TÓPICO 2 — OS PRINCIPAIS QUADROS PATOLÓGICOS DA INFÂNCIA E
4.4 PSICOTERAPIAS DE GRUPO
As terapias de grupo podem ser praticadas de diversas maneiras e a partir
de diferentes referenciais teóricos, desde grupos abertos que acolhem quem os
procura, grupos com objetivos psicossociais geridos por profissionais da saúde
ou educadores, ou até mesmo pequenos grupos de adolescentes que realizam
terapia com um terapeuta analista. Nesse sentido, a prática do grupo terapêutico
“parece particularmente frutífera, e responde a uma necessidade, a uma capaci
-dade eletiva dos pacientes dessa i-dade” (MARCELLI; BRACONNIER, 2007, p.
421). Independentemente da forma de trabalho, a principal função dos grupos
terapêuticos é a catarse no nível do afeto, ou seja, descarga da tensão interna na
presença de outros membros do grupo, conforme ilustrado na Figura 22.
TÓPICO 3 — A TERAPÊUTICA
FIGURA 22 – PSICOTERAPIA DE GRUPO
FONTE: <https://bit.ly/3zuHG6I>. Acesso em: 13 jul. 2021.
Nesse sentido, o grupo pode criar um espaço de contenção do pensamento,
provedor de fantasias. Além disso, permite o deslocamento dos conflitos que o
adolescente não consegue resolver com seus pais sobre os outros membros do
grupo. Permite, também, a elaboração das relações com os familiares e com o
mundo e o remanejamento das identidades tanto individuais como grupais.
UNIDADE 2 — AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO EM PSICOPATOLOGIA: INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
LEITURA COMPLEMENTAR
ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS PRECISA SER
MELHORADA
CRISTIANE SEIXAS DUARTE
Entrevista concedida a Elton Alisson, da Agência FAPESP.
Agência FAPESP – Os países em desenvolvimento apresentam maior
prevalência de transtornos mentais?
Duarte – O que verificamos – e isso ainda não está claro, porque não há
estudo que tenha usado uma mesma metodologia para fazer essa comparação e
os dados sobre número de pessoas com transtornos mentais em países como o
Brasil são recentes – é que os países em desenvolvimento tendem a ter uma taxa
maior de distúrbios mentais do que as nações desenvolvidas. Uma das hipóteses
para explicar isso, que ainda não foi testada, é que os países em desenvolvimento
apresentam maior prevalência de fatores de risco para o surgimento de
transtor-nos mentais, como a violência.
Agência FAPESP – Por que isso ocorre?
Duarte – Pode ser resultado de uma combinação de fatores, como o es
-tigma social do problema de saúde mental e o desconhecimento de que existem
tratamentos muito eficientes para a grande maioria dos distúrbios mentais. A
falta de serviço de atendimento à saúde mental também é um fator importante
que contribui para esse cenário.
Agência FAPESP – Por que as ações de prevenção e atendimento à saúde
mental devem ser focadas em crianças e adolescentes?
Duarte – Mais de 75% dos transtornos mentais começam na infância ou
até os 18 anos de idade – quando o cérebro, a personalidade e as relações estão em
desenvolvimento – e progridem ao longo da vida. Isso não quer dizer que não se
TÓPICO 3 — A TERAPÊUTICA
combinadas com intervenções com os pais e se iniciadas cedo. Embora ainda exis
-ta muito espaço para melhorar essas intervenções psicossociais e psicoterápicas
e torná-las mais eficientes e possíveis de serem incluídas nos sistemas de saúde,
elas têm se revelado muito promissoras.
Agência FAPESP – Nesse sentido, qual seria o papel dos profissionais de
saúde mental para auxiliar esses agentes de saúde a identificar crianças com pro
-blemas de saúde mental?
Duarte – Nossa responsabilidade, como profissionais de saúde mental, é
orientar esses agentes de saúde que estão na linha de frente para fazer a identifica
-ção, triagem e mesmo o atendimento dos casos mais simples. Sabemos que isso é
possível, desde que esses profissionais tenham o mínimo de treinamento adequa
-do. Não temos a ilusão de que são os psicólogos, psiquiatras e, muito menos, os psi
-quiatras infantis, que irão atender essa demanda. Quem terá de fazer a maior parte
desse trabalho são os profissionais que estão na linha de frente do atendimento à
saúde, como enfermeiras, médicos e até agentes do Programa de Saúde da Família.
FONTE: Adaptado de: <https://bit.ly/3u0t91R>. Acesso em: 11 jul. 2021.
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• Os cuidados mentais de crianças e adolescentes preocupam-se mais com o
futuro do que com o presente propriamente dito. Ainda que a avaliação ocor
-ra no estado presente de uma criança ou adolescente, o objetivo é a avaliação
da capacidade potencial de manter um desenvolvimento satisfatório ou não.
• Entende-se por prevenção o conjunto de medidas ou de ações voltadas ao
indivíduo ou ao seu ambiente, suscetíveis a impedir o aparecimento de um
estado patológico posterior ou de reduzir sua intensidade e suas
consequên-cias, sendo distinguidas em: prevenção primária, secundária e terciária.
• A escuta e o acolhimento para as crianças são tão importantes quanto para os
adolescentes, afinal, elas não relatam suas dificuldades de forma objetiva como
fazem os adultos. Na maioria dos casos a criança ou não sofre ou não expressa
adequadamente, o que não significa que o sofrimento psicológico não exista.
• A decisão pelo tratamento não é simples, é preciso levar em conta a conduta
sintomática, conforme apontamos no subtópico anterior, como também a
1 As ações de prevenção são mais afetivas à medida que o risco seja claramente
identificado e a patologia apresente traços característicos, diferenciando-a dos
padrões de normalidade. Na tentativa de agir preventivamente, alguns fatores
devem ser observados no comportamento dos jovens, pois podem ser
conside-radas “condutas de risco”. Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Duração de uma mesma conduta durante um período de mais de duas
semanas.
b) ( ) Circunstâncias de vida negativas, como mudanças de casa ou doenças.
c) ( ) Uso de álcool, ainda que socialmente.
d) ( ) Manifestações isoladas de sofrimento.
2 A identificação dos riscos só é eficaz se for seguida de alguma resposta,
portanto, Marcelli e Braconnier (2007) identificaram três grupos e as possí
-veis prevenções para cada um deles. Quanto aos tipos de grupos, analise as
sentenças a seguir:
I- Para o grupo “sem problema aparente” a informação é o suficiente para a
prevenção.
II- O grupo “intermediário” também se beneficia apenas da informação, por
se tratar de jovens menos vulneráveis.
III- No grupo “com problemas múltiplos” a informação e a prevenção pratica
-mente não surtem efeito, pois já estão em um processo de “pré-ruptura”.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
3 A escuta e o acolhimento para as crianças são tão importantes quanto para
os adolescentes, afinal, elas não relatam suas dificuldades de forma objetiva
como fazem os adultos. Na maioria dos casos, a criança ou não sofre ou não
expressa adequadamente, o que não significa que o sofrimento psicológi
-co não exista. Considerando o sofrimento que pode existir no entorno da
criança, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) O sofrimento dos pais pode derivar das dificuldades dos filhos que des
-pertam a empatia dos pais, tentando ajudá-los da melhor forma possível.
( ) O sofrimento dos pais pode derivar da própria dor devido a imagem des
-valorizada que a criança passa, especialmente na comparação com outras
crianças da mesma idade.
( ) O sofrimento dos pais não relaciona-se com a rejeição, visto que os pais
estão sempre identificados com seus filhos.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) V – V – F.
4 Entende-se por prevenção, o conjunto de medidas ou de ações voltadas ao
indivíduo ou ao seu ambiente, suscetíveis de impedir o aparecimento de
um estado patológico posterior ou de reduzir sua intensidade e suas
conse-quências. Disserte sobre as três formas de prevenção que aprendemos nesse
subtópico.
5 As escolhas terapêuticas na infância e na adolescência podem ser comple
-xas. É preciso considerar a multiplicidade de técnicas disponíveis, de qua
-dros institucionais existentes e de teorias etiopatogênicas. Escolha e disserte
sobre uma das possibilidades terapêuticas, apresentando suas
característi-cas e principais objetivos (reeducações, psicoterapias individuais, terapias
familiares ou psicoterapias de grupo).
REFERÊNCIAS
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As-pectos Clínicos. São Paulo: Grupo GEN, 2009.
BARLOW, D. H.; DURAND, M. R. Psicopatologia: uma abordagem integrada. 2.
ed. São Paulo: Cengage Learning, 2015.
CHENIAUX, E. Manual de psicopatologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo
-gan, 2015.
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais.
3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.
DUMAS, J. Psicopatologia da Infância e da Adolescência. Porto Alegre: Grupo A, 2018.
FERREIRA, R. C. C. Psicopatologias: fundamentos, transtornos e consequências
da dependência química. 1. ed. São Paulo: Érica, 2015.
KRUG, J.; TRENTINI, C.; RUSCHEL, D. Conceituação de psicodiagnóstico na
atualidade. In: SIMON, H. C.; RUSCHEL, B. D.; MARCELI, T. C.; SILVA, K. J.
Psicodiagnóstico. Porto Alegre: Grupo A, 2016.
MARCELLI, D.; BRACONNIER, A. Adolescência e Psicopatologia. 6. ed. Porto
Alegre: ARTMED, 2007.
MARCELLI, D.; COHEN, D. Infância e Psicopatologia. Porto Alegre: Grupo A, 2010.
SILVA, M.; BANDEIRA, D. A entrevista de anamnese. In: SIMON, H. C.; RUSCHEL,
B. D.; MARCELI, T. C.; SILVA, K.J. Psicodiagnóstico. Porto Alegre: Grupo A, 2016.
UNIDADE 3 —
No documento
Psicopatologia: Infância e Adolescência
(páginas 106-115)