, a solidariedade e a capacidade de assumir posições. A autora alerta para a necessidade de um conjunto de habilidades requeridas no exercício profissional do psicólogo, com destaque para: “apreender demandas sociais e políticas, atentar para a reabertura e definições de espaços, repensar abordagens alternativas: visão pluralista, capacidade de para se sensibilizar”, entre outros aspectos.

53 No segundo momento, Martínez (2013) destaca a importância dos formadores de psicólogos, professores de graduação e pós-graduação e a necessidade de construção de um debate crítico dentro da academia a respeito do compromisso social do psicólogo. Dentro deste grupo de formadores, também incluiremos os supervisores de estágio que realizam um trabalho de iniciação dos estudantes à vida profissional. A autora elucida que é preciso que se crie uma cultura organizacional dentro das universidades que favoreçam diálogos construtivos, à experimentação e à inovação. Martínez (2013) ainda aponta órgãos como o Ministério da Educação (MEC) na avaliação dos cursos de graduação, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) na avaliação dos programas de pós-graduação e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) no apoio à atividade de pesquisa, cujas demandas excessivas acabam por dificultar a construção de uma cultura de discussão crítica e a desmobilização ideológica nos espaços de produção científica.

O compromisso social do psicólogo deve estar voltado para uma prática social a serviço de uma sociedade mais justa, abandonando paradigmas elitistas e estando a Psicologia ao alcance da maioria da população. O trabalho do psicólogo deve estar voltado para melhoria das condições de vida. O compromisso social vai além do discurso, é ação e análise autocrítica contínua da ação, é a construção de um saber-fazer ou fazer-saber que aspira contribuir para a promoção de uma sociedade mais justa.

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