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Psicopatologia: Infância e Adolescência

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Academic year: 2021

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Indaial – 2021

P sicoPatologia : i nfância e

a dolescência

Prof. Lucas Tosi Dias de Souza

1

a

Edição

(2)

Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:

Prof. Lucas Tosi Dias de Souza

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

S729p

Souza, Lucas Tosi Dias de

Psicopatologia: infância e adolescência. / Lucas Tosi Dias de Souza – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

151 p.; il.

(3)

a Presentação

Olá, acadêmico! Bem-vindo ao Livro Didático Psicopatologia: Infân- cia e Adolescência, o ramo da ciência que se ocupa das causas, estruturas e funcionamentos das doenças e dos transtornos mentais, além de suas formas de manifestação. Ou seja, a Psicopatologia pode ser entendida como o con- junto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano.

Enquanto a Psicologia dedica-se ao estudo sistemático da vida psíquica

“normal”, a Psicopatologia estrutura-se como uma parte da Psicologia Geral, que se dedica às anomalias, deficiências e enfermidades da mente humana. É importante ressaltar que a Psicopatologia não é um ramo da Psicologia, pois caracteriza-se como uma ciência autônoma, fruto principalmente da clínica psiquiátrica, de disciplinas biológicas e neurocientíficas aliadas aos saberes da Psicologia, da Sociologia, da Filosofia etc.

Portanto, para uma melhor compreensão do que é a Psicopatologia e quais são seus desdobramentos, na Unidade 1, faremos uma introdução ao estudo dessa ciência, conheceremos a história e os principais conceitos da Psicopatologia, diferenciaremos os critérios de normalidade e de patológico, definiremos os transtornos mentais, e, por fim, identificaremos as principais funções psíquicas e suas alterações. Para facilitar nossos estudos, a Unidade 1 foi dividida em três tópicos: 1. Fundamentos da Psicopatologia, 2. Psicopa- tologia e Psicossomática, e 3. As funções psíquicas e suas alterações.

Em seguida, na Unidade 2, avaliaremos as alterações das funções psíquicas através do processo de anamnese, das técnicas de entrevista e do diagnóstico psicopatológico. Aprenderemos, também, sobre os principais quadros psicopatológicos da infância e da adolescência, como o autismo, a esquizofrenia e a depressão. A última parte dessa unidade consiste em iden- tificar possíveis formas de prevenção, de escuta e de intervenção terapêutica.

Por fim, na Unidade 3, aprenderemos um pouco sobre os sistemas de classificação dos transtornos mentais, conhecendo suas origens e dife- renciando os principais sistemas de classificação, como a Classificação Inter- nacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). A partir disso, será possível compreendermos os principais critérios de classificação e também aprender com os exemplos apresentados.

Boa leitura e bons estudos!

Prof. Ms. Lucas Tosi Dias de Souza

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Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

NOTA

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Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você

terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

LEMBRETE

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s umário

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA

E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES ... 1

TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA ... 3

1 INTRODUÇÃO ... 3

2 HISTÓRIA E CONCEITOS INTRODUTÓRIOS ... 3

2.1 BREVE EVOLUÇÃO DA PSIQUIATRIA ... 5

2.2 AS ORIGENS DA PSICOPATOLOGIA CONTEMPORÂNEA ... 7

3 CAMPOS E TIPOS DE PSICOPATOLOGIA ... 9

4 OS CRITÉRIOS DE NORMALIDADE E DE PATOLOGIA ... 11

4.1 CRITÉRIOS DE NORMALIDADE ...12

4.1.1 Normalidade como ausência de doença ...12

4.1.2 Normalidade estatística ... 13

4.1.3 Normalidade como bem-estar ... 13

4.1.4 Normalidade como processo ... 13

4.1.5 Normalidade subjetiva ...14

4.1.6 Normalidade operacional ...14

5 A SAÚDE MENTAL E A ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ... 14

5.1 ATENÇÃO BÁSICA PSICOSSOCIAL ... 16

5.2 AS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE ATENÇÃO NO BRASIL ...17

5.2.1 Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) ...17

5.2.2 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ...18

5.2.3 Saúde mental e Saúde da família...18

5.2.4 As Cooperativas e os Centros de convivência ...19

RESUMO DO TÓPICO 1... 20

AUTOATIVIDADE ... 21

TÓPICO 2 — PSICOPATOLOGIA E PSICOSSOMÁTICA ... 23

1 INTRODUÇÃO ... 23

2 O QUE É PSICOSSOMÁTICO E SUAS MANIFESTAÇÕES ... 23

2.1 AS MANIFESTAÇÕES PSICOSSOMÁTICAS ...24

2.2 INFÂNCIA E PSICOSSOMÁTICA...25

2.3 ADOLESCÊNCIA E PSICOSSOMÁTICA ... 26

3 OS TRANSTORNOS MENTAIS ... 27

4 AS SÍNDROMES E OS SINTOMAS ... 29

RESUMO DO TÓPICO 2... 30

AUTOATIVIDADE ... 31

TÓPICO 3 — AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES ... 33

1 INTRODUÇÃO ... 33

2 AS FUNÇÕES PSÍQUICAS ELEMENTARES ... 33

2.1 A CONSCIÊNCIA E A ATENÇÃO ... 34

2.2 A ORIENTAÇÃO E AS VIVÊNCIAS DO TEMPO E DO ESPAÇO ... 35

2.3 A SENSOPERCEPÇÃO E A MEMÓRIA ... 36

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2.4 A VONTADE E A PSICOMOTRICIDADE ... 38

2.5 A AFETIVIDADE E O PENSAMENTO ... 39

2.6 O JUÍZO E A LINGUAGEM ...40

3 AS FUNÇÕES PSÍQUICAS COMPOSTAS ... 41

3.1 O EU E O SELF ...42

3.2 A PERSONALIDADE ... 43

3.3 A INTELIGÊNCIA ...44

LEITURA COMPLEMENTAR ... 46

RESUMO DO TÓPICO 3... 48

AUTOATIVIDADE ... 49

REFERÊNCIAS ... 51

UNIDADE 2 — AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO EM PSICOPATOLOGIA: INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ... 53

TÓPICO 1 — AVALIAÇÃO DAS FUNÇÕES PSÍQUICAS ... 55

1 INTRODUÇÃO ... 55

2 A AVALIAÇÃO CLÍNICA ... 56

2.1 AVALIAÇÃO FÍSICA ...57

2.2 AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA ...58

2.3 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E O PSICODIAGNÓSTICO ...59

2.4 EXAMES COMPLEMENTARES ...59

3 A ENTREVISTA CLÍNICA ... 60

3.1 ENTREVISTAS COM CRIANÇAS ... 62

3.2 ENTREVISTAS COM ADOLESCENTES ... 63

4 A ANAMNESE... 64

5 O DIAGNÓSTICO PSICOPATOLÓGICO ... 65

5.1 TESTES PSICOLÓGICOS... 66

5.2 VISÃO GERAL DA AVALIAÇÃO PSICOPATOLÓGICA ... 67

RESUMO DO TÓPICO 1... 69

AUTOATIVIDADE ... 70

TÓPICO 2 — OS PRINCIPAIS QUADROS PATOLÓGICOS DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA ... 73

1 INTRODUÇÃO ... 73

2 O SURGIMENTO E A CONSTITUIÇÃO DOS TRANSTORNOS MENTAIS ... 74

3 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA ... 76

3.1 ETIOLOGIA ...77

3.2 AUTISMO DE “ALTO FUNCIONAMENTO” ...78

(9)

4.1 REEDUCAÇÕES E CORREÇÕES ...94

4.2 PSICOTERAPIAS INDIVIDUAIS ...95

4.3 TERAPIAS FAMILIARES ...95

4.4 PSICOTERAPIAS DE GRUPO ... 96

LEITURA COMPLEMENTAR ... 98

RESUMO DO TÓPICO 3... 100

AUTOATIVIDADE ... 101

REFERÊNCIAS ... 103

UNIDADE 3 — DESCRIÇÃO DOS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DOS DISTÚRBIOS MENTAIS: INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ... 105

TÓPICO 1 — OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DOS DISTÚRBIOS MENTAIS ... 107

1 INTRODUÇÃO ... 107

2 BREVE HISTÓRICO ... 107

3 AS PRIMEIRAS CLASSIFICAÇÕES ... 112

4 ESPECIFICIDADES DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA ... 115

RESUMO DO TÓPICO 1... 119

AUTOATIVIDADE ... 120

TÓPICO 2 — O MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS (DSM)... 123

1 INTRODUÇÃO ... 123

2 O TRAJETO ATÉ O DSM-III ... 123

3 O DSM-IV ... 127

4 O DSM-V ... 129

5 EXEMPLOS DE CLASSIFICAÇÃO ... 131

RESUMO DO TÓPICO 2... 134

AUTOATIVIDADE ... 135

TÓPICO 3 — A CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL DE DOENÇAS E DE PROBLEMAS RELACIONADOS À SAÚDE (CID) ... 137

1 INTRODUÇÃO ... 137

2 O TRAJETO ATÉ A CID-10 ... 137

3 A CID-11 ... 140

4 EXEMPLOS DE CLASSIFICAÇÃO ... 142

LEITURA COMPLEMENTAR ... 144

RESUMO DO TÓPICO 3... 147

AUTOATIVIDADE ... 148

REFERÊNCIAS ... 150

(10)
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UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer a história e os principais conceitos da psicopatologia;

• diferenciar os critérios de normalidade e de patologia;

• revisar as principais definições de transtornos mentais, síndromes e sintomas;

• identificar as funções psíquicas e suas principais alterações.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA TÓPICO 2 – PSICOPATOLOGIA E PSICOSSOMÁTICA

TÓPICO 3 – AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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TÓPICO 1 —

UNIDADE 1

FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos os fundamentos da Psicopatologia, um ramo da ciência que estuda as causas, estruturas e manifestações das doenças e dos transtornos mentais. Começaremos o subtópico 2 com um pouco da história da Psiquiatria e da Psicopatologia contemporânea; seguiremos apresentando alguns conceitos introdutórios, mas fundamentais para a compreensão deste tópico.

No subtópico 3, apresentaremos os diferentes campos e tipos de Psicopa- tologia, visto que o estudo das psicopatologias se caracteriza pela multiplicidade de abordagens e referenciais teóricos. É da natureza da Psicopatologia ser um campo de conhecimento que não admite uma teoria única e predominante, por- tanto, o conflito de ideias não é um problema, mas uma necessidade.

Já o subtópico 4 será dedicado ao estudo dos diferentes critérios de nor- malidade e de patologia, um debate vivo, complexo e que está em constante atua- lização, visto que há sempre um juízo de valor e conotações políticas e filosóficas ao se categorizar algo como patológico, impactando o modo como milhares de pessoas serão situadas em suas vidas na sociedade.

Encerraremos o Tópico 1 com um assunto de bastante relevância, a saúde mental e a atenção psicossocial, um dos campos de conhecimento mais comple- xos e plurais que estudaremos, afinal, a saúde mental não é apenas Psicopatolo- gia, Semiologia ou Psiquiatria, e não pode ser delimitada apenas pelo estudo ou tratamento das doenças mentais.

2 HISTÓRIA E CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Compreende-se por Psicopatologia o ramo da ciência que se ocupa das cau- sas, estruturas e funcionamentos das doenças e dos transtornos mentais, além de suas formas de manifestação. Portanto, a psicopatologia pode ser definida como

“conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. É

um conhecimento que se esforça por ser sistemático, elucidativo e desmistifican-

te” (DALGALARRONDO, 2019, s.p.). Nesse sentido, estudar psicopatologia seria

equivalente a montar um quebra-cabeça, conforme ilustrado pela Figura 1.

(14)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

FIGURA 1 – O ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA

FONTE: <https://shutr.bz/3hRHXuz>. Acesso em: 12 jul. 2021.

Considerando a Psicologia como o estudo sistemático da vida psíquica

“normal”, a Psicopatologia – área de responsabilidade da Medicina – configura- -se como uma parte da Psicologia Geral, que se refere às anomalias, deficiências e enfermidades da mente humana. Ainda que o estudo da Psicopatologia se baseie na Psiquiatria, não podemos confundir as duas áreas, a Psicopatologia configu- ra-se a partir de disciplinas biológicas e neurocientíficas aliadas à saberes da Psi- quiatria, da Psicologia, da Sociologia etc. (FERREIRA, 2015).

É importante frisar que a Psicopatologia não é um ramo da Psicologia (que se origina da filosofia) mas uma ciência autônoma, fruto da clínica psiquiá- trica. Segundo o psiquiatra Karl Jaspers (1987), representado de forma ilustrada na Figura 2, a psicopatologia investiga muitos fatos, cujos correspondentes “nor- mais” ainda não foram estabelecidos pela psicologia, e é muitas vezes a visão do anormal que ensina a explicar o normal.

FIGURA 2 – ILUSTRAÇÃO DO PSIQUIATRA KARL JASPERS

(15)

TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA

Dessa forma, a Psicopatologia dedica-se ao estudo dos transtornos men- tais e dos comportamentos que se diferem do que é esperado pelos padrões de normalidade (conceito que estudaremos nos próximos subtópicos). O ponto de partida do estudo da Psicopatologia, ou seja, a base na qual são construídas te- orias e conceitos, não está vinculada a uma teoria psicológica específica, como a Psicanálise, a Psicologia Humanista ou a outras áreas do conhecimento como a Neurologia e a Genética. É por isso que, segundo Ferreira (2015), essa ciência pode ser entendida a partir de diferentes perspectivas:

• Fenomenológica: trata-se da visão mais objetiva, sem teoria pré-concebidas.

Define as qualidades essenciais dos transtornos mentais, registra as experiên- cias conscientes e os comportamentos dos doentes.

• Psicodinâmica: fundamenta-se na observação do comportamento do doente, além das próprias experiências descritas por ele. A perspectiva psicodinâmica propõe-se a explicar as causas dos transtornos mentais, valendo-se principal- mente dos processos inconscientes.

• Experimental: baseando-se na relação entre os acontecimentos anormais, a perspectiva experimental cria hipóteses a partir do estudo dos elementos asso- ciados aos transtornos, explicando as alterações a partir de testes e observações.

Ainda segundo Ferreira (2015), é preciso considerar as diferentes teorias e abordagens, tanto psiquiátricas como psicológicas, para uma melhor compre- ensão dos transtornos mentais existentes. Cada patologia deve ser avaliada de forma única, visto que nada é apenas somático ou apenas psíquico, tornando as abordagens complementares entre si. O uso de medicamentos, por exemplo, pode ser um importante aliado ao tratamento Psicoterápico.

A Psicopatologia é a ciência que estuda as manifestações e mecanismos psíqui- cos da mente enferma, ou seja, conceitos e princípios que dizem respeito ao doente mental.

Já a Psiquiatria é uma especialização da Medicina, uma prática médica que se dedica à mente humana e que utiliza a Psicopatologia como um de seus principais instrumentos.

ATENCAO

2.1 BREVE EVOLUÇÃO DA PSIQUIATRIA

Por toda a Idade Média considerou-se que as doenças físicas e mentais

eram ocasionadas pela alma, portanto, se a alma estava oprimida, o mesmo acon-

teceria com o corpo. Assim, era comum a crença de que poderíamos morrer de

desgosto, ou que o medo e a raiva eram capazes de causar doenças.

(16)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

A mudança de paradigma ocorre a partir do século XVIII, com a expansão do Iluminismo, movimento intelectual e filosófico que dominou o mundo das ideias na Europa e que ficou conhecido como O Século da Filosofia. É nesse perí- odo que psiquiatras como William Cullen (1712-1790) classificaram as doenças psíquicas a partir de bases científicas. Além disso, os conceitos introduzidos por Philippe Pinel (1745-1826) contribuíram imensamente para a criação das duas mais famosas escolas psiquiátricas dos séculos XIX e XX: a Escola Francesa de Psiquiatria e a Escola Alemã de Psiquiatria. A Figura 3 apresenta o rosto de Pinel, homenageado em um selo na França.

FIGURA 3 – SELO EM HOMENAGEM À PHILIPPE PINEL

FONTE: <https://shutr.bz/3hPBzEn>. Acesso em: 12 jul. 2021.

Agora que vocês já conhecem Philippe Pinel, vale ressaltar que a escola

francesa se destacou pelo estudo das neuroses, principalmente através das pes-

quisas conduzidas pelo neurologista Jean-Martin Charcot (1825-1893), um dos

precursores dos estudos da histeria e da hipnose. Outro importante psiquiatra

dessa escola foi Pierre Janet (1859-1947) que, através de experimentos com hipno-

se, descobriu que seus pacientes poderiam relembrar de eventos traumáticos que

(17)

TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA

FIGURA 4 – FOTO DE SIGMUND FREUD

FONTE: <https://shutr.bz/3AypWZS>. Acesso em: 12 jul. 2021.

Emil Kraepelin (1856-1926) inclinou os seus estudos à Psiquiatria das psi- coses, enquanto Freud, cuja fotografia apresentamos na Figura 4, estudou a Psi- quiatria das neuroses, dedicando-se especialmente à clínica. Para Kraepelin, os psiquiatras deveriam focar mais nas observações clínicas do que na anatomopa- tologia. Já Freud debruçou o seu tempo para os fatores psicológicos dos indivídu- os, especialmente o funcionamento inconsciente da mente.

A última grande mudança na Psiquiatria ocorre a partir da década de 1960, quando surgiram os estudos sobre os psicofármacos. A partir da década de 1980, as teorias dos neurotransmissores consolidam-se e continuam sendo as mais utilizadas, partindo de pressupostos como a plasticidade neuronal e, conse- quentemente, a regeneração dos neurônios.

2.2 AS ORIGENS DA PSICOPATOLOGIA CONTEMPORÂNEA

A Psicopatologia contemporânea se originou a partir de duas vertentes:

• Tradição médica: fruto das pesquisas clínicas dos então chamados alienistas (nome dado aos especialistas em saúde mental).

• Conhecimentos de outras ciências humanas: a Filosofia, a Literatura, a Psi- cologia, a Psicanálise etc.

O termo Psicopatologia foi criado por Jeremy Benthan, em 1817. Psyché

significa alma e Páthos, sofrimento ou doença, e Lógos, estudo ou ciência. No en-

tanto, os trabalhos publicados por Esquirol e Griesinger em 1837 e 1845, respecti-

vamente, lhes garantiram o título de criadores da Psicopatologia.

(18)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

A consolidação da Psicopatologia como uma ciência independente ocor- reu, em grande parte, a partir da publicação da obra do psiquiatra alemão Karl Jaspers, Psicopatologia Geral, em 1913, sendo determinante para os estudos da área e tornando-se referência obrigatória para pesquisadores e psiquiatras clínicos. Jas- pers descreveu a Psicopatologia como “uma ciência básica, que serve de auxílio à psiquiatria e à psicologia clínica, a qual é, por sua vez, um conhecimento aplicado a uma prática profissional e social concreta” (DALGALARRONDO, 2019, n. p).

Para Jaspers (1987), o estudo da Psicopatologia consiste em não reduzir o ser humano a conceitos psicopatológicos, ou seja, é preciso estudar o homem con- siderando sua totalidade. Para o autor, e conforme ilustrado pela Figura 5, não basta “investigar apenas as vivências humanas em si, mas, também, as condições e causas de que dependem os nexos em que se estruturam, as relações em que se encontram, e os modos em que, de alguma maneira, se exteriorizam objetivamen- te” (JASPERS, 1987, p. 13).

FIGURA 5 – ILUSTRAÇÃO DA INTEGRAÇÃO DO CORPO

FONTE: <https://shutr.bz/3EA7pOW>. Acesso em: 12 jul. 2021.

A Figura 5 ilustra a integração do corpo, indicando que o domínio dessa ci-

ência “se estende a todo fenômeno psíquico que se possa apreender em conceitos de

significação constante e com possibilidades de comunicação” (JASPERS, 1987, p. 12).

(19)

TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA

3 CAMPOS E TIPOS DE PSICOPATOLOGIA

Ao longo dos últimos 200 anos, o estudo das psicopatologias se caracterizou pela multiplicidade de abordagens e referenciais teóricos. Essa variedade é duramen- te criticada por alguns cientistas, que afirmam tratar-se de uma ciência imatura, afi- nal, quando realmente se conhece algo é possível explicá-lo por apenas uma teoria.

Autores como Dalgalarrondo (2019) discordam dessa visão, justificando que exigir uma única explicação para uma área tão complexa como a psicopatologia seria tentar reduzir os fenômenos psicopatológicos a soluções simplistas e artificiais.

Ainda segundo o autor, é da natureza da Psicopatologia ser um campo de conhecimento que não admite uma teoria única e predominante pois trata-se de uma ciência que exige debate constante e aprofundado. Diferentemente de outras ciências, o conflito de ideias não é um problema, mas uma necessidade. Afinal, conforme ilustrado pela Figura 6, a evolução da Psicopatologia reside justamente nas tentativas de esclarecimento e aprofundamento das diferentes teorias.

FIGURA 6 – AS DIFERENTES TEORIAS

FONTE: <https://shutr.bz/3CygN3J>. Acesso em: 12 jul. 2021.

A partir dessas diferentes teorias, tornou-se possível elaborar o Quadro 1 que apresenta, de forma resumida, algumas das principais correntes da Psicopa- tologia conforme proposto por Dalgalarrondo (2019).

QUADRO 1 – RESUMO DOS PRINCIPAIS TIPOS DE PSICOPATOLOGIA

Perspectiva da Psicopatologia Principais características

Descritiva Objetiva a descrição das formas de alterações psíquicas e as estruturas dos sintomas.

Dinâmica O foco são os conteúdos das vivências, afetos, de-

sejos e experiências particulares dos indivíduos.

(20)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

Médica Perspectiva centrada no corpo, adoecimento como um mau funcionamento do cérebro e

uma disfunção biológica.

Existencial O transtorno mental não seria tanto uma dis- função biológica, mas um modo de existência,

uma forma de ser e de estar no mundo.

Comportamental

Os sintomas seriam comportamentos e representações cognitivas disfuncionais, aprendidas e reforçadas pela experiência

familiar e social.

Psicanalítica Os sintomas e transtornos mentais seriam uma forma de expressão dos conflitos inconscientes,

de desejos que não podem ser realizados.

Categorial Define os transtornos mentais a partir de

“categorias únicas”, considerando que haveria diferenças bem definidas entre as patologias.

Dimensional Considera os transtornos mentais a partir de dimensões ou espectros.

Biológica

Compreende o transtorno mental a partir de alterações de mecanismos neurais e de circuitos cerebrais. O foco são os aspectos neuroquímicos e neurofisiológicos das doenças.

Sociocultural

Considera o papel dos fatores culturais no desenvolvimento de transtornos mentais. Os sintomas só teriam significado a partir de um contexto de valores e normas culturalmente

construídas.

Operacional-pragmática

Os transtornos são definidos a partir de sua utilidade pragmática, considerando o tratamento clínico ou a pesquisa. É a base dos manuais de classificação de transtornos mentais

como o DSM-5 e o CID-11.

Pesquisa as psicopatologias a partir de

(21)

TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA

4 OS CRITÉRIOS DE NORMALIDADE E DE PATOLOGIA

O conceito de saúde e de normalidade na Medicina é uma questão que con- tinua gerando debates até os dias de hoje. A descrição do que é a doença nos remete à Grécia antiga, onde é possível localizar nos escritos hipocráticos a definição de que a natureza (physis), tanto no homem como fora dele, é a harmonia e o equilí- brio. A perturbação desse equilíbrio, dessa harmonia, é a doença, ou seja, ela não estaria em uma parte do homem, mas o acometeria como um todo. Para os gregos, a doença não é somente desequilíbrio ou desarmonia; ela é, também, “o esforço que a natureza exerce no homem para obter um novo equilíbrio. A doença é uma reação generalizada com intenção de cura. O organismo desenvolve uma doença para se curar” (CANGUILHEM, 2009, p. 11). Nesse sentido, a Figura 7 apresenta o que consideraríamos uma mente normal e outra mente com um possível transtorno.

FIGURA 7 – O QUE É SER NORMAL?

FONTE: <https://shutr.bz/3tVw37Q>. Acesso em: 12 jul. 2021.

Entretanto, com o avanço da anatomia e da fisiologia, a Medicina passa a considerar outros padrões para determinar o que é normal e o que é patológico.

Uma das teorias desenvolvidas no século XVI associava lesões de órgão à grupos de sintomas estáveis, permitindo a classificação nosográfica (tratado com descrição ou explicação das doenças) baseada na decomposição anatômica. Segundo essa teoria,

“os fenômenos patológicos nos organismos vivos nada mais são do que variações quantitativas, para mais ou para menos, dos fenômenos fisiológicos corresponden- tes” (CANGUILHEM, 2009, p. 12). Assim, o patológico seria designado a partir do normal, não tanto como a ou dis(função), mas como hiper ou hipo.

Ainda que os conceitos de normal e patológico tenham evoluído a par-

tir dessa visão positivista e organicista, Canguilhem (2009) propõe que o estado

patológico é uma norma que não tolera nenhum desvio das condições na qual é

válida, assim, o que caracterizaria o doente seria sua incapacidade de ser norma-

tivo. A saúde, em oposição, seria a capacidade de estar adaptado às exigências do

meio, criar e seguir novas normas de vida, já que o normal é viver num meio onde

flutuações e novos acontecimentos são possíveis.

(22)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

Por essa razão, compreende-se o motivo do debate sobre normalidade e anormalidade estar vivo e em constante atualização, visto que há sempre um juízo de valor e conotações políticas e filosóficas ao se categorizar algo como pa- tológico, impactando o modo como milhares de pessoas serão situadas em suas vidas na sociedade (DALGALARRONDO, 2019).

“Aquilo que é normal, apesar de ser normativo em determinadas condições, pode se tornar patológico em outra situação, se permanecer inalterado. O indivíduo é que avalia essa transformação porque é ele que sofre suas consequências, no próprio momento em que se sente incapaz de realizar as tarefas que a nova situação lhe impõe” (CANGUILHEM, 2009, p. 59).

ATENCAO

4.1 CRITÉRIOS DE NORMALIDADE

Vimos que, mesmo os manuais e os dicionários não conseguem estabelecer um critério de normalidade e anormalidade, estes são distintos e a escolha de uma perspectiva em detrimento de outra depende, também, de questões ideológicas, pragmáticas e filosóficas. Ainda assim, Dalgalarrondo (2019) delimita alguns critérios de normalidade que podem ser utilizados pela Psicopatologia:

4.1.1 Normalidade como ausência de doença

Podemos considerar a ausência de doença como um dos critérios mais antigos e atualmente falhos do que é a normalidade. Isso porque não deveríamos definir algo pelo que ele não é, pelo que lhe falta. A Figura 8 ilustra a saúde como a ausência de sintomas, ou seja, estamos definindo a saúde pelo seu negativo, o que parece não resolver o problema conceitual.

FIGURA 8 – AUSÊNCIA DE DOENÇAS

(23)

TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA

4.1.2 Normalidade estatística

Trata-se da normalidade aplicada às situações quantitativas, conforme apresentado na Figura 9, em que o normal passa a ser aquilo que se observa com mais frequência. Se quem está dentro da curva de distribuição normal são justamente os indivíduos “normais”, quem está fora da curva automaticamente se torna anormal ou doente.

FIGURA 9 – NORMALIDADE ESTATÍSTICA

FONTE: <https://shutr.bz/3znxLjD>. Acesso em: 12 jul. 2021.

Dentro dessa metodologia, é preciso considerar que “esse é um critério muitas vezes falho em saúde geral e mental, pois nem tudo o que é frequente é necessariamente ‘saudável’, assim como nem tudo que é raro ou infrequente é patológico” (DALGALARRONDO, 2019, n. p).

4.1.3 Normalidade como bem-estar

Essa definição seria a que mais se aproxima da apresentada anteriormente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que define saúde como o “completo bem-estar físico, mental e social”, e não simplesmente como ausência de doença.

As críticas que são feitas a essa definição deve-se ao fato de que é difícil definir bem-estar de forma objetiva, além disso, pensar em um “completo bem-estar”

faria com que poucas pessoas pudessem ser classificadas como saudáveis.

4.1.4 Normalidade como processo

Nessa perspectiva são considerados os aspectos dinâmicos do desenvolvi-

mento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tem-

po, de crises, de mudanças próprias para certos períodos etários. Segundo Dalga-

larrondo (2019), esse conceito é particularmente útil na chamada psicopatologia

do desenvolvimento, relacionada à psiquiatria e à psicologia clínica de crianças,

adolescentes e idosos.

(24)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

4.1.5 Normalidade subjetiva

Ainda que se trate de uma proposta interessante, pois nessa visão a percepção subjetiva do indivíduo com relação ao seu estado de saúde é o mais importante, pode ser um critério falho, pois há pessoas que estão “se sentindo muito bem, felizes” em fases maníacas de um transtorno bipolar, por exemplo.

4.1.6 Normalidade operacional

O critério operacional é o mais pragmático de todos. Isso porque são defini- das de forma explícita o que é o normal e o que é o patológico e busca-se trabalhar operacionalmente com esses conceitos. De certa forma, essa perspectiva da norma- lidade seria a mais utilizada em manuais de classificação como o CID e o DSM.

5 A SAÚDE MENTAL E A ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

Poucos campos de conhecimento são tão complexos, plurais e intersetoriais como o da saúde mental. Isso porque esse campo não está limitado a um tipo de conhecimento, como o da Psiquiatria, e também por ser exercido por diversos profis- sionais da área da saúde, representados pela Figura 10. Dessa forma, a saúde mental não é apenas Psicopatologia, Semiologia ou Psiquiatria, não podendo ser delimitada apenas pelo estudo ou tratamento das doenças mentais (AMARANTE, 2013).

FIGURA 10 – ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (EQUIPE MULTIDISCIPLINAR)

(25)

TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA

Para alcançarmos as boas práticas propostas anteriormente, é preciso compreender que a saúde pública precisa ser estruturada considerando os con- ceitos de medicina social, introduzida na Alemanha em 1948, por Virchow, que propunha a reforma da medicina com base em quatro princípios:

• A saúde da população é uma questão de interesse social direto.

• As condições econômicas e sociais exercem impacto importante na saúde e na doença, e essas relações devem ser objeto de investigação científica.

• As medidas adotadas para promover a saúde e conter as doenças devem ser tanto sociais como médicas.

• As estatísticas médicas devem ser nosso padrão de medida (THORNICROFT;

TANSELLA, 2010).

Dessa forma, a avaliação dos transtornos mentais na saúde pública deve considerar alguns critérios como a frequência, a severidade e as consequências, a disponibilidade e a aceitação das intervenções. Além disso, é importante observar as diferenças existentes na perspectiva da saúde individual e da saúde coletiva, conforme apresentado no Quadro 2.

QUADRO 2 – COMPARAÇÃO ENTRE SAÚDE COLETIVA E INDIVIDUAL

SAÚDE COLETIVA SAÚDE INDIVIDUAL

Visão integral da população Visão parcial da população Pacientes compreendidos em seu

contexto socioeconômico Tende a excluir os fatores contextuais Interesse em prevenção primária Foco maior no tratamento do que na

prevenção Intervenções dirigidas tanto ao

indivíduo quanto à população Intervenções apenas no nível individual

Os componentes do serviço são considerados no contexto de um

sistema global

Os componentes do serviço são considerados isoladamente Favorece o acesso aberto aos serviços

com base nas necessidades

O acesso aos serviços é baseado em critérios de elegibilidade, como idade,

diagnóstico ou cobertura dos seguros Preferência pelo trabalho em equipe Preferência pela terapia individual Perspectiva de longa duração/por toda

a vida Perspectiva episódica e de curta duração

Relação custo-efetividade considerada

em termos populacionais Relação custo-efetividade considerada em termos individuais

FONTE: Thornicroft e Tansella (2010, p. 9)

(26)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

A partir do que aprendemos no Quadro 2, podemos avançar para o primeiro subtópico da atenção psicossocial, a atenção básica.

5.1 ATENÇÃO BÁSICA PSICOSSOCIAL

Um dos objetivos da Atenção Básica é dedicar esforços à atenção à saúde, considerando o meio ambiente, o estilo de vida e a promoção da saúde como seus fundamentos básicos. Para tanto, é necessário desenvolver e utilizar tecnologias próprias à Atenção Básica à Saúde. Dentre elas, podemos destacar:

• “Considerar a necessidade de atenção e cuidado para com todas as demandas dos usuários”.

• Ampliar a capacidade dos profissionais para lidar com as dimensões psíquica e social (cultural, profissional, econômica etc.) dos indivíduos, inclusive as suas próprias, que interagem.

• “Ampliar as capacidades comunicativas e gerenciais dos profissionais, necessárias para a atuação em comunidade e para a organização da assistência”

(CAMPOS, 2018, p. 141).

Portanto, para que seja possível implementar programas ligados à Atenção Básica, é preciso primeiramente dispor das edificações e de equipamentos adequa- dos, conforme ilustrado pela Figura 11. Além disso, é fundamental considerar os conhecimentos e habilidades dos profissionais, “a capacidade de trabalho em equi- pe, os meios constituídos pela interação dos profissionais entre si e destes com os usuários e a comunidade no processo de trabalho, buscando um modelo produtor do cuidado, centrado no usuário e suas necessidades” (CAMPOS, 2018, p. 142).

FIGURA 11 – ATENÇÃO BÁSICA

(27)

TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA

Portanto, é preciso pensar a saúde pública a partir da perspectiva da prevenção das desordens, e não apenas seu tratamento, considerando as associações existentes entre o contexto social e as doenças mentais. Isso porque a qualidade do ambiente social “está fortemente relacionada ao risco que ela tem de sofrer de uma doença mental, ao desencadeador de um episódio da doença e à probabilidade dessa doença tornar-se crônica” (THORNICROFT; TANSELLA, 2010, p. 13).

Ainda segundo as autoras, a pobreza parece ser um fator crucial em muitas dessas complexas relações, visto que o impacto cumulativo da pobreza pode produzir efeitos continuados sobre o funcionamento físico, cognitivo, psicológico e social.

5.2 AS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE ATENÇÃO NO BRASIL

O modelo de atenção à saúde no Brasil é representado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pode ser caracterizado como um sistema integrado, organizado em rede de forma regionalizada e hierarquizada. A organização dos serviços de saúde é composta por três grandes conjuntos de ações e serviços do SUS:

• A atenção básica (o programa de agentes comunitários de saúde, a estratégia da família e as unidades básicas e ambulatórios hospitalares).

• A média complexidade (unidades ambulatoriais e hospitalares especializa- das, públicas e privadas).

• As redes de alta complexidade (referência nacional em várias especialidades médicas).

Considerando a atenção psicossocial básica, Amarante (2013, s.p.) aponta que “os serviços de atenção psicossocial devem ter uma estrutura bastante flexí- vel para que não se tornem espaços burocratizados, repetitivos, pois tais atitudes representam que estariam deixando de lidar com as pessoas e sim com as doen- ças”. Apresentaremos os principais serviços implementados no Brasil.

5.2.1 Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)

A Rede de Atenção Psicossocial é definida pelo governo como

a rede de serviços de saúde de caráter aberto e comunitário constituí- do por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdiscipli- nar e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorren- tes do uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial e são substitutivos ao modelo asilar (BRASIL, 2017).

A Rede de Atenção Psicossocial é constituída por diversos componentes

como a Unidade Básica de Saúde, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família, o

programa Consultório na Rua, os Centros de Convivência e Cultura, além dos

Centros de Atenção Psicossocial.

(28)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

5.2.2 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

Os Centros de Atenção Psicossocial oferecem acolhimento e tratamento multiprofissional aos usuários, sem necessidade de agendamento prévio ou en- caminhamento. O usuário que procura o CAPS é acolhido e participa da elabo- ração de um Projeto Terapêutico Singular específico para as suas necessidades e demandas. Uma equipe multiprofissional composta por médicos psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais avaliam o quadro do usuário e indicam o tratamento adequado para cada caso.

O CAPS também atua no acolhimento às situações de crise, nos estados agudos da dependência química e de intenso sofrimento psíquico. Os CAPS são divididos em I, II ou III, de acordo com o número de habitantes de cada muni- cípio, e também em CAPSi (atendimento de crianças e adolescentes) e CAPSad (atendimento de dependência química – álcool e drogas).

5.2.3 Saúde mental e Saúde da família

A Estratégia Saúde da Família (ESF) surgiu em 1994 com o nome de Pro- grama de Saúde da Família. A Figura 12 ilustra o cuidado familiar que a ESF pro- cura alcançar, nesse sentido, a equipe básica da ESF é composta por um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e de quatro a seis agentes de saúde, esses devem ser residentes no próprio território de atuação da equipe.

FIGURA 12 – SAÚDE DA FAMÍILIA

(29)

TÓPICO 1 — FUNDAMENTOS DA PSICOPATOLOGIA

e é tida pelo Ministério da Saúde e gestores estaduais e municipais como estratégia de expansão, qualificação e consolidação da atenção básica por favorecer uma reorientação do processo de trabalho com maior potencial de aprofundar os princípios, diretrizes e fundamentos da atenção básica, de ampliar a resolutividade e impacto na situação de saúde das pessoas e coletividades, além de propiciar uma impor- tante relação custo-efetividade (BRASIL, 2021).

5.2.4 As Cooperativas e os Centros de convivência

A partir da aprovação da Lei n° 9.867, em 11 de novembro de 1999, fo- ram instituídas cooperativas sociais “constituídas com a finalidade de inserir as pessoas em desvantagem no mercado econômico, por meio do trabalho” e que

“se fundamentam no interesse geral da comunidade em promover a pessoa hu- mana e a integração social dos cidadãos” (BRASIL, 1999) e, muito embora tivesse nascido no âmbito do movimento social da saúde mental e reforma psiquiátrica, ampliou o leque de beneficiários da lei (AMARANTE, 2013).

Em São Paulo, regulamentados pela Portaria Municipal 964/2018, os Centros de Convivência e Cooperativa (CECCO) têm como objetivo favorecer a aproximação e convivência entre a população geral, em toda sua diversidade, sejam elas idosas, pessoas com transtornos mentais, com deficiências, crianças e adolescentes, pessoas em situação de rua, dentre outras. Os dispositivos foram instalados preferencialmen- te dentro de parques públicos e de centros comunitários e são concebidos como espa- ços alternativos de convivência, permanecendo aberto a todas as pessoas.

A partir dos dispositivos apresentados, é possível afirmar que estamos cami- nhando no sentido de construir um “novo modo de lidar com o sofrimento mental, aco- lhendo e cuidando efetivamente dos sujeitos, e a construção, consequente, de um novo lugar social para a diversidade, a diferença e o sofrimento mental” (AMARANTE, 2013, s.p.).

IMPORTANTE

(30)

Neste tópico, você aprendeu que:

RESUMO DO TÓPICO 1

• A Psicopatologia é o ramo da ciência que se ocupa das causas, estruturas e funcionamentos das doenças e dos transtornos mentais, além de suas formas de manifestação. Formalmente, a psicopatologia pode ser definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano.

• É da natureza da Psicopatologia ser um campo de conhecimento que não admite uma teoria única e predominante, trata-se de uma ciência que exige debate constante e aprofundado. Diferentemente de outras ciências, o conflito de ideias não é um problema, mas uma necessidade. A evolução da Psicopatologia reside justamente nas tentativas de esclarecimento e aprofundamento das diferentes teorias.

• O debate sobre normalidade e anormalidade é vivo e está em constante atualização, visto que há sempre um juízo de valor e conotações políticas e filosóficas ao se categorizar algo como patológico, impactando o modo como milhares de pessoas estarão situadas em suas vidas na sociedade.

• Ao nos depararmos com a palavra “saúde mental”, devemos pensar não só

em Psiquiatria e Neurologia, mas principalmente em Psicologia, Psicanálise,

Fisiologia, História, Geografia e tantas outras áreas do conhecimento que

fazem parte do conceito de saúde mental. Devemos considerar como boas

práticas em saúde mental as práticas acessíveis a todos, baseadas em premissas

éticas, em evidências científicas e na experiência, singular e coletiva.

(31)

1 A Psicopatologia é uma ciência que pode ser compreendida a partir de di- ferentes perspectivas. Com relação à definição da Psicopatologia Psicodinâ- mica, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Trata-se da visão mais objetiva, sem teoria pré-concebidas. Define as qualidades essenciais dos transtornos mentais, registra as experiências conscientes e os comportamentos dos doentes.

b) ( ) Fundamenta-se na observação do comportamento do doente, além das próprias experiências descritas por ele. Essa perspectiva se propõe a explicar as causas dos transtornos mentais, valendo-se principalmente dos processos inconscientes.

c) ( ) Baseia-se na relação entre os acontecimentos anormais, criando hipóte- ses a partir do estudo dos elementos associados aos transtornos, expli- cando as alterações a partir de testes e observações.

d) ( ) É a perspectiva mais centrada no corpo, que compreende o adoecimento como um mau funcionamento do cérebro a partir de suas dinâmicas biológicas.

2 Dentre os critérios de normalidade, um deles define de forma explícita o que é o normal e o que é o patológico, objetivando trabalhar operacional- mente com esses conceitos. De certa forma, essa perspectiva da normalida- de seria a mais utilizada em manuais de classificação como o CID e o DSM.

Acerca do critério descrito, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Normalidade estatística.

b) ( ) Normalidade como bem-estar.

c) ( ) Normalidade subjetiva.

d) ( ) Normalidade operacional.

3 Poucos campos de conhecimento são tão complexos, plurais e intersetoriais como o da saúde mental. De acordo com alguns conceitos apresentados nesta unidade, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Entende-se por boas práticas em saúde mental aquelas acessíveis a todos, baseadas em premissas éticas, em evidências científicas e na experiência, singular e coletiva.

( ) Um dos objetivos da Atenção Básica é dedicar esforços à atenção à saúde, considerando o meio ambiente, o estilo de vida e a promoção da saúde como seus fundamentos básicos.

( ) Não é preciso ampliar as capacidades comunicativas e gerenciais dos profissionais, visto que não são características necessárias para a atuação em comunidade e para a organização da assistência.

AUTOATIVIDADE

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Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F.

b) ( ) V – F – V.

c) ( ) F – V – F.

d) ( ) F – F – V.

4 Ainda que os manuais e dicionários não consigam estabelecer um critério único de normalidade e anormalidade, ao longo desta unidade delimita- mos alguns critérios de normalidade que podem ser utilizados pela Psi- copatologia. Os principais foram: normalidade como ausência de doença, normalidade estatística, normalidade como bem-estar, normalidade como processo, normalidade subjetiva e normalidade operacional. Nesse contex- to, disserte sobre os três critérios expostos e as suas principais falhas.

5 A Psicopatologia contemporânea originou-se a partir de duas vertentes: da tra-

dição médica e dos conhecimentos de outras ciências humanas (Filosofia, Lite-

ratura, Psicologia, Psicanálise etc.). Nesse contexto, disserte sobre a importân-

cia de observarmos as patologias a partir de uma construção multidisciplinar.

(33)

TÓPICO 2 —

UNIDADE 1

PSICOPATOLOGIA E PSICOSSOMÁTICA

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, no Tópico 2, estudaremos os conceitos da Psicossomática, linha teórica que surge no início do século XX inspirada na “arte de curar” da Medicina e que pode ser definida como o estudo das relações entre as emoções e os males do corpo. O subtópico 2 será dedicado a apresentação dos conceitos e das manifestações psicossomáticas, tanto na infância quanto na adolescência.

No subtópico 3, iniciaremos os estudos dos transtornos mentais, ou seja, as anormalidades, sofrimentos ou comprometimentos de determinação psicoló- gica e/ou mental. Faremos uma breve contextualização dos conceitos, pois estu- daremos os transtornos mentais de forma mais aprofundada na Unidade 3.

Encerraremos esse tópico no subtópico 4, com a apresentação das síndromes e dos sintomas. Além de conhecer algumas das síndromes que podem acometer os seres humanos, diferenciaremos os conceitos de síndromes, sintomas e doenças.

2 O QUE É PSICOSSOMÁTICO E SUAS MANIFESTAÇÕES

O conceito de psicossomático surge no início do século XX, inspirado na

“arte de curar” da Medicina. Podemos definir psicossomático como o estudo das relações entre as emoções e os males do corpo, conforme apresentado na Figura 13, sendo que somatização é a “manifestação de transtornos psicológicos – con- flitos e angústias – por meio de sintomas corporais. Essas tendências podem se manifestar através de respostas a estresse psicossocial” (FERREIRA, 2015, p. 40).

FIGURA 13 – PSICOSSOMÁTICA: A MENTE E O CORPO

FONTE: <https://shutr.bz/3CyfeDe>. Acesso em: 12 jul. 2021.

(34)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

A partir da Escola de Chicago, a psicossomática evoluiu em três fases:

• Inicial, ou psicanalítica, em que predominavam os estudos sobre o incons- ciente e sua relação com as enfermidades.

• Intermediária, ou behaviorista, o foco dessa fase era a pesquisa em homens e animais, baseando-se em princípios das ciências exatas e com ênfase nos estudos sobre estresse.

• Atual ou multidisciplinar, essa perspectiva entende a psicossomática a partir de suas interações e interconexões entre os diversos profissionais de saúde (MELLO-FILHO, 2010).

Atualmente, a psicossomática pode ser considerada como uma ideologia sobre a saúde, o processo de adoecimento e as práticas em saúde. Portanto, nessa concepção, a doença é vista como a impossibilidade da mente em processar os con- flitos psíquicos, onde mente e corpo são considerados como partes inseparáveis.

Esse processo inconsciente dispõe de reflexo psíquico e corporal que, ativados, atu- am nos órgãos suscetíveis a sofrer determinadas enfermidades (FERREIRA, 2015).

2.1 AS MANIFESTAÇÕES PSICOSSOMÁTICAS

Na teoria psicossomática, considera-se que os órgãos possuem significa- dos inconscientes, adquirem linguagem e expressão sobre forma de “somatização”, que ressalta nos processos inconscientes e nos sintomas da doença orgânica sob a percepção exterior, consciente. As alterações somáticas seriam, portanto, “sinais e sensações privadas do significado afetivo, que tendem a apresentar-se como dis- torção da realidade e são conduzidas à interpretação como sendo enfermidades somáticas de causa interior ou influência externa” (FERREIRA, 2015, p. 41).

O que caracteriza a manifestação psicossomática são os sintomas físicos

sem evidências patológicas, ou seja, derivados de conflitos e angústias psíqui-

cas. Danilo Perestrello (1916-1989), psiquiatra e psicanalista, formulou as bases

da medicina psicossomática no contexto brasileiro, ancorado em referenciais da

teoria e da técnica psicanalíticas. Para o autor (s.p. apud GUEDES; RANGEL; CA-

MARGO, 2020, on-line), seria preciso uma nova concepção sobre as doenças a

partir de alguns pressupostos:

(35)

TÓPICO 2 — PSICOPATOLOGIA E PSICOSSOMÁTICA

Nesse sentido, o sintoma psicossomático faz parte da própria vida do in- divíduo, como parte de sua personalidade e não como um aspecto isolado. Por- tanto, toda investigação deve considerar o contexto complexo de onde emerge o sintoma, e não simplesmente examinar o órgão e suas manifestações.

2.2 INFÂNCIA E PSICOSSOMÁTICA

Os problemas considerados como “puramente psicológicos” na infância são grandes, principalmente os de natureza psicossomática, revelando desordens somáticas dependentes em grande parte de fatores emocionais ou distúrbios li- gados ao terreno da “doença física”, tendo ligações com o sistema nervoso ve- getativo ou com fatores psicológicos. É comum que tais desordens estejam cor- relacionadas com o desenvolvimento emocional da criança, o qual se processa conjuntamente com o desenvolvimento psicossexual (ARRUDA, 2015).

Um dos textos produzidos pelo psicanalista Donald W. Winnicott em 1949 intitulado A mente e sua relação com o psique-soma teve importante contribui- ção para a psicossomática, apontando que a psique e o soma não devem ser distin- guidos um do outro. Juntos, formam o psicossoma que seria o mais perto, desde o início da existência do ser humano original.

Winnicott entende que é necessário um meio ambiente perfeito para que ocorra o desenvolvimento saudável do psicossoma, esse ambiente seria repre- sentado pelo útero, enquanto o nascimento seria uma perturbação a essa home- ostase, uma espécie de trauma (BELMONT, 2010). Nesse sentido, para a teoria winnicottiana, o ser humano seria capaz de recordar tudo o que lhe acontece, tanto em nível físico quanto emocional. Por isso que o autor se dedicou tanto aos atendimentos com crianças, destacando a importância das psicoterapias nessa faixa etária. A Figura 14 representa o que seria um atendimento com crianças.

FIGURA 14 – ATENDIMENTO PSICOLÓGICO COM CRIANÇAS

FONTE: <https://shutr.bz/3hVe7FM>. Acesso em: 12 jul. 2021.

(36)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

Na tentativa de minimizar esses traumas e descontinuidades, algumas te- orias defendem o corte tardio do cordão umbilical e o reencontro da mãe com o bebê logo após o parto. Ao manter o cordão umbilical por alguns minutos manti- nha-se a homeostasia anterior, o bebê continuaria a receber oxigênio e nutrientes pelo cordão garantindo um suave ingresso em um mundo tão diferente do ante- rior. Além disso, com a elaboração de conceitos como holding e handling, Winni- cott provou que os cuidados pós-natais são essenciais na integração psicossomá- tica e nas fundações de tempo e espaço (BELMONT, 2010).

A psicossomática na infância pode ser então entendida pelo estudo das interações entre o bebê, que possui estrutura genética, capacidades e incapacida- des específicas, e o meio ambiente. É a partir desse encontro que “poderá resultar integração psicossomática ou não. Mesmo potenciais genéticos particulares po- dem ser ativados ou não, dependendo do maior ou menor nível de estresse que ocorra durante a gestação” (BELMONT, 2010, p. 573).

2.3 ADOLESCÊNCIA E PSICOSSOMÁTICA

A adolescência é um momento único no desenvolvimento humano: o su- jeito vivencia a transformação do corpo infantil que impacta diretamente o de- senvolvimento do psiquismo e vice-versa. Esse período é marcado por um longo processo de conflito, o jovem busca renunciar seu corpo infantil através das ques- tões identitárias e de grupo. Nesse sentido, o processo físico da puberdade asso- ciado ao processo emocional da adolescência favorece o surgimento de diversos sintomas transitórios ou permanentes.

A adolescência poderia ser então encarada como um processo psicosso- mático e não patológico, visto que o corpo muda e passa a ter novas funções, tornando-se um novo soma. Geralmente, o psiquismo se adapta para essas novas condições, mantendo a conexão psique-soma, ou mente-corpo. Entretanto, a per- da dessa conexão pode significar o adoecimento do corpo, é a saída psicossomá- tica enquanto construção de um sintoma apontando para a impossibilidade de simbolização do novo corpo (SILVA, 2018).

A Figura 15 representa um atendimento psicológico com adolescentes, um

momento importante para reconhecer as características “normais” da adolescência

(37)

TÓPICO 2 — PSICOPATOLOGIA E PSICOSSOMÁTICA

• Instabilidade de conduta, variando do hostil ao amoroso.

• Necessidade de separar-se progressivamente dos pais ou de seus substitutos.

• Variações constantes do humor (irritabilidade, depressão, euforia).

FIGURA 15 – ATENDIMENTO PSICOLÓGICO COM ADOLESCENTES

FONTE: <https://shutr.bz/3tW5PlL>. Acesso em: 12 jul. 2021.

Além de ser importante considerar esses aspectos esperados do desenvol- vimento, é preciso pensar nas patologias da infância e da adolescência de modo singular. O que é vivenciado pelo paciente, como as angústias e os traumas, é somado às vivências não elaboradas pelos pais/cuidadores. Nesse sentido, é co- mum que a patologia psicossomática acometa toda a família, no que pode ser denominado “ambiente psicossomatizador” (SILVA, 2018).

“A origem de todo conflito psicossomático está na presença do ritmo dentro do ventre materno. A criança, nesse período, vivencia os movimentos da mãe, sua cadência, o som do coração e a sensibilidade plena desse corpo, e essas vibrações são transmitidas para o inconsciente desse feto, que elabora suas primeiras impressões da vida” (FERREIRA, 2015, p. 43).

IMPORTANTE

3 OS TRANSTORNOS MENTAIS

Atribui-se o nome de transtorno a qualquer anormalidade, sofrimento ou

comprometimento de determinação psicológica e/ou mental, como as alterações

de pensamento, emoções e comportamento. É preciso considerar que pequenas

alterações nesses aspectos são comuns, mas quando passam a gerar angústia ou

interferir em nossa vida cotidiana, podem ser considerados transtornos de saúde

mental, cujo efeitos podem ser duradouros ou temporários.

(38)

UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PSICOPATOLOGIA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: AS FUNÇÕES PSÍQUICAS E SUAS ALTERAÇÕES

Atualmente, a investigação dos transtornos mentais se dá de forma inter- disciplinar, considerando áreas como a Psicologia, a Psiquiatria, a Filosofia, entre outras. A Psicologia e a Psiquiatria optam por utilizar as terminologias transtor- nos, perturbações ou distúrbios psíquicos, evitando-se o uso da palavra doença pois apenas poucos quadros clínicos mentais apresentam todas as características de uma doença no sentido tradicional do termo.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU) caracterizam os transtornos mentais como alterações mórbidas do modo de pensar e/ou do humor (emoções), e/ou por alterações mórbidas do comportamento associadas a angústia expressiva e/ou deterioração do funcionamento psíquico glo- bal. Os transtornos mentais não constituem, apenas, em variações dentro da escala do normal, mas em fenômenos anormais ou patológicos (FERREIRA, 2015).

Quatro das dez principais causas de incapacidade nas pessoas com cinco anos de idade ou mais se devem a transtornos de saúde mental, sendo a depres- são a principal delas. Apesar dessa prevalência elevada, apenas cerca de 20% das pessoas que têm transtornos mentais procuram assistência médica (FIRST, 2020).

Isso porque ainda há um estigma muito grande com relação à saúde mental, a própria pessoa pode ser culpada pela sua condição ou considerada preguiçosa ou irresponsável. Além disso, é comum que o transtorno mental seja interpretado como menos real ou legítimo do que a doença física.

Atualmente, as referências mais utilizadas para as classificações diagnós- ticas são o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), e a Classificação Internacional de Doenças (CID), que serão devidamente apresen- tados na Unidade 3. Mesmo com essas classificações, nem sempre é possível dife- renciar com clareza um transtorno mental de um comportamento normal. A linha divisória entre ter determinadas características de personalidade (por exemplo, ser metódico ou organizado) e ter um distúrbio de personalidade (por exemplo, transtorno obsessivo-compulsivo) pode ser tênue.

Dessa forma, acredita-se que os transtornos mentais sejam ocasionados

por uma interação complexa entre fatores genéticos, biológicos, psicológicos

e ambientais. Atualmente, a Psiquiatria tem valorizado o aspecto genético dos

transtornos mentais, compreendendo que estes ocorrem a partir de composições

genéticas vulneráveis a determinados transtornos. Ao associar essa vulnerabili-

(39)

TÓPICO 2 — PSICOPATOLOGIA E PSICOSSOMÁTICA

4 AS SÍNDROMES E OS SINTOMAS

O termo síndrome origina-se da palavra grega “syndromé”, que significa

“reunião”. Quando utilizada na área da saúde, a síndrome é definida como uma reunião de sintomas e sinais que estão associados a mais de uma causa e que po- dem definir determinada patologia ou condição. Diferentemente do que acontece nas doenças, a sintomatologia das síndromes é inespecífica, podendo ter diversas origens. É por isso que alguns pacientes diagnosticados com síndromes podem nunca chegar a uma conclusão definitiva sobre a causa de seus sinais e sintomas.

Um dos exemplos é a Síndrome de Down, pois, ainda que se saiba a sua origem cromossômica, não se sabe exatamente o que causa a alteração.

As síndromes podem apresentar-se como: ansiedade generalizada (sin-

tomas ansiosos excessivos), crise de ansiedade (crises intermitentes), crise de pâ-

nico (crises intensas de ansiedade), síndrome do pânico (crises recorrentes com

desenvolvimento de medo), síndrome mista de ansiedade e depressão (sintomas

depressivos e ansiosos), ansiedade de origem orgânica (síndrome ansiosa em de-

corrência de doença ou condição orgânica) (FERREIRA, 2015). Quanto aos sinto-

mas, podem ser definidos como alterações no corpo percebidas e relatadas pelo

próprio sujeito, como dor de cabeça, angústia, náusea etc. Os sintomas são aspec-

tos subjetivos e, diferentemente dos sinais, não é possível observá-los diretamen-

te. Já os sinais são objetivos e não dependem do relato do sujeito, pois podem ser

observados diretamente como a febre ou o edema.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Psicossomática é o estudo das relações entre as emoções e os males do corpo, sendo que somatização é a “manifestação de transtornos psicológicos – confli- tos e angústias – por meio de sintomas corporais. Essas tendências podem se manifestar através de respostas a estresse psicossocial” (FERREIRA, 2015, p.

40). Atualmente, a psicossomática pode ser considerada como uma ideologia sobre a saúde, o processo de adoecimento e as práticas em saúde.

• A psicossomática na infância pode ser entendida como o estudo das intera- ções entre o bebê, que possui estrutura genética, capacidades e incapacidades específicas, e o meio ambiente. É a partir desse encontro que poderá resultar integração psicossomática ou não. Mesmo potenciais genéticos particulares podem ser ativados ou não, dependendo do maior ou menor nível de estresse que ocorra durante a gestação.

• Chamamos de transtorno qualquer anormalidade, sofrimento ou compro- metimento de determinação psicológica e/ou mental, como as alterações de pensamento, emoções e comportamento. É preciso considerar que pequenas alterações nesses aspectos são comuns, mas quando passam a gerar angústia ou interferir em nossa vida cotidiana, podem ser consideradas transtornos de saúde mental.

• As síndromes podem ser definidas como uma reunião de sintomas e sinais

que estão associados a mais de uma causa e que podem definir determinada

patologia ou condição. Diferentemente do que acontece nas doenças, a sinto-

matologia das síndromes é inespecífica, podendo ter diversas origens. Quan-

to aos sintomas, podem ser definidos como alterações no corpo percebidas e

relatadas pelo próprio sujeito, como dor de cabeça, angústia, náusea etc. Os

sintomas são aspectos subjetivos e, diferentemente dos sinais, não é possível

observá-los diretamente.

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1 Podemos definir psicossomático como o estudo das relações entre as emo- ções e os males do corpo, sendo que somatização é a “manifestação de transtornos psicológicos – conflitos e angústias – por meio de sintomas corporais. Essas tendências podem se manifestar através de respostas a es- tresse psicossocial” (FERREIRA, 2015, p. 40). Com relação à forma como a doença é encarada pela Psicossomática, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A doença é vista como a impossibilidade da mente em processar os con- flitos exteriores ao sujeito, visto que mente e corpo são considerados de forma separada.

b) ( ) Como a mente é capaz de processar todos os conflitos psíquicos, a do- ença é vista como uma resposta biológica do corpo à agressões externas.

c) ( ) A psicossomática encara a doença como uma resposta proporcional do corpo ao estresse psicossocial.

d) ( ) A doença é vista como a impossibilidade da mente em processar os con- flitos psíquicos, em que mente e corpo são considerados como partes inseparáveis.

2 Danilo Perestrello (1916-1989), psiquiatra e psicanalista, formulou as bases da medicina psicossomática no contexto brasileiro, ancorado em referen- ciais da teoria e da técnica psicanalíticas. Para o autor, seria preciso uma nova concepção sobre as doenças a partir de alguns pressupostos. Acerca desses pressupostos, analise as sentenças a seguir:

I- O objeto do estudo do médico é o homem doente e não a doença.

II- Os estados emocionais podem perturbar o funcionamento de qualquer ór- gão e são tão eficazes na produção de modificações somáticas quanto os estímulos físicos.

III- São as preocupações conscientes, reais, as principais responsáveis pelos sintomas somáticos

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.

b) ( ) Somente a sentença II está correta.

c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 O termo síndrome origina-se da palavra grega “syndromé”, que significa

“reunião”. Quando utilizada na área da saúde, é atribuída a um conjunto de sinais e sintomas físicos e/ou psicológicos que geram a manifestação de uma ou várias doenças e condições clínicas que independem da etiologia.

Com relação às síndromes e aos sintomas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

AUTOATIVIDADE

Referências

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