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7 RESULTADOS

7.2 TRAJETÓRIA ACADÊMICA

Com relação à trajetória acadêmica, foi possível perceber, através dos relatos dos participantes a manifestação das seguintes categorias: participação em pesquisa científica;

estágios curriculares nas áreas mais clássicas da Psicologia; estágio extracurricular no TJPE; falta de disciplinas na graduação que abordassem a atuação do psicólogo no âmbito público; a disciplina de Psicologia Jurídica na Graduação.

65 Para alguns participantes da pesquisa, a graduação foi um período de iniciação

científica em pesquisas desenvolvidas por professores de suas respectivas instituições de

ensino superior. Segundo relatos, a inserção em grupos de pesquisa começou no início da graduação em Psicologia e perdurou por um longo período da graduação.

Veja, eu sempre fui uma aluna muito atuante, [...] logo no final do primeiro período, eu já estava fazendo iniciação científica. Eu fui durante o curso todinho, eu trabalhei no laboratório [...]. E aí fazia tudo, aqueles estudos com comunicação mãe-bebê. (Joice)

[...] eu fiz pesquisa na graduação, eu fiz pesquisa na área de educação. (Vanessa)

[...] eu comecei a me envolver com uma pesquisa de uma professora. [...]. Então eu fui atrás disso. Eu fiquei muito tempo com essa professora, fiz estágio supervisionado, me tornei bolsista dela. (Paulo)

Os estágios curriculares só eram previstos nas áreas mais clássicas da Psicologia: clínica, organizacional e escolar. Os participantes informaram que realizaram o estágio

curricular em clínica, especificamente na clínica escola da instituição de ensino superior onde se graduaram. Alguns deles chegaram até a conciliar o estágio curricular com o extracurricular, em outras áreas que não as mais tradicionais da Psicologia, como o estágio no TJPE.

Enquanto eu estava aqui [estágio extracurricular do TJPE] eu também estava fazendo a clínica [estágio curricular] lá [na clínica escola da faculdade]. (Lucia)

Mas, não tinha opção de estágio curricular Psicologia Jurídica. Mesmo que você estivesse estagiando, como eu estava, mas você tinha que fazer os estágios dentro daquelas áreas previstas que era Clínica, Hospitalar, Escolar e Organizacional. Eu acho que só tinha essas quatro áreas. Mesmo que você tivesse no estágio, você teria que fazer o seu extracurricular e o seu curricular dentro das áreas previstas. (Joice)

Fiz [estágio curricular], em Clínica, em Gestalt terapia e tenho um consultório também. (Rita)

Durante o depoimento dos participantes, alguns deles mencionaram que tiveram

experiência de estágio extracurricular no TJPE. O estágio surgiu no final do curso e serviu

como uma espécie de preparação para a função do cargode profissionais de Psicologia que hoje ocupam no TJPE. O contato com as atividades exercidas pelos psicólogos na referida instituição, somada à supervisão de estágio serviu de base para o desempenho da função de analistas judiciário/psicólogos que exercem hoje. Além disso, as participantes relataram que o fato de estarem estagiando no TJPE foi um impulsionador para que elas futuramente, enquanto profissionais, pleiteassem o cargo de servidores públicos na instituição.

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Eu fui estagiária daqui também. Contando tudo eu já tenho um bom tempo aqui de tribunal [...]. Porque eu fui estagiária daqui acabei sendo lotada aqui também. [...] O estágio de psicologia jurídica surgiu quando eu estava concluindo [a graduação] e eu tinha interesse por essa área porque eu tinha um interesse antigo pelo direito, [...].

(Joice)

A gente tinha uma boa supervisão aqui, o foco era estar junto aos profissionais, aprendendo e discutindo. A gente tinha supervisão teórica semanalmente que a gente sentava pra discutir os casos com a supervisora que era coordenadora. Eu gostei muito. Fazer um contraponto com o polo profissional eu acho que foi assim, o estágio foi que me ajudou a chegar aqui e não demorou a me acostumar. Porque eu já conhecia como estagiário. Eles de fato acompanham o profissional, a gente ia para inspeção juntos, fazia atendimento juntos. Não participei de audiência como estagiário, mas a gente fazia estudo de caso, lia processos, escrevia documentos juntos. (Paulo)

[...] eu já estagiei no Tribunal de Justiça e atuei aqui [...]. Então, por um lance do destino, quando eu fui chamada, tinha uma vaga para cá. [...]. E foi estar nesses ambientes que fomentou em mim esse interesse, mais as oportunidades que eu tive, de estar nesses ambientes, me fez com que eu percebesse que poderia ser viável trabalhar aqui. E foi assim que eu comecei a me envolver. (Lúcia)

Os participantes avaliaram que, na época em que realizaram a graduação, não existiam na grade curricular dos seus cursos disciplinas que abordassem a atuação do psicólogo no

âmbito público. Disseram que a realidade dos cursos estava muito voltada para atuação do

Psicólogo na Clínica, como profissionais liberais autônomos. Disciplinas que abordassem as questões do SUS, de Políticas Públicas e até mesmo Psicologia Jurídica7, não fizeram parte da grade curricular dos seus cursos de graduação. Alguns deles mencionaram que os estágios extracurriculares se configuravam como uma alternativa para que eles pudessem tomar conhecimento de outras possibilidades de atuação profissional do psicólogo.

[...]não teve muito discurso em relação ao trabalho do psicólogo no âmbito público mesmo. Tinha poucos professores que são profissionais do setor público, [...]. Mas, o discurso era mesmo social e clínico basicamente. [...] trabalho no centro de referência da assistência social, no CRAS e CREAS, organizacional, eu vi muito pouco. Eu vi mais no estágio do que propriamente na faculdade. (Lúcia)

Mas acho que faltou uma cadeira mais prática, já se tinham as discussões de saúde pública, isso chegava muito pouco na universidade, por exemplo, formato de CAPS, política pública. Hoje em dia eu acho imprescindível você está trabalhando com políticas públicas, direitos humanos. Direitos humanos então nem se falava. Eu acho que foi uma formação que ficou bem a desejar. (Vanessa)

Porque é específico dessa área da psicologia jurídica e não existia a disciplina de psicologia jurídica que hoje já existe. Não existia a disciplina de saúde pública, que é

7 Compreendemos a Psicologia Jurídica como uma possibilidade de inserção do psicólogo no âmbito público,

quando a sua atuação está inserida em instituições públicas como os Tribunais de Justiça, o Ministério Público, delegacias, entre outros.

67 um avanço hoje. Hoje em dia tem disciplina de saúde pública e de psicologia e políticas públicas e tem psicologia jurídica. E todas três me fizeram muita falta na atuação, [...]. Eu não sabia nada de política pública e de saúde pública. (Paulo)

Pra essa realidade, de ser de clínica, de empresa ou de escola e, quando eu tava me formando, a psicologia hospitalar. Até estagiei na área porque também achei provocador, eu não queria aquela coisa tradicional então fui fazer estágio em hospital. Acho que era o grande, no final dos anos 90. Acho que já se falava de jurídica, mas era uma coisa muito distante pra mim. A justiça também era uma coisa muito fechada, muito distante da realidade. Então o hospital era uma coisa interessante. Quando eu tava terminando o curso, eu estagiei na assistência social [...]. (Caetano)

Na graduação, apenas uma das participantes cursou a disciplina de Psicologia Jurídica. Para essa participante, a disciplinafoi ministrada por uma docente que também tinha atuação prática na área. Segundo seus relatos, a disciplina de Psicologia Jurídica foi fonte de construção de conhecimento e significação de sua experiência, cursada na mesma altura em que realizava o estágio extracurricular no TJPE.

Eu tive uma cadeira de psicologia jurídica, que minha professora era funcionária do tribunal. Foi bem interessante [...]. Querendo ou não me ajudou. No ato, quando ela estava apresentando a cadeira dela foi no início do meu estágio. Foi muito bom! É bem interessante porque o que ela estava falando eu achava que era o que estava fazendo estágio e eu conversava com ela. (Lucia)

7.3 TRAJETÓRIA PROFISSIONAL COMO PROFISSIONAIS DE PSICOLOGIA ANTES